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3 DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA ECONOMIA

DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 1

3 DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA ECONOMIA

Feitas as observações acerca da adoção de uma nova postura, que reverta os valores liberais/capitalistas, emerge um modelo que defenda o ambiente, ao mesmo tempo em que se possibilite a comodidade e a continuidade dos processos econômicos. Conciliar a economia e a defesa da natureza mostra-se muitas vezes uma tarefa árdua. Interesses contrapostos criam perspectivas diferentes e conflitantes quanto à possibilidade de harmonizar desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente.

Nesse sentido, busca-se observar a necessidade do estabelecimento de uma relação equilibrada. Uma estruturação de fatores, entre ambiente e economia, capaz de privilegiar ambos, garantindo-os mutuamente, deve ser incorporada.

A noção de proporcionalidade revela a necessidade de compatibilizar o direito com os fatos econômicos, sob pena de ruptura do sistema que depende da harmonia entre seus elementos para proporcionar a estabilidade necessária ao próprio desenvolvimento à luz de novos paradigmas jurídicos. A realidade dos fatos inclui uma transformação que não é apenas uma opção, mas que deveria influenciar qualquer teoria conexa, uma vez que está bem aí, no cerne da relação homem-natureza.14

Diante desse quadro, uma das formas de criar essa harmonização é a adoção de um desenvolvimento de cunho sustentável. Ele serve como regra-geral de atuação, dentro do sistema de produção. Busca-se, por meio dessa lógica, controlar as práticas degradantes da natureza, minimizando os resultados negativos.

Silva, ao abordar essa questão, indica que no momento atual é urgente encontrar uma maneira de “[...] combinar o crescimento econômico com a conservação do meio ambiente e dos recursos naturais […] o qual recebeu a designação internacional de

“desenvolvimento sustentável”15. Isso é importante, pois a existência de uma forte relação homem-natureza, emerge a harmonização entre ambiente e a economia.

Porém, conciliar esses elementos depende de certos protagonistas:

14 TEIXEIRA, op. cit., p. 68-69.

15 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 81.

[...] os cidadãos-consumidores, a cargo de decidir conforme o meio em que desejam viver, onde honestamente seu papel de consumidor deve estar de acordo com o de cidadão;

as empresas que, informando ‘o que é possível’, e explicando as consequências econômicas e sociais advindas das suas decisões;

os poderes públicos, que através da legislação e da regulamentação podem promover a realização da finalidade desejada.16

Deve-se criar, igualmente, meios para o estabelecimento do uso controlado das fontes de recursos naturais/ambientais, considerando o que o homem necessita.

Desse modo, busca-se minimizar a falta de sincronia entre os objetivos das estruturas de produção e de consumo e o ecossistema da Terra, de modo harmônico e integrado.

Esse é um valor necessário, dadas as condições atuais de sobrevivência do homem.

Quanto mais visíveis as alterações na natureza, mais torna-se necessário compatibilizar economia e ambiente. A humanidade depende do ambiente, porém, no curso de sua sobrevivência, a consciência desse processo de ligação não é relevado.

Os esforços presentes visando ao progresso material, e mesmo a maneira de satisfação das necessidades básicas do homem no mundo de hoje, revelam-se simplesmente insustentáveis. O uso, para esse fim, de matéria e energia em doses excessivas e crescentes, exaurindo recursos ambientais acima de sua capacidade de regeneração, obviamente tende a torná-los menos disponíveis para as futuras gerações, anulando assim a ideia de que desenvolvimento sustentável é o processo que “satisfaz às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer às suas próprias”.17

Se o ritmo de degradação continuar crescente, não mais o ser humano viverá seu dia a dia, produzindo, consumindo ou trabalhando, pois a pretensão mudará. A condição não será mais viver e sim sobreviver em um meio ambiente lapidado pelo homem e por sua pretensão meramente econômica.

Partindo desse contexto, a integração ambiente-desenvolvimento econômico gerou reflexos na Constituição. No Título VII “Da Ordem Econômica e Financeira” da atual Constituição brasileira, está inserido no artigo 170, inciso VI, a defesa do meio ambiente:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:[...]

16 BEAUD, Michel; BEAUD, Calliope; BOUDEGUERRA, Mohamed (dir.). Estado do ambiente no mundo. Lisboa: Instituto Piaget, 1993, p. 552.

17 CAVALCANTI, Clóvis (org). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável.

3. ed. São Paulo: Cortez; Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2001, p. 160.

VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;18

Trata-se de um texto legal que demonstra a necessária inserção da variável ambiental no modelo de eficiência econômica atualmente em curso. Nesse sentido, a proteção ambiental é um dos princípios norteadores de todas as novas atividades econômicas. E, nesse sentido, torna-se necessário reprimir condutas lesivas à natureza, quanto aos modos de produção. Por sua vez, o caput do artigo 225 da Constituição, em sentido síncrono, ainda refere que

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.19 Para Morais, esse artigo apresenta “[...] o direito de todos, especifica os fundamentos de conservação e preservação da fauna e da flora, a necessidade da educação ecológica, a fiscalização de atividades comerciais e industriais com impacto ambiental[...]”20. Ao mesmo tempo, porém, não define de modo claro os meios, os limites, bem como os elementos a serem reunidos e considerados, para que se possa efetivar esse direito.

