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PARTE II – PARA UMA FORMAÇÃO ÉTICA DE EDUCADORES DE INFÂNCIA – TRABALHO EMPÍRICO

PONTOS DE COMPARAÇÃO

4. Contexto da investigação

4.1. Projecto Pensamento e Formação Ético-deontológicos de Professores

O estudo que apresentamos parte de um projecto de investigação intitulado Pensamento

e Formação Ético-deontológicos de Professores, que integramos na qualidade de

bolseira de investigação científica. O Projecto é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e está inserido na Unidade de Investigação e Desenvolvimento de Ciências da Educação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

Integram o grupo de investigação 8 professores de diferentes níveis de ensino (que constituem a equipa de investigação oficial do projecto) e 3 observadores participantes, também eles educadores e professores.

O ponto de partida para o desenvolvimento deste projecto assentou na premissa, largamente partilhada (veja-se, por exemplo, Hargreaves, 1998; Carr, 2003; Estrela, 2003/2009; Estrela et al., 2008; Collinson et al, 2009), e confirmada por um grupo de professores entrevistados, de que a profissão docente é uma profissão marcadamente ética, na medida em que pressupõe a relação com seres humanos cujo desenvolvimento integral e, por isso, moral os educadores e professores devem promover.

Algumas pesquisas que efectuámos no âmbito da ética e deontologia docente e do desenvolvimento ético-moral dos alunos revelaram que, quer a nível nacional quer internacional, os estudos existentes, embora de reconhecido interesse e pertinência, necessitam de aprofundamento e de serem alargados a populações mais vastas e variadas no que respeita aos ciclos e níveis de ensino estudados.

Foi, pois, com a finalidade de aprofundar alguns aspectos menos desenvolvidos nos estudos encontrados e estender o âmbito da investigação a populações mais alargadas que se enveredou pelo desenvolvimento do projecto, pretendendo, com os dados recolhidos, ensaiar esquemas de formação que levem educadores e professores a aprofundar a sua reflexão ético-deontológica e a desenvolver estratégias de acção para promoção do desenvolvimento ético dos seus alunos. O projecto abrange educadores e professores de todos os ciclos e níveis de ensino, incluindo o ensino superior.

Para a elaboração do projecto partiu-se de uma revisão de literatura nacional e internacional no âmbito da temática da ética, deontologia e formação ética de educadores e professores que serviu de base para a construção do guião das entrevistas

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semi-directivas a realizar junto de educadores e professores dos diferentes níveis e ciclos de ensino.

O guião, suficientemente aberto para permitir a expressão livre dos entrevistados, embora semelhante para todos os educadores e professores, sofreu ligeiras alterações (por exemplo, foi introduzida uma parte relativa à ética na investigação nos professores de ensino superior) de modo a torná-lo mais específico para os professores do ensino superior, uma vez que a entrevista seria o único instrumento de recolha de dados junto destes.

As 40 entrevistas realizadas foram gravadas e integralmente transcritas, tendo a sua análise de conteúdo dado origem à elaboração de um pré-questionário (Anexo 1) aplicado a 123 educadores e professores de todos os níveis de ensino (excepto ensino superior) no sentido de verificar se as opiniões constantes das entrevistas eram ou não comuns a populações mais vastas.

Foi nos resultados obtidos em 23 pré-questionários aplicados a educadores de infância que nos baseámos para partir para a construção do guião da entrevista (Anexo 2) a realizar às educadoras de infância, no sentido de aprofundar os resultados obtidos e desenhar um plano de formação adequado às características e necessidades dos educadores de infância do agrupamento de escolas que escolhemos.

4.2. Selecção e caracterização dos sujeitos do estudo

Com a realização deste estudo pretendemos conhecer mais aprofundadamente o pensamento ético-deontológico de educadores de infância de uma realidade específica para, a partir desse conhecimento, elaborarmos uma proposta de formação específica que respondesse aos interesses e necessidades do grupo.

