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4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA SUSTENTÁVEL

DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 1

4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA SUSTENTÁVEL

A existência de uma relação positiva entre desenvolvimento e ambiente é mais do que mera utopia legal ou de um devaneio ambientalista. Percebe-se que a criação de uma “cultura ambiental” pode ocorrer por meio de um processo educativo voltado para a revisão dos valores fundamentais da sociedade, capazes de rever essa questão. A educação é fator essencial para uma vida em sociedade.

O homem, ao estabelecer suas relações sociais, absorve e transmite informações conforme seu conhecimento, com isso aprimorando o seu intelecto e constituindo seus hábitos e valores fundamentais. Diante disso, a educação é preponderante para a formação da sociedade atual, desempenhando papel decisivo na criação e manutenção dos valores essenciais de uma sociedade. Para que possa haver uma sociedade ambientalmente consciente, torna-se necessária uma educação pautada por esse ditame, de forma a ressaltar as necessidades e os limites frente às situações do atual contexto em que se insere o homem.

A educação faz-se presente, objetivando uma maior capacitação da pessoa humana para uma adequada convivência em harmonia com a natureza, bem como a compreensão dos riscos que uma irracional e inadequada utilização dos bens ambientais acarreta. Igualmente, visa estabelecer e demonstrar as vantagens e os benefícios da implementação séria de atitudes e obras em prol do meio ambiente [...].27

Diante dessa educação, a compreensão da importância de se respeitar os limites do meio ambiente constitui-se em atitude racional do homem, quanto à

26 CAVALCANTI, op. cit., p. 165.

27 TEIXEIRA, op. cit., p. 114.

utilização dos recursos ambientais. Deve haver estreita relação entre a educação e a participação, para promover o desenvolvimento. Tal tese é compartilhada por Sen28, visto que na Índia o processo educacional permitiu avanços significativos, no aumento da qualidade de vida, bem como no desenvolvimento de todo o processo de construção e de integração daquela sociedade.

Conforme o § 1°, inc. VI, do art. 225, da Constituição, a referida educação é uma obrigação do Poder Público para defender e preservar o meio ambiente. Não foi apresentado no artigo um conceito de educação ambiental. Todavia, com a Lei 9.795 ficou estabelecido tal conceito:

Art. 1°. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.29

Essa lei estabelece a construção de vários aspectos advindos (e entendidos como necessários) da educação ambiental. Tem como objetivos, inscritos no art.

5° e incisos, o desenvolvimento de uma compreensão unificada do meio ambiente, estimulando e fortalecendo uma consciência crítica quanto às questões ambientais e sociais. E é essa educação ambiental que torna possível a concretização do paradigma do desenvolvimento sustentável.

A educação ambiental estabelece uma nova consciência coletiva, de cunho ambiental. Porém, é

[...] exige o compromisso do Estado e da cidadania para elaborar projetos nacionais, regionais e locais, onde a educação se defina através de um critério de sustentabilidade que corresponda ao potencial ecológico e aos valores culturais de cada região; de uma educação capaz de gerar uma consciência e capacidades próprias para que as populações possam apropriar-se de seu ambiente com uma fonte de riqueza econômica, de prazer estético e de novos sentidos de civilização; de um novo mundo onde todos os indivíduos, as comunidades e as nações vivam irmanados em laços de solidariedade e harmonia com a natureza.30

Quanto mais se valoriza o conhecimento e o respeito ao meio ambiente, mais se colabora para a criação de uma sociedade atenta e participativa nas questões de proteção da natureza. E, desse modo, reforça-se a tese de uma cidadania mais participativa e organizada, conforme preceitua Giddens31, uma tendência da

28 SEN, Amartia Kumar. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

29 BRASIL. Lei 9.795, 27 abr. 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_

03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 01 abr. 2008, s. p.

30 LEFF. Op. cit., p. 251-252.

31 GIDDENS. op. cit.

atualidade. A educação ambiental, portanto, estimula práticas sustentáveis e a conscientização ambiental da sociedade.

Aprimorando seu conhecimento quanto às questões ambientais, o homem deixa de ser agente poluidor e passa a ser um colaborador na conservação da natureza. Trata-se, pois, de uma forma mais equilibrada de atuação, pressuposto para a existência e qualidade de vida no planeta.

Corrobora-se o papel da educação enquanto elemento de formação, na população, de uma nova consciência. Esse despertar para a conscientização da importância do ambiente é também notada na Declaração do Rio (a Eco-92), em seu Princípio 10. Por meio desse princípio, dispõe-se que:

A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados.

No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos. 32

Tal princípio outorga aos cidadãos uma série de capacidades e “poderes” para que seja assegurada a proteção ambiental, desenvolvendo um papel mais ativo na sociedade civil. Mais do que isso, mostra a necessidade da participação de todos, bem como do Estado, que deve dar acesso a informações e incentivar a conscientização em todos os níveis.

Através do processo educativo, o homem é apresentado ao seu lugar na sociedade e no espaço, fazendo florescer uma percepção ambiental. Considerando-se essa questão e as demais apreConsiderando-sentadas nos itens anteriores, encerra-Considerando-se a preConsiderando-sente discussão, com estabelecimento das necessárias conclusões.

