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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1 a Vara Cível do Foro de Poá, São Paulo.

Processo no 0000000-00.0000.0.00.0000 Ação Reivindicatória

S. S. dos S. e/o, já qualificados, por seu Advogado, que esta subscreve (mandato incluso), com escritório na Rua Francisco Martins, no 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, onde recebe intimações (e-mail: gediel@gsa.com.br), nos autos do processo que lhes move L. D. Engenharia Terraplenagem e Construção Ltda., vêm à presença de Vossa Excelência oferecer contestação, nos termos a seguir articulados:

Dos Fatos:

Em agosto de 0000, a autora ajuizou a presente ação reivindicatória asseverando, em apertada síntese, que adquirira certa área neste Município, que especificou, e que teria sido impedida de tomar posse pelas citadas pessoas, que, segundo narrou, estariam ocupando irregularmente a área. Diante do referido fato, pediu, em antecipação de tutela, que fosse expedido imediato mandado de imissão de posse, e, no mérito, requereu a posse definitiva do bem, determinando-se a desocupação do imóvel.

Recebida a inicial, fls. 00, este douto Juízo determinou a sua emenda, no sentido de que a autora esclarecesse a data em que teria ocorrido o esbulho, assim como se toda a área descrita na exordial teria sido invadida. A autora atendeu a determinação judicial, informando que o esbulho iniciara-se em princípios do ano de 0000, assim como declarou que toda área descrita na exordial estaria ocupada pelos requeridos.

Recebida a emenda, fls. 00, negou este douto Juízo o pedido de antecipação da tutela, determinando a citação e a constatação de todos os “invasores”, a fim de que viessem a integrar o polo passivo da demanda.

Em síntese, os fatos.

Preliminarmente/Da regularização do polo passivo:

Requer-se determine este douto Juízo a regularização do polo passivo da demanda, oficiando-se ao cartório distribuidor e alterando-se a capa do feito, com escopo de incluir todas as pessoas identificadas nesta petição.

Preliminarmente/Da Incompetência Absoluta:

Informa o art. 47 do CPC que “para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa”; a hipótese, ao contrário do que pode aparecer aos incautos, versa sobre “competência funcional”, ou seja, absoluta, que não admite prorrogação nem por vontade das partes, nem por vontade do juiz.

Embora o autor tenha juntado aos autos certidão de propriedade expedida pelo Cartório de Registro de Imóveis de Poá, fls. 00/00, o imóvel efetivamente reivindicado, onde residem os réus, está localizado na cidade e comarca de Itaquaquecetuba – SP.

Na verdade, o tema nem mesmo reclama grande indagação deste douto Juízo, vez que é o próprio Oficial de Justiça quem declara em sua certidão, fls. 00, que citou os réus no município de Itaquaquecetuba – SP. Não fosse bastante este fato, há ainda outros documentos como, por exemplo, o comprovante da existência de débito de imposto predial emitido pela Prefeitura do município de Itaquaquecetuba – SP, além de muitas contas de água e de luz que indicam que as residências se localizam na cidade de Itaquaquecetuba. Deve-se considerar, ademais, que a maior parte da área onde residem os réus já é objeto de ação de usucapião que corre no Foro da referida cidade (veja-se cópia da certidão de objeto e pé anexa).

Destarte, requer-se, caracterizada a “incompetência absoluta” deste Juízo para conhecer e julgar o presente feito, seja os autos imediatamente encaminhados para o Foro da cidade de Itaquaquecetuba – SP, onde deverão ser distribuídos por pendência para o Juízo onde já tramita a referida ação de usucapião.

Preliminarmente/Do Complemento do Polo Passivo:

Segundo o § 1o, inciso I, do art. 73 do Código de Processo Civil, nas ações que versem sobre direitos reais imobiliários, como esta, devem ser necessariamente citados ambos os cônjuges e/ou companheiros (litisconsórcio necessário), sob pena de extinção do processo sem julgamento de mérito. Neste sentido o parágrafo único do art. 115 do CPC: “nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo”.

Conforme se pode ver das certidões de casamento anexas (e outros documentos), ainda não foram citados: o Sr. D. M. dos S., marido da ré S. S. dos S.; Sr. G. P. E., marido da ré M. do S. M. E.; Sra. T. F. M., mulher do réu C. A. M.; Sra. F. H. L. do N. A., mulher do réu F. M. de A.; Sra. M. do S. da S. C., mulher do réu P. do C.; Sra. A. do N. P., mulher do réu M. V. P.; Sra. C. C. R. de M., companheira do réu J. da C. R.; Sr. F. B. G., marido da ré M. R. dos S. B.; Sr. M. A. dos S. V., marido da ré C. A. C. V.; Sra. S. C. da C., companheira do réu F. M. de A.; Sr. R. P. B., marido da ré R. M. B. B.; Sr. G. H. M. da S., companheiro da ré M. D. M. A.

