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CONTABILIDADE E GESTÃO DE CUSTOS NA ATIVIDADE RURAL

1 INTRODUÇÃO

2.3 CONTABILIDADE E GESTÃO DE CUSTOS NA ATIVIDADE RURAL

Nesta parte do referencial teórico, apresentam-se os principais conceitos referentes a contabilidade e gestão de custos, informações e estudos realizados que norteiam este trabalho de conclusão de curso.

Tamanha é a importância da Contabilidade Rural em gerar informações para a tomada de decisões, para obter sucesso, deverá existir uma administração eficiente, que conheça o negócio, sobre o capital, a especialização e modernização da agropecuária. Contudo é nesses aspectos que a empresa rural apresenta carências e prejudica todo um processo de desenvolvimento e modernização desse setor. (CREPALDI, 2011).

O controle de custos na propriedade rural é uma ferramenta importante, pois com ele é possível definir preço de venda, controlar estoque, analisar a cultura que apresenta maiores gastos ou maiores retornos, analisar resultados, produção, volume de vendas, margem de lucro, custos de produção, custos fixos, custo de mão de obra, custo de cada cultura, dentre outros (KOHLS et al., 2018).

No estudo de Coelho et al., (2018), realizado com 14 feirantes da agricultura familiar da cidade de Nova Olímpia (MT), por meio de formulários com perguntas mistas, devido a necessidade de se conhecer como é feito o gerenciamento das unidades produtivas familiares, seu perfil, para poder subsidiar a gestão pública para criação de ações direcionadas a realidade e necessidade deste público e também porque estudos desta natureza em Nova Olímpia-MT ainda são incipientes. Como resultado, observou-se que os feirantes não tem por hábito registrar os custos e receitas da unidade produtiva, mas demonstraram conhecer o que seriam custos denominados por eles como “gastos”.

Também na pesquisa de Hamann et al., (2010), na região de Planaltina (DF), aplicou-se um questionário a cada um dos representantes das 621 agroindústrias dessa região, a fim de evidenciar quais são os métodos de custos utilizados e como é realizada a tomada de decisão nas agroindústrias familiares da região. Como resultado verificou-se que as agroindústrias familiares dessa região apresentam deficiência em seus controles gerenciais, além de não apresentarem sistemas de custos, bem como não têm conhecimento de quais os benefícios que um sistema de custos estruturado pode oferecer, uma vez que estas agroindústrias ainda não se

adaptaram ao mercado competitivo e também apresentam deficiência na gestão da produção.

No estudo de Carpes e Sott (2007), na região do Extremo Oeste de Santa Catarina, compreendendo 21 agroindústrias entrevistadas de 16 municípios, através do levantamento ou survey, com o objetivo de avaliar a sistemática de gestão de custos das agroindústrias familiares destes locais. Como resultados, constatou-se que não há uma ferramenta ou metodologia para registro, identificação e avaliação dos custos de produção e que a gestão de custos do segmento estudado, possui algumas limitações, como por exemplo a inexistência de planilhas informatizadas para registro das informações.

Na pesquisa de Callado et al., (2005) na cidade de João Pessoa (PB), utilizando uma amostra de 20 empresas agroindustriais cadastradas na Federação das Indústrias do Estado da Paraíba – FIEP-PB, com o objetivo de analisar a gestão de custos e o processo de formação de preços das agroindústrias paraibanas. Como resultado, observou-se que a maioria das empresas agroindustriais possui sistema de custos ou alguma forma de estrutura de custos, mas ainda existem fatores limitantes para melhorar a implantação do sistema de custos.

Vorpagel, Hofer e Sontag (2015) realizaram uma pesquisa na região de Marechal Candido Rondon – Paraná, para verificar de que forma que é realizado o controle nas propriedades, constatou que 22% afirmam fazer o controle informal, sem anotações apenas mentalmente, o que leva a crer que por vezes alguns controles passam despercebidos. Por outro lado, 64% dos produtores fazem o controle manual de suas atividades, por meio de anotações em um caderno. Além destes controles, 13% dos produtores administram suas atividades com apoio de planilhas no excel. E cerca de 2% possuem sistemas informatizados próprios ou realizam contabilidade em escritório terceirizado. Alguns produtores alegaram utilizar mais de um tipo de controle, como o informal associado ao controle manual ou controle manual juntamente com planilhas informatizadas em excel.

No estudo de Guse et. al. (2011) no município de Santa Maria – RS com uma amostra de 25 agroindústrias desse local, com o objetivo de avaliar a utilização das informações contábeis no processo de composição do custo de produção das agroindústrias no ano de 2011. Como resultados, verificou que a maioria dos proprietários das agroindústrias tem o conhecimento da contabilidade de custos e a maior parte realiza registros de custos em cadernos ou papéis diversos, porém a maior

preocupação das agroindústrias concentra na área financeira da empresa, deixando- se de lado a análise dos custos dos produtos.

