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2 NOTAS INTRODUTÓRIAS ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS E DO DIREITOS FUNDAMENTAIS

DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 1

2 NOTAS INTRODUTÓRIAS ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS E DO DIREITOS FUNDAMENTAIS

A ideia de direitos inicia na Grécia, onde a lei prevalecia sobre uma desobediência individual como o caso de Antígona. A dignidade do homem é somente estabelecida quando o Império Romano adota o Cristianismo como sendo a sua religião e formando a Igreja Católica Apostólica Romana. A liberdade do homem é entendida neste momento como liberdade interior4.

Os Direitos Humanos foram firmados com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, com a Declaração de Direitos de Virgínia, de 1776, e com a Declaração Francesa, que é resultado da Revolução Francesa de 1789.

Esses direitos foram conquistados com o tempo, ao longo dos séculos. A luta pelos Direitos Humanos inicia quando os burgueses começaram a reivindicar direitos ainda no Estado absoluto e na luta contra este5.

A Declaração dos Direitos (Bill of Rights) é um marco para a humanidade, mais precisamente para a Inglaterra, onde, em 1688, se firmou a supremacia do Parlamento sobre a Monarquia, fruto da Revolução Gloriosa. É a partir desse momento que surge a Monarquia Constitucional naquele país, nos moldes que hoje conhecemos6.

A Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia foi firmada entre as treze colônias inglesas na América. Esta declaração ocorreu no dia 12 de janeiro de 1776 e tinha como base as teorias de Locke, Rousseau e Montesquieu. O presente documento se firmava na igualdade entre os homens, em maiores poderes ao povo, na separação de poderes, na liberdade religiosa, na liberdade de defesa processual, na liberdade de imprensa7.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi feita pela Assembleia Nacional Constituinte Francesa, em 27 de agosto de 1789. Esta declaração teve por objetivo libertar o homem de uma opressão do absolutismo e do regime feudal, sendo mais abstrata e com sentido universal. Os direitos explanados nesse documento foram o direito de propriedade privada e de segurança, os direitos políticos, bem como as garantias liberais individuais8.

Outro documento marcante para o surgimento e para a consolidação dos direitos humanos foi a Declaração Universal de 1948, que fortalece a ideia de universalização da proteção dos direitos do homem9.

4 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais. 3. ed. Coimbra: Ed.

Coimbra, 2000.

5 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 152.

6 SILVA, 2008, p. 153.

7 SILVA, 2008, p. 154.

8 SILVA, 2008, p. 158.

9 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso

Mendes, Coelho e Branco explicam:

Direitos humanos, ainda, e até por conta de sua vocação universalista, supranacional, é empregado para designar pretensões de respeito à pessoa humana, inseridas em documentos de direito internacional. Já a locução direitos fundamentais, é reservada aos direitos relacionados com posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vigem numa ordem jurídica concreta, sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são assegurados na medida em que cada Estado os consagra10. Os Direitos Fundamentais são os Direitos Humanos colocados na Constituição Nacional de cada país e surgem com a ideia do Estado Moderno Liberal. Miranda explica que “por direitos fundamentais entendemos os direitos ou as posições jurídicas das pessoas enquanto tais, individual ou institucionalmente consideradas, assentes na Constituição”11.

No Direito Brasileiro, os direitos fundamentais se definem como direitos constitucionais12.

Para Sarlet,

Não há dúvidas de que os direitos fundamentais, de certa forma, são também sempre direitos humanos [...] a distinção é de que o termo

‘direitos fundamentais’ se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado13.

Os Direitos Fundamentais se firmam nos princípios da dignidade humana e da igualdade. Foi na Convenção de Viena em 1993 que ficou estipulado que os direitos sociais são tão fundamentais quanto os direitos individuais.

Alguns autores não fazem distinção entre os Direitos Humanos e os Direitos Fundamentais, como é o caso de Manoel Ferreira Filho, que conceitua esses como Direitos Humanos Fundamentais14.

Em outra linha de pensamento existem autores que falam que a definição é meramente questão de terminologia, como Ingo Wolfgang Sarlet: “tanto na doutrina como no direito positivo, são largamente utilizadas outras expressões, tais como

de direito constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 254.

10 MENDES; COELHO; BRANCO, 2008, p. 244.

11 MIRANDA, 2000, p. 22.

12 MENDES; COELHO; BRANCO, 2008, p. 245.

13 SARLET, Ingo Wolfgang, A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 33.

14 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Estado de direito e constituição. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 46.

“direitos humanos”, “direitos do homem”, “direitos subjetivos públicos”, “liberdades públicas”, “direitos individuais”, “liberdades fundamentais” e “direitos humanos fundamentais”. Sarlet adota a expressão direitos fundamentais15.

Em se tratando da positivação desses direitos, Moraes esboça que:

[...] O estabelecimento de constituições escritas está diretamente ligado à edição de declarações de direitos do homem. Com a finalidade de estabelecimento de limites ao poder político, ocorrendo a incorporação de direitos subjetivos do homem em normas formalmente básicas, subtraindo-se seu reconhecimento e garantia à disponibilidade do legislador ordinário16.

