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CAPÍTULO 6: INTERSETORIALIDADE NA POLÍTICA DE SEGURANÇA

6.1. O contexto em Pernambuco e sua influência na construção da política de segurança

6.1.1. O contexto demográfico e socioeconômico

Os dados aqui apresentados procuram se aproximar o máximo possível da realidade do estado de Pernambuco durante o período abrangido por esta pesquisa. De acordo com o censo IBGE 2000, a população de Pernambuco era de cerca de 8 milhões de pessoas ocupando uma área de aproximadamente 100.000 quilômetros quadrados e com uma densidade populacional de 80 habitantes por cada quilômetro quadrado. Projetava-se para 2007, entretanto, primeiro ano do período coberto por este estudo, uma população de aproximadamente 8,6 milhões de pessoas em Pernambuco.

Existiam, entretanto, contrastes com relação à ocupação do território do estado, no que diz respeito a suas mesorregiões (Tabela 1). A Região Metropolitana do Recife ocupava apenas 3% do território, mas, em compensação, concentrava cerca de 42% da população pernambucana. Já na Zona da Mata, viviam cerca de 15% da população do estado em um território que abrange 8% da área total de Pernambuco. No Sertão, concentrava-se 17% da população em um território que abrange aproximadamente 63% da superfície do estado. No Agreste, é onde ocorria um maior equilíbrio com relação à ocupação do território do estado já que 25% da população ocupava 25% do território pernambucano.

O estado de Pernambuco conta com 185 municípios, incluindo o Arquipélago de Fernando de Noronha, sendo que 67,5% deles tinham menos que 20.000 habitantes, 27% tinham população entre 20.000 e 100.000 habitantes, enquanto que 5,4% tinham população acima de 100.000 habitantes.

De acordo com os dados do IBGE 2000, 76,5% dos domicílios de Pernambuco encontravam-se na zona urbana e 23,5%, na zona rural. Na Região Metroplitana do Recife, os domicílios urbanos representavam 96,9%, enquanto que, no Sertão e Agrestes setentrional e meridional, a urbanização ficou entre 44 e 63%. Já na Zona da Mata e Agreste Central, esse percentual atingia 69% dos domicílios.

O perfil sociodemográfico de Pernambuco apresentava uma população predominantemente feminina, representando 51,18%. Aproximadamente 41% tinham até 19 anos e 50% estavam na faixa etária entre 20 e 59 anos. A população de idosos com 60 anos ou mais era de 9% em todo o estado. Apesar de representar apenas 9% da população, o número de idosos vem crescendo, fenômeno este associado à queda nas taxas de natalidade (Gráfico 1).

Com relação à pobreza e desigualdade social em Pernambuco, em 2003, 40,6% das famílias do estado e 30% da RMR estavam abaixo da linha da pobreza com renda familiar mensal inferior a meio salário mínimo per capita. Quando a renda per capita estava entre meio e um salário mínimo, observa-se um percentual de 25,6% no estado e 24,7% na RMR. Desse modo, percebe-se que para todo o estado o número de famílias com renda mensal superior a um salário mínimo era de 25,5%, enquanto que na RMR esse índice chegava a 34,7%. Quando a renda per capita das famílias ultrapassava cinco salários mínimos, o percentual era de 4% para o estado e 7,1% para a RMR (Gráfico 2).

Verificamos que, no ano de 2000, o percentual de pobres no estado era de 51,3% e o daqueles considerados indigentes – com renda per capita familiar abaixo de um quarto do salário mínimo – era de 27,7%. Ainda no ano de 2000, o índice de Gini para Pernambuco foi de 0,67, maior do que para o Brasil como um todo, que foi de 0,60.

Levando-se em consideração a questão racial para delimitação da pobreza, vamos encontrar que, no ano 2000, 43% dos brancos eram pobres, enquanto que o número de negros e pardos que se encontravam nessa condição era de 57%. Quando se tratava da indigência da população, os percentuais eram de 22,6% para brancos e 31,3% para negros e pardos.

Com relação à qualidade de vida, vamos encontrar 69% dos domicílios particulares de Pernambuco sem acesso a saneamento básico, no ano de 2000, enquanto que, no Brasil, esse percentual era de 44%. Já o serviço de coleta de lixo atendia 69% dos domicílios particulares em todo o estado e 86% na RMR. O acesso à energia elétrica, segundo os dados do Censo IBGE 2000, era de 96% no estado e 99,6% na RMR.

