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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 3 a Vara Cível do Foro de Suzano/SP.

Processo no 0000000-00.0000.0.00.0000 Ação de Reintegração de Posse

V. A. dos S., brasileiro, casado, pensionista (bombeiro afastado), portador do RG 00.000.000- SSP/SP e do CPF 000.000.000-00, sem endereço eletrônico, residente e domiciliado na Rua Bandeirantes, no 00, Jardim Rodeio, cidade de Suzano-SP, CEP 00000-000, por seu Advogado, que esta subscreve (mandato incluso), com escritório na Rua Francisco Martins, no 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, onde recebe intimações (e-mail: gediel@gsa.com.br), nos autos do processo que lhe move L. da S. S. e/o, vem à presença de Vossa Excelência oferecer contestação, nos termos a seguir articulados:

Dos Fatos:

Os autores ajuizaram o presente feito asseverando, em apertada síntese, que são proprietários do imóvel onde reside o réu; que nesta qualidade firmaram com ele e com sua falecida mãe “de criação” contrato verbal de comodato. Declararam, ainda, que após o falecimento da Sra. O. C., o réu permaneceu no imóvel, deixando, no entanto, de cumprir com certas obrigações. Descontentes, resolveram então pôr fim ao contrato de comodato; para tanto, o notificaram no sentido de que deixasse o imóvel no prazo de trinta dias. Decorrido o prazo, ajuizaram então o presente feito, requerendo liminar de desocupação e, no mérito, a confirmação da liminar, no sentido de reintegrar os autores na posse no imóvel.

Recebida a exordial, designou este douto Juízo audiência de conciliação, determinando a citação e intimação do réu. Na referida audiência não houve acordo, tendo o pedido liminar sido indeferido.

Em síntese, os fatos.

Preliminarmente/Da Regularização do Polo Passivo:

Registre-se que o imóvel objeto desta também é ocupado pela Sra. V. S. G. de S.; a referida senhora é companheira de longa data do réu “V”. Observe-se, no mais, que o réu “V” é pessoa “muito doente” (documentos anexos), tanto que se encontra afastado pelo INSS, estando totalmente dependente dos cuidados prestados pela Sra. “V”,

que é quem, de fato, exerce a posse do imóvel a muitos e muitos anos.

O parágrafo primeiro, inciso II, do art. 73 do CPC declara que “ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: II – resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles”.

Inegável que a pretensão dos autores interessa não só ao réu, mas também e principalmente à sua companheira.

Sendo assim, considerando que na qualidade de compossuidora deve necessariamente integrar o polo passivo da presente demanda, devem os autores providenciar a sua citação, sob pena de extinção do feito sem julgamento do mérito.

Preliminarmente/Da Falta de Pressuposto Processual:

Pressuposto natural da ação de reintegração de posse é a posse prévia do autor, que, a fim de caracterizá-la, deve descrever em detalhes na exordial quando e como efetivamente a exerceu. No presente caso, os autores NUNCA TIVERAM a posse do imóvel onde reside o réu; ora, mesmo que fossem verdades os fatos apontados na exordial, fato que se aceita apenas para contra argumentar, deveriam então ajuizar ação de imissão de posse e não de reintegração, visto que não podem ser reintegrados naquilo que NUNCA TIVERAM.

Como se sabe, não basta que o interessado se declare possuidor do bem, é necessário que prove, que indique a qualidade de sua posse e por quanto tempo a teria exercido até finalmente perdê-la, ou cedê-la, como no caso.

Destarte, considerando que a petição inicial se apresenta claramente inepta, requer-se seja tal fato reconhecido por sentença, extinguindo-se o feito sem julgamento de mérito (art. 485, IV, CPC).

Preliminarmente/Da Carência de Ação (“Falta de Legitimidade”):

Os autores são carecedores de ação visto que NUNCA houve qualquer tipo de contrato entre as partes, muito menos de comodato. Ora, se não houve contrato de comodato entre as partes, ou mesmo entre as partes e a “mãe de criação” do réu, Sra. O. C., não tem os autores legitimidade para o presente feito, devendo ser tal fato reconhecido pelo Juízo. Neste particular, note-se que não só não há qualquer prova neste sentido, como os indícios são justamente no sentido contrário.