Com base nesses estudos apresentados, observa-se que até o momento a maioria das propriedades rurais e agroindustriais necessitam de alternativas para maior controle e gestão, para Crepaldi (2019) a contabilidade rural no Brasil é pouco utilizada, tanto pelos empresários, quanto pelos contadores, isso acontece devido ao desconhecimento da importância das informações obtidas através da contabilidade. Diante disso, mesmo quando é utilizada, ainda apresenta certas limitações, mesmo com a expansão e modernização do agronegócio.

Existem alguns fatores para o uso limitado da gestão e controle de custos, que vão desde a falta de tempo, desconhecimento da área de custos ou até por preferência de meios antigos de controle como anotações em cadernos ou feeling. Por conta disso, para comercializar seus produtos, grande parte vende pelo preço que o mercado paga ou conforme o preço dos seus concorrentes (WIZBICKI; MIOLO; VIEIRA, 2018). As dificuldades que o produtor rural enfrenta em relação a uma boa gestão de custos potencializa alguns desafios. Os controles limitados interferem na tomada de decisão, gerenciamento e na mensuração adequada dos resultados obtidos e com isso o negócio acaba sendo fragilizado (BALZAN; DALL’AGNOL, 2018). Portanto esta pesquisa objetivou a criação de uma proposta de sistema de custos, para 3 linhas de agroindústrias do noroeste do Estado do Rio Grande do Sul com base em modelos aplicados em outros estudos pelo Brasil.

Quanto aos modelos bases, para a elaboração dos sistemas de custos, o estudo realizado por Silvano et al., (2018), na região do Vale do Aço em Minas Gerais com o objetivo de apurar e analisar os custos de uma pequena panificadora caseira naquela região, bem como evidenciar se os preços de venda dos produtos oferecidos pelo mesmo são capazes de cobrir os gastos totais de produção e gerar um resultado positivo, concluiu que as vendas de todos os produtos fabricados em relação aos respectivos custos, apresentaram R$ 1.033,14 de prejuízos, ainda que o Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) 513, 604 e 187 unidades da rosca de coco, rosca rainha e do pão de cebola respectivamente, devendo ter uma receita total no mês de R$10.204,27, no mínimo.

Outra pesquisa, de autoria de Zanin A., Zanin R. e Nesi Filho (2007), na Cidade de Chapecó (SC), tinha o objetivo de analisar os custos e a formação de preços de venda de uma agroindústria familiar desta região que processa e

comercializa produtos de origem suína, constatou que alguns dos preços praticados não condizem com os custos envolvidos no processo. Devido a essa situação, o empreendedor necessita examinar a viabilidade de praticar os preços sugeridos, ou então adequá-los o mais próximo possível, a fim de garantir a sobrevivência do negócio

A pesquisa de Meneguce et al., (2008), na região Sudoeste do Paraná traz informações e indicadores de duas agroindústrias de derivados de cana de açúcar dos municípios de Santo Antônio do Sudoeste e Ampére, com o objetivo de mostrar os benefícios, articulações, ameaças, oportunidades e os resultados esperados da forma de produção associativa, oportunizando a estas agroindústrias a devida assistência técnica a estes produtores quanto a área de gestão e finanças.

O modelo de gestão de custos elaborado com base nestes estudos, objetiva apurar os custos e os indicadores de gestão de custos no modelo proposto, bem como analisar os resultados encontrados para cada agroindústria e posteriormente, instrumentalizar os gestores para a utilização do modelo proposto e assim melhorar a gestão de resultados de cada agroindústria.

Para o ambiente do agronegócio familiar o uso de modelos de gestão que facilitem ao agricultor no processo de tomada de decisão são muito relevantes, principalmente porque permitem a alavancagem financeira (QUEIROZ; BATALHA, 2005). Ou seja uma boa gestão e controle de custos das propriedades e agroindústrias familiares, auxilia na melhora da organização, da competitividade, ações estratégicas e resultado desse setor, essa constatação foi obtida no estudo de Saggin et al., (2017), em uma propriedade rural familiar localizada no município de Cafelândia-PR, a fim de identificar possibilidades para o futuro da propriedade devido às dificuldades enfrentadas no que tange à continuidade das atividades agrícolas. Portanto foi proposto um controle de custos para cada atividade desenvolvida na propriedade para identificar possíveis alternativas para a gestão da propriedade. Como resultado, a análises dos custos e receitas das atividades desenvolvidas na propriedade permitiram sugerir alternativas, visando maior qualidade de vida dos proprietários e maior rentabilidade, permitindo delinear alternativas para auxiliar na tomada de decisão quanto ao futuro da propriedade.

Resultado também obtido na pesquisa de Lizot et al., (2017), com sete pequenas propriedades rurais familiares situadas no Oeste Catarinense e Sudoeste do Paraná, com objetivo de aplicar um modelo de gestão de custos o qual auxilie o

agricultor familiar no processo decisório para realização de investimentos nas atividades de produção da propriedade, como resultado o estudo identificou que o modelo proposto apresentou-se relevante no auxílio da gestão das propriedades rurais familiares, elencando através da segmentação das atividades produtivas as prioridades de investimentos, debruçadas no equilíbrio entre a gestão de custos e a margem de contribuição das atividades.

