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Necessidade(s) de formação no domínio da ética docente

3. Formação ética de educadores e professores

3.3. Necessidade(s) de formação no domínio da ética docente

Para Fenstermacher (in Colnerud, 2006), a profissão docente, pelas suas características particulares no que às questões de ética e moral diz respeito, não pode ser comparada a outras profissões. Em primeiro lugar, porque contrariamente ao que acontece noutras profissões, o professor deve transmitir tudo o que sabe aos alunos, mas incentivá-los para quererem saber ainda mais (afirmação que nos parece discutível, uma vez que o professor deve adequar os saberes que transmite ao programa e ao nível etário dos seus alunos); em segundo lugar, porque o professor deve estar próximo dos alunos de modo a compreendê-los melhor e, assim, poder ajudá-los; em terceiro lugar, porque o professor não pode desempenhar sozinho a sua função, sendo que bons resultados só poderão ser alcançados se houver empenho e interesse mútuos.

Carr (2003: 220) também partilha da opinião de Fenstermacher relativamente ao carácter único da profissão docente “in being commonly held to entail some responsibility for the moral formation or development of the recipients of teaching”. De facto, a velocidade a que ocorrem todas as mudanças a que já anteriormente nos referimos torna rapidamente obsoletos os conhecimentos, assim como os saberes, as qualificações e as competências o que, por sua vez, torna necessária uma actualização permanente dos conhecimentos por parte dos sujeitos. Daí a importância de uma relação dinâmica entre Educação e Formação que contribua para um desenvolvimento social e económico coeso (Nogueira et al, 1990). Precisamente porque, como afirmam Collinson et al (2009), a profissão docente não é imune às profundas mudanças de acção e de pensamento, o desenvolvimento profissional dos educadores e professores “while a critical piece for transforming education in the twenty-first century for teachers and

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their students, is integrally connected to countries‟ broader educational and social policies” (p. 3).

Ora, se, como afirma Machado (2005: 130/131), a “experiência ética pressupõe assim, que nos coloquemos no lugar do outro, num contínuo movimento em direcção ao outro, que, como refere Ricoeur, me chama e me reclama, despertando a minha consciência ética, que me exige e me obriga” e se o outro é “alguém que nos pede que o conheçamos pela sabedoria da nossa experiência e não apenas pelo nosso saber”, pensamos poder afirmar que a profissão docente é umas das mais privilegiadas para o exercício da ética.

Com efeito, afigura-se-nos pertinente o investimento na formação ética e moral de educadores e professores de todos os níveis de ensino “que lhes permita assegurarem simultaneamente uma actuação profissional segundo padrões éticos e transformarem a vida escolar num espaço de aprendizagem ética para todos os que directa e indirectamente participam dela” (Estrela & Afonso, 2009: 51). Mais ainda quando, como em Portugal tem acontecido, a legislação, apesar de abrangente, não é suficiente ao ponto de garantir a sua aplicação, verificando-se principalmente a escassez ou mesmo inexistência em muitas instituições de formação de oferta de formação ética tanto na formação inicial como na formação contínua de educadores e professores. Importa esclarecer, no entanto, que quando afirmamos a importância da formação ética de educadores e professores, não esquecemos a dificuldade em definir o que é um bom educador moral, ainda assim prosseguimos na senda de Herbart (cit. por Colnerud, 2006) que defende que “the goal of education is to develop the individual‟s highest virtues”.

No âmbito do Projecto em que participamos foram recolhidos, quer nas entrevistas realizadas quer na fase de pré-teste de aplicação dos questionários, dados sobre as necessidades declaradas pelos inquiridos de frequentar formação no âmbito da ética e deontologia e do desenvolvimento ético dos alunos.

Foram realizadas 40 entrevistas e aplicados 123 questionários a educadores e professores do ensino não superior.

Os dados recolhidos, relativamente aos educadores de infância, público privilegiado neste trabalho, na fase de pré-teste do questionário quanto ao desejo de frequentar formação revelam que cerca de 61% (n=14) dos 23 educadores de infância inquiridos mostram interesse em frequentar formação na área da ética e deontologia. Foi

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precisamente dos resultados obtidos na análise destes e outros dados dos pré- questionários respondidos por educadores de infância que surgiu o interesse de aprofundar alguns desses resultados e outros com pertinência para a investigação da formação contínua na área da ética e da deontologia em Portugal.

A investigação existente sobre as dimensões ética e moral da profissão, embora escassas, têm contribuído para a construção de conhecimento importante e necessário. Afirmações como a de Hansen (In Richardson, 2001: 826), “in comparison with research on such issues as effective instructional methods and the teaching of specific subjects, school – and classroom – based inquiry into the moral aspects of teaching has just began” aliadas à escassez de investigação empírica no domínio da ética e deontologia e do desenvolvimento ético dos alunos reiteram a nossa convicção acerca da necessidade de desenvolver investigação nestas áreas.

Se a investigação sobre a dimensão moral do ensino está nos seus inícios, a afirmação torna-se mais verdadeira se nos referirmos à investigação sobre a formação ética dos educadores e professores, domínio em que abundam as considerações técnicas mas falta experiência de terreno que comprove a sua eficácia.

Pelo que já se referiu relativamente à necessidade de qualquer profissional e os professores, em particular, estarem em constante formação e pelo que os dados vêm confirmar, parece-nos pertinente e, mais do que isso, necessário o desenvolvimento de investigação na área da formação em ética e deontologia no sentido de se identificarem necessidades e interesses de formação e poderem, assim, definir-se planos de formação mais adequados.

O presente estudo pretende, precisamente, constituir uma fonte de dados teóricos, mas sobretudo empíricos, sobre a problemática da formação ética de educadores de infância. De dados recolhidos num Projecto mais amplo denominado Pensamento e Formação Ético-deontológicos de Professores, encetámos a investigação sobre o pensamento ético-deontológico de um grupo de educadoras de infância (concepções de ética, atitude face ao código deontológico, valores orientadores da conduta e valores a desenvolver nos alunos e dilemas éticos) e suas necessidades de formação ética na formação contínua de educadores de infância.

É, pois, o processo de desenvolvimento desse estudo que de seguida apresentamos, bem como a análise dos resultados mais significativos.

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PARTE II – PARA UMA FORMAÇÃO ÉTICA DE EDUCADORES DE