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Diagnóstico do atual desempenho ambiental das construtoras de edifícios brasileiras

4. ESTUDOS DE CASO

4.2 DESEMPENHO AMBIENTAL VERIFICADO EM EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFÍCIOS BRASILEIRAS

4.2.3 Diagnóstico do atual desempenho ambiental das construtoras de edifícios brasileiras

Da análise das duas empresas construtoras investigadas e dos depoimentos dados por outras construtoras brasileiras, percebe-se que ainda são poucas as empresas comprometidas com a questão ambiental. A grande maioria aguarda o surgimento e fortalecimento de outras pressões externas e de benefícios que as estimulem a atuar sustentavelmente.

Espera-se que a iniciativa de implementar um SGA parta da própria consciência em prol do meio ambiente, além da antecipação das empresas construtoras às prováveis novas exigências do mercado.

A construtora C representa um caso genuíno de conscientização ambiental. Para esta empresa, a implementação do SGA foi facilitada pela preexistência da consciência da importância em preservar-se o meio ambiente alterado por suas atividades; não obstante, já havia na empresa o foco nos interesses das outras partes interessadas, além de seus clientes diretos. Entretanto, vale salientar que o fato de executar empreendimentos para os quais é exigida a obtenção de licença ambiental, também contribuiu para o seu conhecimento das rotinas de identificação de aspectos e impactos ambientais de suas atividades (devido às exigências de elaboração de relatórios EIA / RIMA), facilitando a implementação do SGA. Provavelmente, as construtoras certificadas53 serão as primeiras a constituir o time das 'construtoras ambientalmente conscientes'. Tal fato deve-se aos seguintes fatores: (a) a partir da publicação da versão 2000 da série de normas NBR ISO 9000, a manutenção de seus certificados condiciona-se à revisão completa dos requisitos legais aplicáveis – o que reforça a necessidade de serem solucionadas as questões relacionadas à segurança e saúde ocupacional e à gestão dos resíduos; (b) estas construtoras já possuem um sistema de gestão formalizado e sabem dele beneficiarem-se e medir seu desempenho; (c) as construtoras precisam manter-se competitivas e focar em custos, mercado e imagem; (d) começa a haver consciência ambiental.

Da mesma forma que a construtora D, outras empresas certificadas também iniciaram a introdução de novas práticas em seus sistemas de gestão, dando seus primeiros passos em direção à solução das questões relativas à segurança e saúde ocupacional - considerados aspectos mais urgentes em termos de ajuste às exigências regulamentares (geralmente seguindo a NR- 18 e a especificação OHSAS 18001:1999).

53 Onde lê-se: 'construtoras certificadas', esta pesquisa refere-se às empresas construtoras

mantenedoras de sistemas de gestão da qualidade certificados conforme requisitos da NBR ISO 9001/9002 ou qualificadas no nível A do SiQ-C / PBQP-H.

As empresas que pretendem manter seus certificados crêem que a certificação agrega valor enquanto formaliza seu compromisso com os objetivos e metas estabelecidos e garante sua melhoria contínua – uma vez que são periodicamente submetidos a auditorias externas.

Para lidar com a questão dos resíduos, as empresas construtoras que começam a agir pró ativamente optam por controlar a execução dos serviços e a gestão dos resíduos. Com o controle da execução de serviços o objetivo passa a ser a redução das perdas e desperdícios; e, com a gestão dos resíduos pretende-se cobrir: a triagem, a busca de mercado para seu reaproveitamento e o conhecimento da destinação dada pelas empresas coletoras. Estas práticas começam a ser verificadas em algumas empresas, porém ainda não estão formalmente documentadas e não são aplicadas em todos os seus canteiros de forma padronizada.

Ainda referindo-se aos resíduos, permanece desconhecido o volume gerado por atividade ou serviço. A identificação das fontes de perdas e desperdícios, específica para cada empresa e empreendimento, é fundamental na determinação do método de controle a ser implementado e na aplicação de medidas para a racionalização destas atividades. O conhecimento do volume exato de resíduo gerado ainda poderá contribuir para a análise da viabilidade de seu reaproveitamento e seu potencial comercial. Deste modo, algumas construtoras afirmam estar planejando efetuar estas medições e buscar mercados para alguns resíduos ou, pelo menos, encontrar empresas coletoras que possam encaminhá-los após segregados no canteiro.

Outra prática que começa a ser verificada em algumas construtoras é o reaproveitamento dos resíduos no próprio canteiro, por exemplo, na execução de contrapisos, enchimentos e até de elementos de infra- estrutura, como descrito em Grigoli (2001).

Considerando a questão do consumo de recursos naturais nas empresas construtoras certificadas, a existência de um sistema estruturado que efetua

a seleção e a avaliação do desempenho de fornecedores de materiais e serviços é fator facilitador na introdução dos critérios restritivos relacionados à aquisição de materiais e à contratação de serviços que desconsiderem suas influências ao meio ambiente - durante a execução e também durante o ciclo de vida dos empreendimentos realizados.

Outra questão a ser trabalhada refere-se às especificações de projeto. A seleção de materiais e tecnologias a serem aplicados condiciona-se às definições de projeto e também à predisposição para arcar-se com o possível custo adicional. As empresas construtoras ainda exercem pouca influência nas decisões de projeto e poderiam atuar mais ativamente sugerindo tecnologias e materiais, tornando assim a interação entre projetistas e construtoras mais comprometida.

Embora a grande maioria dos projetistas de arquitetura limite-se a minimizar a supressão excessiva da vegetação, há os projetistas de instalações que já começam a considerar em seus projetos a racionalidade no uso da água e energia, além de prever aspectos relativos à durabilidade e facilidade nas atividades de manutenção. Porém, o custo dos novos materiais e tecnologias ainda não é atrativo.

