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METODOLOGIA DE TRABALHO PARA A IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS POLISSEMIAS DE UM TERMO

3. TERMINOLOGIA DIACRÔNICA

3.5. Perspectiva linguística da terminologia: do conceitual ao linguístico 1 A abordagem linguística para a terminologia

3.5.2. Do conceitual ao linguístico: a necessidade de estabelecimento de uma fronteira

Após a definição e delimitação do conceito (cf. ponto 3.1.), da significação e do sentido (cf. ponto 1.5.), voltamos a referir sobre esses elementos, como unidades que constituem um dos pontos de discussão crucial em Terminologia. Desse modo,

podemos falar sobre o nível de representação que cada um desses elementos ocupa nos estudos desenvolvidos em Terminologia.

Atualmente, nos trabalhos em Terminologia é constante a passagem do nível conceitual ao nível da significação, como também ao nível do sentido. Contudo, essa suprarreferida transição não apresenta evidências claras em relação à delimitação entre o conceito e a significação ou ainda entre o conceito e o sentido.

Há mais de 30 anos, Drozd (1981) já fazia referência que o uso do conceito de conceito em Linguística leva a discussões que se prolongam até à época contemporânea.

Wüster nota que a equivalência instituída entre os elementos supramencionados, reside no fato de que, a significação de um termo limita-se à significação de um objeto: “Ce qui facilite aux terminologues l'emploi du terme notion, c'est le fait que pour eux la signification d'un terme se limite à la signification de la chose, appelée aussi signification de la notion: les significations contiguës (ou variantes) sont donc généralement exclues.” (Wüster, 1981:64).

Diante desse contexto, Depecker (2000) recorda o fato de que, para a linguística, tanto o conceito quanto o significado têm sido tratados de maneira semelhante. Porém, o estabelecimento de semelhança entre esses níveis distintos de análise tem causado à terminologia uma dificuldade para ser resolvida.

Depecker (2000) nota que é a partir da teoria do signo linguístico desenvolvida por Saussure que tem provocado uma série de questões sobre a similaridade entre o conceito e a significação e o conceito e o sentido.

Desse modo, é preciso mencionar que Saussure refere-se ao signo linguístico como a união entre o «conceito» e a «imagem acústica». Porém, o autor propõe a substituição desses elementos por «significado» e «significante», respectivamente. Conforme Saussure: “le signe linguistique […] unit un concept et une image acoustique […]. Nous proposons de remplacer concept et image acoustique respectivement par signifié et significant.” (Saussure, 98-99).

Contudo, é de notar que a substituição sugerida por Saussure, que de certo modo, tornou ambos os termos sinônimos, ainda causa problemas em relação ao estudo desses elementos.

Gaudin (1993) refere-se que “En effet, depuis que Saussure, par souci de clarté, a substitué, en linguistique, le terme de signifié à celui de concept, un certain flou s'est instauré bien que les objets étudiés sous l'une ou l'autre appelation soient en fait souvent distincts, le signifié renvoyant au système de la langue alors que le concept a partie liée avec les connaissances.” (Gaudin, 1993:93).

Para muitos especialistas a fronteira entre esses níveis de análise é tênue e que, na maioria das vezes, é difícil de separá-la e descrevê-la. Essa dificuldade pode residir na variedade de pontos de vistas e de suas explicações singulares em relação a esses diferentes níveis de representação. A esse fato, salientamos que a dificuldade dessa delimitação resulta na escassez de trabalhos desse gênero.

Para se falar sobre essa passagem é necessário entender que o conceito, a significação e o sentido encontram-se em distintos níveis de representação e de análise. Como já referido, o conceito é uma unidade ampla constituída por elementos que se referem as características ou as propriedades. O conceito pode ser considerado como uma unidade do pensamento, do conhecimento ou da comunicação, mas não uma unidade textual (cf. ponto 2.1). A significação é uma propriedade dos signos e o sentido é um elemento linguístico constituído por semas, sememas, etc. (cf ponto 1.5.2.).

