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CAPÍTULO 2 – O MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL

2.4. Contribuintes, protegidos e desprotegidos

A análise do nível de proteção social e de informalidade do país também pode ser realizada ao se aferir a quantidade de trabalhadores que contribuem para a Previdência Social. A tabela abaixo indica que 55,2% dos ocupados brasileiros não contribuíam para a Previdência Social no ano de 2005. Esta estatística exclui os funcionários públicos estatutários e militares, pois apesar de serem segurados socialmente, fazem parte de um regime previdenciário próprio. Ainda assim, os maiores contribuintes são os empregados

assalariados, uma vez que, do total de empregados, apenas 31,4% não contribuem. Considerando, porém, apenas o universo dos empregados sem carteira, este número sobe para 87%.

O maior número absoluto de não contribuintes está na faixa dos trabalhadores por conta-própria. Destes, 84,9% não contribuem. Já o mais elevado percentual de não contribuintes por posição de ocupação está no grupo nomeado como “outros”, que inclui os trabalhadores na produção para o próprio consumo, os trabalhadores na construção para o próprio uso e os trabalhadores não-remunerados. Como estes trabalhadores não têm rendimentos, a quase totalidade (98,4%) não contribui para instituto de previdência. Os excluídos do sistema de proteção social ainda estão fortemente representados entre os trabalhadores domésticos, categoria tradicionalmente considerada de elevada vulnerabilidade. Contando todos os trabalhadores domésticos, 71% não contribuem, mas contabilizando apenas os domésticos sem carteira, atinge-se 96,4% de não contribuintes. Finalmente, chegando ao outro lado da estrutura ocupacional, a maior parte dos empregadores figura como contribuinte, mas uma parte significativa de 41,7% não contribui para previdência.

Tabela 4 - Ocupados (1) na semana de referência, por contribuição para instituto de previdência em qualquer trabalho, segundo a posição na ocupação, Brasil 2005

Posição na Ocupação Contribuição para Instituto de Previdência

Contribui Não contribui

Empregados com carteira 26.919.611 -

Empregados sem carteira

(2) 1.974.109 13.222.950

Domésticos com carteira 1.738.076 -

Domésticos sem carteira (3) 176.666 4.682.817

Conta-própria 2.771.931 15.557.122

Empregador 2.114.585 1.510.847

Outros (4) 145.386 9.117.907

Total 35.840.364 44.091.643

Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil, 2006.

Nota: Não foram considerados os dados das áreas rurais da Região Norte, com exceção de Tocantins. (1) Ocupados maiores de 10 anos. Exclui funcionários públicos estatutários e militares.

(2) Inclui empregados sem declaração de carteira.

(3) Inclui trabalhadores domésticos sem declaração de carteira.

(4) Inclui os trabalhadores na produção para o próprio consumo, os trabalhadores na construção para o próprio uso e os trabalhadores não-remunerados.

Conclui-se, portanto, que mais da metade dos ocupados (excluídos os servidores públicos) estão classificados como não contribuintes ao instituto de previdência. São mais de 44 milhões de brasileiros que, mesmo trabalhando, estão sujeitos à insegurança no seu dia-a-dia e a incertezas quanto ao seu futuro por estarem excluídos dos direitos trabalhistas básicos.

É preciso ressaltar, entretanto, que alguns destes ocupados não estão completamente desprotegidos. Para avaliar com mais precisão a situação de não contribuintes que recebem algum tipo de benefício da previdência, a tabela abaixo utiliza os conceitos de “protegidos” e “desprotegidos”. Assim, o foco sai da contribuição (contribuintes e não contribuintes) e se volta para a existência de uma efetiva proteção previdenciária (protegidos e desprotegidos). Com isso, são incorporados os casos de indivíduos que contam com a proteção previdenciária, embora não declarem contribuição para o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), como os segurados especiais (agricultores familiares) e outros beneficiários não contribuintes.24 Também são

considerados protegidos os funcionários públicos estatutários e militares, apesar de não estarem classificados como contribuintes, por gozarem de um regime previdenciário específico – os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). Os desprotegidos, por outro lado, são os que nem contribuem para instituto de previdência, nem são considerados segurados especiais ou beneficiários não contribuintes. Há ainda uma restrição de idade, sendo considerados apenas os ocupados acima de 16 anos e menores de 60 anos.25

