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LISTA DE SIGLAS

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.7 LIMITE DE CRÉDITO

[demora em responder] Mínimo porque se você paga a parcela mínima você ta, é uma forma deles, é... Receber um capital e ter uma garantia de que sempre ela ta recebendo. É uma forma de prender o recebimento. Em media seriam 10% do valor. (CÍCERO, 40 anos)

O porquê da cobrança de um valor mínimo e suas implicações são, na maioria dos casos, desconhecidos dos participantes. O mesmo evidencia-se em relação ao limite de crédito ofertado pelas financiadoras, tema da categoria que segue.

7.7 LIMITE DE CRÉDITO

Em referência a essa categoria, buscou-se averiguar o que os participantes entendem em relação ao limite de crédito ofertado pelas instituições financeiras por meio do cartão. Os participantes também foram interrogados quanto às vantagens e desvantagens na utilização do limite de crédito e se costumam utilizar o limite integralmente. Os dados obtidos, por meio de entrevista, podem ser visualizados na tabela 9.

TABELA 9: OPINIÃO DOS PARTICIPANTES SOBRE A UTILIZAÇÃO DO LIMITE DE CRÉDITO Costuma

utilizar todo o limite

Opinião sobre a utilização do limite de crédito total frequentemente. Seguem extratos das respostas de participantes que não costumam utilizar todo o limite como a secretária Andressa e o estudante de administração Aguinaldo:

Total, não. Não, eu utilizo, depende do... Porque o meu limite é maior do que o que eu ganho. Então, eu uso de acordo com as despesas de casa, na verdade, né? (ANDRESSA, 20 anos)

Não. Não total, assim. No caso, o limite do crédito, você diz? Ah sim.

Então, quando eu compro no crédito eu preciso usar, né?

(AGUINALDO, 20 anos)

A seguir, as falas dos sujeitos que utilizam frequentemente o valor integral do limite, como a telefonista Alice, a balconista de panificadora Amanda, o estudante de engenharia mecânica Airton e o estudante de administração Anselmo:

Sim? Quando? Quase todo mês. [risos]. (ALICE, 20 anos)

Sim. Sempre. (AMANDA, 20 anos)

Sim. Quando que eu uso o limite? Ah. Foi como eu te disse, pra abastecer o carro, pra, pra... Todo mês. (AIRTON, 20 anos)

Utilizei algumas vezes. (ANSELMO, 20 anos)

Para os participantes com 40 anos de idade, do grupo masculino, um homem afirma utilizar o valor integral do limite e quatro declaram utilizar somente uma parte do valor do limite. Das mulheres de mesma idade, nenhuma afirmou utilizar todo o limite, as cinco participantes alegam utilizar parcialmente ou não utilizar o limite.

Dentre os que utilizam todo o limite segue o exemplo do metalúrgico Carlos:

Às vezes sim. É... Mais no final do mês. (CARLOS, 40 anos)

Os exemplos seguintes são do administrador Claudio e do agente financeiro Cícero, que distinguem o limite disponível para saque ou pagamento com cartão de débito, do limite disponível para compras no crédito:

Não. Nunca utilizo o limite total.

Total? Mas parcial usa?

Uso o limite parcial. (CLAUDIO, 40 anos)

O limite total? Não. No cartão de crédito eu uso o limite que eles me dão. No cartão de crédito, não de débito. Que o de débito, ele fica em limite de conta corrente e já fica cobrando juro e o de crédito, se você pagar em dia, eles não vão te cobrar juro. (CÍCERO, 40 anos)

E a declaração do assistente de produção Célio que possui oito cartões de crédito de conta bancária e inúmeros de departamentos comerciais, mas utiliza apenas dois para aquisição de bens pessoais e os demais, cede para os irmãos e outros parentes e, como vimos anteriormente, no momento de controlar e pagar as faturas, distingue os dois cartões que usa dos demais, como se estes não fossem sua responsabilidade. E ainda, quando o limite dos outros cartões é insuficiente para a aquisição dos bens por parte de seus parentes, ele solicita o aumento do valor do limite disponível:

Não.

Nunca?

Pra mim, não. Quando eu uso na família, daí sim. Às vezes, até tem horas que eu tenho que pedir pra aumentar o limite. E aumentam.

(CÉLIO, 40 anos)

As razões pelas quais as mulheres afirmam não utilizar todo o limite demonstram que essa decisão não implica, necessariamente, a compreensão dos processos que envolvem o limite de crédito, uma vez que não diferenciam o limite de saque ou débito do limite de crédito, ou ainda, quando não se dão conta de que, ao comprar a crédito, estão utilizando, mesmo que parcialmente, o limite ofertado pela financiadora, como nos casos da assistente administrativo Bianca e da corretora de seguros Berenice:

Não. Não. Não chego a usar não. Porque, justamente se eu começo a usar o limite do cartão eu vou pagar juros pra eles. Daí é um dinheiro que não... que eu... se eu usar esse dinheiro eu vou gastar e vou ter que pagar taxa... (BIANCA, 40 anos)

Não. Não. Nunca fiz isso.

Nem parcialmente?