Quando nos referimos à passagem do nível conceitual para o nível linguístico, não podemos afirmar que o conceito corresponde à significação ou ao sentido. O conceito não se reduz a esses dois elementos. O que é possível ser dito é que um dos constituintes desse conceito, seja a característica, seja o atributo, seja a propriedade pode vir a assumir a função ou valor de uma significação, mais precisamente, assumir a função de um sentido tendo em conta a sua ocorrência num contexto linguístico.

Desse modo, podemos falar sobre o processo de verbalização de um dado conceito, como uma prática realizada tanto na elaboração de definições lexicográficas quanto na concepção de definições apresentadas em artigos científicos, relatórios,

teses, enfim, de textos científicos que são destinados à veiculação do sentido delimitado referente ao conceito.

Reconhecida a dificuldade que é a de estabelecer uma fronteira entre o nível conceitual e o nível linguístico, nota-se que essa complexidade não impede a representação de um conceito a nível linguístico.

Nesta ótica, Nersessian afirma que: “Clearly scientific conceptual structures can be represented linguistically. But this does not mean that we can learn about the nature of conceptual change in science simply - or even mainly - by investigating the nature of languages and language learning.” (Nersessian, 2003:194).

Por sua vez, Habert et al. sublinham que as estruturas conceituais situam-se num nível, onde é possível abranger as estruturas lexicais, como é o caso dos diferentes sentidos de uma unidade polissêmica, por exemplo. No dizer dos autores: “Les ressources conceptuelles ont l’avantage de s’affranchir du niveau de structuration proprement lexical que regroupe les différents sens d’un mot polysémique et qui represente les synonymes par des unités distinctes même si elles sont sémantiquement liées. Le monde de structuration conceptuel est plus proche du sens des mots que des mots eux-mêmes et donc mieux adapte à l’objectif de la désambiguïsation lexicale.” (Habert et al., 1997:80).

Faber et al. (2009) ao invés de estabelecer uma distinção entre os níveis supracitados, reconhecem que a mudança tanto conceitual quanto linguística resulta numa abordagem que é centrada na ocorrência e ao mesmo tempo na atualização do termo em situação de discurso: “The linguistic and cognitive shift in Terminology has led to a more discourse-centred approach with a focus on how terms are actually used in texts” (Faber et al., 2009:2).

Por fim, Packeiser (2009) aponta para o fato de que ao incorporar conceitos de outros campos do saber, não houve por parte da TGT um ajuste às reais necessidades da terminologia. Dentre essas insuficiências, essa abordagem não conseguiu explicar as alterações feitas, por exemplo, nos princípios da semântica. “The problem is that after having chosen relevant concepts and elements from others fields, the general theory has failed to properly adjust them to the needs of terminology. It has failed to explain

the changes made of principles e.g. taken from semantics. As an example, instead of merely claiming that the relationship of concept and term is different to the relationship of meaning and word, it should explain why it is different and present a proper definition of concept and term.” (Packeiser, 2009:15).

O pensamento do autor faz ressurgir a necessidade de se falar a respeito da reflexão sobre a terminologia. Essa necessidade é inerente a própria incapacidade de descrição de certas ocorrências na língua de especialidade, pelo fato, da inexistência de abordagens teóricas que possam fundamentar esses eventos.

Desse modo, podemos referir que constantemente, a terminologia é alvo de reflexões que geram divergências pelo fato da TGT ainda comportar-se como uma abordagem bem significativa, no que se refere, à elaboração, à instituição e a veiculação de terminologias.

Contudo, estamos dispostos a enveredar pelo rol dos especialistas em terminologia que apresentam uma contribuição para os estudos desenvolvidos nesse domínio do saber.

Nesse sentido, falaremos sobre a relevância e necessidade de se observar a terminologia tendo em conta a abordagem diacrônica, visto que, as relações conceito/conceito, conceito/termo, sentido/termo e sentido/sentido poderem situar- se em distintos momentos da língua e do discurso.