24 Segundo o Anuário Estatístico da Previdência de 2006, estes grupos podem ser definidos da seguinte forma:

“a) segurados especiais – agricultores familiares que são protegidos pelo RGPS e contam com um regime específico de contribuição sobre a comercialização da produção. Foram considerados aqueles que, na PNAD, estão ocupados no ramo agrícola, residem na zona rural e estão em uma das seguintes posições na ocupação: conta-própria, produção para próprio consumo, construção para próprio uso, não remunerado e sem carteira.

b) beneficiários não contribuintes – trabalhadores ocupados que, não contribuindo para a previdência social no trabalho atual, declaram receber benefício previdenciário (aposentadoria ou pensão) e, portanto, já contam com proteção.” (Brasil, 2006, p. 765).

25 Os critérios para a restrição etária são:

Os ocupados menores de 16 anos estariam “abaixo da idade mínima autorizada pela legislação brasileira para o trabalho e, portanto, à filiação previdenciária. Em 1998, a legislação previdenciária foi modificada elevando a idade mínima de filiação de 14 para 16 anos”. E para os maiores de 60 anos: “nesta faixa etária é grande a concentração da população ocupada que não contribui para a Previdência e é muito difícil que venham a contribuir dada a dificuldade para a população idosa de preencher as condições de elegibilidade relacionadas com a carência e tempo mínimo de contribuição”. (Brasil, 2006, p. 765).

Segundo esta metodologia de cálculo, estima-se que 28.364.037 brasileiros ocupados de 16 a 59 anos seriam classificados como desprotegidos em 2005. Seriam, portanto, 36,6% de desprotegidos, número bem abaixo dos 55,2% de não contribuintes da tabela anterior. Não se pode deixar de ressalvar, porém, que este dado utiliza uma faixa etária mais restrita e que nem todos os ocupados são considerados na amostra. Assim, para se avaliar o grau de informalidade, é preferível usar uma série de critérios distintos, a começar com a contribuição ao regime de previdência.

Tabela 5 - Pessoas de 16 a 59 anos de idade, ocupadas na semana de referência, por proteção previdenciária, segundo a posição na ocupação

Brasil 2005

Posição na ocupação Proteção Previdenciária

Protegidos Desprotegidos

Empregados com carteira 26.462.968 -

Militares 253.760 -

Estatutários 4.976.814 -

Empregados sem carteira 3.963.737 10.195.123

Domésticos com carteira 1.686.982 -

Domésticos sem carteira 319.681 4.167.933

Conta-própria 5.302.486 10.671.424

Empregador 2.047.352 1.155.886

Não-remunerados (1) 4.141.920 2.173.671

Total 49.155.700 28.364.037

Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil, 2006.

Nota: Não foram considerados os dados das áreas rurais da Região Norte, com exceção de Tocantins.

(1) Inclui os trabalhadores na produção para o próprio consumo, os trabalhadores na construção para o próprio uso e os trabalhadores não-remunerados.

De acordo com a Tabela 5, a grande maioria dos ocupados desprotegidos (73,6%) é formada pela somatória dos empregados sem carteira e dos trabalhadores por conta- própria. Do total de empregados sem carteira, 72% são considerados desprotegidos. Entre os trabalhadores por conta-própria, 66,8% estão nesta categoria. Já entre os trabalhadores não remunerados, grupo quase totalmente constituído por não-contribuintes, apenas 34,4% estão desprotegidos, segundo a avaliação do Anuário Estatístico da Previdência Social de 2006. Isto significa que tais trabalhadores têm acesso aos benefícios previdenciários, principalmente na condição de segurados especiais, uma vez que grande parte deve ser composta por trabalhadores rurais. Este raciocínio é corroborado pela percentagem de domésticos sem carteira que estão desprotegidos (92,9%). Confirma-se, deste modo, que esta categoria está quase completamente alijada do sistema de proteção social. Se forem contabilizados todos os trabalhadores domésticos com e sem carteira, apenas 27,3% têm alguma forma de proteção previdenciária. Entre os empregadores, por outro lado, 63,9% gozam de proteção previdenciária. Somando-se todos os ocupados protegidos, 53,8% se encontram entre os empregados assalariados com carteira. Os funcionários públicos (militares e estatutários), por sua vez, contam apenas 10,6% do total de protegidos.