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CAPÍTULO 3 – O MERCADO DE TRABALHO NO DISTRITO FEDERAL

3.2. Ocupados, vulneráveis e flexibilizados

3.2.4. Escolaridade

De modo geral, a educação do Distrito Federal apresenta indicadores superiores aos do país como um todo, como taxa de escolarização de crianças de 7 a 14 anos (98,7%, segundo a PNAD de 2006), taxa de analfabetismo de 4,4% entre pessoas acima de 15 anos em 2003 (enquanto no Brasil estava em 11,6%)36 e maior nível de escolaridade. A média

de anos de estudo de pessoas em idade ativa no Distrito Federal alcançava 8,5 anos em 2005 - a maior entre todas as unidades da federação - enquanto no Brasil era de apenas 6,64 anos37. Desta forma, esta seria a única região em que a média de pessoas havia

completado a escolaridade mínima de ensino básico, considerado obrigatório por lei.

Tabela 24 - Evolução do percentual de ocupados e desempregados por escolaridade

Distrito Federal (1992 e 2006) (em %)

Escolaridade

Ocupados Desempregados

1992 2006 1992 2006

Até ensino fundamental 42 25 56 29

Até ensino médio 18 17 22 28

Superior incompleto 26 40 19 38

Superior completo 14 18 3 5

Total 100 100 100 100

Fonte: elaboração própria a partir de dados da PED-DF/ DIEESE, 2008.

Não apenas a média de anos de estudo no Distrito Federal é mais elevada como houve ainda um aumento significativo do nível de escolaridade dos ocupados de 1992 para 2006 (Tabela 24). De um lado, os ocupados com até o ensino fundamental baixam de 42% 36 Dados do INEP, “Números da educação no Brasil 2003”, Ministério da Educação, maio de 2005.

37 Informações disponibilizadas pelo sítio do Ministério da Ciência e Tecnologia, tendo como fonte a PNAD, coordenada pelo IBGE. Disponível em: http://acessibilidade.mct.gov.br/index.php/content/view/8480.html. Acesso em: 7/8/2007.

para 25%, de outro os que apresentam ensino superior incompleto subiram de 26% para 40% e completo de 14% para 18% (enquanto os com ensino médio permanecem praticamente estáveis). Todavia, apesar do aumento da escolaridade, percebe-se que um grande percentual de pessoas com ensino superior completo e incompleto estão desempregadas. Muitos dos que acreditaram na teoria de que o avanço da escolaridade promoveria automaticamente melhores condições de emprego se frustraram ao concluir ensino médio, ingressar no nível superior e continuar desempregados. Ou se resignarem a um trabalho precário, como será discutido em seguida.

Tabela 25 - Estimativa das categorias vulneráveis segundo escolaridade Distrito Federal (1992 e 2006) Analfabetos Fundamental incompleto Fundamental Completo Médio Completo Superior Categorias 1992 2006 1992 2006 1992 2006 1992 2006 1992 2006 ass. privado sem carteira 2.488 708 25.163 20.239 9.720 22.517 7.039 38.639 981 6.696 autônomo para público 5.685 6.886 35.122 54.184 12.265 25.584 11.181 32.011 1.866 4.037 doméstico diarista 2.038 1.279 8.200 12.668 977 4.941 269 3.301 0 47 doméstico mensalista 5.440 2.873 45.891 40.959 8.157 19.677 2.104 15.657 23 81 trab. fam. s/ remuneraçã o 66 0 4.085 525 1.483 268 1.210 407 131 62 Total vulneráveis (1) 15.717 11.746 118.461 128.575 32.602 72.987 21.803 90.015 3.001 10.923 Flexibilizado s (2) 5.566 2.678 48.765 51.551 19.851 48.853 16.250 95.025 3.402 23.015 Total ocupados 29.853 17.485 233.469 233.379 107.917 175.616 160.019 399.298 89.133 185.170 Fonte: elaboração própria a partir de dados da PED-DF/ DIEESE, 2008.

Notas: (1) Soma dos assalariados privados sem carteira, autônomos para o público, trabalhadores domésticos diaristas e mensalistas e trabalhadores familiares sem remuneração;

(2) Compreende os assalariados sem carteira (do setor privado e público), os autônomos para uma empresa e os terceirizados.

Assim como apontaram os dados anteriores sobre a evolução do percentual de ocupados, a Tabela 25 detalha a redução da proporção de pessoas de menor escolaridade nas mais diversas ocupações. As estimativas indicadas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego do Distrito Federal (PED-DF) apresentam uma significativa diminuição da quantidade de analfabetos ocupados, sobretudo entre os assalariados sem carteira do setor privado. Em 2006, a maior parte dos analfabetos está no segmento de autônomos para o público, única categoria que apresenta um aumento de 1992 para 2006.

