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Etapa III: A Análise clínica da mobilização do coletivo de trabalho é a articulação entre as duas etapas.

5. Organização do trabalho

5.5. Conteúdo das tarefas e atividades de manutenção

As tarefas se dividem em duas partes: a parte operacional do voo e a parte administrativa. O grupo julga que na parte administrativa, o nível intelectual é muito importante; mas na aeronave, o psicológico predomina. O aspecto psicológico é fundamental, pois o piloto deve ter autocontrole e saber dominar situações de emergência. Segundo Ribeiro (2009), a predominância de tarefas cognitivas leva o piloto a utilizar muitos processos mentais: percepção, atenção, memorização, tomada de decisão, consciência situacional, planejamento, organização, etc. Para os tripulantes, também o desempenho físico é importante.

A parte administrativa envolve gestão de contrato: fazer memorando e ofício, verificar datas, controle de processos, redação de documentos, pagamentos de notas e atividades ligadas à parte operacional como o seguro da aeronave, fazer licitação de peças do helicóptero que são feitas em duas empresas. Também se cuida dos processos e relatórios que devem ser encaminhados ao DETRAN e a outros órgãos.

O grupo precisa acompanhar os processos regularmente, para não perder o prazo da licitação. Precisa entrar em contato com as empresas, no caso de troca de peças. Quem está responsável pelo seguro verifica as pendências. “Então, a parte de fazer voar é que é muito complicada”. “Então, essa parte de fazer voar é que é a parte desgastante”. “A parte do voo é a ponta do iceberg. Eu diria que é 15 por cento do que a

gente faz. O problema é fazer aquela máquina voar”. Para Dejours (2008a), a parte submersa do iceberg é a mais importante e que, em geral, escapa à avaliação objetiva, tanto qualitativa quanto quantitativa.

Na parte operacional, analisa-se a programação e os procedimentos de voo, de acordo com as escalas para cada voo. “É a segurança do voo, é abastecimento e manutenção da aeronave. A gente vai fazer a notificação de voo, a gente precisa fazer um pré-voo, precisa ler o manual de voo, emergência do dia. Verificar o vento”. “Ver se não há um voo diferente, ver o planejamento, que operações fez, se fez bem, se não fez, discutir, melhorar o que a gente vai fazer na missão”. “Se concentrar para fazer o briefing”.

Antes de começar o voo a aeronave é inspecionada pelos pilotos, que verificam o abastecimento de combustível, os serviços de manutenção e as condições gerais da aeronave. Também se faz o “briefing”, ou seja, instruções e recomendações são transmitidas a tripulação e aos passageiros “sobre o que vai acontecer durante o voo, sobre a missão que a gente vai desempenhar. É lida a emergência do dia... questiona-se também as condições de cada um: físicas e emocionais, pra gente poder se preparar... é esse momento de se centrar pra ir pro voo”. No final, faz-se o “debriefing”, em que se analisa o que aconteceu durante o voo. “Se saiu tudo conforme planejado. Se aconteceu alguma coisa fora do padrão”.

O voo gera vários registros. Quando se desce do voo, é o momento de se redigir os relatórios de voo, preencher o diário de bordo da aeronave e fazer as anotações pessoais. Cada piloto tem uma caderneta individual de voo em que registra suas horas de voo. O tripulante operacional faz o relatório de voo e registra o que acontece no trânsito.

No voo em que a tripulação tenha passado por uma situação de perigo ou acidente, faz-se um Relatório de Aviação Civil (RAC), notificando o que aconteceu. Os erros relatados no relatório de aviação civil servem para toda a aviação. Os pilotos estudam esses relatórios para se verificar os precedentes do incidente ou acidente. A UOPA já teve 24 situações que consideraram que deveriam relatar porque poderia ter causado um incidente ou acidente. Acredita-se, na aviação, que todos os acidentes possam ser evitados. O acidente evidencia falhas, detalhes de conduta, que devem ser evitados pelos pilotos. “A gente aprende mais com os erros dos outros do que com os nossos, principalmente se sair vivo”.

A tripulação é composta normalmente por primeiro piloto (comandante), segundo piloto (copiloto) e observador (tripulante operacional). Em voos de

manutenção, o mecânico de voo também faz parte da tripulação. A função do copiloto é auxiliar no gerenciamento de cabine. Ou seja, ajudar a controlar os instrumentos, equipamentos, painéis e controles de alarme. Há no helicóptero a duplicação de alguns instrumentos que permite o “duplo comando”, com o objetivo de proporcionar mais segurança de voo. Porém, a responsabilidade de conduzir a aeronave é do comandante.

