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CONSUMIDOR FINAL

No documento WWW/INTERNET 2012 (páginas 195-200)

QUINTA DIGITAL: COMÉRCIO ELETRÓNICO DE

agrícola e apoio ao agricultor, nas mais das vezes, proporcionadas por associações agrícolas ou organismos governamentais associados a este sector, sem qualquer objetivo comercial e/ou solidário.

Neste artigo, apresenta-se, sucintamente, o enquadramento socioeconómico para esta ideia de negócio associada à Quinta Digital, através da identificação de quatro fatores essenciais: dinâmicas macroeconómicas, necessidades identificadas no espaço rural, oportunidades de negócio e potencial de crescimento e expansão. Em seguida, apresentamos um modelo de negócio, baseado numa forma de taxação por cada transação, na construção de uma rede para fidelizar produtores e consumidores finais, e num modelo de financiamento que garanta o arranque e a sustentabilidade económica e financeira da Quinta Digital.

Finalmente, avançamos com algumas ideias e sugestões para o desenvolvimento da implementação da infraestrutura informacional subjacente ao negócio Quinta Digital.

2. ENQUADRAMENTO SÓCIOECONÓMICO

Em Portugal, as recentes dificuldades económicas e financeiras têm revelado a necessidade de uma maior produção de bens de primeira necessidade, entre os quais destacamos os produtos agrícolas, como forma de criação de riqueza e do equilíbrio da balança comercial. Para este propósito, tem-se vindo a constatar uma necessidade estratégica emergente de modernização do sector agrícola e da sua capacidade de inovação.

Uma das principais limitações do sector agrícola está relacionada com a dificuldade de escoamento dos produtos, principalmente aqueles provenientes de pequenas explorações agrícolas, a preços justos, em consequência do excessivo poder negocial das grandes empresas de distribuição. A opção por um modelo de comércio eletrónico, para encurtar a cadeia de valor e permitir o contacto direto entre extremos: produtor e consumidor final; permite atenuar estas dificuldades e criar feedback direto, fornecendo informação essencial para ações de I&D e inovação. Esta opção resulta da intersecção de quatro fatores, que, de certa forma, deixam perspetivar a sua capacidade de rápida penetração no mercado e o seu potencial de desenvolvimento de estratégias de crescimento e expansão.

2.1 Dinâmicas Macroeconómicas

Em Portugal, desde meados da década de 1980, a agricultura perdeu mais de dois terços do seu peso total no VAB, em consequência da adoção de políticas macroeconómicas de convergência com a União Europeia.

Numa avaliação das dinâmicas macroeconómicas, é possível verificar que o sector agrícola tem um grande potencial na ajuda à recuperação do equilíbrio da balança comercial e na criação de riqueza. Um dos aproveitamentos que podemos fazer deste potencial está na revitalização produtiva e comercial deste sector, num espaço inovador que estimule a sua promoção e desenvolvimento, tendo em conta o mercado local e de exportação.

2.2 Necessidades Identificadas no Espaço Rural

Existem fragilidades nas explorações e mercados agrícolas, nomeadamente na distribuição dos produtos e na capacidade para competir com a oferta das grandes superfícies comerciais.

Os pequenos produtores não conseguem volumes de produção que permitam concorrer com grandes produtores, favorecidos pelas grandes superfícies comerciais devido à estabilidade de fornecimento que oferecem. O associativismo poderia atenuar estas dificuldades mas tem funcionado de forma limitada, devido à falta de dinâmica e inovação. Os canais de distribuição das grandes superfícies comerciais permitem uma grande comodidade no processo de compra, ao passo que os pequenos produtores têm dificuldade em chegar aos consumidores explorando, ocasionalmente, os mercados locais, vendendo a condições extremamente difíceis, que passam por margens de comercialização esmagadas, prazos de pagamento alargados, exigências de quantidade e entrega impossíveis de cumprir ou, ainda, a adoção de uma postura passiva de espera pelo consumidor. A rastreabilidade é um valor acrescentado em cadeias de valor muito longas tanto em número de estádios como em distâncias percorridas pelos materiais. Tornar a cadeia de valor mais curta constitui assim uma mais-valia, permitindo consumos locais, mais facilmente rastreáveis e com menor pegada ecológica.

É reconhecido que algumas oportunidades de desenvolvimento do espaço rural, identificadas por vários agricultores, passam pelo apoio especializado e condições para escoamento dos produtos, sem descartar o importantíssimo papel das tecnologias da informação e comunicação (Mueller, 2000).

