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Procedimento de recurso gracioso (da nova intervenção da AP sobre uma matéria sobre a qual já se pronunciou ou não o fez e deveria tê-lo feito) – arts 184º e ss:

No documento Direito Administrativo II (páginas 109-113)

Invalidades e desvalores jurídicos do agir administrativo

 ATOS ADMINISTRATIVOS Estrutura dos Atos Administrativos

2- Procedimento de recurso gracioso (da nova intervenção da AP sobre uma matéria sobre a qual já se pronunciou ou não o fez e deveria tê-lo feito) – arts 184º e ss:

Pode acontecer que o particular ache que a decisão administrativa é inválida ou não tem mérito. Pede assim que a AP repondere e veja se há ou não fundamentos para alterar a decisão.

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O procedimento típico é o do recurso hierárquico (arts. 184º a 190º) – normas comuns, quer ao recurso administrativo (que é a da decisão de uma autoridade administrativa para outra), quer à reclamação.

→ Como se desencadeiam estes mecanismos? Através de um requerimento inicial (art. 184º/3):

a) Podem existir normas que estabeleçam regras procedimentais diferentes destas – ex: regulamento da faculdade sobre a revisão de provas.

b) Este requerimento pode ser feito em suporte de papel, mas cada vez mais é feito online, através da AP eletrónica.

c) Neste requerimento deve identificar-se o recorrente, o objeto do recurso, o fundamento (razões de facto ou de direito) e o pedido (o que se está a requerer).

d) A interposição do pedido cria dois efeitos: o Dever legal de decisão.

o Efeito suspensivo da decisão – quando há uma decisão administrativa que goza de eficácia e o destinatário formula um pedido, ao fazê-lo suspende-se o dever de acatar a decisão? Art. 189º: se a decisão em causa é passível de impugnação judicial imediata, não há efeito suspensivo; se a decisão administrativa não é passível de ser impugnada judicialmente, haverá efeito suspensivo. e) Pressupostos para o recurso – art. 196º a contrario:

- O ato deve ser pedido ao órgão competente; - O ato deve poder ser objeto de impugnação; - Quem pede deve ter legitimidade para isso; - Tem de respeitar o prazo legal.

A falta de qualquer um destes requisitos leva a indeferimento liminar.

f) Art. 195º - impõe o dever de serem notificados os contrainteressados quando a decisão administrativa do recurso possa ter efeitos lesivos para esses.

g) Obrigação de intervenção do autor do ato (art. 195º) – se é um recurso hierárquico, é o superior que deve decidir, mas deve ouvir sobre os fundamentos do recurso por parte do subalterno.

→ Decisão administrativa:

Pode ser com dois conteúdos diferentes:

i. Improcedência do recurso – tem natureza confirmativa do ato recorrido.

NOTA: há possibilidade de a AP reformar para pior? Nos casos de pedido de revisão de nota, não é possível

quea nota seja inferior. Há que, neste âmbito, fazer a seguinte distinção: ▪ Não há reforma para pior na área discricionária.

▪ Na área da legalidade – quem decidiu, decidiu violando uma lei. Ex: nos termos da lei, o subsídio máximo a dar é 50, o particular recebeu 52 mas ainda assim está insatisfeito e quer mais. O superior hierárquico deve repor a lei e tirar os 2 que o particular ganhou a mais, ou não o deve fazer, por tornar a situação mais desfavorável ao particular? Coloca-se então o problema da obrigatoriedade ou não de reforma para pior nas situações em que a decisão administrativa viola a legalidade – confronto entre o art. 195º/4 (que proíbe a modificação para pior) e o art. 197º/1 (que a admite).

▪ Situações de erro material e de erro de cálculo – o subsídio máximo é de 50, mas ao passar para computador, em vez de se ter escrito 50 escreveu-se 500. Sendo um erro material, deve ser reformado para pior? PO – sim.

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ii. O órgão para o qual foi interposto o recurso, dá procedência ao recurso – ou é revogada, ou é anulada a anterior decisão. A revogação ou a anulação podem ser totais ou podem ser meramente parciais (a lei só permite que o subsídio seja 50 e o particular recebeu 52).

