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Os atos constitutivos de direitos só podem ser anulados no prazo de um ano a contar da respetiva emissão – art 168º/2 Mas há alguns que estão sujeitos a um prazo de 5 anos: quando se verificam

No documento Direito Administrativo II (páginas 105-108)

Invalidades e desvalores jurídicos do agir administrativo

 ATOS ADMINISTRATIVOS Estrutura dos Atos Administrativos

3- Os atos constitutivos de direitos só podem ser anulados no prazo de um ano a contar da respetiva emissão – art 168º/2 Mas há alguns que estão sujeitos a um prazo de 5 anos: quando se verificam

as hipóteses do 168º/4. Pode também não haver prazo para a anulação – casos do art. 168º/7. 4- Se o ato inválido passou o prazo para ser anulado, consolida-se esse ato na OJ, já não podendo ser

anulado, mas pode continuar a ser revogado. Isto porque se os atos que são originariamente válidos podem ser revogados, os atos que são originariamente inválidos e que se consolidaram na OJ também poderão ser.

O que acontece se o ato é anulado fora do prazo? Será inválido (por violação da lei que dizia que o prazo era x) o ato de anulação, uma vez que é extemporâneo. Mas, apesar de ser inválido, o ato de anulação é anulável, e, por ser anulável, produz efeitos como se fosse válido. Isto é, ele acaba por produzir efeitos (anular o outro ato), só deixando de produzir quando for anulado por um ato posterior.

Concluindo, se se consolidar na OJ a invalidade do ato de anulação pelo decurso do tempo, passando o prazo em que podia ser impugnado judicialmente, o ato estará sujeito às regras da revogação dos atos válidos (art. 167º).

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O regime da anulação que resulta do CPA de 2015 suscita dúvidas de constitucionalidade: a) O art. 168º/7, na opinião de PO, viola o princípio da intangibilidade do caso julgado;

b) O novo regime que é mais desfavorável à anulação dos atos inválidos, aplica-se mesmo aos atos inválidos anteriores a 2015 – há lesão do princípio da segurança jurídica e da tutela da confiança, porque não há normas de transição em relação aos casos de invalidade.

Efeitos da anulação administrativa:

i. Efeitos temporais – a anulação administrativa produz efeitos retroativos (art. 171º/3). Há, porém, três exceções:

- Não há efeito retroativo se o ato era constitutivo de direitos, envolvia prestações periódicas, no âmbito de uma relação continuada (art. 168º/4 b)).

- Situações que, em nome da dignidade, segurança jurídica, do interesse público de excecional relevo, se permite restringir os efeitos retroativos (art. 171º/3 2ª parte).

ii. Efeitos materiais – anulado o ato, a Administração deve reconstituir a situação atual hipotética, aquela que existiria se o ato anulado não tivesse sido praticado – art. 272º/1.

Às vezes surgem dificuldades em reconstituir a situação atual hipotética e, por isso, há limites à reconstituição da situação atual hipotética – exemplos:

1) Foi movido um processo disciplinar a um aluno de medicina e a AP apercebeu-se 4 anos depois de que o ato que expulsou o aluno (que não era constitutivo de direitos) era inválido. Passados esses 4 anos, a AP vem anular esse ato. Como se reconstitui a situação atual hipotética? Segundo limites de ordem natural: ele não passaria a ser médico, apenas se poderia reconstituir a situação através da responsabilidade civil.

2) Foi anulada uma decisão da FPF que resolveu desqualificar uma equipa que jogava na 1ª liga, sendo desqualificada para uma liga abaixo. A AP vem-se a aperceber anos depois que afinal o ato (que não era constitutivo de direitos) era inválido e vem agora, passado anos, anular o ato. Como se reconstitui a situação atual hipotética? Passa automaticamente para a 1ª liga?

iii. Efeitos em relação aos particulares – desde que estes estejam de boa fé, a anulação dos atos pode reconhecer-lhes posições jurídicas ativas, com fundamento no art. 172º/3. No caso de serem funcionários, a situação está prevista no art. 172º/4.

NOTA: O mesmo ato pode, para uns, ser constitutivos de direitos e, para outros, não o ser. Ex: concurso

público, só há uma vaga e candidataram-se dois: ganha o concurso o candidato A – para este, o resultado do concurso é um ato constitutivo de direitos – e para B? Já não o será. O ato investe um numa posição jurídica favorável e o outro numa posição jurídica desfavorável.

