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Etapa III: A Análise clínica da mobilização do coletivo de trabalho é a articulação entre as duas etapas.

5. Organização do trabalho

5.9. Tempo, ritmos e tamanho do grupo

O horário de trabalho é feito por escala, abrangendo os sete dias da semana com sete horas por dia. Há dois períodos das 6:30h às 13:30h e das 13:00h às 20:00h, de segunda-feira a sexta-feira, pois no fim de semana, quem trabalha na sexta-feira fica de sobreaviso para trabalhar, se for necessário. “A atividade é mais monitoramento do trânsito e final de semana não tem trânsito”.

A UOPA realiza dois voos diários, nos horários de 7h30 as 8h30 e de 17h40 as 19h. A escala diária é elaborada de acordo com as demandas pessoais e, além disso, tenta-se ajustá-la para que o servidor tenha o melhor horário que lhe for conveniente, dentro do possível. Se houver algum imprevisto, pode-se ainda se negociar a troca de horário com um colega.

Em relação aos fins de semana, quem fica de sobreaviso se priva de determinadas coisas, porque os servidores escalados precisam estar em condições de pilotar a qualquer hora que forem solicitados. Não podem beber, não podem viajar e devem deixar o celular sempre ligado. Às vezes, dão o número do celular da esposa também para serem localizados. “Seu final de semana é diferente”. “O sobreaviso é ruim por isso, é uma coisa que está ali pro que der e vier”. Mas não são acionados com muita frequência. Normalmente quando há algum evento para o fim de semana, já se planeja com antecedência o voo. O governador e outros órgãos podem solicitar a participação do grupo a qualquer momento, para uma situação extraordinária como incêndio, deslocamento de vítima ou missões para o diretor do órgão. Trabalham, em casos excepcionais, apoiando outros órgãos que estão sem a aeronave deles disponível no momento.

A maioria das pessoas lida bem com o sobreaviso, mas para alguns pilotos, o sobreaviso pode se tornar uma situação ruim, que incomoda e gera preocupação e ansiedade, principalmente quando não há nada previsto para se fazer. “Então eu fico a semana, o final de semana todinho assim: esse troço vai tocar, esse troço vai tocar... É

de madrugada, de manhã, é pior do que se fosse uma escala normal”. “... e já aconteceu dele tocar e é ruim demais”.

Estudos de Mello et al (2009) sobre a jornada de trabalho recomendam que o piloto não ultrapasse a carga horária da escala, pois o estresse pode comprometer a segurança de voo. Também quando alguém se envolve muito com o trabalho, assumindo mais horas de voo do que deveria, o grupo procura encontrar uma forma de contrabalancear as atividades para que a pessoa não fique sobrecarregada e cansada para voar. Quando o grupo trabalha excedendo a carga horária, negocia com a chefia imediata para compensar com folgas.

Os servidores consideram que a estrutura da UOPA deveria ter um espaço maior na estrutura do DETRAN. Pelo fato de o grupo ser pequeno, o processo de formação ser demorado e haver restrições para voar, a carência de servidores prejudica a realização de atividades. Nem sempre é possível movimentar a escala de trabalho para cobrir alguém que precisou faltar. O grupo se preocupa com isso, porque a falta de servidor gera sobrecarga. Com a entrada de duas servidoras, o grupo aumentou muito a capacidade das atividades administrativas.

Se um membro do grupo sair, a vaga dele não será preenchida imediatamente, como ocorre em outros setores da instituição. Não é fácil substituí-lo, devido à qualificação profissional (qualidades intelectuais, psicológicas e físicas). Também as exigências da tarefa (aptidões e qualificações) limitam o número de pessoas que se enquadram nessas condições. O grupo já deveria ter iniciado o processo de seleção de novos membros, pois as pessoas têm limites e irão sair do grupo. É preciso a constante formação de novos pilotos para manter a operacionalidade das missões, além disso, “sangue novo faz bem e traz motivação”.

Quando o grupo era pequeno, as pessoas desempenhavam todas as funções, mas agora estão conseguindo dividir as tarefas. É preciso respeitar o trabalho e a contribuição que cada um pode dar ao grupo. Cada um tem a sua função. A atividade aérea é um trabalho coletivo. É difícil administrar o grupo com poucas pessoas, principalmente com um número reduzido de comandantes. A tripulação só decola com duas pessoas no mínimo: o comandante e o copiloto. Em relação a outros grupamentos, a estrutura do grupo é pequena, apesar de ter uma das aeronaves que mais voa.

O grupo tem apenas um tripulante, mas há cinco tripulantes formados no DETRAN que não atuam no grupo, devido à dificuldade de pessoal para atuar na rua. A função do tripulante é evitar que haja interferência na segurança da aeronave. O tripulante acumula também a função de observador, o que gera sobrecarga de trabalho.

O grupo necessita de mais tripulantes para as operações de voo. “O voo sem tripulante acaba trazendo uma carga maior de trabalho e de tensão no voo”. “Infelizmente o DETRAN acha que a gente tem que ser agente de trânsito, piloto, observador, tripulante, abastecedor e tudo...”.

Às vezes, por problemas técnicos da ANAC, a renovação da habilitação do piloto demora a chegar, o que restringe o número de pilotos também no grupo. Para pilotar o helicóptero, o piloto precisa estar com sua licença/habilitação e os exames de capacitação física – CCF em ordem. “A gente tem que aumentar o grupo. Já passou da hora da gente ter feito isso. Na realidade, a gente está muito atrasado”.

As dificuldades da UOPA também envolvem a dinâmica da organização do trabalho, pois o grupo entende que não há agente de trânsito suficiente e que esses servidores não podem deixar o trabalho de fiscalização com as viaturas. Espera-se que com o novo concurso o grupo aumente. O grupo solicitou ao diretor do órgão, que desde o processo de formação dos agentes, na academia de polícia, os novos servidores tenham uma disciplina sobre operações aéreas. Dessa forma, eles vão chegar sabendo da existência do grupamento e poderão querer fazer parte do grupo. “É o que a gente espera que aconteça naturalmente”.

Apesar de todos os empecilhos, o grupo não deixa de lutar para atingir seus objetivos. “Eu acho assim que todo mundo que entrou pra operações aéreas, sendo por qualquer motivo, uma hora viu que ia ser difícil, que a gente ia encontrar barreiras, obstáculos... tanto que algumas pessoas vieram e não estão mais”. “Cabe ressaltar a equipe de guerreiros que a gente tem aqui”.

Os novos participantes de grupo passarão por processo seletivo interno, conforme o Manual de Operações Aéreas do grupo e devem se submeter a todas as normas e legislações que orientam a atividade aérea.