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Diferenças entre os requisitos do SMO e do SGA proposto pela ISO 14001:

3. SISTEMAS DE GESTÃO

3.3.2 Diferenças entre os requisitos do SMO e do SGA proposto pela ISO 14001:

De um modo geral, observa-se que o sistema de gestão ambiental (SGA) busca a melhoria contínua, mas na velocidade e amplitude pela organização determinadas. E, embora sejam esperadas melhorias no desempenho, entende-se que o SGA é apenas uma ferramenta que auxilia a organização atingir, e sistematicamente controlar, o nível de desempenho ambiental por ela mesma estabelecido. Assim sendo, o implemento e a operação do

sistema de gestão ambiental, por si só, não resulta, necessariamente, na redução imediata de impactos ambientais adversos (NBR ISO 14001:1996). Por outro lado, o sistema de gestão do empreendimento, definido pelo SMO, trabalhando em conjunto com o referencial da QEB, possibilita uma atuação bem mais significativa no resultado final do empreendimento, ou seja, no desempenho e características do produto final. A observação dos requisitos da QEB também serve de orientativa aos empreendedores, ao explicitar as características que possibilitam ao empreendimento atingir alta qualidade ambiental ao longo de todo seu ciclo de vida. Em outras palavras, os requisitos da QEB substituem a atividade de identificação dos aspectos (cargas) e impactos ambientais significativos das atividades desenvolvidas proposta pelo SGA, já fornecendo uma listagem específica para as atividades de Programação, Projeto e Execução de edificações, conforme o escopo coberto pelo referencial.

Apesar do SMO não ser um sistema de gestão integrado completo, ou seja, que concilie aspectos ambientais, da qualidade e de segurança e saúde ocupacional, tais como requeridos nas especificações descritas nos itens anteriores, ele é bem mais abrangente do que o SGA proposto pela ISO 14001:1996. Uma diferença bastante significativa é que os requisitos da QEB vão além das observações às interferências ambientais. Observa-se ainda, que o SMO não se preocupa com a organização do empreendedor, como faz o SGA proposto pela ISO, mas tão somente com o empreendimento.

Outra diferença, porém sutil, é que o SGA tal como requerido pela ISO 14001:1996 atua na gestão das atividades que causam impactos ao meio ambiente e nas quais a organização pode exercer influência. E por outro lado, o SMO traz a responsabilidade de maneira bem mais clara, estabelecendo que o empreendedor que submeter seu empreendimento à certificação 'Opération HQE® tertiaire 2002' deve responsabilizar-se pela gestão e direção de seus próprios serviços, e também de seus

fornecedores, com a finalidade de reduzir os impactos ambientais do empreendimento para o qual demanda a certificação e adequá-lo ao 'perfil ambiental' estabelecido.

Por fim, menciona-se que o conceito de 'desempenho ambiental' do SMO e do referencial de QEB é significativamente mais abrangente do que o previsto pela ISO 14001:1996, pois ainda cobre os aspectos sanitários e de conforto dos usuários do edifício.

A gestão e a organização são aspectos fundamentais para a construção sustentável (CIB, 1999). A Agenda 21 Brasileira aponta as inovações organizacionais como elementos estratégicos para a sustentabilidade, assim sendo, a implementação de sistemas de gestão ambiental surge como uma interessantes solução. Deste modo, e para resumir o capítulo 3, são descritas as seguintes considerações que permitem avaliar a aplicabilidade de sistemas de gestão ambiental nas empresas construtoras:

™ A norma ISO 14001:1996, ao recomendar que sejam analisados os elementos das atividades das empresas que interagem com o meio ambiente, considerando as emissões atmosféricas, lançamentos em corpos d'água, gerenciamento de resíduos, contaminação do solo, uso de matérias-primas e recursos naturais, e outras questões locais relativas ao meio ambiente e à comunidade, apresenta-se perfeitamente aplicável nas várias questões que devem ser trabalhadas pelas empresas construtoras.

™ O planejamento das atividades das empresas, requerido pela norma, considera que as transformações necessárias sejam realizadas, porém de maneira consciente da importância do direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações. Engloba-se assim, o processo produtivo e o desempenho ambiental do produto da construção civil - dando o caráter sustentável das edificações produzidas.

™ O modelo proposto pela norma pretende fundamentar e apoiar a implementação e operacionalização do sistema. E ainda, a implementação de um sistema de gestão ambiental desencadeia a prática rotineira da verificação da legislação atuante sobre as atividades e produtos desenvolvidos pela empresa, despertando o seu interesse na observância tanto da legislação ambiental quanto da legislação de segurança e saúde ocupacional, além de outras relativas aos seus produtos e processos.

™ A inclusão da observância da competência dos prestadores de serviços nas tarefas que possam causar impactos ambientais significativos requer a inserção dos subempreiteiros e o seu envolvimento direto no processo – aspecto relevante no contexto das construtoras brasileiras.

™ Também são fatores que apontam a aplicabilidade de SGA em

construtoras o fato da padronização propiciar a transferência de tecnologia entre os canteiros de obra e buscar a adequação dos funcionários por meio da formalização e rotina de treinamentos.

™ Uma releitura da norma sob o ponto de vista de um agente específico, como no caso HQE® dos empreendedores imobiliários franceses, pode ser interessante como elemento instigador. Quanto mais o empresário proprietário de empresa construtora perceber a viabilidade de uma certificação ambiental, mais ele materializará uma eventual intenção estratégica através de ações práticas, no caso a busca da certificação. Essa postura tem sido adotada com sucesso no caso da certificação de sistemas de gestão da qualidade, através das certificações evolutivas QUALIHAB e SiQ-C / PBQP-H.

™ A inclusão no SMO de requisitos associados ao atendimento de necessidades e expectativas de clientes e outras partes interessadas, à avaliação de fornecedores de serviços e à provisão de assistência pós- ocupação, reforça o interesse e a crença na viabilidade da integração de sistemas de gestão.

™ Da análise das similaridades existentes entre os modelos de sistemas de gestão propostos pela ISO 14001:1996, ISO 9001:2000 e OHSAS 18001:1999, pode-se concluir que a integração dos sistemas de gestão é possível e até mesmo recomendável, como sugerido pelos próprios organismos elaboradores destas normas.

Finalmente, a aplicabilidade de sistemas de gestão é verificada na possibilidade de ser uma ferramenta orientativa e adequada à implementação e operacionalização do compromisso das empresas construtoras no controle das questões ambientais. Entretanto, não pode ser ignorado o fato de que a certificação em si só não garante a evolução do desempenho ambiental da empresa e de seus produtos, uma vez que não define ou quantifica o desempenho ambiental específico requerido pelo setor da construção civil.