Não. Nem parcialmente. (BERENICE, 40 anos)

Em relação às vantagens e desvantagens na utilização do limite de crédito, dentre os que afirmam que há vantagens estão uma mulher com 20 anos, duas mulheres e quatro homens com 40 anos de idade. A seguir recortes das entrevistas com a balconista Amanda e a doméstica Bárbara. A primeira entende o limite como uma forma de controlar o quanto se pode gastar com o cartão e a segunda vê vantagem no limite em poder aproveitar as ofertas de um supermercado:

Acho que... Acho que tem vantagem. Porque daí você não gasta mais do que você pode. (AMANDA, 20 anos)

Eu acho que existe vantagem mais por causa, como eu falei é, que as coisas lá no Dip são mais em conta, né? O Dip sempre, a rede é maior e tem uma promoção, né? (BÁRBARA, 40 anos)

O primeiro dos exemplos a seguir pertence ao agente financeiro Cícero que prefere realizar compras à vista e aproveitar o prazo que o limite do cartão oferece para utilizar seu dinheiro em outras transações, como empréstimo a juros para terceiros. No segundo exemplo, o metalúrgico Carlos utiliza o limite disponível para

saques ou compras no débito aproveitando o prazo de dez dias, sem juros, ofertado pelo seu banco:

É... No meu caso seria vantagem. Pelo vencimento e pela, pelo o que eu trabalho, eu ganharia esses dias, pela minha profissão. É...

No meu caso seria vantagem. Pelo vencimento e pela, pelo o que eu trabalho, eu ganharia esses dias, pela minha profissão. Empréstimos.

(CÍCERO, 40 anos)

Pra mim é vantagem porque o meu banco me dá dez dias sem juros.

Então, tem dez dias que eu posso utilizar o limite do banco sem que acrescente juros. (CARLOS, 40 anos)

A utilização do limite de crédito é vista com desvantagem por quatro mulheres e três homens com 20 anos e por duas mulheres com 40 anos de idade. Os exemplos a seguir correspondem às respostas da bartender Angela, da atriz Andréia e do estudante de engenharia mecânica Airton:

[demora em responder] Olha, boa pergunta. Acho que muita desvantagem porque se você usa o limite, talvez você não tenha o dinheiro pra pagar depois. Ai acaba com o nome sujo.

E não tem nenhuma vantagem, para o caso de quando você não tiver dinheiro e precisar de uma compra...?

Ah! O problema seria do fato de ficar com nome sujo, que nem várias pessoas que eu conheço, que usaram o limite, daí com o limite, foi aumentando, aumentando o valor da compra e depois não conseguiu pagar. (ANGELA, 20 anos)

Acho que desvantagem. Ai. Porque se passar do limite, as pessoas, é, também vai ser cobrado, né? A loja fica ligando também...

(ANDRÉIA, 20 anos)

Não. Não tem vantagem, porque também tem juro de utilizar o limite, porque o dinheiro não é teu, né? Ele dá a impressão que é teu porque tu vai lá no caixa eletrônico e saca o dinheiro, mas, a partir do momento que tu faz o saque, o banco já ta te cobrando juro porque é um empréstimo, então, daí, que tu ta fazendo na verdade, né? Um empréstimo automático, digamos assim. (AIRTON, 20 anos)

Nos primeiros exemplos aparecem questões ligadas à honra. A participante Angela teme ficar com o nome sujo, caso não consiga pagar as despesas com o cartão e a participante Andréia teme receber ligações de cobrança que geram constrangimento. O participante Airton também se refere ao limite disponível para saques ou compras no débito que, conforme o contrato bancário, a cobrança de juro inicia a partir do momento em que ocorre o saque ou débito.

Para dois homens com 20 anos, uma mulher e um homem com 40 anos, a utilização do cartão é vista tanto com desvantagens quanto com vantagens, conforme a situação em que se aplica. A seguir, extratos das respostas do estudante de administração Anselmo, da empresária Bruna e do assistente de produção Célio:

Existem vantagens e desvantagens, os dois. Algumas desvantagens é a questão de você gastar mais do que você pode e não conseguir pagar e a vantagem é que se hoje você está sem um dinheiro você tem aquele limite pra comprar alguma coisa, até em mercado, roupa, o que for. Qualquer lugar aceita cartão hoje em dia. (ANSELMO, 20)

Pra mim? Ou pra financiadora? Ah. Pra mim vantagem? Teria vantagem se caso eu precisasse desse crédito pra um, uma despesa maior, uma viagem ou uma aquisição de um bem. É... Um valor que eu não dispusesse na hora de um valor que fosse, se a compra tivesse algum... Fosse uma oportunidade. De qualquer forma eu iria procurar um, uma outra forma de adquirir, né? Porque correria o risco de cair num, não conseguir pagar a mensalidade ou a fatura do mês e cair no juro, mas a vantagem sempre é comprar à vista, né?

(BRUNA, 40 anos)

Depende do que você ta comprando.

O que seria mais vantajoso, ou não?

Quando estiver precisando de uma coisa e não tem como comprar e o cartão faz essa... Ele facilita... Acho que pra mim é vantagem.

Mesmo pagando uma coisa a mais. Acho que é vantagem.

Desvantagem? Boa pergunta. [pensa em silêncio por um instante] A desvantagem aí...? [pensa em silêncio novamente] Boa essa pergunta aí. (CÉLIO, 40 anos)

As respostas dos participantes demonstram que, mesmo dentre os participantes do grupo com 40 anos de idade, há uma compreensão muito elementar quanto aos processos que envolvem a utilização do limite. A incompreensão desses processos implica o risco de sobre-endividamento já que, para esses sujeitos, o limite é visto como um dinheiro que eles têm disponível para aquisição de bens ou serviços ou para aproveitar uma boa oportunidade de compra. Para alguns, mesmo quando verbalizam a necessidade de devolver a financiadora o valor utilizado, com juros, em um primeiro momento, entendem o limite como uma poupança com a qual se pode contar em qualquer emergência.

Quanto à compreensão dos sujeitos em relação aos benefícios ou prejuízos com a utilização do cartão, de modo geral, suas representações sobre este tema estão descritas na próxima categoria deste estudo.

7.8 PREJUÍZOS E BENEFÍCIOS NA UTILIZAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO