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Sabe-se que as imunidades previstas no artigo 150, VI, “d” da Constituição Federal dizem respeito a livros, jornais, periódicos e ao papel que se destina a sua impressão, e o objetivo neste momento é elencar as situações que foram ou não abarcadas pelo constituinte. O efeito do reconhecimento da garantia constitucional do conceito de livro é marcado por uma complexa e ambígua discussão doutrinária.

O conceito de livro, inicialmente, como o resultado da impressão, em papel, de ideias, doutrinas ou informações com finalidade cultural, cuja “base física constituída por impressão em papel e a finalidade espiritual de criação de bem cultural ou educativo” 27, atualmente abarca também a possibilidade de ser ‘virtual’, disponível

“no espaço cibernético; pode conter folhas soltas ou cosidas; pode vir com capa flexível ou dura; pode conter informação científica ou leviana; entre outras tantas multifacetadas possibilidades”. 28

Notadamente, o conceito de livro, para fins de imunidade, ampliou-se, passando a significar “qualquer objeto que transmita conhecimentos (ideias, informações, comentários, narrações reais ou fictícias etc.), pouco importando se isso se faz por caracteres alfabéticos, por imagens, por sons, por signos Braille, por impulsos magnéticos etc”29. Desse modo, as publicações em meios eletrônicos estariam divulgando cultura, portanto abrangidas pela imunidade. Como refere Torres30 em relação aos livros, produtos da evolução tecnológica: “constituem transposição para CD-Rom, a ser utilizado em computador, do livro originariamente impresso em papel”.

Acompanha esse posicionamento Paulsen31, afirmando que tanto o CD-ROM como a revista eletrônica são alcançados pela imunidade, pois, segundo o autor,

27 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 293. Os manuais técnicos e as apostilas, segundo o Supremo Tribunal Federal, estão também incluídos no conceito de livro. Excluem-se os diários, o livro cartonado, o livro espiral, o livro de ponto, o livro da porta, livros fiscais, o livro de borda, o livro-razão, o livro de atas, pois não veiculam ideias.

28 SABBAG, Eduardo de Moraes. Imunidades Tributárias. Fonte: Manual de Direito Tributário, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 32. Material da 6ª aula da disciplina Sistema Constitucional Tributário:

Princípios e Imunidades, ministrada no curso de pós-graduação lato sensu televirtual em Direito Tributário – UNIDERP/REDE LFG.

29 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 17. ed., São Paulo:

Malheiros, 2002, p. 676.

30 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 302.

31 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 2. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado: ESMAFE, 2000, p. 176-177.

“não há que se entender tal referência como limitativa da imunidade, ou seja, como impeditiva da imunidade dos livros, jornais e periódicos gravados ou divulgados por outro meio. A essa conclusão se chega analisando os direitos fundamentais a que a Constituição visou proteger com a norma em questão.”

Há um entendimento por parte dos doutrinadores da possibilidade das publicações virem acompanhadas de CDs ou videocassetes. Nesse sentido, Torres32 inclui essas mercadorias como imunes “desde que haja a preponderância econômica e intelectual do texto sobre o disco compacto”.

Na mesma senda são equiparados ao livro, para fins de imunidade, “os veículos de ideias, que hoje lhe fazem as vezes (livros eletrônicos) ou, até, o substituem. Tal é o caso – desde que didáticos ou científicos – dos discos, dos disquetes de computador, dos CD-Roms, dos slides, dos videocassetes, dos filmes etc”33.

Os jornais também gozam de amplo privilégio fiscal, referindo-se à mídia escrita apenas, ou seja, “excluem-se do campo do privilégio constitucional os veículos de radiodifusão, neles compreendidos os “jornais da tela” ou os “jornais da televisão”, que apenas metaforicamente podem ser considerados jornais”34. Naturalmente que as diversas propagandas veiculadas em jornais e periódicos são importantes fontes de rendas, por isso não correspondem aos objetos tutelados pelo preceito imunizante, obtendo normal incidência tributária. Porém, o periódico propriamente dito é amparado pela norma imunizatória e sua conceituação se traduz em:

Revistas, técnicas ou não, e os impressos que se editam repetidamente dentro de certos intervalos de tempo. O seu conceito é amplo e abrange até mesmo as revistas pornográficas, tendo em vista que a acusação de pornografia sempre serviu de base à opressão da livre manifestação do pensamento e às discriminações no campo da literatura35.

Ainda, o Supremo Tribunal Federal para abarcar os periódicos valeu-se de uma interpretação extensiva, buscando saber se o objeto impresso busca disseminar pensamentos e ideias, não estando incluídos, os calendários comerciais36, mas as

32 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 296.

33 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 17ª ed., São Paulo:

Malheiros, 2002, p. 669.

34 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. – Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 295.

