• Nenhum resultado encontrado

LISTA DE SIGLAS

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.10 REPRESENTAÇÕES REFERENTES AOS PROCESSOS DE OBTENÇÃO DE LUCRO DAS FINANCEIRAS

As respostas dos participantes, conforme pressuposto neste estudo, revelaram formas distintas de representações que os indivíduos têm quanto à maneira pela qual as financiadoras obtêm lucro e capital para oferecer financiamento por meio do cartão. Muitos participantes sequer fazem ideia dos métodos de aquisição de capital das financiadoras, principalmente entre os participantes com 20 anos de idade. A seguir, recortes das respostas dos participantes quando questionados a respeito das formas de obtenção de lucro das financeiras:

Ahã. [risos] Não sei. Não tenho a mínima ideia. (ANDRÉIA, 20 anos)

[demora em responder] Como é que ela obtém? [não responde]

(AMANDA, 20 anos)

Nossa! Isso eu não faço nem ideia. (AGUINALDO, 20 anos)

[demora em responder] Não sei. (ANDERSON, 20 anos)

Dos participantes com 40 anos de idade, alguns a princípio afirmaram não saber responder de onde vem o capital das financiadoras, mas, ao buscar respostas, acabam confundindo os processos. Como nos exemplos que seguem:

Não sei responder. Não. Mas eu acho que é assim: que nem você tem um dinheiro num banco, você tem cartão de banco, você compra no cartão de banco e você passa, aí quando chegar a data, aí cai o dinheiro do banco na conta da, de loja, de alguma coisa que você comprar, né? Eu acho que assim é no supermercado. Você compra, faz a compra e quando chega a data, eu deposito o dinheiro e cai na financiadora. (CELSO, 40 anos)

Ah. Daí eu já... Eu acho que... Eu acho... Como que eu posso dizer pra você? O pessoal vai passando o cartão e vai entrando dinheiro.

São vários, muitos cartões. É muita gente. Quanto mais cartões na rua tiver, mais dinheiro vai entrar. E assim, eu acho, que vai tendo o giro. (CÉLIO, 40 anos)

Outros participantes atribuem o acúmulo de capital das financiadoras ao tempo de serviço que elas têm. Quanto mais antigas forem, maior o acúmulo de capital que possuirão:

Hã. Não sei responder isso.

De onde que você acha que vem o dinheiro pra ela te dar esse crédito, pra você fazer as compras na loja e ficar devendo pra ela, pra financiadora?

É que daí a loja já é antiga, já deve ter bastante dinheiro, né, então, eu acho que é deles mesmo. (ANGELA, 20 anos)

A cobrança de juros e demais taxas de serviço são apontadas pelos participantes como as maiores fonte de lucro para as financiadoras, mas o capital de que os “donos” das financiadoras já possuem ao iniciar suas atividades também são apontados como fonte de capital para a oferta de crédito:

Ah, pela receita que eles têm. Um banco que tenha dentro do banco, nos cofres, três bilhões de reais consegue gerar, tranquilamente, pra todos os clientes, um bom limite de crédito, sabendo que vai ser pago, tanto é que, geralmente teu salário é 30% do valor do limite.

(ANSELMO, 20 anos)

Através da anuidade, dos juros que eles cobram e tudo mais, né?

Sempre tem os fundadores, né? Taxas que os próprios donos pagam pra eles, né? (BÁRBARA, 40 anos)

De outro, de outras empresas. Como toda empresa. Eles trabalham com cartões, eles trabalham com cartão de crédito, trabalham com a máquina, então eles locam essas máquinas, eles passam pra empresas, eu imagino assim, eu não sei se realmente é, mas eles passam por um preço, eles cobram uma mensalidade pra essas lojas terem as máquinas e eles ganham dinheiro, daí assim, eles vão passando o crédito pra outro. (BIANCA, 40 anos)

Alguns participantes, conforme relatos acima, acreditam que as instituições financeiras obtêm capital e lucro por meio da cobrança de taxas de manutenção dos cartões, aluguel das máquinas de operações com cartões para os lojistas, juros e multas. O participante Claudio, apesar de fazer ligeira confusão entre os processos, apresenta a ideia da possibilidade de as financiadoras utilizarem o investimento de uns para financiar outros:

Eu acho que eles conseguem em, talvez uma espécie de um capital rotativo, né? Ou seja, tira de um e usa pra ganhar dinheiro de outro, né? Eles devem ter começado com um investimento mínimo ali, pra fornecer os créditos, e daí eles vão ganhando com aquilo que eles vão arrecadando de juros, de taxas que eles cobram das lojas, que eles ganham das pessoas que atrasam e isso vai gerando cada vez mais capital, né? (CLAUDIO, 40 anos)

Apenas um participante, o metalúrgico Carlos, demonstra perceber que, além das transações com o cartão de crédito, as financiadoras, geralmente instituições bancárias, obtêm capital e lucro de outras transações financeiras como poupança e outros fundos de investimento:

Do sistema bancário. Poupança. Da... Dos juros cobrados...

(CARLOS, 40 anos)

Os participantes parecem não compreender que, com as demais transações que as instituições financeiras efetuam, adquirem capital para ofertar empréstimos e financiamento para terceiros, cobrando juros que vão muito além do pago em sistemas de poupança ou outros investimentos. Dessa forma, as financiadoras trabalham com capital de terceiros, pagando taxas quase irrisórias e cobrando, por outro lado, dos que adentram em programas de empréstimo ou financiamento, juros exorbitantes.

Finalmente, os resultados apresentados nestas categorias demonstram que, de modo geral, os participantes não compreendem totalmente os processos de obtenção de lucro das instituições financeiras, a partir da utilização do cartão de crédito, bem como os demais fatores que envolvem as transações com o cartão. E que, mesmo alguns participantes apresentando em suas falas os riscos da utilização indevida do crédito ofertado pelas financiadoras, a partir do uso do cartão, muitos declaram já ter tido dificuldade em manter as faturas do cartão dentro de suas possibilidades financeiras.