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4 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

Muitas são as conceituações trazidas pelos tributaristas ao instituto das imunidades. Carvalho12 elucida imunidade como as normas jurídicas que estabelecem

“de modo expresso, a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para expedir regras instituidoras de tributo que alcancem situações específicas e suficientemente caracterizadas”. No mesmo sentido, é a abordagem de Machado13 que considera as imunidades como “obstáculo decorrente de regra da Constituição à incidência de regra jurídica de tributação. O que é imune não pode ser tributado”.

Igualmente, bem ilustra Baleeiro14, expondo que “as imunidades não norteiam o bom exercício da competência tributária, mas denegam o poder tributário, limitando-o relativamente a certos fatos”.

A partir da análise conceitual, é possível distinguir a dupla natureza das imunidades, pois, segundo Sabbag15, “de um lado, mostra-se como norma constitucional que demarca a competência tributária, ao apresentar fatos que não são tributáveis, no bojo do aspecto formal da imunidade” o que pode ser somado a outra natureza do “direito público subjetivo das pessoas que, direta ou indiretamente, usufruem os seus benefícios, à luz do aspecto substancial ou material da norma.’’

Como direito subjetivo “a imunidade visa baratear o acesso à cultura e, por facilitar a livre manifestação do pensamento, a liberdade de atividade intelectual, artística, científica e da comunicação e o acesso à informação, todos os direitos e

12 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 179.

13 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 27. ed. rev., atual. ampl. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 296.

14 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro, atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 119.

15 SABBAG, Eduardo de Moraes. Imunidades Tributárias. Fonte: Manual de Direito Tributário, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 4. Material da 6ª aula da disciplina Sistema Constitucional Tributário:

Princípios e Imunidades, ministrada no curso de pós-graduação lato sensu televirtual em Direito Tributário – UNIDERP/REDE LFG.

garantias individuais constitucionalmente protegidos (...), configura, também, cláusula pétrea”16, pois a justificativa da “intributabilidade dos livros, jornais e periódicos é a ideia de justiça fiscal, nela incluída a de utilidade social, consubstanciada na necessidade de baratear o custo dos livros e das publicações”. 17

Além disso, a exoneração tributária ao passo que retira os impostos “dos veículos de educação, cultura e saber para livrá-los, de sobredobro, das influências políticas para que, através do livro, da imprensa, das revistas, possa-se criticar livremente os governos sem interferências fiscais”. 18

Quanto à abrangência da limitação ao poder de tributar, compreende a importação de livros, jornais, periódicos e papel de imprensa, não incidindo Imposto de Importação (II), e na comercialização interna o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS).

Relativamente à incidência do Imposto sobre Serviços (ISS) sobre as receitas de publicidade há divergência entre os doutrinadores, pois “o ISS, porque não grava os objetos imunes, senão a receita bruta de pessoas físicas e jurídicas incidente sobre serviços de qualquer natureza (art. 156, III) sem exceções” 19. Todavia Torres20 expõe que “o ISS não incide sobre a publicidade em jornais nem, segundo a jurisprudência do STF, sobre as fases intermediárias de confecção de livros e periódicos”. Além disso, o STF considerou as listas telefônicas imunes ao ISS, ressaltando o cumprimento do papel de utilidade social.

Essa controvérsia a respeito do expresso na lei pode ser compreendida na exposição de Baleeiro21, segundo o qual “na jurisprudência, prevalece ainda o entendimento de que a publicidade paga, veiculada em jornais, livros e periódicos, está abrangida pela imunidade em relação ao ISS, de competência dos Municípios.”

Verifica-se que predomina a “tese da imunidade ampla. Ela abrange todo o conjunto de serviços que realizam o livro, como a redação, a revisão da obra, a parte editorial, como também de publicidade de anunciantes.”

A respeito do Imposto de Renda, a imunidade “não alcança a empresa jornalística, a empresa editorial, o livreiro, o autor etc., que, por exemplo, deverão pagar o imposto sobre os rendimentos que obtiverem com o livro, o jornal, o

16 ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 2. ed. Atual. Ampl. São Paulo: Método, 2008, p. 173.

17 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário - os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 283.

18 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2006, p. 313.

19 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2006, p. 314.

20 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 305.

21 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro, atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro, Forense, 2001, p. 149.

periódico e o papel destinado à sua impressão” 22, pois a exoneração tributária tem critérios objetivos, aplicando-se a coisas e não a pessoas. Mesmo assim, a imunidade deve ser compreendida amplamente, “sem quaisquer reduções e de forma a ser economicamente neutra, sem beneficiar mais a uns – especialmente os grupos econômicos jornalísticos poderosos e monopolísticos – do que a outros – as empresas de imprensa dissidentes, minoritárias e economicamente mais fracas (os jornais de opinião p. ex.)”23.

E com esse propósito, é necessário que se compreenda a distinção entre a cultura tipográfica da eletrônica, assim como o espaço público do cibernético, para que possamos num momento posterior entender a extensão dada às imunidades tributárias. Os avanços da ciência e da tecnologia são uma forma de exercício da cidadania, comprovando que a ciência e a evolução tecnológica não são atividades à parte, autônomas, mas estão atreladas a fatores econômicos, políticos, históricos, sociais e ideológicos da sociedade.

Esse novo paradigma24 expressa outra forma de comunicação de “ideias, que exige a reformulação das velhas figuras constitucionais e legais que surgiram para a proteção de relações jurídicas formadas em ambiente cultural diverso”. Portanto, uma nova configuração da visão atual suportada por tecnologias pode transformar a nossa forma de trabalhar, viver e conviver. Isso porque a tecnologia deve constituir-se como elemento em função do homem, para ajudar e facilitar sua vida, propiciando mais conforto, qualidade de vida, preservando sua energia e melhorando o uso de seu tempo. Quando se faz menção a espaço público, a imprensa escrita, que aqui pode ser manifestada pelos jornais, livros e periódicos, se traduz no instrumento para comunicação nesse espaço.

Já o espaço cibernético25 “é aquele no qual se dá o relacionamento fundado na troca de informações transmitidas pelos servomecanismos. É um espaço virtual, um ‘fantasma’ que não existe fisicamente, mas que produz o espaço existencial”.

Assim, configura-se a distinção entre espaço público e cibernético, trazendo consequências de relevância apresentadas por Torres26: “a) valor preponderante no espaço cibernético é a liberdade, e não a justiça, como ocorre no espaço público;

e b) a internacionalização das autoestradas da informática leva à erosão do próprio conceito de Estado Nacional.”

Desse modo, a era da informação, da imagem, do satélite, da fibra ótica, da

22 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 12, ed., São Paulo:

Malheiros, 1999, p. 493.

23 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro, atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro, Forense, 2001, p. 152.

24 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 287.

25 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. – Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 290.

26 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. – Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 292.

Internet repercute na interpretação e na aplicação do direito relativamente à previsão do artigo 150, VI, “d” da Constituição Federal, bem como às demais controvérsias implantadas pela doutrina, referentes, por exemplo, a livros eletrônicos, a CD-ROM e a tinta, o que será objeto de análise no próximo item.

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