Destarte, deve este douto Juízo determinar que a autora providencie, sob pena de extinção do feito sem julgamento de mérito, a citação pessoal das referidas

pessoas.

Registre-se, outrossim, que residem na área outras pessoas ainda não identificadas nem citadas nestes autos.

Preliminarmente/Da Carência de Ação (“Falta de Legitimidade”):

A autora deve ser declarada carecedora de ação, vez que lhe falta legitimidade para reivindicar a área onde residem os réus.

Como já observado no item que trata sobre a incompetência absoluta do Juízo da Primeira Vara Cível da Comarca de Poá, São Paulo, para conhecer e julgar o presente feito, a área que supostamente pertence a autora fica no município de Poá, enquanto os réus ocupam área localizada no município de Itaquaquecetuba – SP.

Ao que parece, a suposta área da empresa autora é vizinha da área onde residem há longa data os réus (tal fato foi declarado pelo próprio oficial de justiça).

Ora, não sendo a autora proprietária da área onde residem os réus, área esta localizada em município diverso, não pode ela reivindicá-la, justamente, como se disse, por lhe faltar legitimidade para tanto. Com efeito, o uso da ação reivindicatória é exclusivo do proprietário, conforme norma do art. 1.228 do CC: “o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”.

Não sendo proprietária, como demonstrado, da área ocupada pelos réus, a autora deve ser declarada carecedora de ação, extinguindo-se o presente feito sem julgamento de mérito (art. 485, VI, CPC).

Do Mérito:

Superada a preliminar, fato que se aceita apenas em respeito ao princípio da eventualidade, o pedido da autora deve ser julgado improcedente, conforme se demonstrará a seguir:

“Da perda da propriedade por abandono.”

Embora a autora “ainda” se declare proprietária da área onde residem os réus (ressalve-se, obviamente, as já feitas alegações de que se trata na verdade de áreas distintas), esta não o é, vez que nos termos da lei civil já perdeu a propriedade do bem.

Declara o art. 1.276 do CC:

“Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.

§ 1o O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três

anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. § 2o Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.”

Como se sabe, o “abandono” se caracteriza pela falta de cuidado do proprietário quanto ao seu bem; contudo o que nos interessa no presente caso é a hipótese apontada no § 2o do referido artigo. Com efeito, a mencionada norma declara que o abandono se presume, de forma absoluta, ou seja, que não aceita prova em contrário, quando o proprietário deixa de satisfazer os ônus fiscais, isto é, deixa de quitar, pagar, o imposto predial.

Conforme demonstra documento anexo, expedido pela Prefeitura Municipal de Itaquaquecetuba, o proprietário legal, formal, da área onde residem os réus deve imposto predial desde o ano de 0000; ou seja, o IPTU não é pago há mais de 20 (vinte) anos.

Nos termos da lei civil tal fato caracteriza, como se afirmou retro, “abandono”; não qualquer tipo de abandono, mas um tipo que simplesmente não se aceita prova em contrário (salvo, é claro, se a autora juntar comprovante de que quitou oportunamente os referidos impostos).

Destarte, se eventualmente ultrapassada a preliminar, este douto Juízo deve declarar, formalizar, que a autora perdeu a propriedade do imóvel em razão da hipótese indicada no § 2o do art. 1.276 do Código Civil.

“Da exceção quanto à função social da propriedade – inexistência do direito de reivindicar.”

Na remota possibilidade deste douto Juízo afastar as questões já levantadas (carência de ação e abandono), caracterizando-se assim que a empresa autora é de fato proprietária da área ocupada pelos réus e suas famílias (ressalte-se, mais uma vez, que efetivamente a autora não o é), têm-se então FRENTE a FRENTE o direto da proprietária e o direito dos réus, moradores do local.

Num Brasil ainda não muito distante, o direito colocava a propriedade individual acima dos interesses coletivos, criando situações verdadeiramente absurdas, mormente se considerarmos que o número de miseráveis ultrapassava 40% (quarenta por cento) da população.

A Constituição Federal de 1988 mudou este cenário ao declarar no art. 5o, inciso XXIII, que “a propriedade atenderá a sua função social”.

A Constituição volta ao tema no capítulo I, do título VII:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

II – propriedade privada;

III – função social da propriedade;”

Comentando o primeiro dispositivo constitucional, o mestre Afonso da Silva, na sua obra Curso de Direito Constitucional Positivo, Editora Malheiros, 1991, página 239, declara, in verbis:

“O regime jurídico da propriedade tem seu fundamento na Constituição. Esta garante o direito de propriedade, desde que esta atenda sua função social. Se diz: é garantido o direito de propriedade (art. 5o, XXII), a propriedade atenderá à sua função social (art. 5o, XXIII), não há como escapar do sentido de que só se garante o direito de propriedade que atenda sua função social.”