Para resumir as dificuldades apontadas pelas empresas construtoras analisadas na aplicação de ações ambientais positivas relacionadas à gestão de resíduos, pode-se dizer que a falta de apoio da administração pública constitui seu grande desestímulo. As empresas argumentam que a seleção de resíduos é inútil uma vez que não há quem os colete, selecione, armazene, recicle e os comercialize. Da mesma forma, o acompanhamento da destinação final dada pelas empresas coletoras é inviabilizado pela inexistência de áreas suficientes e adequadas para sua disposição. As distâncias de transporte aos locais licenciados também contribuem para dificultar a fiscalização destas empresas coletoras.

Outro obstáculo à introdução de práticas ambientais nos canteiros de obras é o desconhecimento das despesas requeridas para a implementação e

manutenção de um SGA, as quais, segundo a empresa C, não seriam significativas.

É relevante mencionar a importância da preexistência de SGQ nestas empresas, não somente por facilitar a introdução de novas práticas de modo sistêmico e padronizado a todos os canteiros, como também por serem indicadores das não-conformidades relacionadas ao meio ambiente. A construtora D afirma ter percebido algumas de suas interferências no meio ambiente por meio de registros provenientes de reclamações da população vizinha a canteiros (relativos à emissão de ruído e vibrações), e também de reclamações provenientes de clientes usuários (relacionadas ao desempenho ambiental do edifício pronto).

Com relação à comunicação interna, verificou-se que o próprio SGQ é capaz de proporcionar um bom fluxo de informações – o que pode ser notado por meio dos registros de não-conformidades, das evidências de melhorias e ações corretivas e preventivas tomadas, e do retorno proveniente de clientes e usuários dos empreendimentos. Entretanto, os SGQ verificados ainda não garantem o alcance efetivo destas informações a todas as partes interessadas e envolvidas com os pontos levantados, ficando muitas vezes restritos às reuniões de análise crítica da alta administração destas empresas. Da mesma forma, sua comunicação externa não está padronizada, exceto por seus procedimentos de assistência técnica pós-ocupação.

Ainda analisando os sistemas de gestão da qualidade existentes, percebe- se que nem todas as empresas construtoras certificadas, quer sob requisitos das normas ISO ou pelos sistemas evolutivos do PBQP-H e QUALIHAB, estão aptas a adicionar práticas ambientais ao seu sistema de gestão e obter um sistema de gestão integrado. Existem construtoras certificadas que não trabalham continuamente com o foco na política estabelecida, as quais não absorveram a essência e finalidade da gestão de sistemas no aperfeiçoamento de seus processos e melhoria de seu

desempenho. Para estas empresas, introduzir práticas ambientais poderia até funcionar parcialmente em alguns canteiros, mas não de forma padronizada e de modo contínuo como seria o desejado.

Enquanto há outras empresas, cuja tecnologia adotada as permite possuir canteiros mais limpos, por exemplo, por meio do uso de estruturas pré- moldadas, banheiros prontos, fachadas em elementos pré-moldados, dentre outras tecnologias. Nestes casos, é a própria tecnologia dos processos empregados que contribui para a minimização dos resíduos gerados. Mas esta ainda não é a realidade da grande maioria das empresas construtoras brasileiras, nossos canteiros ainda geram grande volume de resíduos e, mesmo as melhores construtoras ainda têm uma parcela significativa de resíduos a serem coletados e reutilizados.

Uma observação adicional que recai sobre as empresas que utilizam tecnologia avançada, é que seu foco deve voltar-se aos recursos empregados por estas tecnologias, aos resíduos de seus fornecedores e, principalmente, ao seu desempenho e durabilidade.

Para concluir a análise do desempenho ambiental das empresas construtoras brasileiras, este trabalho optou por classificá-las da seguinte maneira e conforme seu estágio de desenvolvimento:

™ Construtoras conscientes, que têm implementado algumas práticas em benefício do meio ambiente, mas ainda sujeitas a dificuldades tais como a deficiência no suporte e apoio dados pelos municípios e projetistas; ™ Construtoras que possuem sistemas de gestão da qualidade eficientes,

certificados ou não, mas que já perceberam a possibilidade de incluírem práticas ambientais nos sistemas existentes e sua positiva contribuição mercadológica. Estas empresas têm iniciado pela revisão de seu SGQ, conforme novos requisitos da NBR ISO 9001:2000, e pelos aspectos relacionados à segurança e saúde ocupacional, pretendendo posteriormente focar nos aspectos relativos ao meio ambiente;

™ Construtoras que, para começarem a agir, aguardam a publicação de novos requisitos legais relativos à gestão de resíduos e a outros assuntos relacionados aos impactos ambientais de suas atividades, bem como que estes sejam exigidos e fiscalizados pelos órgãos competentes; há até mesmo as que aguardam o impacto destes novos regulamentos na cadeia produtiva da construção civil e o conseqüente comportamento das empresas concorrentes;

™ Construtoras, certificadas ou não, que romperam o compromisso assumido em sua política e, por conseguinte, desconhecem a essência do sistema de gestão na obtenção de melhorias significativas em seu desempenho – relacionadas à qualidade da produção, produtos e serviços. Para estas empresas, a introdução das práticas ambientais pode funcionar parcialmente em alguns canteiros mas não de modo padronizado ou continuamente, como é desejado e esperado.

Deve-se mencionar que no Brasil existem empresas construtoras certificadas segundo a NBR ISO 14001:1996, no entanto o escopo destas certificações não atua sobre empreendimentos habitacionais – alvo deste trabalho, por esta razão optou-se por não aplicar o diagnóstico nestas empresas.

4.3 IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL EM EMPRESAS