• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I. Percursos teóricos da pesquisa: a Cinesiologia Humana

1.7 Parâmetros Curriculares Nacionais

Elaborados pelo Governo Federal, os Parâmetros apresentam as diretrizes para a construção do currículo em nível nacional de todas as escolas públicas e privadas no Brasil, configurando-se, assim, um documento educacional de muita relevância. De acordo com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) podem ser compreendidos como um conjunto de proposições e conhecimentos socialmente relevantes para o sistema educacional brasileiro, considerando ainda o respeito às características e especificidades da realidade local no processo de construção da cidadania.

De acordo com o próprio documento dos PCNs (BRASIL, 1997, p. 10):

Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual.

Para Bonamino e Martínez (2002), a partir dos anos de 1980, o retorno da democracia política e a abertura política contra a persistência do autoritarismo do governo militar deram ensejo ao contra-ataque com as reformas no sistema de ensino brasileiro, com a elaboração das novas Constituição Federal (CF) seguida da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e a divulgação da primeira versão dos PCNs pelo MEC. Essa aconteceu antes mesmo da deliberação dos conselheiros do CNE e deu-se a partir de uma política construída num movimento invertido. Assim, os PCNs, apesar de serem instrumentos normativos de caráter

mais específico, foram construídos e encaminhados de forma a reorientar um instrumento de caráter mais geral como as DCNs13.”

Para Bonamino e Martínez (2002, p. 371):

Quem conhece os PCNs pode perceber claramente a distância existente entre o que poderia ser um conjunto de conteúdos mínimos e obrigatórios para o ensino fundamental, ou uma proposta de diretrizes curriculares, e uma complexa proposta curricular, que contém diretrizes axiológicas, orientações metodológicas, critérios de avaliação, conteúdos específicos de todas as áreas de ensino e conteúdos a serem trabalhados de modo transversal na escola. Mariz de Oliveira é enfático ao afirmar que o processo de elaboração da versão preliminar do PCN de Educação Física se deu em meio a circunstâncias oportunistas, com convites indecentes. Em vez de ter sido resultado de uma discussão profunda, rigorosa e responsável, mostrou-se, na verdade, uma moeda de troca de benesses, compromissos e conchavos partidários, baseados em coligações absurdamente imorais e desprovidas de ética (informação verbal).

A qualidade técnica da versão final do PCN de Educação Física para o ensino fundamental teve seu parecer aceitável e a abordagem avaliada como coerente com a possibilidade de integração de blocos temáticos de conteúdos (DARIDO et al., 2001; SANCHES NETO, 2003), porém também encontrou críticas por parte de Mariz de Oliveira (2005) e Moura Jorge (2004, p. 2) “acerca dos três eixos temáticos (1) esporte, jogos, danças, lutas e ginástica; (2) conhecimento sobre o corpo e (3) atividades rítmicas e expressivas” por serem conteúdos equivocados e passíveis de questionamentos por limitarem ou possibilitar a ambiguidade da especificidade da Educação Física em relação a outros componentes curriculares.

Para Darido e Rangel (2014, p. 17), “os PCNs, especialmente os destinados aos dois últimos ciclos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) indicam uma possibilidade de aproximação entre as abordagens já propostas para o componente curricular Educação Física.” A Educação Física tem seus fundamentos nas concepções de corpo e movimento e enquanto componente curricular deve superar a ênfase na Aptidão Física para o rendimento padronizado, para entendê-lo como corpo vivo, o corpo das pessoas, que se interagem e se

movimentam nas dimensões sociais, culturais, afetivas, políticas, baseando-se assim o seu currículo na cultura corporal de movimento. (BRASIL, 1998)

Ainda, Taffarel e Escobar (2009, paginação irregular) comentam a respeito da prática do professor nas aulas de Educação Física:

A Educação Física, que tem como objeto de estudo a Cultura Corporal, concretiza-se, na sala de aula, a partir de uma teoria pedagógica que se constrói como categorias da prática docente. Nessa perspectiva, o objetivo e o problema central do processo educativo escolar deve ser a tomada de consciência, procurando evidenciar a relação entre os valores educativos e as condições materiais subjacentes. A educação é a inculcação de uma série de ideias, atitudes e valores predeterminados, contudo, a tomada de consciência deve se iniciar a partir de uma nova prática, não espontânea, mas alimentada por uma teoria que representa a síntese da experiência teórico-prática da luta dos povos pela sua emancipação e que está disponível no partido da classe operária.

Estudos Cinesiológicos ou Cinesiologia Humana

Discordando da classificação apresentada por Darido e Rangel (2014) como mais uma abordagem, Mariz de Oliveira (2011, p. 8) se pronuncia:

a Cinesiologia Humana não é mais uma “abordagem da Educação Física”. A Cinesiologia Humana como componente curricular, de forma responsável e não excludente, reconhece a importância da fundamentação e conteúdo de “abordagens da Educação Física”, conforme relatadas na literatura pertinente, e as incluem no decorrer das fases do desenvolvimento curricular compatíveis com os níveis de suas possíveis aplicabilidades.

Por conta da escassez de publicações mais completas sobre a proposta, algumas referências e/ou classificações são desencontradas sobre a Cinesiologia Humana, cujo autor principal é José Guilmar Mariz de Oliveira.

De acordo com Manoel (2017, p. 16):

a proposta de Mariz de Oliveira não corresponde ao se se chamou de Estudos Cinesiológicos ou do Movimento Humano que consistia na sistematização do conhecimento produzido pela área ou disciplina acadêmica que atende pelo seu nome Cinesiologia.

Mariz de Oliveira (2008, p. 15), acerca das “abordagens” da Educação Física, afirma que:

mostram-se, de alguma forma e em muitos aspectos, excludentes entre si. Por outro lado, é evidente que as essências acadêmica e epistemológica da

Cinesiologia Humana permitem a inclusão, acomodação e adequação de muitos entendimentos e conceitos, termos e rótulos a parte, da Motricidade Humana, Cultura Corporal, e Educação para a Saúde, e não dependem necessariamente de glossários especiais e rebuscada, empolada, e quase que infindável fundamentação científica e filosófica.

Figura 4: As Abordagens da Cinesiologia Humana.

Fonte: Mariz de Oliveira (2008)

De acordo com Mariz de Oliveira (2008) as abordagens da Educação Física correspondem ao engajamento de grupos que criaram várias concepções e abordagens da Educação Física que, de forma direta ou indireta, apresentam o movimento como elemento comum às suas ações pedagógicas. Todas essas concepções e abordagens, analisadas em seu conjunto, podem contribuir de forma significativa para se atingir os objetivos da Cinesiologia Humana na educação escolar.