Moraes21 reforça que a defesa do meio ambiente é, portanto, um dos princípios gerais da atividade econômica, do mesmo modo permitindo a efetivação de direitos maiores, como o direito à vida. A alteração promovida pela EC n° 42/03 estabelece a importância da defesa da natureza, diante das manobras econômicas de produção de bens realizadas pelas empresas, seguindo exclusivamente uma lógica de mercado.

Soares elucida que a atual redação do artigo delineia a sustentabilidade econômica, afirmando que:

O tratamento diferenciado deve sempre ser favorável ao meio ambiente, podendo inclusive acarretar outras obrigações e responsabilidades para os sujeitos da relação de consumo ou para os agentes do mercado, pois somente desta forma se prestigia o princípio da defesa do meio ambiente. Com a atual redação há uma inafastável ligação entre o mercado, o consumo sustentável e o meio ambiente. Seguiu-se a tendência mundial, traduzida também na doutrina jurídica, de possibilitar normativa e concretamente (com a utilização/construção de instrumentos pela sociedade) o desenvolvimento e o consumo sustentável.22

18 BRASIL. Vade mecum saraiva. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva 2009, p. 57.

19 BRASIL. Op. cit., p. 649.

20 MORAIS, Regis de. “Ecologização” das sociedades e o direito ambiental. Revista Jurídica. v. 18, n.

2. Campinas, 2002, p. 101.

21 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

22 SOARES, Inês Virgínia Prado. Meio ambiente e relação de consumo sustentável. Disponível em

<http://www.prsp.mpf.gov.br/cidadania/deconSocCult/meio20ambiente20e%20rela%E7ao%20

Verifica-se o quanto é necessária a harmonização da relação economia-meio ambiente, pois dessa forma se estabelece uma situação favorável para a defesa do meio ambiente. Isso mostra que a Lei Maior estabelece necessidade de compatibilizar o desenvolvimento e a proteção da natureza, incitando a criação de condutas que tenham o máximo de proveito econômico, com o mínimo impacto ambiental. Com isso se pode visualizar o que, na prática, seria um modelo baseado no conceito de desenvolvimento sustentável.

Para Molinaro, a proteção ambiental, impressa na Constituição “[...], representa uma profunda preocupação em limitar a busca a qualquer custo da acumulação de capitais e riquezas e modificar a política tradicional adotada até o advento da Constituição Federal de 1988”23. Nascida de uma preocupação comum com a escassez de certos recursos naturais, necessários à vida, cria-se uma tendência em relação ao desenvolvimento econômico: a inserção da questão ambiental para a proteção da natureza.

Esse novo entendimento surgiu da ideia de que os bens naturais são finitos e deve-se adotar um planejamento econômico com vistas às futuras gerações, que necessitarão de recursos provenientes da natureza para a sua sobrevivência.

A integração da questão ambiental como visto no artigo já citado, estabelece, conforme Cavalcanti, a “[...] possibilidade de se obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em dado ecossistema”24. Desenvolve-se uma nova estrutura a partir das crises ambientais pelas quais o mundo passa.

Trata-se de assegurar um meio ambiente ecologicamente equilibrado que garanta a qualidade de vida para a atual e para as futuras gerações.

A questão ambiental problematiza as próprias bases da produção;

aponta para a desconstrução do paradigma econômico da modernidade e para a construção de futuros possíveis, fundados nos limites da natureza, nos potenciais ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade humana.25

Essa consciência de proteção de um patrimônio comum, um meio ambiente ecologicamente equilibrado, faz surgir limites relacionados com o âmbito econômico.

Esses limites nascem de uma economia sustentável, na qual se relaciona a natureza com o âmbito econômico, como estratégia de mútua colaboração.

O desenvolvimento econômico não representa mais uma opção aberta, com possibilidade amplas para o mundo. A aceitação geral da idéia de desenvolvimento sustentável indica que se fixou voluntariamente

consumo%20sustentavel.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2008, p. 09.

23 MOLINARO, Carlos Alberto. Direito Ambiental proibição de retrocesso. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 74.

24 CAVALCANTI, op. cit., p. 165.

25 LEFF, op. cit., p. 16.

um limite (superior) para o progresso material. Adotar a noção de desenvolvimento sustentável, por sua vez, corresponde a seguir uma prescrição de política.26

A nova tendência é não mais aceitar atos lesivos e irresponsáveis quanto ao trato ambiental, advindos da economia nas suas atividades de produção de bens e serviços, assim como o consumo dos mesmos. Essa tendência incita a criação de políticas de proteção do meio ambiente.

Diante das novas situações ambientais que se mostram, não há mais como fazer valer apenas um lado dessa relação. O equilíbrio está na noção de sustentabilidade como diretriz para o surgimento de novas condutas, que afetam a estrutura de produção, sem afetar o desenvolvimento econômico. Mas esse processo de ascensão de uma cultura ambiental precisa de um reforço continuado. Objetivando-se cumprir tal função, criou-se a ideia de uma educação ambiental que torna possível a formação da demanda pela proteção do ambiente. Esse é o foco do próximo item.

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