Os direitos fundamentais estão na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, subdividindo-se em cinco capítulos: direitos individuais e coletivos;

direitos sociais; nacionalidade; direitos políticos e partidos políticos17.

Os Direitos Fundamentais são divididos tradicionalmente em três dimensões, também essas chamadas de gerações ou ondas de direitos.

Num resumo da evolução dos direitos fundamentais, indicam-se, correntemente, três ou quatro dimensões: a dos direitos de liberdade; a dos direitos sociais; a dos direitos ao ambiente e à autodeterminação, aos recursos naturais e ao desenvolvimento;

e a dos direitos relativos à bioética, à engenharia genética, à informática e a outras utilizações das modernas tecnologias18.

A primeira dimensão de direitos é a luta pelos direitos individuais e tinha com base a “liberdade”. Essa dimensão veio em resposta ao absolutismo, em que o Estado que vigorava era o liberal. Os lemas que estavam no cerne dessa dimensão eram: vida, propriedade e liberdade. As liberdades eram: de religião, de consciência, econômica, de ir e vir, de inviolabilidade de domicílio e liberdade de expressão.

Segundo Moraes, “os direitos fundamentais de primeira geração são os direitos e garantias individuais e políticos clássicos (liberdades públicas), surgidos institucionalmente a partir da Magna Carta”19.

Nessa dimensão de direitos cabia ao Estado a prestação negativa de ações para que os direitos fossem garantidos, prestação que era baseada na inércia do Estado.

Para Mendes, Coelho e Branco, essa inação do Estado significava obrigação de não fazer, de não intervir na vida pessoal de cada indivíduo. Esta dimensão é

15 SARLET, 2001, p. 31.

16 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 30.

17 MORAES, 2008, p. 31.

18 MIRANDA, 2000, p. 24.

19 MORAES, 2008, p. 31.

baseada em garantias que o Estado deveria oferecer20.

A segunda dimensão de direitos é baseada na “igualdade”, no Estado de Bem- Estar Social. Ela inicia em meados de 1917 e 1919 e se sedimenta em 1945. Esse Estado tem como objetivo os direitos sociais. Já neste momento de Estado, cabe-lhe prestações positivas para que os direitos sociais sejam alcançados; o Estado precisa agir para concretizar o direito. Os direitos sociais nessa dimensão são aqueles que falam sobre os trabalhadores, sobre sindicalização, greve, seguridade social, educação, previdência social, saúde e assistência social21.

A terceira dimensão surge por volta de 1970 em resposta ao desenvolvimento do comércio, transporte, e consumo. Os efeitos colaterais ao desenvolvimento afetam todos e se inicia a preocupação com o meio ambiente, com os patrimônios da humanidade sejam eles naturais, civilizatórios ou culturais. Essa dimensão é baseada na “fraternidade”, os interesses dessa dimensão são os direitos difusos que visam diminuir os efeitos colaterais causados pelo desenvolvimento e pela massificação de pessoas22.

Segundo Mendes, Coelho e Branco:

Os direitos fundamentais assumem posição de definitivo realce na sociedade quando se inverte a tradicional relação entre Estado e indivíduo e se reconhece que o indivíduo tem, primeiro, direitos, e, depois, deveres perante o Estado, e que os direitos que o Estado tem em relação ao indivíduo se ordenam ao objetivo de melhor cuidar das necessidades dos cidadãos23.

Os direitos fundamentais necessitam que normas infraconstitucionais disciplinem o processo e sua efetividade. A inércia do legislador em criar normas que regulamentem os direitos humanos, positivados, e expressos ao longo da Constituição Brasileira, pode trazer à tona uma ação de inconstitucionalidade por omissão ou o mandado de injunção. A CRFB de 1988 determina que as normas definidoras dos direitos e das garantias fundamentais tenham aplicação imediata24.

Os Direitos Humanos ganham relevo extraordinário a partir da CRFB de 1988, pois essa foi o documento mais abrangente e pormenorizado sobre os direitos humanos jamais adotado no Brasil, positivando-os na qualidade de direitos fundamentais25.

Os direitos e as garantias fundamentais não são ilimitados, por isso quando existir conflito na definição dessas normas, deve-se utilizar o princípio da concordância

20 MENDES; COELHO; BRANCO, 2008, p. 233.

21 MENDES; COELHO; BRANCO, 2008, p. 234.

22 MIRANDA, 2000, p. 14

23 MENDES; COELHO; BRANCO, 2008, p. 234.

24 MORAES, 2008, p. 32.

25 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 9. ed. São Paulo:

Saraiva, 2008.

prática ou da harmonização, assim buscando o verdadeiro significado de cada norma sem redução máxima de cada direito ou garantia. A diferença entre direitos e garantias fundamentais são que estas são disposições meramente declaratórias, que dão existência legal aos direitos reconhecidos26.

3 A SAÚDE COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL E ESSENCIAL À VIDA HUMANA

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