2.3 Oportunidades de Negócio

Os produtos agrícolas são produtos de primeira necessidade o que, em geral, representa um consumo diário e rotação elevada. Este consumo pode ser doméstico ou ocorrer em unidades de restauração e hotelaria. Neste último caso pode-se atingir consumos mais elevados e com os padrões de qualidade mais exigentes. Assim, há necessidade de potenciar o associativismo para facilitar o fornecimento e distribuição em grande quantidade. Em ambos os tipos de consumidores podemos identificar algumas dificuldades: a grande maioria dos consumidores domésticos não tem disponibilidade para se deslocar ao mercado tradicional para adquirir os produtos que necessita, aproveitando as suas deslocações às grandes superfícies para comprar, também, outros produtos. Para as unidades de restauração e hotelaria a capacidade dos pequenos produtores não é suficiente para satisfazer as quantidades exigidas pelo funcionamento dos seus serviços na maior parte dos produtos.

O desenvolvimento de um serviço de intermediação direta entre produtores e consumidores representa uma efetiva oportunidade de negócio, que terá que seguir um modelo assente numa rede de parceiros e na inovação dos canais de distribuição.

2.4 Potencial de Crescimento e Expansão

A dinâmica de negócio da Quinta Digital pode passar por várias fases de desenvolvimento e de crescimento progressivo, das quais destacamos a fase inicial e os desenvolvimentos a curto e médio prazos.

No início, é expectável que seja necessário um esforço adicional na mobilização dos produtores para adesão a uma relação comercial com uma plataforma de comércio eletrónico. Um dos elementos críticos para o sucesso da iniciativa consiste em identificar produtores que sirvam de exemplo e possam demonstrar o potencial do negócio e as suas vantagens e desvantagens, decorrentes da própria experiência. O progressivo crescimento do volume de negócios desta plataforma e, por conseguinte dos produtores, será um catalisador para a atração de mais produtores e criação de uma rede alargada que diversifique a oferta disponível.

A curto prazo, existem outros produtos que poderão passar a ser oferta da Quinta Digital e que se compatibilizam com este negócio. Por exemplo, tirando proveito da designação genérica “Quinta”, a comercialização de animais, como animais domésticos, e de outros produtos de fácil manufaturação caseira, como queijo, pão, compotas ou ovos, pode garantir a contínua diversificação da oferta e a exploração de novos nichos de mercado.

E a médio prazo, com o crescimento sustentado do negócio é, também, previsível que os próprios produtores possam aumentar as suas produções e começar a desenvolver explorações com maior qualidade e diversidade. Esta situação poderá conferir a possibilidade de exportação de produtos. Poderão, assim, ser apresentados produtos de alto valor acrescentado, que valorizarão ainda mais o trabalho dos produtores e o potencial da Quinta Digital. No entanto, a sua plataforma teria que ser atualizada e devidamente preparada para uma relação comercial mais complexa.

3. MODELO DE NEGÓCIO

O modelo de negócio (e.g., Laudon, 2012) desenvolve-se em torno da necessidade dos produtores escoarem os seus produtos de forma mais eficiente e da apetência dos consumidores para comprarem estes produtos, caso estejam facilmente disponíveis e a preços baixos. O funcionamento operacional do negócio consiste na consulta aos produtores de informação a disponibilizar online sobre os produtos. Os clientes consultam a informação e escolhem os produtos que pretendem, procedendo de imediato à encomenda e ao seu pagamento. A entrega é realizada pela logística da Quinta Digital, que ganhará uma percentagem sobre o valor de venda.

Entendemos que este negócio poderá ser sustentável através da venda de grandes quantidades de produtos com pequenas margens de lucro por unidade. Para o efeito, há que mobilizar uma rede de produtores que consiga aglomerar quantidades que satisfaçam continuamente as necessidades da exploração.

Para os consumidores a proposta de valor é a possibilidade de poderem comprar produtos de pequenos produtores de forma rápida, cómoda, segura e económica. Para os produtores, a proposta de valor consiste na visibilidade dos seus produtos no mercado global, e consequentemente na facilidade do seu escoamento, através da redução dos custos de distribuição, e consequente redução do preço de venda ou aumento das margens operacionais, e de ganhos de eficiência nos canais de distribuição.

A Quinta Digital disponibiliza informação sobre a origem, circuito de distribuição, preço e quantidade disponível de cada produto. Assim, o consumidor tem oportunidade de comparar preços entre os diversos produtores e de escolher o que considera ser o melhor. O site poderá funcionar como uma bolsa de valores, possibilitando estratégias de ajustamento de preços à procura verificada, favorecendo o comprador.

Este negócio pode ser enriquecido com alguns serviços complementares, cobrando taxas sobre as transações efetuadas. Um dos serviços consiste num sistema de leilões de cabazes de produtos ou da totalidade de produções agrícolas. É um sistema atrativo para compras antecipadas de grandes quantidades.