Como apontou José Afonso, hoje a propriedade individual privada não reina mais suprema, mas está condicionada a primordialmente atender a sua função social.

Nestes autos este douto Juízo tem frente a frente dois direitos: primeiro, a autora que, falando por si e pelos seus antecessores, há longa data não tinha qualquer contato com a área (não há nem houve posse), nem mesmo se deu ao trabalho de quitar o imposto predial devido, com certeza porque a compra recente da propriedade consistiu na verdade um contrato de risco; a seu favor, para arrimar pedido de “despejo” de mais de 20 (vinte) famílias, que envolvem bem mais de 100 (cem) pessoas, tem apenas o argumento de que é “proprietária formal do bem”; segundo, de outro lado tem-se dezenas e dezenas de pessoas (mulheres, homens e muitas crianças), que naquele local construíram muito mais do que casas, construíram uma “comunidade”, onde dormem, comem, estudam, brincam, enfim, “vivem como cidadãos”.

Douto Magistrado, afinal quem efetivamente está fazendo uso social daquela propriedade?

Com certeza não é autora, que por esta razão deve perder o seu título. Neste sentido, a lição abalizada dos doutos Gustavo Tepedino e Anderson Schreiber, expressa no artigo “Função Social da Propriedade e Legalidade Constitucional”, publicado na Revista de Direito, Estado e Sociedade da PUC-RJ, volume 17, agosto de 2000, página 49, in verbis:

“Disso decorre que se uma determinada propriedade não cumpre com sua função social perde seu título justificativo. De fato, se a função social é noção que exsurge exatamente da busca de uma legitimidade da propriedade privada, não seria excessivo afirmar que, em sua ausência, seja retirada a tutela jurídica dominical, em situações concretas de conflito, para privilegiar a situação do bem, que justamente do título de propriedade, condiciona-se e atende ao interesse social.”

Merece ainda menção expressa a lição do eminente Ministro do Colendo Supremo Tribunal Federal Eros Roberto Grau, na sua obra A ordem econômica na

Constituição de 1988 – Interpretação e Crítica, 2a Edição, Revista dos Tribunais, 1991, páginas 244, 249, 251 e 361, in verbis:

“O primeiro ponto a salientar no tratamento da matéria, respeita ao fato de que, embora isso passe despercebido da generalidade dos que cogitam da função social da propriedade, é ser pressuposto necessário à propriedade privada.

Já a propriedade dotada de função social é justificada pelos seus fins, seus serviços, sua função.

Em razão disso – pontualizo – é que justamente se justifica e legitima essa propriedade.

Assim, se a partir deste ponto deixarmos fluir coerentemente o raciocínio, forçosamente concluiremos que a propriedade não dotada de função social, que não esteja a cumpri-la, já não será mais objeto de proteção jurídica. Ou seja, não haverá mais fundamento jurídico a atribuir direito de propriedade ao titular do bem (propriedade) que não está a cumprir sua função social. Em outros termos, já não há mais, no caso, bem que possa juridicamente ser objeto de propriedade.”

No presente caso, e seguindo a lição dos renomados doutrinadores citados, conclui-se que a tutela reivindicatória pleiteada pela autora é afastada pelo encobrimento e pela desconsideração da eficácia do direito de propriedade causada pela posse funcionalizada exercida pelos réus sobre a área ora discutida.

“Da prescrição aquisitiva.”

Mesmo que este douto Juízo venha eventualmente afastar os argumentos apresentados no item retro, suficientes por si sós para indeferir o pedido de imissão de posse da autora, deve reconhecer a ocorrência da prescrição aquisitiva em favor dos réus.

O art. 183 da CF declara que “aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”. Já o art. 1.238 do CC declara que: “aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis”. Completa o parágrafo único: “O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”

Embora estejam reunidos no polo passivo desta demanda, os réus possuem “imóveis individuais”, onde, como já se explicou, residem com suas famílias (a grande maioria dos imóveis é menor que 250 m2).

mansa e pacífica de seus imóveis há mais de 20 (vinte) anos, somando a sua posse direta com a de seus antecessores. Ressalte-se que há quase 40 (quarenta) anos aquela área vem sendo ocupada, parcelada e vendida pelos antecessores dos réus.