Entre os ocupados com ensino fundamental incompleto há um pequeno decréscimo de 1992 para 2006, com aumento apenas entre autônomos para o público e diaristas. A partir da coluna relativa ao ensino fundamental completo até a do ensino superior há um crescimento de quase todas as categorias de trabalhadores, com exceção aos trabalhadores familiares sem remuneração. Mas o grande avanço se dá entre os ocupados com ensino médio e superior. Nos dois casos os números de 2006 aumentaram mais de duas vezes em relação a 1992. Assim, percebe-se uma ampliação da escolaridade entre os ocupados do Distrito Federal. Se em 1992 a maior parte tinha o ensino fundamental incompleto, em 2006 a maior parte tem o ensino médio completo. Apesar disto, somando os trabalhadores com até o ensino fundamental completo, ainda há uma maioria de 426.480 pessoas em 2006 (contra 399.298 com ensino médio).

Focando nos trabalhadores vulneráveis de ensino médio e superior, os assalariados sem carteira e os autônomos para o público continuam em primeiro e segundo lugares em ambos os níveis de escolaridade, mas foram os sem carteira que tiveram um avanço mais expressivo entre 1992 e 2006. Enquanto os autônomos dobraram de tamanho, os assalariados sem registro aumentaram cinco vezes para o ensino médio (de 7.039 para 38.639) e quase sete vezes para o nível superior (de 981 para 6.696). Outra categoria que experimentou uma ampliação importante foi dos trabalhadores domésticos mensalistas com ensino médio, passando de 2.104 para 15.657 pessoas. Neste caso, o número de 2006 supera mais de sete vezes o de 1992.

No geral, a maior parte dos trabalhadores em situação de vulnerabilidade tem baixa escolaridade. Em 2006, em torno de 213 mil apresentam até o nível fundamental, dos quais mais de 128 mil começaram, mas não concluíram, o ensino fundamental. No entanto,

os vulneráveis de nível médio foram os que sofreram maior ampliação de 1992 para 2006, com aumento de pouco mais de quatro vezes, ao passar de 21.803 para 90.015 pessoas. Logo em seguida, merece destaque o avanço de 3,6 vezes dos vulneráveis de alta escolaridade, de 3 mil para quase 11 mil pessoas em 2006.

Com relação aos contratados flexibilizados, se os níveis de escolaridade forem contabilizados de forma desagregada, a maior proporção tem ensino médio, com cerca de 95 mil pessoas em 2006. Contudo, a soma dos contratados analfabetos com os que cursaram o fundamental incompleto e o completo, ultrapassa este número, chegando a 103.082 indivíduos. O grau de crescimento dos flexibilizados ao longo dos anos pesquisados, porém, é bem maior entre os com alta escolaridade. Os contratados de nível superior aumentaram quase sete vezes de 1992 para 2006, saindo de 3.402 para 23.015. Em seguida, os de nível médio cresceram quase seis vezes.

Tabela 26 – Evolução da posição na ocupação segundo escolaridade Distrito Federal (1992 e 2006)

Posição na ocupação

1992 2006

Fundamental

(1) Médio Superior Total Fundamental(1) Médio Superior Total

Sem carteira setor privado 37.371 7.039 981 45.391 43.464 38.639 6.696 88.799 Sem carteira setor público 1.735 2.344 933 5.012 3.749 12.354 8.489 24.592 Autônomo para público 53.072 11.181 1.866 66.119 86.654 32.011 4.037 122.702 Autônomo para empresa 14.696 3.379 724 18.799 22.212 10.738 1.344 34.294 Trabalhador doméstico 70.703 2.373 23 73.099 82.397 18.958 128 101.483 Terceirizados 20.831 3.693 763 25.287 37.960 40.321 7.098 85.379 Total 198.408 30.009 5.290 233.707 276.436 153.021 27.792 457.249 Ocupados 371.238 160.019 89.133 620.390 426.480 399.298 185.170 1.010.948 Fonte: elaboração própria a partir de dados da PED-DF/ DIEESE, 2008.

Nota: (1) Para facilitar a análise, inclui desde os analfabetos até os que completaram o ensino fundamental.

Esta tabela reúne (Tabela 26) os trabalhadores em situação de vulnerabilidade e os de contratação fora da modalidade padrão, permitindo analisar os diversos tipos de trabalhos precarizados segundo a escolaridade nos anos de 1992 e 2006. Em 1992, entre

todos os ocupados com até o ensino fundamental, 53,4% ocupavam uma posição de vulnerabilidade ou contratação flexibilizada. O mesmo ocorria com 18,8% dos ocupados com ensino médio e 5,9% dos com nível superior. Entre todos os trabalhadores vulneráveis ou flexibilizados, 84,9% tinham até o fundamental, 12,8% tinham o ensino médio e somente 2,3% tinham o nível superior em 1992.

