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Constrangimento: um raio de esperança para os idiotas

No documento A PRENDA A EVITAR CONFLITOS (páginas 69-71)

Enquanto ainda estava na Disney, me empenhei muito em arrumar uma colocação para Steve, um colega que se havia demitido como forma de protesto contra o poder de um maquiavélico. Ele era uma técnico de iluminação e poderia se tornar facilmente um dos durões do departamento. E tinha tamanho para isso. Mas a verdade era que ele era inteligente demais para isso.

Fiz campanha com todos que encontrava pelo escritório, dizendo como seria bom trazer aquele funcionário para a administração. Talvez desejasse secretamente um guarda-costas pessoal. A verdade é que eu gostava mesmo do sujeito. Um dia, quando ia para o banheiro, cheguei a comentar com a secretária sobre como ele seria uma grande aquisição.

Meu novo chefe maquiavélico era absolutamente contra essa substituição. "Sobre o meu cadáver", era uma resposta típica. Então, um dia, ele mudou de idéia de repente e Big Steve chegou. Até hoje, não sei o que o fez mudar de opinião. Um dos supervisores de palco e eu levamos Steve para comemorar. Doug e Steve eram muito maiores do que eu, e nós três percorremos diversos bares da cidade. Começamos logo depois das seis com alguns tragos, e nosso grupo foi ficando menor a cada bar, até restarmos apenas nós três. O último bar tinha uma programação para o fim de noite nada usual: luta de garotas na lama. Pagamos nossa conta e decidimos ir embora, apesar da atraente proposta. Estávamos no banheiro, prontos para deixar o local, quando as combatentes começaram a ser apresentadas.

Eu saí do banheiro com meus dois amigos e quase colidi com uma encorpada mulher de biquíni. Ela recolhia notas de dólar que iam sendo colocadas em várias partes de seu traje. Doug e Steve tomaram a frente e, vencendo a multidão de homens entusiasmados, deixamos o local. Não sou nenhum esnobe. Luta de mulheres na lama está entre os primeiros postos da minha lista de preferências esportivas. O fato é que já estávamos fartos de fumaça, barulho e cerveja, e Steve teria de se apresentar cedo no dia seguinte usando uma camisa limpa e sua

primeira gravata.

Cerca de uma semana mais tarde, notei que as pessoas paravam na porta da sala que eu dividia com Steve. Elas paravam, espiavam e seguiam em frente. Depois retornavam trazendo mais alguém, espiavam e desapareciam. Quando finalmente saí de detrás da minha mesa e me aproximei da porta, elas se espalharam rapidamente. Fui para o corredor e vi uma enorme foto da mulher de biquíni olhando para mim no bar enfumaçado.

O momento é tudo. Um repórter de um jornal local havia estado lá naquela noite para escrever um artigo sobre lutas de mulheres na lama em bares da cidade. Se o repórter houvesse tirado aquela fotografia cinco segundos antes do fatídico momento, agora para sempre suspenso no tempo, ou cinco segundos depois, ninguém estaria espiando na porta do meu escritório. Daquela maneira, a foto me fazia parecer parte do espetáculo. Um dos nossos técnicos recortou a foto do jornal, colocou-a em posição de destaque no quadro de anúncios e pendurou-a na parede.

"Se eu fosse você tiraria aquilo de lá", aconselhou-me uma colega. Sim, tirá-la de lá foi meu primeiro impulso. Mas decidi agir como se nada daquilo me embaraçasse e a deixei pendurada no quadro. Afinal, eu não estava tentando me envolver com lutadoras. Estava apenas celebrando a promoção de Steve com Doug. Quando me virei para retornar à minha sala, Steve e Doug surgiram no final do corredor acompanhados por outros colegas, todos rindo e debochando de mim.

—Do que estão rindo? — perguntei beligerante. — Também estavam lá.

—Ah, sim, John. — Todos continuaram rindo. — Vá sonhando. — Eu me virei e examinei melhor a foto, que devia ter vinte e cinco centímetros de altura e quatro colunas de largura. O tempo do fotógrafo havia sido impecável. Steve e Doug ainda não haviam saído do banheiro no momento do retrato. Eu estava ali sozinho, em pé, com meu rosto bem no nível do top do biquíni da lutadora. Ao ver a

cena com mais atenção, soube que meu navio de guerra havia afundado. Eu não tinha nenhum lugar para correr ou me esconder.

O que eu devia fazer? Comprar óculos estilo Groucho Marx, com nariz e bigode postiços e passar os dois anos seguintes usando o acessório. Sim, de fato, só os tolos são atacados por tolos. Mas, às vezes, os tolos apenas estão no local errado no momento errado. É o tipo de incidente que marca uma pessoa para o resto da vida.

A lição é que coisas constrangedoras acontecem com todo mundo. Coisas ruins ocorrem com todos, com alguns mais do que com outros, mas com todos da mesma maneira. A medida que amadureci, aprendi que isso é normal. Todas as coisas podem funcionar juntas para o bem.

Na manhã seguinte removi a fotografia do quadro. Talvez minha porção professor tivesse pensado: "o técnico fez um trabalho tão bom de recorte e montagem, que eu devia mesmo ter deixado o retrato aqui para que todos vissem o resultado." É claro, eu não pensei nisso. Por alguma razão, uma voz sinistra ecoou em minha cabeça lembrando que o que não pode me matar me faz mais forte. Não sei ao certo de onde veio a voz que me aconselhou a deixar a fotografia no quadro do corredor por vinte e quatro horas. Mas fico feliz por ter ouvido o conselho.

No documento A PRENDA A EVITAR CONFLITOS (páginas 69-71)