Assim, e uma vez que um dos observadores do Projecto Pensamento e Formação Ético- deontológicos de Professores é educadora de infância de um agrupamento de escolas de uma zona rural da região de Lisboa e Vale do Tejo, facilitou-nos o contacto com este agrupamento de escolas. Através desta observadora participante que, mais tarde, fez parte do grupo de formação com quem trabalhámos, quatro educadoras de infância do agrupamento disponibilizaram-se para serem entrevistadas, tendo as entrevistas como objectivo a obtenção de informação caracterizadora do seu pensamento no que respeita à ética e deontologia para, posteriormente, desenharmos o plano de formação adequado aos interesses e necessidades emergentes das entrevistas.

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Assim, após análise de conteúdo das entrevistas, a proposta de formação foi elaborada em colaboração com a orientadora deste estudo e a observadora participante e, através desta última, iniciámos o contacto com o Conselho Executivo do agrupamento que fez o favor de analisar a proposta de formação (Anexo 3).

Analisada a proposta pelos Conselhos Executivo e Pedagógico e deliberada afirmativamente quanto ao desenvolvimento de uma acção de formação ética para educadores de infância, o agrupamento procedeu à sua divulgação.

Inscreveram-se para participar na formação 15 das 16 educadoras de infância do agrupamento. Destas 15, desistiram 3, alegando falta de disponibilidade temporal e psicológica para a frequência da formação e realização dos trabalhos solicitados, pois a formação decorreu no 3.º período do ano lectivo. Deste modo, o grupo de formação estudado foi constituído por 12 educadoras de infância, a maioria das quais com idades compreendidas entre os 48 e 54 anos e tendo de 23 a 27 anos de serviço. Apenas uma formanda tem mestrado, sendo as restantes licenciadas. Importa salientar que, embora tivesse sido pedida acreditação do círculo de estudos, não foram garantidos créditos à formação proposta, pelo que as educadoras que a frequentaram fizeram-no pelo interesse que a temática lhes suscitou.

4.3. Caracterização do Agrupamento de Escolas

O Agrupamento de Escolas a que pertence o grupo de educação de infância que participou na acção de formação “Ética e Deontologia Profissional” abrange cinco freguesias e é constituído por 11 estabelecimentos de educação e ensino, os quais 5 são Jardins-de-Infância, 1 situado na vila onde se situa o agrupamento e os restantes em aldeias das imediações que são frequentemente jardins-de-infância de lugar único; 5 são escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico e 1 é a Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico, escola sede.

Dos 923 discentes do Agrupamento, 197 frequentam a educação pré-escolar, 374 o 1.º ciclo do ensino básico, 165 o 2.º ciclo e 187 alunos estudam no 3.º ciclo.

O Agrupamento funciona como Escola de Referência no Ensino Bilingue a alunos surdos.

O total do número de docentes é 102: 51,8% pertencem ao Quadro de Escola, 31,3% são do Quadro de Zona Pedagógica, 8% são contratados, contando com 10 técnicos especializados contratados para o acompanhamento dos alunos surdos. Cerca de 45%

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tem idades compreendidas entre os 40 e os 50 anos de idade e em que aproximadamente 36% tem entre 10 e 19 anos de serviço.

Do pessoal não docente fazem parte 26 assistentes operacionais (16 pertencem ao Quadro de Escola e 10 são contratados) e 10 assistentes técnicos (8 do Quadro de Escola e 2 contratados). Este grupo de profissionais tem entre 40 e 50 anos de idade (cerca de 53%) e entre 10 e 19 anos de serviço (aproximadamente 36%).

A maioria dos encarregados de educação tem habilitações académicas ao nível do ensino básico e mais de metade, cerca de 68% dedica-se a actividades do sector terciário.

Para uma melhor caracterização do agrupamento de escolas e o contexto em que trabalham as educadoras de infância com quem trabalhámos, outras informações se afiguram pertinentes.