Um indicador da desigualdade social em Pernambuco pode ser o acesso a certos bens de consumo, como computadores, carros e televisores. O computador estava presente em apenas 5,6% dos domicílios do estado e em 10,5% nos domicílios da RMR. O carro, por sua vez, estava presente em 18,5% dos domicílios de Pernambuco, e, na RMR, este número foi de 24,9%. A televisão foi o bem mais encontrado nas residências com percentual de 84,4% no estado e 92,2% na RMR (Gráfico 3).

O percentual de pessoas alfabetizadas, no estado de Pernambuco, com idade igual ou superir a 10 anos, era de 78,3%, enquanto que, na RMR, esse percentual era de 88,8%. No Agreste do estado e em certas áreas do Sertão, a taxa de alfabetização, em 2000, era inferior a 70%. Por outro lado, entre a população com mais de 10 anos, era de 5,2 % em todo o estado e de 6,8% na RMR.

No que diz respeito a trabalho, ainda de acordo com dados do IBGE, em 2002, a taxa de ocupação de pessoas com 10 anos ou mais foi de 59,4% para o estado e de 55,4% para a RMR. A taxa de ocupação entre os homens foi de 71,9%, enquanto que para as mulheres esse

percentual foi de 47,8%. Os homens estavam ocupados principalmente na agricultura, comércio, indústria, construção, transporte e administração pública. Já as mulheres estavam ocupadas principalmente no comércio, agricultura, educação, saúde e serviços, serviços domésticos, indústria, alojamento e alimentação e na administração pública.

Em relação à economia, observou-se, em 2003, um Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de R$ 42,3 bilhões. Isso representou 19,7% de toda riqueza produzida no Nordeste e 2,7% do total produzido no Brasil. Nesse ano, o PIB per capita no estado foi 19,2% superior ao registrado no Nordeste, mas 41% inferior ao registrado no Brasil.

Em Pernambuco, percebe-se um predomínio do setor de serviços bem mais elevado do que na economia brasileira. Basta observar que o setor de serviços representou, em 2001, 59,6% do PIB estadual, enquanto que, na economia do Brasil, esse índice foi de 51,4%. Com relação ao setor industrial, a situação se inverte e a participação desse setor na economia do estado foi de 31,9% menos que a participação do mesmo na economia do país, que chegou a 40,3%. (Gráficos 4 e 5)

Conforme dados do IBGE de 2005, no setor de serviços, existem três subsetores que se destacaram entre 1999 e 2001: o comércio, a administração pública e o grupo das atividades imobiliárias. Em 2001, o comércio participava em 12,5% do PIB estadual e a administração pública em 21,5%. Já as atividades imobiliárias representaram 9,1% do PIB no mesmo ano (Gráfico 6).

Na indústria, destaca-se a de transformação com 17,2% do PIB. Dentre essas, as principais são: de fabricação de produtos químicos, produtos alimentícios, máquinas, equipamentos metálicos e metalurgia básica. Um subsetor que também merece destaque é o da construção, que, em 2001, representou 11,5% do PIB.

A economia no estado de Pernambuco é bastante diversificada por todo o território. Na RMR, concentram-se as atividades industriais e de serviços, mas, por todo o litoral, é possível

observar ainda atividades turísticas, pesqueiras e de carcinicultura. Na Zona da Mata, destaca- se a monocultura da cana-de-açúcar. No Agreste, predominam a bovinocultura, com 50% da produção do estado, a criação de aves e o cultivo de feijão, milho, frutas, verduras e flores diversas. No Agreste, destacam-se também os polos de produção têxtil nos municípios de Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru e a produção de leite na cidade de Garanhuns.

Como se pode perceber, o contexto socioeconômico do estado de Pernambuco, no período que antecede e durante a elaboração de uma política de segurança pública, revela forte insegurança por parte da população, uma vez que entendamos segurança como uma necessidade humana que precisa ser satisfeita em vários aspectos (Chiavenato, 1994) como saúde, trabalho, educação, entre outros. Esses são direitos humanos e de cidadania negados à população e que precisam ser garantidos a partir de uma visão ampla de segurança pública.