Para os produtores, a certeza de ter a sua produção vendida e o recebimento adiantado do dinheiro compensam um eventual preço de venda mais reduzido. Outro serviço complementar consiste num sistema de vendas last minute, assente em reduções de preços unitários ou em rappel de determinados produtos, útil para o escoamento de produtos perecíveis em fim de prazo. Como fator de fidelização, é interessante disponibilizar um sistema de trocas diretas, explorado por pequenos produtores com excesso ou deficit de produtos. As recentes dinâmicas sociais, onde cada vez mais pessoas estão a procurar produzir bens deste tipo nas suas pequenas hortas, induzem a que facilmente se encontrariam boas relações de troca.

Outra forma de acrescentar valor ao negócio consiste na identificação de padrões sazonais, preferências dos consumidores e características preferenciais dos produtos transacionados, resultantes da extração de conhecimento a partir dos dados armazenados provenientes de transações, características de produtos, consumidores e produtores.

4. FINANCIAMENTO

Do planeamento já efetuado, prevemos que o financiamento para iniciar o negócio não seja elevado, adotando uma estratégia de “começar pequeno”. No entanto, uma das possibilidades mais interessantes para obter este financiamento é explorar o crowdfunding (PPL, 2012), ou seja, a recolha de pequenas contribuições financeiras de uma comunidade através de plataformas na Internet. Desta forma, estimulando, desde o início, um relacionamento próximo entre a plataforma e os produtores e/ou potenciais clientes, e incentivada por fins socialmente responsáveis. Esta forma de financiamento pode ser potenciada, através do banco de produtos agrícolas, pois levará a que os financiadores sintam que estão a contribuir para uma causa e não apenas para um negócio. Adicionalmente, podemos avançar com uma “campanha de crowdfunding”

junto dos produtores que vão fornecer através da Quinta Digital os seus produtos, inovando no seu negócio e estimulando vendas.

5. CONCLUSÕES E TRABALHO FUTURO

Apresentamos uma solução baseada no comércio eletrónico para a distribuição e comercialização de produtos agrícolas, de forma a reduzir custos, impulsionar e estimular relações diretas entre produtores e consumidores finais, evitando outros intermediários na cadeia de valor. Este negócio assenta diretamente na geração de receitas através da taxação das transações e, indiretamente, através da criação de um conjunto de serviços complementares. Estes têm como objetivo implementar um modelo de fidelização para com a Quinta Digital.

Sugerem-se serviços tais como a disponibilização de leilões online de lotes de produtos, gerados por um ou mais produtores, atendendo à natureza perecível destes produtos. Um serviço particularmente relevante na vertente de prestação solidária, vocacionado para instituições de solidariedade social e/ou organizações não-governamentais, pretende implementar um banco de produtos agrícolas no fim de vida.

O projeto subjacente à Quinta Digital está envolvido na preparação de um modelo de sistema de informação, à semelhança de (Sorensen 2010), e no levantamento das ferramentas de software mais adequadas à sua implementação (vide Scobey 2012), que inclua prospeção de dados (Raghavan, 2005) e a construção de uma comunidade online especializada (Howard, 2010) para suportar e estimular o modelo de fidelização de produtores e consumidores finais.

REFERÊNCIAS

Chen, Y. et al, 2002, WTO and Agricultural E-Commerce, Proceedings of the Third Asian Conference for Information Technology in Agriculture (AFITA 2002), Beijing, China, pp. 555-558.

PPL Crowdfunding Portugal - Collective Finance, http://ppl.com.pt/, Acesso em: 27 de maio de 2012.

Laudon, K. e Traver, C. 2012. E-Commerce 2012 (Eighth Edition). Pearson, United States.

Howard, T. W., 2010. Design to Thrive: Creating Social Networks and Online Communities that Last. Morgan Kaufmann, United States.

Mueller, R. A. E., 2000, Emergent E-Commerce in Agriculture. AIC Issues Brief, 14, pp. 1-8.

Raghavan, N. R. S., 2005. Data mining in e-commerce: A survey. Sadhana, 30 (parts 2 & 3), pp. 275-289.

Scobey, P. e Lingras, P., 2012. Web Programming & Internet Technologies: An E-Commerce Approach. Jones and Bartlett, United States.

Sorensen, C. G. et al, 2010. Conceptual model of a future farm management information system. Computers and Electronics in Agriculture, 72, 37-47.

Strauss, J. e Frost, R. (2011). E-marketing (Sixth Edition), Pearson, United States.

No documento WWW/INTERNET 2012 (páginas 195-200)