No regulamento interno do agrupamento pode ler-se logo ao abrir do documento que tem como ponto de partida um projecto pedagógico comum que visa a concretização de quatro metas, entre as quais destacamos as seguintes pela sua relação directa ou indirecta com o trabalho que desenvolvemos com o grupo de formação:

- Formação integral do aluno

- Articulação vertical entre os diferentes níveis de ensino e anos de escolaridade; - Envolvência/responsabilidade dos encarregados de educação na vida escolar.

De entre as três competências dos educadores de infância definidas no artigo 61.º verificamos que duas delas contêm elementos que nos parecem traduzir preocupações de ordem técnica ? mas também ética, os quais tomámos a liberdade de sublinhar:

a. Conceber e desenvolver o respectivo currículo, através da planificação, organização e avaliação do ambiente educativo, bem como das actividades e projectos curriculares, com vista à construção de aprendizagens integradas;

b. Elaborar o Projecto Curricular de Turma, o qual deve integrar estratégias de diferenciação pedagógica e de adequação curricular destinadas a promover a melhoria das condições de aprendizagem e a articulação escola-família;

No artigo 68.º voltam a ser referidas competências que, em nosso ver, contêm também aspectos de dimensão ética, como sendo:

b) Desenvolver acções que promovam e facilitem a correcta integração dos alunos; c) Criar condições que conduzam a um diálogo permanente com os alunos e com os

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Também no 144.º artigo são referidos alguns papéis especiais dos educadores de infância/professores, tais como:

1. Os professores/educadores de infância, enquanto principais responsáveis pela condução do processo de ensino e aprendizagem, devem promover medidas de carácter pedagógico que estimulem o harmonioso desenvolvimento da educação, quer nas actividades na sala de aula, quer nas demais actividades da escola/agrupamento;

2. O director de turma ou, tratando-se de alunos da educação pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico, o professor titular de turma/educador de infância, enquanto coordenador do plano de trabalho da turma, é particularmente responsável pela adopção de medidas tendentes à melhoria das condições de aprendizagem e à promoção de um bom ambiente educativo, competindo-lhe articular a intervenção dos professores da turma e dos pais e encarregados de educação e colaborar com estes, no sentido de prevenir e resolver problemas comportamentais ou de aprendizagem.

O Regulamento Interno define ainda deveres específicos do pessoal docente, artigo 195.º, dos quais destacamos:

t) Colaborar com todos os elementos que integram a comunidade escolar; u) Colaborar em interdisciplinaridade com todos os professores;

w) Abster-se publicamente, de emitir juízos de valor sobre métodos de trabalho ou procedimentos de outros professores, bem como interrogar ou comentar com os alunos sobre o desempenho de colegas e funcionários;

É feita referência aos deveres de cada um dos membros da comunidade educativa, artigo 143.º. Referimos aqui apenas alguns que nos parecem ir na mesma linha de preocupações que os deveres e competências acima mencionados e indiciar a assumpção de responsabilidades éticas por parte do agrupamento:

a) Ser respeitado condignamente de acordo com o seu estatuto e função no agrupamento;

d) Promover entre si um são convívio, de modo a que no Agrupamento se viva um clima de harmonia, de confiança e de trabalho;

e) Intervir de forma democrática, dentro das estruturas do agrupamento, para a melhoria das condições do ensino e da educação;

f) Ser ouvido nas suas solicitações e esclarecido nas suas dúvidas por quem de direito, na estrutura escolar;

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h) Colaborar activa e empenhadamente para que a acção educativa e formativa dos membros do agrupamento seja efectiva;

m) Adoptar atitudes e comportamentos dignos dentro dos recintos escolares do agrupamento.

CAPÍTULO II – Para a elaboração do plano da formação “Ética e Deontologia Profissional” – Procedimento e resultados parcelares do projecto Pensamento e Formação Ético-deontológicos de Professores

1. Procedimentos de recolha e tratamento de dados para a elaboração do