• Nenhum resultado encontrado

METODOLOGIA DE TRABALHO PARA A IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS POLISSEMIAS DE UM TERMO

2.3 Contexto: da ocorrência das polissemias nominais diacrônicas

Antes de abordarmos a ocorrência da polissemia, em situação de contexto, é necessário delimitar o conceito linguístico de contexto que se apresenta amplo e complexo. É um conceito abrangente que deve ser definido em função do objetivo e do desenvolvimento do trabalho a ser realizado em Terminologia.

A amplitude do conceito de contexto tem em conta os aspectos linguísticos e extra-linguísticos que participam da construção do sentido de uma expressão complexa. (cf, Mazaleyrat, 2010).

Assim, neste trabalho, o contexto será abordado como um espaço linguístico, extraído de um texto de especialidade, onde é possível identificar o fenômeno da polissemia. A nossa posição é fundamentada nas perspectivas apresentadas por Rastier (1987; 1991), Bessé (1991) e Desmet (2006).

Rastier refere-se às atualizações distintas e contraditórias do sentido de uma dada unidade: “Si le contexte comprend plusieurs types d'interprétants, plusieurs actualisations différentes, voire contradictoires, seront possibles pour définir le contenu d'un même signifiant, si bien qu'il pourra recouvrir plusieurs sémèmes.” (Rastier, 1987:83).

Mais tarde, Rastier situa a definição de contexto como um espaço que integra o texto e que permite a identificação de traços específicos de uma unidade lexical: “Dans ce qui suit nous considérons le contexte comme l'ensemble des instructions contenues dans le texte qui permettent d'identifier un sémème et les traits qui le composent.” (Rastier, 1991:154).

De maneira geral, as definições apresentadas por Rastier (1987/1991) delimitam o conceito de contexto a partir da identificação dos sememas e dos traços que os constituem como maneira de identificar as atualizações de um termo.

A definição de Bessé tem em conta que o contexto delimita o conteúdo de um termo através do estabelecimento dessa unidade com outras unidades que lhes são próximas : “Le contexte est constitué par l’énoncé qui entoure le terme (mots situés à proximité du terme, phrase), et qui conditionne son existence, sa forme, son functionnement, son sens, sa valeur et son emploi.” (1991 :112).

Por fim, Desmet sublinha que o conceito de contexto, em Terminologia, necessita ser mais clarificado, tendo em conta que esse espaço pode referir-se tanto ao contexto da frase quanto ao do microcontexto. A autora acrescenta que esses contextos estão inseridos no quadro da Linguística de corpus e do tratamento automático: “La notion de contexte en terminologie n’est pas toujours claire. Elle

renvoie souvent tout simplement au contexte linguistique, phrastique ou microcontexte, notamment dans le cadre de la linguistique de corpus informatisés et de leur traitement automatique.” (Desmet, 2006:240).

Com base nas definições acima, afirmamos que é a partir do nível linguístico que falaremos sobre o contexto. Desse modo, é necessário analisá-lo, tendo em conta o conteúdo a ser descrito e que é veiculado por esse e nesse espaço.

O estudo do termo, em situação de contexto, permite identificar e analisar como se desenvolve as associações e relações dessa unidade com outras unidades lexicais com o objetivo de precisar e limitar o seu sentido.

A análise dos termos, em situação de contexto, permite aceder às informações semânticas, como exemplo, as criações de sentido que originam as polissemias, que de certo modo, seria impossível de acessá-las fora do contexto.

A escolha de um contexto é um ato decisivo e estratégico no que se refere a representação da relação polissêmica entre os sentidos de um termo de maneira concisa e objetiva. A título de informação, as figuras que se seguem demonstram os exemplos de contextos do termo “drogas”, extraídos do corpus, referente à variante brasileira, com o auxílio da ferramenta Hyperbase. Não realizaremos uma análise pormenorizada dos exemplos, pelo fato dessa tarefa ser realizada no ponto 5.

Figura 1 – Contexto referente ao termo “drogas”

Na segunda figura, observamos que as informações relativas ao conteúdo do termo “drogas” não são apresentadas de maneira objetiva:

Tendo em conta as figuras 1 e 2, recordamos o que nos diz Desmet (2006) no início desse sub-capítulo, em relação a extensão do contexto, referindo-se à necessidade de critérios para a sua delimitação.

Para tentar sanar essa dificuldade, podemos referir à utilização dos sinais de pontuação, no caso, o ponto final, os dois pontos, o ponto e vírgula, as aspas, o ponto de interrogação. Esses tipos de pontuação podem auxiliar a delimitar o tamanho e o próprio espaço onde, por exemplo, ocorre a polissemia de um termo.

Acrescentamos ainda que, um marcador linguístico pode ter um papel relevante para a identificação do sentido de um termo, ajudando a delimitar o tamanho do contexto. A título de exemplo, observemos a figura 3.

Figura 3 – Contexto referente ao termo “drogas”

As reflexões sobre o contexto permitem-nos repensar sobre o seu tratamento automático. Para essa realização é importante recordarmos que para o computador qualquer unidade linguística, seja especializada ou não, é tratada como uma “forma”. Assim, uma “forma” é tudo o que está entre dois espaços em branco. Para que a

máquina possa reconhecer e distinguir, por exemplo, o substantivo “droga” do adjetivo “droga”, é fundamental que o informático insira as descrições linguísticas pertinentes para que esse reconhecimento e distinção sejam efetuados.

Devido ao tempo, que não dispomos para o desenvolvimento dessa parte do trabalho, o tratamento do contexto a nível automático será reservado para um projeto que será desenvolvido num futuro próximo.

Neste trabalho, interessa-nos a delimitação do conceito de contexto, dado linguístico que iremos utilizar para efetuar o estudo sobre a polissemia nominal diacrônica.