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CAPÍTULO I. Percursos teóricos da pesquisa: a Cinesiologia Humana

1.2 Construindo e problematizando o objeto de pesquisa: a Cinesiologia Humana

A revisão de literatura, como afirmamos anteriormente, permitiu-nos identificar aspectos importantes dos estudos realizados, tendo em vista a construção do objeto da nossa pesquisa, tal como o paradigma e enfoque epistemológicos fundamentadores dos estudos, as abordagens metodológicas, as categorias de análise e as conclusões dos estudos. Nesse sentido,

a revisão da literatura e o estado da arte contribuíram para a delimitação do objeto da nossa pesquisa, bem como para definir, com clareza, nosso problema. Tomamos conhecimento das diversas pesquisas realizadas similares à temática de pesquisa que nos ocupa – a Cinesiologia Humana – e ao nosso objeto de pesquisa, a Cinesiologia Humana e a prática pedagógica na Educação Física escolar.

Acatando os requisitos de Eco (1994) para a construção e definição do objeto de pesquisa e considerando os quatorze estudos que vimos realizados sobre a temática, notamos que falta um maior aprofundamento em relação ao conhecimento sobre Cinesiologia Humana e, ao mesmo tempo, uma análise sobre os seus blocos temáticos e seus impactos e influências na prática pedagógica. Consideramos ser de enorme relevância uma comparação entre os conteúdos ensinados, as propostas dos PCN de Educação Física no âmbito escolar (BRASIL, 2001, p. 46) e os conhecimentos propostos pela Cinesiologia Humana. A decisão de tomarmos como objeto de pesquisa a Cinesiologia Humana e a prática pedagógica na Educação Física escolar relaciona-se com a nossa inquietação relativa à ausência de estatuto epistemológico da educação física, por um lado e, por outro, ao modo como os alunos perspectivam a educação física escolar e a prática pedagógica dos professores.

A preocupação em conhecer mais profundamente a Cinesiologia Humana, enquanto paradigma emergente para a Educação Física relaciona-se com o objetivo de analisar a apropriação da prática docente, em especial os conteúdos específicos sobre os quais deve incidir a prática docente. De acordo com o paradigma tradicional de Educação Física, aquele que vigora nas escolas públicas, o professor dessa disciplina atuar essencialmente como um técnico e/ou preparador físico, os alunos são considerados atletas e os conteúdos voltados para um programa de iniciação esportiva. Consideramos que esse paradigma não responde às exigências que hoje se colocam ao ser humano e, sobretudo, na medida que não considera a complexidade do indivíduo como ser biológico e sociocultural, não forma para o exercício da cidadania

Os documentos legais que estabelecem os Parâmetros Curriculares para o componente curricular de Educação Física, apesar de estabelecerem um discurso fortemente pautado numa visão antropológica, ainda traz como proposição para a prática pedagógica dos professores os conteúdos relacionados às manifestações da cultura, entre elas o esporte (BRASIL, 2001, p. 46).

A Cinesiologia Humana, que pensamos ser um novo paradigma7 da educação física escolar, tem como proponente o professor Jose Guilmar Mariz de Oliveira que sugere a necessidade e urgência de se caracterizar a Educação Física enquanto área do conhecimento, justificando-a, assim, nas suas dimensões epistemológica e acadêmica a partir da unicidade e especificidade relacionadas ao estudo do movimento humano. É a partir desses pressupostos que se deve abordar a Educação Física como componente curricular obrigatório da Educação Escolar Básica. Pretendemos, pois, pesquisar em que medida esse novo campo de conhecimento impacta nas relações de ensino-aprendizagem numa aula de Educação Física no âmbito escolar, mais especificamente no ensino fundamental II nas escolas da rede privada de ensino do Estado de São Paulo. Nesse sentido, a questão nuclear de pesquisa a que pretendemos responder é a seguinte: qual a contribuição epistemológica da Cinesiologia Humana para a prática pedagógica dos professores nas aulas de Educação Física no ensino fundamental II das escolas particulares no estado de São Paulo?

Em relação às questões derivantes da pergunta central, que poderão emergir e ser respondidas durante a pesquisa, temos: (1) como os professores reconhecem e implementam os blocos temáticos da Cinesiologia Humana nas aulas de Educação Física?; (2) Qual a percepção dos professores em relação aos conhecimentos da Cinesiologia Humana ensinados nas aulas de Educação Física?; (3) como os professores organizam e sistematizam didaticamente os conteúdos da Cinesiologia Humana nas aulas?; (4) Qual a avaliação dos professores em relação aos conhecimentos da Cinesiologia Humana em comparação aos apresentados pelos PCN de Educação Física? Coloca-se, assim, como objetivo geral: Compreender a contribuição epistemológica da Cinesiologia Humana para a prática pedagógica dos professores de Educação Física escolar e objetivos específicos: analisar a apropriação dos professores que aplicam a concepção da Cinesiologia Humana nas aulas de Educação Física; analisar a percepção dos professores que aplicam a concepção da Cinesiologia Humana nas aulas de Educação Física.

Do ponto de vista metodológico, o estudo possui uma abordagem qualitativa por considerarmos que nos permite, por um lado, aprofundar o conhecimento da Cinesiologia Humana aplicado à prática pedagógica docente, a partir do discurso dos entrevistados. Temos claro que o universo e locus da pesquisa serão os professores de Educação Física da Educação

7 O conceito aqui empregado, contempla a ideia de T. Kuhn sobre um conjunto de conhecimentos determinados

pela forma de pensar, os dados, conceitos e teorias, isto é, “de modelos aceitos”. De acordo com Kuhn (2007, p. 13), “Considero “paradigmas” as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”.

Infantil, Ensino Fundamental I e II e Médio dos sistemas privados e públicos de ensino básico. Dessa forma, consideramos importante contextualizar a Educação Física no âmbito educacional enquanto componente curricular na Educação Escolar Básica e retomar brevemente aspectos históricos característicos da área.

1.3 Educação escolar básica no Brasil: o espaço mágico de construção de