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CAPÍTULO 3 – O MERCADO DE TRABALHO NO DISTRITO FEDERAL

3.2. Ocupados, vulneráveis e flexibilizados

3.2.2. Faixas etárias

Um ponto extremamente positivo pode ser observado na análise das estatísticas de crianças e adolescentes que trabalham (Tabela 19). O número de trabalhadores de 10 a 17 anos apresentou uma grande redução de 1992 a 2006 em todas as categorias de ocupados, de 47,1%. Entre os vulneráveis, a diminuição foi de 57,6%. A queda mais impressionante foi no segmento dos domésticos mensalistas, de 81,8% (de 10.709 para 1.951 pessoas), uma das categorias mais vulneráveis entre os ocupados.

Em todas as outras faixas etárias há um aumento do número de trabalhadores vulneráveis, com exceção da categoria dos trabalhadores familiares não remunerados, que sofre um declínio geral e do segmento de doméstico mensalista entre 18 e 24 anos. É interessante observar que o número de autônomos para o público vai se ampliando com o aumento da idade, chegando a mais de 65 mil entre os maiores de 40 anos. A faixa etária que concentra o maior número de trabalhadores é a de 25 a 39 anos, seguida pela faixa dos maiores de 40 anos. Entre os assalariados do setor privado sem carteira, o maior número é de trabalhadores jovens de 18 a 24 anos, seguido pelos de 25 a 39 anos. Entre os domésticos diaristas, a concentração é de trabalhadores mais velhos, com número quase idêntico na faixa de 25 a 39 anos e de mais de 40 anos. Entre domésticos mensalistas e os trabalhadores não vulneráveis, a concentração está na faixa de 25 a 39 anos.

Tabela 19 - Estimativa das categorias vulneráveis por idade Distrito Federal 1992-2006

10 - 17 anos 18 - 24 anos 25 - 39 anos 40 e mais

Categorias 1992 2006 1992 2006 1992 2006 1992 2006 ass. privado sem carteira 8.461 6.568 18.041 37.983 13.805 31.221 5.083 13.028 autônomo para o público 2.716 1.611 8.137 9.761 27.680 45.777 27.598 65.552 doméstico diarista 303 180 1.205 1.348 5.889 10.375 4.086 10.332 doméstico mensalista 10.709 1.951 25.635 17.687 19.078 37.488 6.193 22.121

trab. fam. sem remuneração 2.853 308 1.741 407 1.510 201 870 346 Total de Vulneráveis 25.042 10.618 54.759 67.186 67.962 125.062 43.830 111.379 não vulneráveis 7.633 6.670 87.906 122.794 210.007 319.206 123.272 248.032 Total de Ocupados 32.675 17.288 142.665 189.980 277.969 444.268 167.102 359.411

Fonte: elaboração própria a partir de dados da PED-DF/ DIEESE, 2008.

Diferente do que ocorre na categoria dos trabalhadores vulneráveis e dos ocupados em geral, não há uma redução expressiva entre os contratados flexibilizados de 10 a 17 anos (Tabela 20). Há uma diminuição pontual de 3,3%, devido à queda dos assalariados sem carteira do setor privado, já contabilizada na Tabela 19. As demais posições à margem da modalidade padrão apresentam aumento em todas as faixas etárias, mais uma vez apontando que a flexibilização dos contratos representa uma realidade cada vez mais importante no atual cenário do mercado de trabalho do Distrito Federal.

De forma semelhante à categoria de ocupados, 42% dos contratados fora da modalidade padrão em 2006 tem entre 25 e 39 anos, mas em seguida vem a faixa de 18 a 24 anos que concentra 30,4% deste tipo de contratado (ante 18,8% de ocupados) e só depois os maiores de 40 anos, com 22,6% (ante 35,6% de ocupados). A faixa de 10 a 17 anos responde por 5% dos flexibilizados e apenas 1,7% dos ocupados. Assim, 77,4% dos contratos atípicos são encontrados entre trabalhadores com até 39 anos, enquanto 64,4% do total dos ocupados estão nesta faixa etária. Há, portanto, um maior percentual de jovens, o que indica que a flexibilização dos contratos tem um componente geracional.

Entre os jovens de 18 a 24 anos, o aumento dos flexibilizados de 1992 a 2006 foi de 113,3%, sendo que em 2006 a maior parte está representada no segmento de assalariados sem carteira do setor privado. Já os maiores percentuais de crescimento de contratos flexibilizados entre jovens ocorreram entre assalariados sem carteira do setor público, com 216,2% e terceirizados, com 252,2%.