Cenário comprovado na pesquisa de Ribeiro et al., (2016), no Sítio Santa Rita localizada no município de Marialva (PR), que busca verificar que estratégias são adotadas pelo produtor rural familiar para vencer os desafios em um ambiente competitivo. No qual se buscou no ambiente de campo, informações sobre o processo produtivo, os custos e despesas referentes às culturas e produtos e como resultado o estudo apontou que as estratégias adotadas geraram resultados positivos, com o aproveitamento racional da área de plantio, inovações na produção de queijo, diversificação das atividades (soja, milho e viticultura) além do aproveitamento do maquinário e equipamentos com o arrendamento de terras no sistema de parcerias

De acordo com Marion (2006, p. 24) as empresas rurais são aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas.

A contabilidade rural tem como objetivo levantar informações sobre o patrimônio das empresas rurais, por meio de controles do patrimônio das propriedades e de seus resultados (CREPALDI, 2012). Ainda nas palavras desse autor, a ferramenta gerencial que as propriedades rurais mais necessitam é a contabilidade. É por meio dela que informações são geradas, permitindo o controle, planejamento e a tomada de decisão, fazendo com que as propriedades consigam acompanhar o desenvolvimento e o crescimento do setor agrícola, tanto na questão financeira, de custos, resultados e diversificação de culturas.

Segundo Scanferla et al., (2017), a modernização agrícola, os estudos de melhoramento genético, mercado internacional, inseriram o agronegócio brasileiro em um cenário dinâmico, no qual é essencial que o produtor tenha informações sobre o processo produtivo para alcançar melhores resultados.

Mendes e Padilha Junior (2007) ressaltam que a atividade agroindustrial se divide em 3 grupos: beneficiamento do produto agrícola (arroz, café, milho); transformação de produtos zootécnicos (mel, lacticínios, casulos de seda); e transformação de produtos agrícolas (cana de açúcar em álcool, melado e aguardente;

soja em óleo; uva em vinho e vinagre; moagem de trigo e milho).

Conforme informações da Lei nº 11.326/06 o agricultor familiar e empreendedor familiar rural é aquele que pratica atividades no meio rural seguindo alguns requisitos: não possuir área maior a quatro módulos fiscais; utilizar a mão de obra administrativa ou de campo dos familiares nas atividades de seu empreendimento; ter renda com percentual mínimo originada de atividades econômicas de seu estabelecimento agrícola; e dirigir sua propriedade com a família. As empresas que formam a cadeia de produção de alimentos precisam observar algumas questões, como a perecebilidade dos alimentos, sazonalidade das culturas, pragas na lavoura e pecuária, bem como o impacto ambiental com o uso de pesticidas (RASIA et. al., 2011).

O principal problema do homem do campo é a falta de mão de obra e a sucessão familiar, pois há uma migração dos filhos dos agricultores do campo para as cidades, aliada a grande dificuldade de encontrar mão de obra para trabalhar nas atividades rurais, devido ao trabalho manual envolvido e aos poucos atrativos financeiros, culturais e educacionais, (SEVERO; TINOCO; OTT, 2017). A partir destes conceitos percebe-se que cabe ao agricultor observar algumas particularidades, pois sua produção é influenciada por algumas variáveis, como o clima, sazonalidade, perecebilidade, variáveis econômicas, mercado, êxodo rural e outras.

Com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar, através de consulta ao site do governo federal, observa-se que este aposta em alguns programas e créditos, a fim de integrar o pequeno produtor a cadeia do agronegócio, bem como proporcionar o melhoramento da sua produção, com mais tecnologia, e assim também melhorar a renda, como por exemplo o PRONAF e Mais Alimentos.

Com a oferta de recursos financeiros e taxas reduzidas, através de subvenções do governo federal, o cenário do crédito rural e investimento agrícola, desempenha um papel essencial, pois a produção agrícola é realizada com custos menores, ocorre a geração de mão de obra e a redução do êxodo rural (SOUZA; CAUME, 2008).

Conforme dados da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do estado (SDR), com o auxílio da Emater Regional RS, lançou o Programa da Agroindústria Familiar (PEAF). Possibilitando uma espécie de assistência e consultoria da Emater a estes, tanto na parte burocrática, de legalização e regulamentação, como também na parte de fabricação e comercialização. Quanto

a comercialização da produção rural, até o momento a venda dos seus produtos é registrada via nota fiscal no bloco de produtor, contudo estima-se que é questão de tempo a substituição do talão de notas pela Nota Fiscal Eletrônica de Produtor Rural; e ainda cada agroindústria possui inscrição estadual.

A agroindustrialização da produção agropecuária tem papel fundamental para o aumento da renda do produtor familiar (FOGUEZATTO et al., 2018). Em grande parte pela autonomia proporcionada a este e também como uma proposta menos impactante ao meio ambiente. Para integrar esses produtos ao mercado, é utilizado a comercialização em feiras de agricultura familiar, que demonstram-se como um exemplo de economia solidaria, pois são estratégias de representatividade em relação a comercialização justa e direta para os agricultores da economia familiar, contribuindo para valorização da produção, tendo um papel importante e fundamental para essas pessoas que vivem da agricultura e introduzem no mercado esses produtos gerando renda para a família (AZEVEDO; NUNES, 2013).