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2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

2.1 INFLUÊNCIAS DAS ATIVIDADES DAS EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFÍCIOS NO MEIO AMBIENTE

2.1.1 Consumo de recursos naturais

Em grande parte, a matéria-prima empregada nas obras brasileiras é obtida da extração de recursos naturais, como por exemplo a areia, o cimento Portland, a pedra britada, o aço e a madeira. Observa-se que o volume de matéria-prima consumida na produção de edifícios é elevado e crescente, e que este expressivo volume deve-se às grandes dimensões dos produtos resultantes das atividades construtivas e à tendência, no Brasil, de atendimento à demanda por moradias e novos empreendimentos – decorrentes do próprio crescimento populacional, do déficit observado, do desenvolvimento econômico e do fim da vida útil e obsolescência das edificações existentes.

A questão do consumo de matéria-prima em excesso também deve ser abordada. De acordo com Paliari (1999), sempre que é consumida uma quantidade maior de material do que a estritamente necessária gera-se uma perda, e esta pode refletir-se na forma de gastos extras para a aquisição dos materiais adicionais, no consumo adicional de mão-de-obra para movimentar e aplicar tais materiais e, principalmente, na maior utilização dos recursos naturais de nosso planeta.

John (2000) apresenta alguns valores para o atual consumo de recursos naturais no setor da construção civil estimados por diferentes autores: conforme o país, de 14% a 75% da totalidade de recursos naturais extraídos destinam-se à construção civil; no Japão, em 1995, estimou-se o consumo para a construção civil em cerca de 50% dos materiais circulantes na economia; no Reino Unido em 1998 o consumo estimado variou de 250 a 300 milhões de toneladas de agregados/ano; e nos Estados Unidos, o volume estimado em 1999 indica um consumo anual setorial de 2 bilhões de

toneladas, representando cerca de 75% dos materiais consumidos na economia norte-americana. Outras fontes ainda apontam que o consumo de agregados oscilaria entre 1 a 8 toneladas/habitante.ano.

No Brasil, o levantamento da produção de agregados para a construção civil é feito pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)4, o qual calculou, para o ano de 2001, o valor de 399 milhões de toneladas de agregados produzidos para a construção civil. Deste total, 162,8 milhões de toneladas representam as pedras britadas e 236,1 milhões de toneladas a areia. Assim sendo, o consumo brasileiro de agregados poderia ser estimado em aproximadamente 2,3 toneladas/habitante.ano.

Os principais impactos ambientais decorrentes da extração de recursos naturais são a escassez e extinção das fontes e jazidas, além de alterações na flora e fauna do entorno destes locais de exploração. Em Industry and Environment (1996) foi feito um alerta para o limite dos estoques de algumas reservas de matérias prima. Pode-se citar, como exemplo, que em São Paulo o esgotamento das reservas próximas da capital faz com que a areia natural já esteja sendo transportada de distâncias superiores a 100 km, implicando em enormes consumos de energia e geração de poluição (John, 2001).

Tendo sido caracterizado o consumo de recursos naturais decorrente das atividades construtivas, verifica-se a necessidade de ação por parte das empresas construtoras no sentido de controlar este consumo. Para tanto, esta pesquisa sugere o controle do desperdício de recursos na fase de produção e, principalmente, a atuação mais efetiva das empresas construtoras durante a fase de planejamento, ocasião em que são selecionados os materiais e componentes, as tecnologias construtivas e na qual também é feita a caracterização dos sistemas prediais – sendo, todos estes, fatores determinantes para o bom desempenho ambiental e para a extensão da vida útil do empreendimento.

E, tratando do processo seletivo de materiais e componentes, segundo Cardim (2001), não há metodologia prática que apoie este processo, assim sendo, toma-se partido de outras metodologias tal como a análise do ciclo de vida. Alguns setores tais como o do aço, alumínio, plástico, madeira, cimento e concreto, já divulgam o perfil ambiental de seus produtos5. Entretanto, é de interesse que estes dados excedam o caráter mercadológico voltado à defesa e promoção de seus produtos, e passem para o domínio público, ampliando as bases de dados disponíveis e igualando o modo de dimensionamento e caracterização dos materiais e sistemas, facilitando assim o processo seletivo.

Ainda tratando-se da seleção de materiais e componentes a serem aplicados nas edificações, ressalta-se o conceito da durabilidade. Segundo Sjöström (2000), além do conhecimento específico da durabilidade de materiais e produtos é preciso avaliar o funcionamento do conjunto por eles formado – o qual deve manter seu desempenho técnico durante toda a vida útil pretendida. Para esta análise, Sjöström (2000) sugere que sejam utilizados dados sobre a vida útil dos empreendimentos edificados, obtidos a partir de feedback de clientes, empreendedores e sociedade, e ainda, que o enfoque seja dado sobre a conservação de recursos, confiabilidade dos produtos de construção, aspectos relativas à saúde e segurança, e também sobre os aspectos de manutenção, desenvolvimento e reabilitação do ambiente construído existente.