Sendo assim, reconhecida a carência de ação, o feito deve ser extinto sem julgamento de mérito.

Do Mérito:

O pedido dos autores deve ser julgado improcedente, como se demonstrará a seguir:

A casa onde o réu reside era o único bem que possuía sua falecida “mãe de criação”; ela NUNCA o venderia por valor nenhum, muito menos pela irrisória quantia apontada no referido contrato de compra e venda, fls. 00/00.

Em abril de 0000, a Sra. O. C. já contava com MAIS DE OITENTA ANOS DE IDADE; naquela época, já fazia vários anos que a autora “L” cuidava dos negócios dela (tinha, inclusive, procuração para tanto); ou seja, a Sra. “O” não mais ostentava condições de entender os seus atos. Em face dessa realidade, os autores se aproveitaram das circunstâncias para fazê-la firmar o documento de fls. 00/00, isso, é claro, supondo que a assinatura ali lançada seja efetivamente da Sra. “O”.

É importante registrar que o referido negócio NUNCA CHEGOU ao conhecimento do réu ou da sua companheira, que, registre-se, moravam com a falecida. Não só nunca ouviram do referido negócio, como nunca viram ou ouviram falar do valor supostamente pago pelo imóvel.

Fica mais do que evidente que a autora “L” se aproveitou da idade da Sra. “O”, da sua proximidade e da confiança de que desfrutava no seio da família, para tirar proveito próprio, simulando um contrato de compra e venda que nunca de fato aconteceu.

Da mesma forma como nunca souberam deste suposto negócio (contrato de compra e venda), o réu, e sua companheira, NUNCA firmaram contrato de comodato com os autores; repita-se: o réu NUNCA firmou contrato de qualquer tipo, muito menos de comodato, com os autores.

“Da prescrição aquisitiva.”

Como já se disse, nunca houve contrato de comodato entre as partes, ou de qualquer outro tipo. Na verdade, o réu sempre manteve a posse do imóvel na qualidade de possuidor com animus domini; em vida sua mãe, Sra. O. C., entregou a posse do imóvel para ele e sua companheira há longa data, bem mais de quinze anos; ou seja, bem antes de que ela ficasse doente. Em outras palavras, muito antes do seu falecimento em 00.00.0000, a posse efetiva já era do réu e de sua companheira.

Diante deste fato, posse com animus domini há mais de 15 (quinze) anos, este douto Juízo deve reconhecer a ocorrência da prescrição aquisitiva em favor do réu.

O art. 183 da CF declara que “aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”. Já o art. 1.239 do CC declara que: “aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.” Completa o parágrafo único: “O prazo estabelecido neste artigo reduzir--se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”

Considerando, ademais, a possibilidade aberta pelo art. 13 da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, requer-se que este douto Juízo além de reconhecer a

10.28

ocorrência da prescrição aquisitiva, declare, por sentença, a propriedade individual do réu, e de sua companheira, sobre o imóvel objeto deste feito, expedindo-se o competente mandado para o Cartório de Registro de Imóveis a fim de se efetivar a averbação da propriedade.

Dos Pedidos:

Ante o exposto, requer:

a) os benefícios da Justiça gratuita, vez que se declara pobre no sentido jurídico do termo, conforme declaração anexa;

b) reconhecida a inépcia da exordial e/ou a carência de ação dos autores (falta de interesse e/ou legitimidade), seja extinto o presente feito sem julgamento de mérito; ou, se este douto Juízo chegar a apreciar o mérito, sejam os pedidos dos autores julgados improcedentes.

Provará o que for necessário, usando de todos os meios admitidos em direito, em especial pela juntada de documentos, oitiva de testemunhas, perícia social e psicossocial e depoimento pessoal dos autores.

Termos em que p. deferimento.

Suzano, 00 de março de 0000. Gediel Claudino de Araujo Júnior OAB/SP 000.000

CONTESTAÇÃO DE AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE