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CONTESTAÇÃO DE AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM PRELIMINARES DE INCOMPETÊNCIA

PRELIMINARES DE CARÊNCIA DE AÇÃO E INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL

10.29 CONTESTAÇÃO DE AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM PRELIMINARES DE INCOMPETÊNCIA

ABSOLUTA, CARÊNCIA DE AÇÃO E INÉPCIA DA

PETIÇÃO INICIAL

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 3

a

Vara Cível do Foro de

Mogi das Cruzes, São Paulo.

Processo no 0000000-00.0000.0.00.0000 Ação de Reintegração de Posse

N. A. C., já qualificado, por seu Advogado, que esta subscreve (mandato incluso), com escritório na Rua Francisco Martins, no 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, onde recebe intimações (e-mail: gediel@gsa.com.br), nos autos do processo que lhe move M. & C. Ltda., vem à presença de Vossa Excelência oferecer contestação, nos termos a seguir articulados:

Dos Fatos:

A empresa autora ajuizou o presente feito asseverando, em apertada síntese, que em outubro de 0000 teria cedido de “forma verbal” a posse do imóvel situado na Avenida Ricieri José Marcatto, no 00, fundos, ao réu, SEU EMPREGADO. Declara, ademais, que pretendendo retomar a posse do imóvel encontrou a resistência do réu, razão pelo qual ajuizou a presente ação. Por fim, requereu fosse concedida a reintegração liminar na posse do imóvel e, no mérito, a reintegração definitiva da posse.

Recebida a exordial, este douto Juízo indeferiu o pedido liminar, fls. 00, designando audiência de conciliação, na qual, não obstante os esforços dos conciliadores, as partes não chegaram a um acordo, iniciando-se, então, o prazo para apresentação de defesa.

Em síntese, os fatos.

Preliminarmente/Da incompetência Absoluta da Justiça Estadual:

Na exordial o autor “informa” que o réu é seu empregado e que o referido imóvel lhe teria sido entregue justamente em razão do contrato de trabalho, fazendo parte, como informa majoritária e conhecida jurisprudência, da sua remuneração. É consabido que qualquer controvérsia envolvendo, direta ou indiretamente, o contrato de trabalho é de competência da Justiça do Trabalho, conforme norma expressa na própria Constituição Federal, in verbis:

“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

IX – outras controvérsias decorrentes da relação do trabalho, na forma da lei.”

Destarte, requer-se que, regularizada a representação processual da autora, reconheça este douto Juízo a incompetência da Justiça Estadual de São Paulo para conhecer o feito, encaminhando-se os autos para a Justiça do Trabalho.

Preliminarmente/Da Falta de Constituição em Mora:

Entre outras coisas, a autora parece querer fazer crer ao Juízo que fez um contrato de “comodato” verbal com o réu, seu empregado, por prazo indeterminado. Fosse realmente assim, deveria antes de ajuizar esta ou qualquer outra ação “constituí-lo” em mora, conforme norma do parágrafo único do art. 397 do Código Civil. Veja-se bem, o réu não invadiu o imóvel, muito ao contrário, foram os próprios representantes da autora que lhe entregaram a chave, a fim de tornarem mais atraente o contrato de trabalho.

Ora, se eventualmente afastada a competência da justiça do trabalho, fato que se aceita apenas para contra-argumentar, desejando a retomada do bem, a autora deveria, em primeiro lugar, notificar “formalmente” seu empregado quanto ao fim do contrato de comodato, dando prazo para que o desocupasse.

Não tendo a autora “regularmente” constituído em mora o réu, lhe falta pressuposto básico para o ajuizamento do presente feito, que deverá ser extinto sem julgamento de mérito (art. 485, IV, CPC).

Preliminarmente/Da Ausência de Pressuposto Processual:

Pressuposto natural da ação de reintegração de posse é a posse prévia do autor (art. 561, CPC), neste caso autora; a fim de caracterizá-la deve descrever em detalhes na exordial quando e como efetivamente a exerceu.

A fim de induzir este douto Juízo em erro, a autora propositadamente foi extremamente vaga quanto à sua posse, deixando de mencionar, como seria de rigor, o “como” e o “quando”, ou o “até quando” exerceu a posse do imóvel descrito na exordial.