Considerando, ademais, a possibilidade aberta pelo art. 13 da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, requer-se que este douto Juízo além de reconhecer a ocorrência da prescrição aquisitiva, declare, por sentença, a propriedade individual dos réus sobre os seus imóveis, expedindo-se o competente mandado para o Cartório de Registro de Imóveis a fim de se efetivar a averbação da propriedade.

“Da desapropriação judicial.”

O § 4o do art. 1.228 do Código Civil declara expressamente que “o proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 5 (cinco) anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante”.

A hipótese aventada pelo legislador foi chamada pela doutrina de “desapropriação judicial” e veio ao encontro da iniciativa constitucional de valorizar a função social da propriedade; ou seja, eventualmente ultrapassadas outras defesas (carência de ação, abandono, função social, prescrição aquisitiva etc.), o juiz pode, se entender presentes os requisitos apontados na norma, privar o proprietário do seu bem, fixando justa indenização.

No presente caso fica fácil ver a presença dos requisitos legais, ou seja: trata-se de área grande, onde vivem mais de vinte famílias (mais de cem pessoas no total), que no local estabeleceram as suas moradias com ânimo definitivo e lá criam os seus filhos e participam da sociedade (cidadania). Ao contrário, tirá-los do local causará problema social grave, mormente quanto às crianças, que seriam afastadas dos amigos, da escola, do bairro, perdendo todas as referências de uma infância feliz.

Neste particular, pede-se vênia para citar-se expressamente a norma do art. 4o do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei no 8.069/90, que declara ser “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

Como se vê, afastadas eventualmente as outras defesas e caracterizada a presença dos requisitos da “desapropriação judicial”, este douto Juízo deve decidir de forma a garantir o direito das crianças e dos adolescentes que vivem naquela comunidade.

Destarte, na eventualidade de serem superadas todas as demais defesas, o que se aceita apenas em respeito ao princípio da eventualidade, requer-se desaproprie este douto Juízo a referida área, fixando, após perícia técnica, o valor individual que cada família teria que pagar à empresa autora.

Na eventualidade de ficar estabelecido que a área reivindicada é de fato aquela ocupada pelos réus, e este douto Juízo vir a afastar fundamentadamente uma a uma todas as questões levantadas anteriormente, determinando a imissão da autora na posse do imóvel reivindicado, deve, ao menos, condenar a autora ao pagamento de indenização das muitas acessões feitas no imóvel, após realização de perícia técnica para apuração do seu valor de mercado.

A perícia se faz necessária, vez que as acessões foram feitas por etapas, muitas vezes pelos próprios moradores com a ajuda de vizinhos e amigos; os materiais foram comprados em parcelas, ao longo do tempo, sendo impossível a apresentação dos recibos e das notas fiscais.

A construção das casas representou o ápice da realização pessoal dos réus, que nelas investiram não só todo o seu dinheiro, mas dezenas e dezenas de horas de trabalho, com escopo de buscar a realização de um sonho básico de todo ser humano, qual seja, a aquisição da casa própria.

Não envolvem, portanto, as referidas acessões apenas um monte de pedras e cimento juntos, mas a realização de uma vida; na verdade, de muitas vidas.

Feitas as acessões com o consentimento da autora (que acintosamente ignorou a ocupação da área, deixando que esta se perpetuasse no tempo), é de rigor que seja obrigada, no caso eventual de obter mandado de imissão de posse, a indenizá-las em valor a ser apurado em liquidação de sentença, mediante realização de perícia técnica que considere não só o custo da construção, mas também a valorização do bem no mercado imobiliário.

“Do direito de retenção.”

Pessoas pobres e de poucos recursos, os réus investiram a poupança feita durante toda a sua vida no pagamento da aquisição da posse da área onde residem e na construção de suas moradias. Fizeram isso à luz do dia durante anos, décadas, sem que a autora, ou seus antecessores, tomassem qualquer atitude para detê-los; a área não estava murada, não estava cuidada, não demonstrava qualquer sinal de posse, muito ao contrário.

Destarte, requer-se a este douto Juízo que no caso eventual de vir a determinar a imissão de posse da autora, fato que se aceita apenas para contra argumentar, seja garantido aos réus, na qualidade de possuidores de boa-fé, o direito de RETER, permanecer, no imóvel até serem final e cabalmente indenizados pelas acessões feitas no bem (conforme item retro).

Dos Pedidos:

Ante todo o exposto, e mais pelas razões que este douto Juízo saberá lançar sobre o tema, requerem seja a autora declarada carecedora de ação, extinguindo-se o feito sem julgamento de mérito, ou superada a preliminar, seja o pedido julgado improcedente, seja porque restou caracterizada a perda da propriedade pelo abandono, ou pela perda do direito de reivindicar em razão da ocupação social da área, ou ainda em