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METODOLOGIA DE TRABALHO PARA A IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS POLISSEMIAS DE UM TERMO

3. TERMINOLOGIA DIACRÔNICA

3.3. Especialização e Interdisciplinaridade no domínio de especialidade: processos que concedem ao conceito as características evolutivas

3.3.1. A formação do conceito nos domínios de especialidade

Quando referimo-nos à delimitação do conceito, temos em conta a observação do comportamento dessa unidade a partir de sua ocorrência nos domínios e/ou subdomínios referentes a uma mesma área de especialidade.

Os conceitos estabelecem uma interação, num mesmo domínio de especialidade, isto é, entre os elementos que integram uma mesma classe ou classes distintas. Essa ocorrência pode ser observada sob a ótica da dimensão sincrônica e diacrônica.

O domínio de especialidade comporta-se como uma rede de conceitos que se interrelacionam. Não é possível afirmar categoricamente que uma dada área de especialidade é na sua plenitude estruturada e sistematizada, pois tanto os conceitos como as suas respectivas denominações, quanto a estrutura conceitual, podem sofrer variações em situação de uso ao longo do tempo.

Desse modo, podemos considerar o domínio como um sistema evolutivo por natureza, onde o termo como um signo linguístico é arbitrário, no sentido em que, a sua relação com outros signos pode delimitar a sua significação.

Nenhum domínio de especialidade é totalmente fechado a tal ponto de que tanto um conceito quanto um termo sejam elementos exclusivos de sua terminologia.

Dury (2005) refere que os domínios científicos apresentam fronteiras tênues pelas quais o conceito e o termo podem ser considerados como “entidades móveis” – termo utilizado pela autora. Essa mobilidade está de certa maneira relacionada com o empréstimo tanto dos termos quanto dos conceitos entre domínios de especialidade. No dizer da autora: “scientific domains have fuzzy boundaries which allow terms and concepts to be seen as “mobile entities” which can be borrowed and used in different fields, thus proving that inter-domain lexical and conceptual sharing exists.” (Dury, 2005:39).

Dury (2005) acrescenta que essa atividade evidencia a partilha entre os inter- domínios lexical e conceitual. Nesse sentido, nota-se que em um mesmo domínio de especialidade, parece não haver uma fronteira nítida entre essas áreas, dando uma ideia de interpenetração de subdomínios.

É necessário referir que mesmo dentro de um domínio, os subdomínios podem apresentar uma proximidade, que na maioria das vezes é difícil de estabelecer uma fronteira. Essa característica é inerente a todo domínio de especialidade que apresenta um movimento constante e está em plena evolução. A esse respeito, Dury fundamentando-se na perspectiva diacrônica, diz-nos que: “La diachronie nous prouve ici à quel point il vaut mieux les envisager comme des territoires aux frontières perméables, et non comme des univers clos, strictement hermétiques les uns aux autres, qui fonctionneraient en quelque sorte en circuit fermé.” (Dury, 2006:117).

O domínio de especialidade é um espaço amplo onde a convergência de várias áreas do conhecimento contribuem para o desenvolvimento e ao mesmo tempo para a complexidade desse domínio. Assim, essa área de especialidade apresenta um leque variado de perspectivas, que pela adoção de uma dessas é possível delimitar o conceito através de uma definição. A fixação de um conceito, tarefa difícil e complexa, requer um posicionamento, por parte do especialista, no que diz respeito à ativação dos constituintes desse elemento que servirão de base para a elaboração da definição.

Nosso pensamento vai de encontro do que se refere Bessé: “Le domaine indique alors la perspective adoptée pour délimiter le concept et le décrire. Il fixe également le cadre de la définition qui est toujours formulée en fonction du domaine.” (Bessé, 2000:183).

É nesse quadro de interdisciplinaridade entre domínios e subdomínios, que integram um domínio de especialidade, que o conceito passa a apresentar novos elementos para se referir às novas realidades. A esse respeito, Cabré (2001) diz-nos que os conceitos têm proliferado sua muldimencionalidade e poliedricidade e com ele tem aparecido novos pontos de vista sobre o mesmo conceito e variações conceituais distintas.

Essa mesma observação é feita por Nersessian que sublinha que a inovação conceitual resulta da integração das informações oriundas de diferentes domínios: “Conceptual innovation often requires recognition of potential similarities across, and integration of information from, disparate domains.” (Nersessian, 2003:199).

Para o nosso estudo, a interdisciplinaridade é considerada sob o ponto de vista da formação do conceito, ou seja, quando esse elemento apresenta outros elementos que particularizam a sua significação tendo em conta outras abordagens.