Como se sabe, não basta que o interessado se declare “proprietário” do bem, como fez por diversas vezes a autora (mesmo porque a ação que protege a propriedade é a reivindicatória); é necessário que prove, que indique a qualidade de sua posse e por quanto tempo a teria exercido até finalmente perdê-la.

Destarte, considerando que a autora não atendeu ao pressuposto específico da ação de reintegração de posse (posse prévia), requer-se a extinção do presente feito sem julgamento de mérito (art. 485, IV, CPC).

Preliminarmente/Da Carência de Ação (“Ilegitimidade de Parte”):

No início deste ano, o réu foi procurado por duas pessoas, Sr. N. L. L. e Sr. A. B., que se declararam proprietários da área ocupada pelo réu, mostrando inclusive documentos de propriedade. Nesta qualidade, firmaram com o réu um contrato de arrendamento rural (cópia anexa).

Ora, se a área onde está o réu não pertence efetivamente à autora, falta a esta legitimidade para o presente feito, o que demanda seja declarada carecedora de ação, extinguindo-se o feito sem julgamento de mérito (art. 485, VI, CPC).

Do Mérito:

Pelas razões expostas nas diversas preliminares, dificilmente este douto Juízo chegará a apreciar o mérito do pedido da autora, contudo, se a tanto chegar-se, fato que se aceita apenas para contra-argumentar, deve julgá-lo improcedente.

Parcialmente verdadeiros os fatos informados pela autora. Primeiro, o réu nunca se recusou a deixar o imóvel, o que acontece na verdade é que nunca foi ele formalmente notificado da pretensão da autora; mesmo porque se isso ocorresse, e não ocorreu, teria então que discutir o “necessário” ressarcimento quanto à diminuição de seus ganhos. Segundo, ao contrário daquilo que é afirmado pela autora na exordial, o réu é quem “cuida” do imóvel, tendo feito diversas benfeitorias necessárias nele, por exemplo: reformou o telhado, pintou, limpou o terreno etc. Tal fato, considerando-se que a posse do réu é de boa-fé, demanda seja ele cabalmente indenizado.

“Do direito de retenção.”

Na remota possibilidade de serem superadas as preliminares, fato que se aceita apenas para contra argumentar, e este Juízo, no mérito, vier a decretar a procedência do pedido exordial, contrariando os fatos e o direito, determinando seja a autora reintegrada na posse do imóvel, não pode furtar ao réu o direito de reter o imóvel até ser justa e devidamente indenizado pelas benfeitorias e acessões efetuadas no imóvel.

O mestre Orlando Gomes, na sua obra Direitos Reais, da Editora Forense, observa:

“Não podendo conservar a coisa acessória, quando absorvida pela principal, o possuidor fará jus ao equivalente em dinheiro” (pág. 68) Quanto ao notório direito à retenção, temos do mesmo autor e obra:

“[...] mas o possuidor de boa-fé desfruta de garantia especial para cobrar a indenização, pois se lhe assegura o direito de retenção da coisa principal, até que a verifique o ressarcimento” (pág. 69, grifo nosso)

O valor da indenização deverá ser apurado, após perícia no imóvel, em liquidação de sentença, se necessário.

Dos Pedidos:

Ante todo o exposto, requer-se, em preliminar, seja reconhecida a incompetência do Juízo para conhecer do feito, remetendo-se o feito para o juiz competente (juiz do trabalho); se eventualmente a questão da competência for superada, o feito deve ser extinto sem julgamento de mérito, seja pela não constituição em mora do réu, seja pela ilegitimidade da autora, seja pela falta de pressuposto processual específico; no caso eventual das preliminares serem superadas, o pedido deve ser julgado improcedente, sendo que na eventualidade de sua procedência, o que se aceita apenas para contra argumentar, deve ser a autora condenada a indenizar as benfeitorias feitas no imóvel pelo réu, a quem deverá ser garantido o direito de reter a posse do bem até ser final e cabalmente indenizado.

Requer-se, outrossim, os benefícios da justiça gratuita, vez que se declara pobre no sentido jurídico do termo, conforme declaração de pobreza anexa.

Provará o que for necessário, usando de todos os meios permitidos em direito, em especial pela juntada de documentos (anexos), perícia técnica, oitiva de testemunhas (rol anexo) e depoimento pessoal do representante legal da autora.

Termos em que p. deferimento.

Mogi das Cruzes, 00 de abril de 0000. Gediel Claudino de Araujo Júnior OAB/SP 000.000