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LISTA DE SIGLAS

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.4 CONTROLE DE GASTOS COM CARTÃO DE CRÉDITO

Esta categoria permite avaliar se os participantes deste estudo realizam o controle dos gastos cobrados em fatura do cartão de crédito. Para tanto, os dados foram avaliados conjuntamente, conforme idade e sexo dos participantes e estão dispostos na tabela 6.

Quanto à relação controle e idade/sexo dos participantes, todas as mulheres com 20 anos de idade alegam controlar os débitos em seus cartões, o mesmo foi declarado por três homens com 20 anos de idade, quatro mulheres com 40 anos e por três homens com 40 anos. Apenas dois homens com 20 anos e dois homens e uma mulher com 40 anos declararam não controlar as despesas com cartão.

TABELA 6: CONTROLE DOS DÉBITOS EM FATURA CONFORME IDADE/SEXO demonstram que nove mulheres e seis homens, do total de 10 participantes de cada sexo, controlam os valores debitados em fatura enquanto que, uma mulher e quatro homens afirmaram não controlar os gastos com cartão de crédito.

Quanto à idade, dentre os participantes com 20 anos de idade, oito declararam controlar os gastos e débitos em fatura enquanto dois declararam não realizar controle de débito e, dentre os participantes com 40 anos, sete afirmaram controlar seus gastos e três afirmaram não controlar suas despesas com o cartão.

De acordo com os dados, o grupo feminino é o que mais controla as despesas com o cartão, principalmente as do grupo de mulheres com 20 anos de idade. Quando analisado, de modo geral, o grupo de 20 anos de idade, de ambos os sexos, é o grupo em que mais participantes afirmam fazer o controle dos gastos.

A seguir, alguns exemplos de como estes sujeitos costumam realizar o controle das despesas com o cartão, iniciando com as afirmações dos participantes com 20 anos de idade: a bartender Angela, a atriz Andréia, a secretária Andressa, o desempregado Aguinaldo e o estagiário Antônio:

Sim, eu controlo.

Como que você faz esse controle?

Eu faço uma planilha e vou anotando tudo certinho. (ANGELA, 20 anos)

Ahã. Controlo. Eu anoto tudo certinho e deixo tudo anotado pra saber quanto que vem, quanto que eu tenho que pagar. (ANDRÉIA, 20 anos)

Anoto. Tenho uma agendinha. (ANDRESSA, 20 anos)

Controlo. Tem que controlar, né? Ah... Pelo banco mesmo. Pela agência, caixa eletrônico. Pela fatura também da pra ter uma noção, um controle. (AGUINALDO, 20 anos)

Controlo. Por uma planilha no Excel que eu tenho. (ANTÔNIO, 20 anos)

A seguir, exemplos das formas de controle, segundo a securitária Beatriz, a corretora de seguros Berenice e o metalúrgico Carlos, participantes com 40 anos de idade:

Eu anoto cada compra em um fichário, num relatório e daí eu vou controlando durante o mês, se eu já extrapolei, se eu devo parar, dar uma segurada... (BEATRIZ, 40 anos)

Controlo. Eu verifico na minha conta corrente, nos bancos, nas duas contas correntes. E sempre verifico se o valor que existe está de acordo. E vou controlando o saldo também, do que eu tô gastando, né?

Como que você faz esse controle?

Eu entro na minha conta corrente. Tenho acesso à fatura detalhada do meu cartão, fatura parcial, então faço a consulta, vejo lá quanto eu gastei, né? Normalmente aparece lá logo depois que você faz a compra. (BERENICE, 40 anos)

Sim. Pelo extrato mensal. É... Semanal e depois o mensal. Do banco... Eu tiro extrato do banco e aparece todos os débitos. Depois vem um extrato geral, mensal onde aparece o que foi gasto no mês.

(CARLOS, 40 anos)

Dentre os “descontrolados”, há os que simplesmente não controlam e os que deixam essa tarefa para uma terceira pessoa, para a esposa, no caso do exemplo do assistente de produção Célio, que segue:

Todos.

Como você controla?

É com a Dona Marta, né? A Marta que faz isso. A minha patroa, né?

A esposa. (CÉLIO, 40 anos)

Outro fator interessante relacionado à categoria controle está no fato de alguns participantes não discernirem a diferença entre controlar e conferir as

despesas efetuadas com o cartão de crédito ou de débito. Muitos, quando questionados se realizavam o controle dos débitos em fatura, respondiam afirmativamente, mas, ao serem questionados sobre o modo como realizavam este controle, percebe-se que, na verdade, realizam apenas a conferência dos valores debitados. Quando não há a elaboração de uma planilha ou relação dos gastos, nem mesmo a consulta antecipada dos valores debitados, os participantes limitam-se a conferir se os valores debitados, já em fatura fechada, estão de acordo com os gastos efetuados. Conforme demonstram as respostas da empresária Bruna e do agente financeiro Cícero, a seguir:

Só quando chega a fatura, que daí eu vou conferir. Antes de chegar a fatura eu não confiro nada. Só quando chega. Eu confiro sistematicamente. Ticket a ticket. (BRUNA, 40 anos)

Sim. É... Através do, da... da folha que eles mandam. (CÍCERO, 40 anos)

Estes participantes limitam-se a verificar se os valores em fatura correspondem aos dos bilhetes emitidos pelas maquininhas de cartão. Deste modo, os sujeitos só saberão o valor que terão que pagar, após o recebimento da fatura, o que vem a corroborar com a probabilidade de assumir dívidas que venham a comprometer sua receita mensal. Note-se que, a participante Bruna afirma ser empresária e o participante Cícero, agente financeiro, funções que requerem conhecimentos administrativos e financeiro-econômicos. No entanto, quando se trata das despesas pessoais, neste caso, com cartão de crédito, não há um planejamento prévio de seus gastos. Essa divergência, se assim se pode denomimar, entre discurso e ação, explica-se devido ao tipo, ou qualidade, da experiência do sujeito.

