Num de meus cursos havia um jovem que nunca tinha visto o pai. A mãe dele, na juventude, conheceu um fran- cês em Paris e engravidou dele. Imediatamente, a família do rapaz casou-o com outra mulher, porque na França um homem casado não era obrigado a pagar pensão alimentícia. Então ele destruiu todas as pontes atrás de si, de modo que a mulher não soube mais do seu paradeiro. Não sabia o seu endereço nem tinha ne- nhuma indicação sobre ele.
Quando o filho completou vinte anos, a mãe o colocou em seu carro e viajou com ele para a França. Entretan- to, tinha feito intimamente uma aliança com o avô do rapaz, pai do pai dele, confiando na orientação dele. Um dia, quando atravessavam uma aldeia, viram numa tabuleta o nome de família do homem. Entraram e per- guntaram a uma mulher se conhecia um certo fulano de tal. Ela exclamou: “Um momento!” Pegou o telefone, chamou alguém e exclamou: “Eles estão aqui.”
HELLINGER (para Klara): Está bem, agora coloque sua família.
PARTICIPANTE (para Klara): O que aconteceu com a primeira mulher de seu pai? Tem família, vive ainda? HELLINGER: Isto não é importante aqui. Nada de informações em excesso, para não perturbar a clareza das sen- sações!
HELLINGER (para Klara, quando ela coloca sua representante entre o pai e a mãe): Seus pais se divorciaram? KLARA: Não.
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Figura 1P Pai de Klara, segundo homem de sua mãe M Mãe de Klara, terceira mulher de seu pai 1MuP Primeira mulher do pai
2MuP Segunda mulher do pai, mãe de 2 lHoM Primeiro homem da mãe, pai de 1
1 Filha da mãe de Klara com o primeiro homem
2 Filha do pai de Klara com a primeira mulher
3 Filha comum do pai e da mãe (=Klara)
HELLINGER: Vou colocar logo a ordem.
Figura 2
HELLINGER: Como é isto para a segunda filha?
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Figura 3SEGUNDA FILHA: Assim é melhor ainda.
HELLINGER: Como se sente a segunda mulher do pai?
SEGUNDA MULHER: Está bem assim.
MÃE: Para mim, também.
HELLINGER (para a representante de Klara): Como se sente a filha mais nova?
TERCEIRA FILHA: Antes estava meio estranho, ao lado de meu pai. De fato, minha mãe estava à minha esquer- da. Notei como me afastei dela e me virei para meu pai e não a olhei de modo nenhum. E, quando minha irmã ainda estava diante de mim, pensei: “Isto me serve de proteção, pois ninguém percebe o que pretendo com meu pai.” Ainda sinto alguma tensão em relação à minha mãe, mas de resto estou bem.
HELLINGER: Como se sente a filha mais velha?
PRIMEIRA FILHA: Quando estava atrás de minha mãe sentia-me muito poderosa. Tinha influência sobre ela e sobre minhas irmãs, mas também me sentia estranha, não pertencente à família. Agora sinto-me integrada, com menos poder e força.
HELLINGER: Como se sente o pai da filha mais velha?
PRIMEIRO HOMEM DA MÃE: Há pouco, quando estava atrás de minha ex-mulher, senti-me muito aquecido do lado direito e constantemente atraído na direção dela. Quando você me colocou aqui, isso se equilibrou. Mas está faltando algo do meu lado esquerdo.
HELLINGER: Naturalmente teria de ser incluída a sua família atual. — Como se sente a primeira mulher do pai?
PRIMEIRA MULHER DO PAI: Estou me sentindo pregada no chão e me pergunto sempre: “O que significa isto? Não estou entendendo.”
HELLINGER: O vínculo do homem com a segunda mulher e com a filha dela tem precedência sobre o vínculo anterior. Ele substitui o primeiro.
PRIMEIRA FILHA: Há pouco, quando estava atrás de minha mãe, senti-me poderosa mas também irritada, não sei por quê. Agora me sinto forte como antes, mas há também uma irritação que tem a ver com o grande núme- ro de mulheres. Sinto-me a mais forte de todas, mas fico irritada com a presença de tantas mulheres.