5 CONCLUSÕES

O ambiente é uma questão que vem sendo colocada em pauta, no atual estágio de desenvolvimento humano. E essa pauta tem sido discutida com afinco, especialmente considerando-se os efeitos negativos da adoção de um modelo baseado no binômio produção-consumo, que relegou papel secundário ao elemento ambiental. Esse é um modelo que precisa ser revisado urgentemente, dada a degradação que se verifica no momento atual.

32 DECLARAÇÃO DO RIO. Disponível em: <www.mma.gov.br/?id_estrutura=18&id_conteudo=576>.

Acesso em: 06 abr. 2010.

Conforme a Constituição de 1988, verifica-se a tendência em estabelecer o modelo de desenvolvimento sustentável. Frente à progressiva degradação da natureza, o legislador criou dispositivos, inseridos no corpo da Constituição que abordam os mecanismos de defesa do meio ambiente. Tais mecanismos conferem a possibilidade de harmonizar economia e proteção da natureza, através da adoção do conceito de sustentabilidade.

Com essas previsões constitucionais, verifica-se a intenção de seguir, de forma sustentável, transformando o modelo de desenvolvimento em um instrumento de intervenção nas atividades econômicas. Ou seja, um instrumento que ofereça abertura à produção e ao consumo de bens, atento, no entanto, a certas limitações, sem descuidar da sustentabilidade. Dessa forma, assegura-se a proteção do meio ambiente, em contraposição àquelas condutas de outrora que causavam grande impacto lesivo.

A educação ambiental, inserida na Magna Carta, demonstra a sua importância como agente de transformação do pensamento humano, incitando a reavaliação e a crítica das condutas até então desvinculadas das questões ambientais. A preservação do meio ambiente surge da influência desse tipo de educação, através do qual se cria o respeito aos limites da natureza, e se deixa claro o quanto o homem necessita de um meio ambiente ecologicamente equilibrado para a sua existência.

Mas, para que se possa efetivar essa proteção específica e tida por necessária, torna-se fundamental a reinterpretação dos valores de produção e de consumo.

E, nessa senda, torna-se indispensável um mecanismo apto para realizar essa mudança de valores de forma eficaz. E, na ordem constitucional vigente, esse papel é desempenhado, segundo a previsão da lei, pela Educação Ambiental.

REFERÊNCIAS

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_____. Lei 9.795, 27 abr. 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://

www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/L9795.htm>. Acesso em: 01 abr. 2008.

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Marli Marlene Moraes da Costa1 Rosane T. C. Porto2 Quelen Brondani de Aquino3

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A dominação nas relações de gênero existe desde que surgiu a sociedade, mas somente nas últimas décadas passou a ser questionada e a ser motivo de discussões em diversos setores. Essa relação de poder desencadeia a prática da violência, nas mais diversas formas. Nesse contexto, a constituição de uma cultura determina a maneira de viver, que vai sendo conservada, levando séculos para que se modifique.

Mas as transformações são notadas, levando à evolução do ser social como um todo.

A busca de novos mecanismos que proporcionem a transformação social deve ser constante. Para tanto, o presente artigo tem por objetivo demonstrar, através da análise da existência de uma cultura patriarcal, em que se destacou a dominação masculina nas relações de gênero, novas possibilidades para a promoção da cidadania por meio da educação, podendo, dessa maneira, ser exercida no ambiente escolar.

Nesse diapasão, far-se-á uma abordagem sobre a cultura patriarcal. Em seguida, passar-se-á a analisar a dominação masculina nas relações de poder que acaba desencadeando a prática da violência simbólica, e, por último, buscar-se-á a construção de novos mecanismos que promovam o exercício da cidadania através da educação. Isso para ratificar a afirmação de que não é possível alcançar o desenvolvimento de uma nação sem investir em educação.4

1 Pós-Doutora pela Universidade de Burgos/Espanha, Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, professora da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Direito – Mestrado e Doutorado, na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas Jurídicas – CEPEJUR e do Grupo de Estudos “Direito, Cidadania e Políticas Públicas” da UNISC, avaliadora do INEP, Psicóloga com Especialização em Terapia Familiar. E-mail: marlicosta15@yahoo.com.br

2 Professora e mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Integrante do grupo de pesquisas: Direito, Cidadania e Políticas Públicas coordenado pela Pós-Doutora Marli Marlene Moraes da Costa. E-mail: rosaneporto@brigadamilitar.rs.gov.br

3 Especialização em andamento em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local. Bacharel em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Integrante do grupo de pesquisa: Direito, Cidadania e Políticas Públicas, do Programa de Pós-Graduação em Direito - Mestrado e Doutorado da Unisc, coordenado pela Pós-Doutora Marli Marlene Moraes da Costa. E-mail: quelenbrondani@

yahoo.com.br

4 DIMENSTEIN, Gilberto. O Cidadão de Papel. São Paulo: Editora Ática, 20ª Edição, 2002, p. 11.

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