Prazo da decisão – art. 198º - da decisão do recurso gracioso, cabe ou não novo recurso gracioso? Isto é, recurso gracioso de 2º nível. A regra é de que da decisão do recurso não cabe novo recurso. Exceções: art. 191º/2 (omissão de pronúncia) ou quando exista contradição entre duas decisões de casos semelhantes.

Execução do ato administrativo:

Perante uma decisão administrativa que define o direito no caso concreto (dotada de autotutela declarativa), pode acontecer que o particular tenha resistência a essa decisão. Nestes casos, de nada serve a AP poder decidir se, perante a resistência, a desobediência, não haja mecanismos que permita à AP executar a sua decisão.

Há que fazer uma distinção entre as obrigações em causa – arts. 175º e ss:

(1) Obrigações pecuniárias – ex: pagamento de impostos. A AP não pode ir a casa do particular e retirar os seus bens. É necessário ir a tribunal.

(2) Entrega de coisa certa (art. 180º); (3) Prestação de um facto (art. 181º).

A regra é a de que as medidas de polícia que envolvam coação direta estão fora do procedimento coativo da AP.

Princípio geral – art. 176º - a AP só pode atuar coercivamente, utilizando a força, nos casos e segundo as formas expressamente previstas na lei. A AP deve recorrer previamente aos Tribunais. Resulta daqui que o CPA em 2015 veio abolir o privilégio da execução prévia como regra.

Na lei, estão previstas as situações de urgente necessidade pública – art. 176º/1. Só nestes casos é possível haver privilégio de execução prévia. Nos outros casos, a regra é a de que, se a AP quer utilizar a força para fazer executar o seu direito, tem de se dirigir previamente a Tribunal.

Procedimento de execução:

1º. Tem previamente de haver um direito a executar – art. 177º. Com uma exceção: situações de estado de necessidade (art. 177º/2).

2º. Não basta exigir um título declarativo, é necessário que exista uma decisão que mande executar. Isto tem dois efeitos: fixa o conteúdo do que há a fazer e os termos em que deve ser feito.

3º. Não basta a existência desta decisão de proceder à execução, é necessária a notificação dos destinatários – a AP tem de comunicar individualmente aos administrados que deve executar, dando-lhes um prazo razoável para executar – arts. 177º/3 e 4. O particular pode reagir, impugnando.

4º. Se o particular não executar voluntariamente, a AP terá de passar à execução coerciva. A AP tradicionalmente não precisava de ir a tribunal para isso; hoje, com o CPA 2015, a AP tem de se dirigir previamente ao Tribunal.

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A realidade, contudo, é diferente. No diploma preambular que aprova o CPA 15, no art. 8º/2 afirmava que o art. 176º/1 deste código (que remete a AP para os Tribunais), só entra em vigor quando for elaborada uma lei que concretize como a AP deve ir a tribunal pedir o título executivo, no prazo de 60 dias. Este diploma entrou em vigor no dia 8 de abril de 2015, tendo já passado os 60 dias definidos para a emissão desse diploma. Não havendo diploma, a lei diz que há regime transitório que, nos termos do art. 6º e 8º do diploma preambular, é o de que se mantém o regime da execução do CPA de 91. Ou seja, a AP mantém hoje o privilégio

da execução prévia.

A norma que pára a aplicação do art. 176º/1 não constava da lei de autorização legislativa que autorizou a revisão constitucional. Estamos, assim, perante uma “norma a descoberto” de autorização legislativa, e isto significa que afinal é inconstitucional a manutenção em vigor do regime do CPA 91. A AP continuar hoje a ter pacificamente autotutela executiva viola a CRP organicamente.

Saber se a execução de uma decisão pode ser feita pela AP sem intervenção dos Tribunais ou com intervenção dos Tribunais é um problema de separação de poderes: à luz da lei nova, a exigência de um título executivo judicial fez com que a matéria até então da esfera exclusiva do poder administrativo passasse previamente para a esfera do poder judicial. Então, a AP não está a impor coercivamente uma obrigação violando a separação de poderes? Se a resposta for sim, então o particular tem um direito de resistência, de não acatar com fundamento na CRP.

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Responsabilidade civil da Administração Pública

No documento Direito Administrativo II (páginas 109-113)

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