Neste caso, qual será o regime aplicável à anulação do ato? Ao dos atos constitutivos de direitos? Ou não?

1.2.3. Atos modificativos – são aqueles que, incidindo sobre anteriores atos, não se limitam a completá-los ou a modificar os seus efeitos, mas antes têm o propósito de reconfigurar anteriores atos. São uma classe residual. Podem ter o propósito:

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1.2.3.1. Atos modificativos com caráter saneador – resolvem uma situação de invalidade – (arts. 164º e 173º/2 e 3) – (i) ratificação-sanação, (ii) reforma, em que se expurga o aspeto inválido e (iii) conversão. 1.2.3.2. Atos modificativos sem caráter saneador (art. 173º/1) – (i) a alteração em sentido estrito, (ii) a suspensão (que se pode traduzir numa falsa suspensão) e (iii) a retificação.

1.3 Atos consensuais – têm por base um acordo/consenso entre o autor (Administração) e os destinatários. São atos unilaterais, mas assentam num prévio acordo, que pode incidir sobre:

1.3.1 Atos consensuais procedimentais – o acordo incide sobre regras procedimentais;

1.3.2 Atos consensuais de natureza substantiva – o acordo incide sobre o próprio conteúdo da decisão material.

Regime dos atos consensuais:

1. Vícios que ocorram no acordo projetam-se no respetivo ato. Ou seja, irregularidades/invalidades a montante têm efeitos a jusante – invalidade derivada.

2. Alterações de circunstância – podem ocorrer sobre a base em que se alicerçou o acordo. A alteração de circunstâncias do acordo projeta-se sobre o próprio ato consual, podendo determinar a cessação de efeitos ou justificar a sua modificação.

3. O acordo que está na base do ato consensual pode pressupor uma natureza bilateral das obrigações – não só obrigações por parte da Administração, mas também por parte dos destinatários desse ato. Isto é relevante, uma vez que pode acontecer que haja incumprimento por uma das partes e é necessário saber se isso será relevante para suscitar a temática da exceção do não cumprimento no âmbito do acordo prévio, mas que se projeta depois na decisão administrativa.

4. A interpretação e a integração destes atos administrativos deve fazer-se de harmonia com o respetivo acordo.

Os atos consensuais têm, portanto, a sua “vida” pautada pelo acordo que está na base da sua emanação.

1.4 Atos tácitos – os que resultam do silêncio administrativo (arts. 129º e 130º).

2. Atos administrativos declarativos – são os que nada acrescentam de novo à OJ. Todavia, os atos

declarativos podem ter três configurações:

2.1. Atos de verificação – limitam-se a verificar/tomar conhecimento de uma realidade factual e simultaneamente emitem uma declaração de ciência:

(a) Atos que comprovam – registo, inscrição, atas (art. 34º), reconhecimentos notariais. (b) Atos que certificam – certidões (arts. 83º/3 e 84º), declarações, autenticação, visto. (c) Atos que aclaram.

(d) Atos de verificação constitutiva – verificam a existência de um facto e certificam esse facto. Discute- se na doutrina se são verdadeiramente de verificação ou se ficam a meio caminho entre os atos declarativos e os atos constitutivos.

As regras aplicáveis são as regras gerais dos atos administrativos, com as devidas adaptações.

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2.2. Atos de valoração – não se limitam a apreender factos, mas procedem a uma valoração/avaliação desses factos.

i. Juízo qualificativo – pode ser um juízo de estimativa técnica (apreciação técnico-científica). ii. Pareceres (arts. 90º e 91º) – são uma opinião. São obrigatórios mas não vinculativos.

iii. Informações (arts. 11º/2, 61º/3, 62º/1 a) e 82º a 85º) – uma coisa é a informação oral, outra coisa é a informação escrita. Esta última implica responsabilidade civil caso não coincida com a realidade. iv. Relatórios.

2.3. Atos de transmissão – visam comunicar um facto. Podem ser: (a) Publicação (arts. 139º e 158º a 159º)

(b) Notificação (arts. 110º a 114º e 160º) (c) Intimação

(d) Comunicação

Regulamentação no CPA: a regra é que o CPA é omisso. Mas tem um regime geral, que se aplica aos diversos atos administrativos.

☼ Marcha do procedimento – como se tramita o procedimento administrativo? Em matéria de procedimento, podemos encontrar três temas:

No documento Direito Administrativo II (páginas 105-108)

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