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Cuidado com seus associados

No documento A PRENDA A EVITAR CONFLITOS (páginas 188-190)

Você não precisa ser um ativo praticante da rebeldia adolescente para ser tragado por sua correnteza. Já se viu envolvido em uma reunião de reclamações no trabalho, perguntou-se como havia ido parar lá e desejou nunca ter entrado naquela sala? Depois de assistir à cobertura da televisão sobre os radicais do campus atuando em locais como Columbia e Berkeley, reuni-me com o grupo de amigos intelectuais e elitistas de Hector numa determinada noite, para tentarmos conjurar uma forma de levar nosso plácido e pequenino campus ao centro de toda aquela atividade. Eles buscavam ansiosamente algo que pudesse despertar sua indignação ultrajada.

Uma coisa levou à outra, e decidimos enfrentar a administração do campus. Embora a maioria dos alunos do campus não estivesse entre nós naquela noite, decidimos que a faculdade não estava distribuindo bolsas integrais em quantidade suficiente para os estudantes menos privilegiados.

Numa incomum demonstração de carisma, que em retrospecto parece ter sido um caso de sorte e azar, fui apontado como porta-voz do grupo. Aceitei o papel relutante e liderei as três dúzias de estudantes, mais ou menos, numa passeata de um quarteirão até a reitoria às duas da madrugada. Havíamos levado todo esse tempo para decidir contra o que desejávamos protestar.

Cercado por estudantes enfurecidos, eu bati na porta da frente. Uma luz se acendeu lá dentro, a porta se abriu alguns centímetros, e a esposa do reitor espiou pela abertura. Foi quando a luz começou a se tornar mais brilhante no interior da minha cabeça. Ver aquela mulher baixinha com rolos nos cabelos segurando o roupão para

proteger-se do ar frio da noite fez-me pensar: "O que está fazendo, John?" Mas era tarde demais. Eu havia atravessado a fronteira. Tinha quase quarenta estudantes mimados de classe média olhando para mim em busca de liderança. Quando você se vê embaraçado por suas ações ou por ter se associado a um movimento popular no trabalho, essa é sua dica para sair. Seus colegas protestantes vão choramingar e reclamar, mas é melhor desistir assim que reconhecer seu constrangimento a mergulhar ainda mais fundo nele.

Enquanto devia estar na cama, com meu relógio despertador programado para disparar a tempo de me fazer estar presente na aula das oito da manhã, eu estava parado diante da porta do reitor anunciando nossa queixa, exigindo que nos fosse permitido falar com a administração. Ele concordou em receber uma delegação de alunos à uma da tarde seguinte na União dos Estudantes. Se fosse mais esperto, teria marcado a reunião para as oito da manhã. Nenhum de nós teria aparecido, e o encontro teria durado sessenta segundos.

No dia seguinte, quando os administradores se sentaram, um grupo de alunos sonolentos e cansados se reuniu naquela sala ocupando todos os lugares no chão, sobre os móveis e encostados nas paredes. Para minha surpresa, o diretor da graduação olhou para mim e convidou-me a ser o moderador. Ele suspeitou corretamente que o diálogo poderia se tornar rapidamente desordenado e improdutivo. Como presidente de classe e líder eleito daquele grupo de rebeldes, ele achava que eu poderia ter alguma medida de influência sobre o grupo.

Antes mesmo de começarmos a sessão, senti uma intensa necessidade de me desculpar. Percebi que garantir mais bolsas de estudo para estudantes poderia ser uma aquisição mais simples se realizada pelos canais competentes, isso se tivéssemos a maturidade, a disciplina e a paixão necessárias para seguir por esse caminho. Daquela forma, éramos apenas estudantes rebeldes agindo por impulso, quando devíamos estar lutando genuinamente por uma causa válida.

Nosso grupo de alunos em Wartburg College não sabia o que significava disciplina paciente na luta por uma causa maior. Não

sabíamos sequer soletrar sacrifício. Por maiores que fossem os méritos da liberdade e da justiça, o objetivo daqueles jovens era ser tão ruidoso e perturbador quanto possível. Agir por impulso e causar desordem geral é a manifestação adolescente que equivale à birra de uma criança de dois anos de idade. Apesar do meu esforço para manter a ordem, a reunião tornou-se barulhenta e desorganizada. Hector não perdeu a chance de ser ríspido, grosseiro e desrespeitoso com os administradores. Ele saboreou cada minuto da situação, parando apenas durante o tempo necessário para acender outro Pall Mall.

De repente, minha questão inicial emergiu. Senti que, se alguém tinha o direito de causar comoção no campus, essas pessoas eram aquelas que pagavam parte de suas mensalidades em dinheiro ou suor. No entanto, as vozes mais altas e cáusticas eram as de Hector e outros que não realizavam nenhum investimento pessoal na faculdade, exceto o de estarem ali. De acordo com minha experiência no local de trabalho, aqueles que mais têm direito de protestar são, normalmente, os que menos o fazem.

Aquela sessão caótica e furiosa com os administradores do campus foi uma experiência transformadora para mim. Quando ocorreu a sua? Quantas você teve? Admito que não aprendi tanto quanto poderia e deveria de cada experiência transformadora em minha vida. Mas, falando por mim, quanto mais dura a cabeça, maior é o número de batidas neces- sárias para chamar sua atenção. Quando adotar uma causa, que pode ser defender os princípios que você julga serem importantes no local de trabalho, espero que as pessoas que olharem em seus olhos vejam o motivo real, não a manifestação da birra de um adolescente velho demais.

No documento A PRENDA A EVITAR CONFLITOS (páginas 188-190)