Na faixa etária de 25 a 39 anos o total de contratados à margem do padrão cresceu 163,7% de 1992 para 2006, e em 2006 o maior número destes contratos é de terceirizados. Estes últimos e os assalariados sem carteira do setor público foram os que mais se ampliaram ao longo dos anos. Os terceirizados em 217,7% e os sem carteira do setor público em 490,7%.

Entre os maiores de 40 anos, os contratados flexibilizados alcançam um acréscimo de 219,8% e novamente os terceirizados estão em maior número. Há um forte aumento no segmento dos assalariados sem carteira do setor público, de 830,5 %. Entre os terceirizados foi um pouco menos, 251,2%.

Tabela 20 - Estimativa das categorias de contratados flexibilizados por idade Distrito Federal 1992-2006

10 - 17 anos 18 - 24 anos 25 - 39 anos 40 e mais

Categorias 1992 2006 1992 2006 1992 2006 1992 2006 ass. privado sem carteira 8.407 4.682 17.781 30.243 13.541 29.318 5.007 12.614 ass. público sem carteira 286 932 2.468 7.803 1.517 8.961 741 6.895 autônomo para empresa 2.090 2.343 5.157 7.668 7.722 15.059 3.829 9.224 Terceirizados 700 3.142 6.103 21.493 12.467 39.612 6.017 21.131 Total de flexibilizados 11.483 11.099 31.509 67.207 35.247 92.950 15.594 49.864 Ocupados 32.675 17.288 142.665 189.980 277.969 444.268 167.102 359.411

Os dados da Tabela 20 apontam para uma forte participação de jovens (18 a 24 anos) com contratos atípicos. Por outro lado, a variação de 1992 a 2006 indica que está havendo um aumento maior da flexibilização entre os mais velhos. É possível que o fenômeno esteja se universalizando entre as diversas faixas etárias. Ou os contratos à margem do padrão estão se ampliando entre os trabalhadores de maior idade com novas contratações ou está havendo um envelhecimento dos trabalhadores flexibilizados desde jovens35.

Tabela 21 - Percentual de categorias por idade

Distrito Federal (1992 e 2006)

10 - 17 anos 18 – 24 anos 25 - 39 anos 40 e mais

Categorias 1992 2006 1992 2006 1992 2006 1992 2006

Vulneráveis 13,1 3,4 28,6 21,4 35,5 39,8 22,9 35,4

Flexíveis 12,5 5 33,6 30,4 37,6 42 16,6 22,6

Ocupados 5,3 1,7 23 18,8 44,8 43,9 26,9 35,6

Fonte: elaboração própria a partir de dados da PED-DF/ DIEESE, 2008.

Pelo quadro que relaciona as categorias de ocupados às faixas etárias, fica claro que embora haja uma proporção maior de contratações flexibilizadas entre os mais jovens (até 24 anos) em comparação com os ocupados em geral, esta proporção está diminuindo com o passar dos anos. Deste modo, 46,1% dos flexibilizados tinham até 24 anos em 1992 (faixa que representa 28,3% dos ocupados em geral). Em 2006 o número de crianças e jovens flexibilizados cai para 35,4%. Esta queda se dá em grande parte pela redução geral de trabalhadores de 10 a 17 anos, não apenas dos contratados à margem da modalidade padrão, mas também do total dos ocupados. Por outro lado, nota-se ainda um aumento da quantidade de flexibilizados nas faixas de 25 a 39 anos e dos maiores de 40 anos. Estas faixas concentravam 54,2% dos flexíveis em 1992 ampliando-se em 2006 para 64,6%. 35 A expressiva quantidade de jovens entre os precarizados aparece em diversos países. É o caso, por exemplo, do Canadá, onde Vosko (2006) constata uma maior presença de jovens de 15 a 24 anos entre os trabalhadores precários. Pesquisadores questionam se este dado se deve à possibilidade do trabalho precário diminuir com o passar da idade ou se é um sinal de aumento da insegurança para o futuro do mercado de trabalho.

O padrão de concentração entre mais jovens com aumento entre os mais velhos não apenas se repete entre os trabalhadores vulneráveis como se mostra ainda mais expressivo. Em 1992, 41,7% dos vulneráveis tinham até 24 anos, número que diminui para quase a metade em 2006 (24,8%). Na outra ponta, 58,4% dos vulneráveis em 1992 tinham mais de 25 anos, alcançando 75,2% em 2006.

Reforça-se, com tais dados, a existência de um movimento de ampliação de trabalhadores flexibilizados e em situação de vulnerabilidade entre os maiores de 25 anos, faixa etária mais expressiva em termos de ocupados em geral. Assim, o que podia ser explicado como um fenômeno de contornos geracionais, pela grande presença de jovens, tende a consolidar-se como um fenômeno generalizado entre trabalhadores de todas as faixas do Distrito Federal.