35 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. – Rio de Janeiro: Renovar, 1999,, p. 294.

36 “CALENDÁRIOS COMERCIAIS – IMUNIDADE NEGADA”. Os calendários comerciais não são periódicos, pois não se destinam a veicular ou transmitir pensamentos ou ideias. Não têm imunidade” (RE 87.633 SP (2ª T.), RTF 89/278/281) (COÊLHO, 2006, p. 317).

revistas médicas37, listas telefônicas38 e álbuns de figurinhas sim. Sobre este último:

não se concebe qualquer distinção – para fins de imunidade – entre um livro que tenha estampado figuras de esportistas, artistas etc.

e um álbum em que tais imagens (cromos) sejam adquiridas em separados, para serem coladas, como apontado que a “venda de um opúsculo ilustre a ser completado por ‘figurinhas’ periodicamente distribuídas pelas bancas, que podem ser adquiridas diretamente da editora, se assim o desejar a criança, em técnica de indiscutível atração não distinta daquela outra de venda de fascículos semanais, que terminam por formar um livro, embora objetivando a disputa de mercado é algo incensurável do ponto de vista ético-social, e não vedado pela imunidade constitucional, que, como já se disse, por ser objetiva, protege o veículo de expressão escrita, independente das intenções, difusão de ideias ou de imoralidades39.

A análise do papel destinado à impressão é o assunto de maior controvérsia, revelando-se problemático. A Constituição de 1948 continha a seguinte previsão:

“são muito variáveis os produtos da imprensa: livros, jornais, circulares, cartazes, brochuras, gravuras. Pouco importa igualmente a substância ou matéria empregada:

papel, pergaminho, tela, cartão, madeira, papelão ou metal”. 40

Com isso, percebe-se que já naquela época o papel era um dos suportes do livro, mas não o único. Conforme o mesmo autor41, tem-se que “inventado pelos chineses e trazido para a Europa nos fins da Idade Média, o papel, sendo muito mais barato, veio a substituir, com vantagens, o papiro, dos antigos egípcios”. Necessário faz-se esclarecer que apenas o papel destinado aos livros, jornais ou periódicos, ou seja, o papel de imprensa é que está abarcado pela imunidade, não estando incluso, por exemplo, o papel de embrulho42.

Os materiais que se mostrem assimiláveis ao papel, abrangendo, em consequência, para esse efeito o papel para telefoto, o papel fotográfico e os filmes

37 “Sob a ementa “Revista Médica – anúncios nela inseridos – IMUNIDADE”, o STF reconheceu ser extensiva a regra imunitória (RTJ 72-189 e RTJ 87-608/612) (COÊLHO, 2006, p. 316).

38 Veiculação de anúncios e publicidade nas listas telefônicas. Irrelevância. “IMUNIDADE – LISTAS TELEFÔNICAS – ANÚNCIO E PUBLICIDADE. O fato de as edições das listas telefônicas veicularem anúncios e publicidade não afasta o benefício constitucional da imunidade. A inserção visa a permitir a divulgação das informações necessárias ao serviço público a custo zero para os assinantes, consubstanciando acessório que segue a sorte do principal. Precedentes: Recurso Extraordinário nº 101.441/RS, Pleno, Relator Ministro Sydney Sanches, RTJ nº 126, páginas 216 a 257, Recurso Extraordinário nº 118.228/SP, Primeira Turma, Relator Ministro Moreira Alves, RTJ nº 131, páginas 1.328 a 1.335, e Recurso Extraordinário nº 134.071-1/SP, Primeira Turma, Relator Ministro Ilmar Galvão, Diário da Justiça de 30 de outubro de 1992” (STF, RE 199.183/SP, rel. Min. Marco Aurélio).

39 MELO, José Eduardo Soares de. Curso de Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2001, p.

114.

40 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 17ª ed., São Paulo:

Malheiros, 2002, p. 679.

41 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 17. ed., São Paulo:

Malheiros, 2002, p. 679., p. 680.

42 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, volume III; os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.

fotográficos também estarão imunes43. A Súmula nº 657 do STF vem para confirmar o exposto, “a imunidade prevista no art. 150, VI, ‘d’, da CF abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos”.

Desse modo, de todos os insumos necessários para a fabricação de um livro, de um jornal ou de um periódico, tais como máquinas, aparelhos, tinta44, cola, linha e papel45, apenas esse último ficou imune. Mas, há uma tendência a dar uma abrangência mais ampla à norma. Sabbag46 apresenta que “os Tribunais vêm entendendo que a imunidade deve ser estendida, por exemplo, à tinta destinada à impressão dos livros, dos jornais e periódicos, com fundamento de que é um insumo imprescindível para a publicação daqueles”47. Assim, percebe-se a vulnerabilidade da temática “diante da jurisprudência, que ainda oscila, e da doutrina, que também se movimenta”48.

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