Já em 2006, entre os ocupados com até o ensino fundamental 64,8% ocupam uma posição vulnerável ou flexibilizada. O mesmo ocorre com 38,3% dos ocupados com ensino médio e 15% dos com nível superior. Entre todos os trabalhadores que em 2006 ocupam uma posição precarizada, 60,5% têm até o fundamental, 33,5% têm o ensino médio e 6,1% têm o nível superior. Mesmo que o percentual de trabalhadores precários com ensino universitário seja pequeno em relação aos outros níveis de escolaridade, não há como desconsiderar a tendência de crescimento da precarização entre os indivíduos de alta escolaridade, que passam de pouco mais de cinco mil pessoas em 1992 para quase 28 mil em 2006.

Em 1992, entre os trabalhadores de nível superior em posição precária, o maior número era de autônomos para o público seguido por assalariados sem carteira do setor privado e público. Em 2006, os trabalhadores com ensino superior se concentram nas posições sem carteira do setor público, terceirizados e sem carteira do setor privado.

Ao avaliar a evolução das posições precarizadas segundo a escolaridade de 1992 para 2006, constata-se que em todos os casos a ampliação do percentual de trabalhadores precarizados ficou acima do acréscimo do total de ocupados. Os números se elevam significativamente entre os trabalhadores de nível médio e superior, ambos com mais de 400% de aumento de posições consideradas vulneráveis ou flexibilizadas de 1992 a 2006.

Entre os trabalhadores com até o ensino fundamental os percentuais são bem mais comedidos. Os ocupados com esta escolaridade aumentaram apenas 14,9% de 1992 a 2006, enquanto o total destes trabalhadores em posições consideradas precárias cresceu 39,3%. Os números mais altos estão entre os terceirizados, com acréscimo de 82,2% e os autônomos para o público, com 63,3%.

Os ocupados com o ensino médio completo foram os que apresentaram maior avanço ao longo dos últimos 14 anos, mais que dobrando seu tamanho. Mesmo assim, o

aumento das posições precarizadas deste nível de escolaridade foi ainda maior, superando em cinco vezes o número de 1992 ao passar de 30 mil para mais de 150 mil em 2006. A análise do crescimento das posições de ocupação de nível médio revela números extremamente elevados. Entre eles, o mais impressionante foi dos terceirizados, passando de 3.693 trabalhadores em 1992 para mais de 40 mil em 2006. Seguem os trabalhadores domésticos, subindo de 2.373 para quase 19 mil pessoas no mesmo intervalo de anos.

Os ocupados com ensino superior também apresentam um crescimento bastante significativo de 107,7%. Mais interessante, entretanto, é que o total de pessoas de alta escolaridade em posições precárias aumentou 425,4%, percentual ainda maior que o de ensino médio. Novamente, os terceirizados figuram em primeiro lugar, seguidos pelos assalariados sem carteira do setor público. É preciso mencionar que os baixíssimos números de trabalhadores flexibilizados ou em situação vulnerável com nível superior em 1992 devem ser levados em consideração ao se analisar estes aumentos38. Mesmo assim,

tais dados comprovam a hipótese de que haveria uma importante ampliação da precarização dos contratos entre profissionais de alta escolaridade. Mais do que isto, demonstram que a explicação para tal fato não pode ser dada pelo aumento geral do nível de escolaridade, pois o número de ocupados em posições precárias sofreu um crescimento bem maior que o total dos ocupados com ensino superior.

De forma geral, os grandes responsáveis pela elevação do número de posições precarizadas são os terceirizados e os assalariados sem carteira do setor público, com 237,6% e 390,7% de aumento de 1992 a 2006, respectivamente. Como ambos figuram no segmento de contratados à margem da modalidade padrão, explica-se a dilatação do índice de flexibilizados ao longo dos anos. Em seguida, estes dados serão relacionados com o setor de atividade, uma vez que o mais significativo setor de atividades do Distrito Federal é a Administração Pública, responsável por grande parte dos terceirizados e trabalhadores sem carteira que ampliam as estatísticas dos ocupados sem proteção.

38 Assim, se forem calculados os percentuais de elevação de cada segmento dos contratados flexíveis de nível superior, os números atingem mais de 800% de aumento para os terceirizados e assalariados sem carteira do setor público entre 1992 e 2006. Estes percentuais se devem à proporção quase insignificante de flexibilizados de nível superior no início do período analisado. Entretanto, em 2006 a quantidade de trabalhadores precarizados de nível superior é bem mais significativa, justificando, com isso, o interesse da pesquisa.