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A invalidade da declaração de vontade ferida de erro na sua formação tem sempre a anulabilidade como desvalor jurídico.

No documento Direito Administrativo II (páginas 63-65)

Regime Comum do Procedimento Administrativo » Aspetos comuns:

2. A invalidade da declaração de vontade ferida de erro na sua formação tem sempre a anulabilidade como desvalor jurídico.

Pode, contudo, extrair-se uma norma implícita do CPA: do art. 168º/1, de onde implicitamente se extrai que o erro do agente é causa de anulabilidade do ato. Para além disto, extrai-se que o início da contagem do prazo para anulação do ato ferido de erro, em vez de ser feito da data do conhecimento da causa de invalidade pelo órgão competente, toma como referência o momento de cessação do erro. Se, durante os 6 meses subsequentes à cessação do erro, o ato não for anulado, nem se o erro for conhecido nos 5 anos subsequentes à data de emissão do ato, a invalidade do ato consolida-se na OJ, já não podendo ser anulado, sem prejuízo de se dever admitir a sua revogação, salvo, por via de regra, tratando-se de ato constitutivo de direitos. O art. 168º/1, dizendo expressamente que o erro é fonte de invalidade, não toma posição sobre se o erro se reconduz ao contexto autónomo dos designados vícios da vontade ou se traduz uma situação integrável no vício (residual) de violação de lei: a primeira destas soluções, autonomizando os vícios da vontade como categoria própria de invalidade, mostra-se, na opinião de PO, dogmaticamente preferível.

» Divergência entre a vontade real e a vontade declarada

O princípio geral é que, em Direito Administrativo, deve dar-se prevalência à vontade declarada, com base no argumento da tutela da confiança do destinatário. Com duas exceções:

a) Se o destinatário conhecer a divergência não pode invocar a tutela da confiança; b) Se o próprio destinatário induziu ou colaborou nessa divergência.

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Esta divergência pode ser intencional (divergência unilateral- reserva mental – ou bilateral) ou não

intencional.

3. Causa

Pode dizer-se que a causa é sempre uma realidade jurídica que, sendo anterior a uma determinada conduta (ativa ou omissiva), funciona como impulso ou condicionamento a um determinado agir, moldando-o, parametrizando-o ou predeterminando-o.

Será, então, a causa um elemento jurídico? PO: sim, porque a causa é juridicamente uma relação entre a conduta administrativa e duas realidades que lhe são anteriores:

- Realidade objetiva – circunstâncias factuais ou objetivas, pressupostos objetivos da conduta administrativa, que podem ser de facto ou de Direito;

- Realidade subjetiva – razões determinantes do sentido da vontade psicológica do titular do órgão. Na causa, tudo é incerto, até a própria existência da causa.

A causa é a adequação da conduta com os pressupostos objetivos e subjetivos. A causa estabelece uma relação que pressupõe uma adequação (a conduta administrativa tem de ser adequada a estes pressupostos), um juízo de existência, de validade: a causa estabelece um nexo ponderativo ou de conformidade entre o agir administrativo e as circunstâncias factuais e jurídicas subjacentes (pressupostos objetivos), assim como as motivações do titular da respetiva estrutura administrativa (pressupostos subjetivos).

No âmbito do agir administrativo, a grande diferença entre os pressupostos objetivos e os pressupostos subjetivos subjacentes à causa reside no seguinte:

o Os pressupostos objetivos, apesar de subjetiváveis pela representação psíquica que deles faz o decisor, são sempre passíveis de controlo face à sua objetividade de partida;

o Os pressupostos subjetivos, reconduzindo-se aos motivos do agir administrativo, apenas se mostram controláveis face aos fins legais fixados para o exercício dos poderes em causa.

A causa envolve, para além de tudo isto, um juízo sobre a existência, a validade, a idoneidade dos pressupostos objetivos e subjetivos do conteúdo de uma determinada conduta.

→ Não compreende a causa, no entanto, as situações de falsa representação dos pressupostos objetivos por parte do decisor administrativo; antes a causa se assume como realidade jurídica diferente da vontade. Por exemplo, o erro sobre a causa é um problema de formação da vontade: a causa limita- se a agir e a habilitar que os pressupostos objetivos e subjetivos de uma determinada conduta administrativa existam, sejam válidos e idóneos, por um lado, e, existindo, se assumem ou assumiram relevância conformadora ou parametrizadora da conduta específica.

Através da causa capta-se a intenção decisória (animus), que não se reconduz a uma questão de liberdade e esclarecimento da vontade ou de convergência entre o pretendido e o declarado.

Casos de relevância da intenção: desvio de poder (traduz uma disfunção do motivo principalmente determinante da conduta administrativa face ao fim legal da competência em causa), dolo, responsabilidade disciplinar.

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As vicissitudes ao nível da causa, sendo passíveis de invalidar o agir administrativo, por via da projeção relacional dos pressupostos-motivos desse agir, podem configurar-se como envolvendo uma dupla divergência:

(i) Divergência entre os pressupostos abstratos fixados na lei e os pressupostos reais face à situação factual concreta;

(ii) Divergência entre os pressupostos-motivos exteriorizados e a intenção real ou “motivos efetivos” exteriorizados pela conduta do agente decisor.

O agir administrativo baseia-se, portanto, num princípio de coerência racional. Os termos como o CPA impõe a existência de uma nota justificativa dos projetos de regulamentos (art. 99º) e o modo como configura o dever de fundamentação dos atos administrativos, envolvendo a indicação dos fundamentos de facto e de direito (art. 153º/1) e determinando a proibição de contradição entre razões fundamentadoras (art. 153º/2), indiciam a relevância operativa dos pressupostos-motivos do agir administrativo, à luz da pressuposição de regras lógicas de atuação procedimental.

Este princípio de coerência racional que a ordem jurídica postula ao agir administrativo, podendo também ser extraído do princípio da boa administração, encontra hoje expresso fundamento constitucional: a causa torna- se, por isso, um elemento estrutural do agir administrativo alicerçado na Constituição.

» Pressupostos objetivos:

Os pressupostos objetivos, resultando identificados de uma norma jurídica ou sendo elencados pelo decisor, traduzem individualizações da sua inicial formulação abstrata perante uma situação concreta, falando-se em “pressupostos individualizados”, servindo sempre de causa da conduta administrativa

A subjetivação dos pressupostos objetivos, por efeito da sua necessária representação mental pelo decisor, não inviabiliza o seu controlo, em diferentes e sucessivos parâmetros:

1. Será que os pressupostos que em cada caso concreto foram adotados, existem? 2. Serão estes válidos?

3. Sendo válidos, será que têm a configuração mental que o decisor lhes deu? 4. Estes pressupostos são idóneos para se alcançar o fim em vista?

5. A conduta administrativa conformou-se a esses pressupostos? 6. Essa conformação terá sido a mais adequada?

A exigência legal de fundamentação das decisões administrativas surge como instrumento revelador dos pressupostos do agir administrativo e, simultaneamente, de “janela” aferidora da adequação desse agir face aos pressupostos da ação.

Os pressupostos objetivos podem ser:

1. De Direito – são situações de direito que, identificadas em normas ou demais atos jurídicos, habilitam

No documento Direito Administrativo II (páginas 63-65)

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