Talvez o desempenho de suas funções profissionais requeira maior reflexão sobre suas ações, o que provavelmente não ocorre com o controle de suas despesas pessoais.

Para os que afirmaram controlar os débitos em fatura foi perguntado se, ao realizar este controle, já verificaram alguma cobrança indevida. Dos 20 participantes, sete já perceberam algum tipo de cobrança indevida, desde valores incorretos até taxas administrativas não informadas com antecedência aos sujeitos. Conforme demonstram os relatos da securitária Beatriz e do estagiário Anderson:

Já, mas assim, de centavos, mas eu percebo que sempre tem diferenças... Mas nunca questionou ou reclamou?

Não, mas eu sempre percebo, porque como eu anoto até os centavos pra saber onde é a compra e tal, eu sempre vou checar na fatura, é mais de uma assim, sempre tem diferença, mas, como é centavos, a gente não questiona, né? (BEATRIZ, 40 anos)

Nenhuma indevida. Mas há uma que eu não fui avisado que tinha.

E o que você fez?

Bom, eu só me informei, é... Sobre o que... Que era e daí era um valor que eu tinha que pagar, só que eu não tinha sido informado quando eu abri a conta.

Daí você pagou?

Paguei. (ANDERSON, 20 anos)

Os relatos anteriores exemplificam bem algumas estratégias que as instituições utilizam para ampliar suas fontes de lucro: o não esclarecimento das taxas cobradas por seus serviços, na hora da contratação e a cobrança indevida de valores que os usuários, na maioria das vezes considerarão irrisórios para questionar ou gastar seu tempo buscando ressarcimento.

Os participantes da pesquisa também responderam se recebem, em suas faturas, cobranças de taxas, além dos valores das compras efetuadas com o cartão.

A resposta mais recorrente entre os participantes refere-se à cobrança da taxa de manutenção. Alguns participantes afirmam não pagar nenhuma taxa, nem a manutenção, por terem obtido sua conta bancária e, por consequência, seu cartão, a partir da abertura de conta salário, como forma de receber seu pagamento. Nestes casos, os bancos costumam oferecer alguns benefícios para os usuários, a fim de garantir que as empresas fechem contrato com eles, ampliando assim, sua carteira de correntistas, uma vez que todos os funcionários terão que abrir uma conta corrente para o recebimento de seu salário. Os relatos expostos a seguir, do metalúrgico Carlos e da bartender Angela, são um extrato das respostas mais recorrentes dentre os participantes deste estudo que alegam não pagar taxas para utilização de seus cartões:

No meu caso não. Nenhuma. Porque eu recebo pela empresa e aí gera um convênio com o banco isentando todos os procuradores de pagar qualquer tipo de taxa do banco. (CARLOS, 40 anos)

[demora em responder] Humm, não. Que o do banco que eu tenho é... Só cobra a manutenção, seria do banco mesmo, mas fora isso, não pago nada. (ANGELA, 20 anos)

Outros participantes afirmam pagar apenas uma taxa de baixo valor, como a atriz Andréia e a balconista Amanda, e os que pagam apenas anuidade, como o caso do desempregado Aguinaldo, ou que negociam com o banco para reduzir o valor da anuidade, a exemplo da administradora Bruna:

Cobra. Sempre eles cobram uma taxa pra, é, de taxa de cartão, sempre. Sempre 2, 3 reais. (ANDRÉIA, 20 anos)

Cobra a taxa de proteção. Que é dois e pouquinho, três reais.

(AMANDA, 20 anos)

Ah, cobra, cobra. Tem um cartão meu que eu acho que cobra e outro não. Tem uma lá que cobra anual. Sei lá quanto que cobra por ano.

(AGUINALDO, 20 anos)

Cobra anuidade, que varia de 20 a 150, mas eu nunca paguei. Nunca paguei no máximo, eu sempre negociei. Eu pago anuidade. Ahã. Mas é sempre um valor muito pequeno perto do que eles pedem.

(BRUNA, 40 anos)

Alguns participantes, como demonstram em suas respostas, às vezes nem têm ideia das taxas ou valores cobrados pela utilização do cartão de crédito, ou acabam pagando por serviços que desconhecem. Como no caso da balconista Amanda, que paga mensalmente por uma taxa de proteção, que segundo ela, garante que ela possa pedir o bloqueio do cartão em caso de roubo, desconhecendo que este é um direito que lhe é garantido sem a cobrança de taxa extra. Os bancos e as financiadoras parecem abusar da cobrança das mais variadas taxas e serviços, contando com o desconhecimento dos seus clientes em relação aos seus direitos e deveres ao contratarem serviços financeiros.

A incompreensão dos sujeitos em relação aos processos que envolvem o mundo econômico propicia um ambiente favorável à sua exploração. Muitos, mesmo não achando justo, aceitam pagar taxas e juros abusivos sem questionamentos.

Entender que as financeiras não estão lhes prestando favores, mas, ao contrário, trata-se de um contrato de serviços pelos quais estão pagando, é crucial para que os usuários possam negociar e avaliar criticamente as propostas, assim como no

exemplo citado anteriormente, em que a empresária Bruna negocia com o banco o valor da taxa de anuidade.

Além do valor das taxas de serviço, para que os sujeitos “desfrutem das vantagens” do cartão de crédito, é necessário que, dentre outros conhecimentos, os sujeitos compreendam as consequências da escolha da forma de pagamento das faturas, tema da próxima categoria deste estudo.