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METODOLOGIA DE TRABALHO PARA A IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS POLISSEMIAS DE UM TERMO

3. TERMINOLOGIA DIACRÔNICA

3.4. Terminologia e Neologia: uma relação de sistematização nos domínios de especialidade

3.4.1. Processos de criações neológicos destinados a sistematização no domínio de especialidade

3.4.1. Processos de criações neológicos destinados a sistematização no domínio de especialidade

Conforme as instituições estandardizadoras e os especialistas que trabalham em Terminologia, o tipo de criação neológica indicada para os trabalhos desenvolvidos em terminologia privilegia o processo de criação de neologia formal, relegando para o segundo plano a neologia semântica. A criação de uma nova unidade tem como objetivo desfazer qualquer tipo de ambiguidade – como é o caso da variação que pode ocorrer através da reutilização de um termo já existente para denominar o surgimento de uma nova realidade, processo esse veiculado pela neologia semântica –, que por sua vez, pode originar a polissemia (cf. ponto 1), ou ainda, evitar que uma forma estrangeira possa integrar o léxico especializado de uma dada língua. Nesse sentido, a neologia pode comportar-se como um processo normativo.

Desse modo, recordamos a perspectiva de Wüster. O autor tem em conta a normalização como um processo de criação neológica: “la normalisation terminologique est appelée également à créer des termes nouveaux” (Wüster, 1981:67).

Para a ISO (704, 2009), o produto de criação neológica, denominado de neotermo refere-se a uma nova entidade lexical, que pode resultar de um processo de composição, derivação e ainda de abreviação. Conforme a instituição: “A neoterm is a new lexical entity. Formation processes such as derivation, compounding or abbreviation can be used to create neoterms.” (ISO 704, 2009:51).

Esta citação da ISO comprova o que afirmamos nos parágrafos iniciais deste subcapítulo.

As regras gramaticais subjacentes a uma determinada língua podem apresentar-se como meios para regular e prescrever o que pode ser veiculado em um determinado léxico especializado, contribuindo dessa maneira para os princípios normativos.

Assim, a criação de um termo pode ser entendida como uma regulamentação a nível lexical, tendo em conta o uso das regras gramaticais e lexicais na formação dessas novas unidades. A criação neológica além de obedecer aos princípios linguísticos, deve ter em conta os níveis sociais e culturais da língua em questão; daí da necessidade de uma boa política de implantação e difusão dessas novas unidades.

Segundo Calvet, “La terminologie implique donc d'une part une connaissance précise des systèmes de dérivation, de composition de la langue, un inventaire des racines, etc., mais implique aussi d'autre part que les mots créés, les néologismes, soient acceptés par les utilisateurs, c'est-a-dire qu'ils soient d'abord acceptables”. (Calvet, 1996:48).

A neologia não é apenas considerada um simples fenômeno linguístico responsável pela criação dos novos termos, mas um processo de criação relevante nos trabalhos desenvolvidos pelos terminólogos. Essa situação é elucidada por Boulanger, ao mencionar que em meados da década de setenta, o estado de Québec demonstrou interesse no estudo da neologia. Tal interesse está vinculado aos trabalhos de planificação linguística e ainda à necessidade de proteger, enriquecer e preservar a língua francesa. Desse modo, o autor refere que a neologia é um processo que apresenta uma vertente normalizadora quando utilizado para “Corriger une faute, remplacer un anglicisme, éliminer un emprunt inutile constituent des objectifs importants du travail néologique. Ils s'inscrivent dans les régles de protection de la langue française bien décrites dans les lois linguistiques.” (Boulanger, 1979:38).

Desse modo, Boulanger refere-se à relevância da metodologia de trabalho adotada pelo Observatório de Quebec, no que diz respeito à criação, à implantação e à difusão dos neologismos científicos.

Tendo em conta a relação entre a terminologia e a neologia, o processo de criação neológico ganha uma nova postura, além de ter um caráter linguístico, passa a

integrar os estudos desenvolvidos nas áreas das políticas linguísticas e da normalização (cf. ponto 3.4.2).

Gaudin (1993) refere que a relação entre a terminologia e a neologia constitui um vetor de inovação linguística. O autor ainda cita a norma como um meio de fixar o movimento dos signos linguísticos: “Mais la terminologie doit aussi penser ensemble l'activité néologique, qui la fonde et constitue un puissant vecteur d'innovation linguistique, et la norme, vers laquelle tend son activité et qui vise une ossification, toujours à refaire, du mouvement qui déplace les signes, ou tout au moins, leur valeur.” (Gaudin, 1993:164).

Por seu turno, Alves (1996) considera que o desenvolvimento dos trabalhos terminológicos, seja de caráter descritivo ou através de uma perspectiva normalizadora referentes à criação de novos termos, apresenta um redimencionamento das características da neologia.

Mais tarde, Alves (1998) acrescenta que tal atividade está vinculada aos critérios de reconhecimento, aceitabilidade e difusão das novas unidades lexicais, seja das línguas comum e/ou de especialidade, no âmbito concreto de uma política de língua; a identificação de áreas novas ou recentes, ou com lacunas, que necessitam de intervenção.

Cabré (2000) fala sobre a neologia planificada e refere-se que esse tipo de neologia, concentrada principalmente na terminologia, é o processo de estabelecimento e fixação do léxico especializado com uma dupla função: a criação de unidades estandardizadas e a redução de variedade denominativa atribuindo cada variante a um registro.

Cabré (2000) refere-se à neologia planificada como uma forma de criação neológica que se apoia sobre uma base institucional. Segundo a autora, a neologia planificada é sempre um ato reflexivo que propõe dotar um língua de recursos de expressão e comunicação próprios, portanto, tem como objetivo principal a preservação de uma língua, e utiliza como base de sua atividade as noções de norma e de genuidade linguística.

Diante desse quadro de criação neológica, a neologia formal viabiliza os trabalhos de normalização e harmonização. Contudo, o âmbito de alcance do estudo desses processos deve ser revisitado tendo em conta o real uso da língua e o tratamento dispensado à relação conceito/termo.

3.4.2. Os processos de Normalização e Harmonização em Terminologia diante do