Adicionalmente à questão da durabilidade, a reciclabilidade surge como sendo outro fator relevante no processo de seleção de materiais e componentes voltado ao controle do consumo de recursos naturais. Thormark (2001) considera a conservação dos recursos naturais como uma das conseqüências da reciclagem, e ressalta que maior importância deve

5 Pode-se encontrar dados relativos às políticas ambientais de alguns produtores de

materiais para a construção civil nos seguintes sítios da Internet: (a) aço (IISI e British

Steel) <www.britishsteel.co.uk>; (b) alumínio (Asociación Mundial del Aluminio)

<www.world-aluminiun.org>; (c) madeira (Federación del comercio de maderas) <www.ttf.co.uk>; (d) plásticos (APME) <www.apme.org>; (e) cimento (CEMBUREAU) <www.cembureau.be>.

ser dada aos metais e aos materiais que possam substituir os agregados. O autor também menciona que o uso de concreto reciclado, tijolos de argila e concreto leve podem atender à necessidade total por agregados em novas edificações e em reabilitações.

Outra observação de Thormark (2001), referente à seleção de materiais, é que caso seja necessário empregar materiais cuja produção exija elevado consumo de energia ou obtidos a partir da matéria-prima escassa, estes deverão ser, pelo menos, recicláveis, fáceis de desmontar e cujo processo de aplicação e uso facilitem sua reciclagem, por exemplo evitando contaminações.

Para apresentar um resumo, Fábregas et al. (1998) apud Cardim (2001) listaram alguns critérios ambientais considerados adequados para o processo de seleção de materiais de construção. São eles:

™ Recursos renováveis – Os materiais elaborados a partir de matérias primas e energias renováveis, ou bastante abundantes, são preferíveis àqueles que se utilizam de fontes convencionais ou escassas (por exemplo: combustíveis fósseis, minerais escassos, etc.). Este critério tem caráter de preservação e refere-se também ao efeito biodegradável dos materiais.

™ Consumo energético – O balanço energético do material selecionado deve apontá-lo como um produto de baixo gasto energético durante todo o seu ciclo de vida, especialmente quando comparado com outro sob os mesmos critérios.

™ Valorização de resíduos – O uso de materiais elaborados a partir de resíduos, reutilização ou reciclagem de subprodutos da construção devem ser preferíveis frente a outros materiais com fontes de matéria prima convencional.

™ Industrialização – Os produtos pré-fabricados ou montados

vida, principalmente sob o ponto de vista econômico, são mais favoráveis.

™ Tecnologia limpa – Todas as fontes de matéria prima e energia empregadas na produção do material, bem como relacionadas à eficiência do processo produtivo (extração, transformação e acabamento), devem assumir o caráter não contaminante.

™ Toxicidade – A ausência de efeitos alérgicos, emissões tóxicas, anormalidades eletromagnéticas e a minimização da radioatividade natural constituem critérios básicos durante a seleção de materiais e componentes.

™ Durabilidade – Todas as informações relativas ao valor funcional, durabilidade e práticas de manutenção, voltadas para que este produto resista adequadamente às condições de uso ao longo de sua vida útil, são valores fundamentais e que devem ser considerados nos processos seletivos.

Da observação destes critérios pressupõe-se a necessidade de analisá-los de modo conjunto, uma vez que há a possibilidade de que uma característica positiva interfira negativamente no desempenho de outro critério – como por exemplo, a reciclagem de um subproduto pode demandar gasto energético que inviabilize o produto obtido, sob o ponto de vista ambiental.

Ainda tratando-se do consumo de recursos naturais, e de modo complementar às fases de planejamento e implantação, este trabalho inclui referências ao consumo de água e energia durante a fase de uso. Apesar da ciência de que esta questão não é de exclusiva responsabilidade das empresas construtoras e projetistas, pois também decorre do comportamento dos usuários das edificações, este consumo deve ser rigorosamente planejado. Seguem algumas referências a estas questões:

™ Consumo de água – a distribuição não homogênea do crescimento populacional e do desenvolvimento das atividades humanas, agravada pela distribuição geográfica de fontes de água também irregular, contribuem para o aumento de pressões sobre os mananciais disponíveis e de fácil acesso – os quais representariam cerca de 0,3% do volume total de água do planeta (UNESCO6). Desta forma, a escassez de água e a sua deterioração, decorrente da própria ocupação e atividade humana, são questões para serem trabalhadas.

™ Consumo de energia – segundo dados do Balanço Energético Nacional de 20017, a energia elétrica consumida nos edifícios residenciais, comerciais e do setor público representam 47,35% do total da energia elétrica consumida no Brasil; na União Européia este percentual é de 40% (Wenblad, 2001). Para o setor residencial brasileiro o principal problema é o aquecimento da água, e nos setores comerciais e públicos o consumo energético mais significativo provém da iluminação e em seguida das instalações de ar condicionado (Lamberts; Westphal, 2000). Neste contexto, o papel das empresas construtoras compreende a avaliação dos projetos de instalações hidro-sanitárias e elétricas no tangente ao uso de equipamentos e configurações adequados que visem a otimização do consumo, e talvez até o uso de fontes alternativas, enquanto mantém a qualidade dos serviços instalados. Também é significativo o papel da construtora no tangente às orientações de uso e manutenção repassadas aos usuários (CSTB, 2002a).

Para encerrar este item, esta pesquisa refere-se à Agenda 21 Brasileira, a qual, apesar do impacto gerado pelo consumo elevado de recursos minerais, não deixa claro como a exploração de tais recursos deva ser conduzida no Brasil – mesmo havendo um capítulo destinado a recursos terrestres. O documento apresentado pelo governo brasileiro no encontro

6 Referência encontrada na homepage do Programa de Uso Racional da Água (PURA-

USP). Disponível em:<www.pura.poli.usp.br>. Acesso em: março 2003.

Rio+5 também reconhece que os avanços em relação ao planejamento e à gestão dos recursos terrestres estão aquém das necessidades do país.