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Figura 4exNlHoM Ex-noiva do primeiro homem da mãe HELLINGER: Como se sente a noiva?
EX-NOIVA: Do lado esquerdo do homem eu sentia vertigem; do lado direito, perdia o fôlego. Aqui, bem atrás, estou melhor.
HELLINGER (para a filha mais velha): Você sente alguma relação com essa mulher?
PRIMEIRA FILHA: No momento, sinto vontade de sair fora e ir para trás.
HELLINGER: Coloque-se ao lado da ex-noiva. — Que tal assim?
PRIMEIRA FILHA: É melhor.
HELLINGER: Você está identificada com ela.
PRIMEIRA FILHA: Sinto-me simplesmente melhor aqui.
HELLINGER: Isso é o efeito da identificação; você tem os sentimentos dela. Ela foi enganada pelo relaciona- mento do seu pai com a sua mãe. Agora, neste grupo, você está sentindo a irritação dela. Esses sentimentos são dela. São estranhos a você.
(para Klara): Você pode compreender isso? KLARA: Sim.
HELLINGER (para a filha mais velha): Agora volte ao seu lugar. Já verificamos que você está identificada com
ela.
(para a representante de Klara): Como você se sente?
TERCEIRA FILHA: Acabo de sentir minhas costas: primeiro, na parte de cima; depois, como se eu fosse dobrar o corpo para trás. Isso tem a ver com a saída de minha irmã mais velha. Desde que ela voltou para cá, isso dimi- nuiu de intensidade.
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TERCEIRA FILHA: Aqui me sinto melhor.
PAI: Para mim, é como se houvesse aqui uma balança em equilíbrio, cujo eixo passa pela filha, à minha esquer- da. Quando ela ficou do outro lado da mãe, o eixo passava por mim. Meu corpo também oscilou para a direita e para a esquerda.
HELLINGER: Como é isto para a mãe?
MÃE: Estou achando totalmente estranho. Nada disso me interessa. Não sinto nada. Porém aqui estou melhor, ao lado de minha filha mais velha.
PRIMEIRA FILHA: Sinto-me responsável por minha mãe, mas não quero isso.
HELLINGER: A mãe pertence mais ao sistema do seu primeiro homem. Na condição de terceira mulher, ela não ousa tomar o segundo.
(para afilha mais velha): Coloque-se ao lado de sua irmã mais nova!
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PRIMEIRA FILHA: Aqui fico sem ar. Sinto-me incrivelmente bem aqui, mas não consigo respirar.
HELLINGER (para Klara): Coloque-se agora você mesma em seu lugar!
KLARA (quando fica em seu lugar): Sinto uma forte ligação com minha irmã mais velha. HELLINGER: Exato, porque vocês não podem confiar plenamente em seus pais.
Klara começa a chorar fortemente.
HELLINGER: Agora vou fazer um exercício com você. Dirija-se à primeira mulher de seu pai e incline-se diante dela! Faça uma inclinação leve, mas respeitosa.
(depois de algum tempo): Agora, dirija-se à segunda mulher dele e faça também diante dela uma leve reverên-
cia!
(depois de algum tempo): Agora dirija-se à sua segunda irmã e abrace-a! Klara abraça-a demoradamente, soluçando muito.
HELLINGER: Agora, dirija-se à ex-noiva do pai de sua primeira irmã e incline- se diante dela!
(outra vez, depois de algum tempo): E agora, ao pai de sua primeira irmã e incline-se também diante dele! (depois que ela se inclinou): Agora volte ao seu lugar, e olhe ao seu redor! Olhe para todos eles!
Seu pai a enlaça com o braço. HELLINGER: Agora vá até sua mãe!
Klara abraça-a e soluça longamente.
HELLINGER: Agora volte ao seu lugar e olhe em tomo! Olhe para todos ainda uma vez!
(depois de algum tempo): Está bem assim? Klara acena que sim.