Os pilotos, na maioria do tempo, cuidam da pilotagem. Vão se preocupar com os parâmetros da aeronave, com o voo em si, mas observam também o que está acontecendo no trânsito. O piloto de helicóptero deve estar sempre concentrado enquanto voa porque qualquer movimento pode interferir na estabilidade da aeronave ou no pouso.

Cabe ao piloto controlar os movimentos da aeronave por meio do acionamento de diferentes instrumentos e a força que aplica a esses instrumentos. Além disso, a aeronave sofre a influência dos ventos que irá exigir do piloto o controle da potência do motor para poder aumentar ou diminuir a velocidade ou para fazer rotações. “Agora, se você tiver uma distração, alguém falou, o vento é mais forte. Uma respiração até, já percebi isso. Até uma respiração ali errada, no momento, é o pouso duro e aí vai. É como se você tivesse largado o helicóptero no chão. Bater no chão”. O pouso ideal é aquele em que o piloto não sente que tocou o chão, o “pouso manteiga”. Os pousos e decolagens da aeronave são realizados no aeroporto internacional de Brasília, já que o órgão não dispõe de um local adequado para isso.

A postura do piloto na cabine é importante para a segurança do voo. O relacionamento que se estabelece na cabine é profissional e não íntimo. A cabine não é lugar para tratarem de problemas ou se discutir as diferenças individuais. O piloto deve se concentrar somente na condução da aeronave e no itinerário a ser percorrido. O piloto precisa estar atento a qualquer falha, assim como respeitar os limites operacionais da aeronave como: altitude, temperatura, pressão, a velocidade máxima de autorrotação, consumo de combustível, peso máximo que a aeronave suporta e controlar os movimentos da aeronave, dentre outros. O piloto deve observar o painel, as telas do radar, os controles de alarme, as informações visuais e sonoras, manter comunicação com o controle aéreo e com a tripulação.

A segurança de voo começa no solo com a manutenção e as inspeções. Embora a manutenção constante da aeronave seja para oferecer segurança, ela simboliza o risco que se corre ao voar. Na condução da aeronave deve-se seguir rigorosamente o prescrito. Respeita-se o período de reposição de peças mesmo que a peça esteja em condições de uso.

A manutenção ocorre no aeroporto, por isso, quem trabalha na manutenção fica mais no aeroporto. A equipe de manutenção deve ficar próxima do helicóptero para ter efetividade e ficar mais fácil de lidar. Três pessoas trabalham na manutenção atualmente porque uma falha nela representa risco de vida. Deve haver uma manutenção de alta qualidade. A manutenção vai desde um pequeno reparo a uma revisão geral.

Fazer manutenção não é uma tarefa simples. O mecânico de voo precisa utilizar todo o seu saber prático na realização de suas atividades para evitar acidentes. Até a forma de apertar um parafuso pode influenciar na segurança do voo. Há pressão em cima do pessoal da manutenção por causa dos riscos que se corre voando. O grupo procura acompanhar tudo o que ocorre com a aeronave. O uso do e-mail é algo recorrente para trocas de informações técnicas.

Durante a manutenção, o grupo se organiza para fazer outras atividades relacionadas ao voo. “A parte mais gostosa é voar, mas o que é mais difícil é fazer voar”. Ninguém fica chateado quando a aeronave está em manutenção, pois é para aumentar a segurança do grupo que isso ocorre. “A gente não deixa de viver a aviação e não deixa de trabalhar. A gente só deixa de ter a parte mais prazerosa”. O ruim é não poder voar quando a aeronave está disponível, mas a pessoa não pode.

Os servidores aproveitam quando a aeronave está em manutenção para se reunirem e resolverem as pendências. “É o momento que a gente tem pra fazer instrução, pra discutir alguma coisa, pra lavar roupa suja”. “Então a gente aproveita aqueles dias que a aeronave tá parada, pra fazer tudo isso, botar a casa em ordem, como a gente fala”.

O grupo relatou que a importância de se fazer a manutenção foi transmitida para eles desde os processos de formação e desde as primeiras horas de voo. A forma como o piloto aprende a pilotar irá influenciar na maneira que conduzirá posteriormente a aeronave.