3.3.2. A especialização e a interdisciplinaridade entre domínios e subdomínios de especialidade: uma fonte de variação conceitual

Os domínios de especialidade apresentam duas características opostas responsáveis pela sua evolução: a primeira refere-se à especialização, como um processo pelo qual um dado domínio é fragmentado a fim de que um ou cada um de seus subdomínios possa particularizar-se e atualizar-se. A outra característica refere-se à interdisciplinaridade, isto é, quando distintos domínios convergem seus pontos de vista para a criação de uma teoria que possa melhor fundamentar o estudo de uma realidade.

Diante desse contexto, Dogan (1997) expõe o comportamento dos domínios de especialidade, tendo em conta a interdisciplinaridade e a fragmentação das áreas de especialidade – expressão utilizada pelo autor.

Dogan refere-se à fragmentação que ocorre nos domínios de especialidade como um processo que consiste numa separação que acontece no seio de cada disciplina e que possibilita o estudo mais aprofundado de um dos subdomínios referentes a essa área. Esse processo está intimamente relacionado com a especialização de um sub-domínio e ao mesmo tempo com a sua atualização. A título de exemplificação, o autor elenca algumas áreas para demonstrar esse tipo de processo: “The division of physics into physics and astronomy, and the division of chemistry into organic and physical chemistry are classic examples of fragmentation of sciences. In the social sciences what was originally the study of law is today divided into law and political science; anthropology split into physical anthropology and cultural anthropology; geography did the same; psychology broke up into several branches; economics is deeply divided between econometricians and theorists.” (Dogan, 1997:430).

Chamamos a atenção para o fato de que, o texto de Dogan foi produzido há cerca de 16 anos, tempo bastante para ocorrer qualquer alteração num domínio de especialidade, e desse modo, provocar o surgimento de novas especializações.

A esse respeito, a ISO (2000) diz que a delimitação de um domínio de especialidade é uma questão de ponto de vista: “The borderlines of a subject field are defined from a purpose-related point of view” (ISO 1087-1, 2000:2).

Dogan (1997) salienta que a especialização é uma necessidade para o desenvolvimento de um domínio de especialidade, no que se refere aos estudos empíricos e a verificação de hipóteses. Conforme o autor, a fragmentação das disciplinas ocorrem a nível epistemológico, metodológico, teórico e ideológico.

Para Dogan, as disciplinas têm tendência a desenvolver-se em si mesmas, através da penetração de perspectivas oriundas de outras áreas do conhecimento. Nesse sentido, as disciplinas não podem ficar a mercê de uma única teoria:

“Specialized domains need theoretical orientations, but a discipline as a whole cannot have a universal and monopolistic theory” (Dogan, 1996:304).

Ao referirem-se à penetração entre os domínios, Hjørland and Hartel, (2003) fazem referência a um dos trabalhos desenvolvidos por Dogan (2001), nas ciências sociais. Segundo os autores, Dogan refere que há mais comunicação entre as especialidades pertencentes a diferentes disciplinas do que entre as especialidades que integram uma mesma disciplina.

A interdisciplinaridade é uma característa que marca a atualização e a evolução dos domínios científicos. Cada domínio de especialidade possui uma dimensão sociocultural, considerando que cada comunidade científica é composta por especialistas que veiculam uma perspectiva que representa essa mesma comunidade.

Morillo et. al. (2003) afirmam que a importância da pesquisa interdisciplinar deve ser amplamente reconhecida. Para os autores, a ocorrência desse tipo de pesquisa está associada com a criatividade, o progresso e a inovação que por sua vez resultam em descobertas mediadas pelos avanços intelectuais dos tempos modernos.

Nessa linha de pensamento, Hjørland refere-se que a fundamentação do progresso científico está ligada ao desenvolvimento de teorias referentes ao tratamento do conceito: “Scientific progress is tied to the development of well- justified theories, conceptions, and concepts and by the development of tighter constrains in the definition of concepts.” (Hjørland, 2009:1526).

Na concepção de nosso estudo, lembramos Burney et al. (2010) que sublinham a relevância dos aspectos temporais para analisar a evolução dos domínios de especialidade. Burney et al. (2010) acrescentam que o aspecto temporal é significativamente importante em vários domínios e ainda pode auxiliar na análise e na compreensão do desempenho desse domínio.

Por fim, podemos ainda mencionar que as relações interdisciplinares podem ocorrer quando os especialistas de um determinado domínio de especialidade apoiam- se na perspectiva de outros especialistas de domínios distintos do seu para construir o seu ponto de vista. Essa tarefa pode ser identificada a partir dos textos de especialidade.

Relativamente à formação do conceito nos domínios de especialidade, falaremos sobre a neologia como um processo inerente à sistematizar esses mesmos domínios.

3.4. Terminologia e Neologia: uma relação de sistematização nos domínios de