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4. Realização da Prática Profissional

4.4 Controlo e Indisciplina no Ensino Secundário

Antes de iniciar o EP, nunca pensei que fosse ter problemas de indisciplina. Esta conceção resultava de gostar da disciplina mas, também de, no meu tempo de estudante, a disciplina de EF ser a preferida dos alunos. Logo na primeira aula verifiquei que, mais de metade dos alunos da turma, elegeram outras disciplinas do currículo como preferidas e desde aí, percebi que as minhas crenças e expetativas poderiam não corresponder à realidade.

Atualmente, a indisciplina é um dos principais problemas nas escolas e uma das principais causas de frustração e de stress dos professores (Curwin & Mendler, 1984), podendo até mesmo levar ao abandono da profissão (Fenwick, 1998).

Vários autores definem indisciplina como “a manifestação de atos/ condutas, por parte dos alunos, que têm subjacentes atitudes que não são legitimadas pelo professor no contexto regulador da sua prática pedagógica e consequentemente, perturbam o processo normal de ensino-aprendizagem" (Silva & Neves, 2004, p. 38). A indisciplina manifesta-se na aula por comentários inapropriados, falta de interesse em relação aos conteúdos de aprendizagem, frequentes chamadas de atenção, posturas desadequadas a uma aula que interrompem o raciocínio, impedem o cumprimento das

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atividades programadas e colocam em causa a autoridade e o profissionalismo do professor.

No decorrer do EP fui, na minha turma residente, muitas vezes, confrontada com este problema. Apesar de os alunos pertencerem a contextos socioeconómicos favoráveis, existia um grupo de alunos que tentava, com frequência, destabilizar as aulas. De referir que este era também um problema vivenciado pelos restantes professores da turma partilhando também a sua insatisfação perante a postura dos alunos na sala de aula: muito faladores, irrequietos, brincalhões, pouco empenhados e pouco motivados. Existiram momentos de bastante preocupação e desânimo pois, o facto de não estar a conseguir controlar o grupo de alunos, influenciava negativamente o clima da aula e, consequentemente, a aprendizagem e evolução dos restantes alunos da turma.

Saí desta aula triste e desiludida comigo própria porque existiram momentos em que os alunos estavam parados a conversar uns com os outros.”

(Reflexão da aula nº 10 e 11, dia 6/10/2016, turma do 11º ano)

“Os alunos continuam bastante faladores e distraídos, é de referir que o aluno Pedro Macedo (nome fictício) continuar a não fazer a aula e a perturbar a mesma. O aluno Luís Manuel (nome fictício) continua a ter uma atitude negativa nas aulas pois para além de estar constantemente a falar estava a brincar.”

(Reflexão da aula nº 13 e 14, dia 13/10/2016, turma do 11º ano)

“Em relação ao comportamento dos alunos, estes continuam faladores e agitados.”

(Reflexão da aula nº 32, dia 29/11/2016, turma do 11º ano)

“Para finalizar, esta aula não correu bem porque os alunos estavam bastante eufóricos e divertidos.”

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4.4.1 Estratégias utilizadas no Ensino Secundário

De acordo com Jesus (2003, p. 25) uma das estratégias utilizadas para combater a indisciplina é a “adoção de uma postura autoritária”. Tendo em conta que os alunos da turma residente tinham idades compreendidas entre os dezasseis e os dezoito anos, que a professora que lecionava as aulas era estagiária, a disciplina de EF não contar para média de acesso ao ensino superior e ser encarada por muitos alunos como uma disciplina de componente mais prática e de descompressão conduziu, numa fase inicial, a posturas de desinteresse e de relaxamento por parte dos alunos. Face a esta situação, percebi que teria de alterar a estratégia, adotando uma postura menos permissiva com os alunos que apresentavam comportamentos desadequados.

Para Siedentop (1991) os problemas de indisciplina podem ser ultrapassados a partir de uma boa gestão e organização da aula. Segundo O’Sullivan e Dyson (1994) muitos dos problemas de indisciplina que acontecem durante a lecionação, são resultado de uma má gestão, nomeadamente dos tempos de duração e de transição das tarefas motoras. De modo a evitar/reduzir comportamentos disruptivos, as aulas eram previamente planeadas, os planos de aula compostos por tarefas motoras agradáveis e dinâmicas, de maneira que não existissem tempos de espera, estando todos os alunos em tempo de empenhamento motor. O facto de os alunos estarem envolvidos em tarefas que vão ao encontro das suas preferências, facilita a aprendizagem e contribui para alunos mais motivados e empenhados.

“Para finalizar, de um modo geral os alunos estão a fazer um bom trabalho, as coreografias são criativas. No meu ponto de vista o facto estarem a dançar com músicas que gostam e a trabalharem em grupo aumenta a motivação e a predisposição para a prática.”

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Para além das estratégias anteriormente referidas, preocupei-me em sistematicamente desenvolver habilidades de ensino que permitissem ter um maior controlo dos comportamentos dos alunos intervindo sempre que necessário, como por exemplo:

 Circular pelo espaço de aula;

 Posicionar-me corretamente no espaço de aula de modo a ter todos os alunos no meu campo de visão prevenindo comportamentos inadequados;

 Manter os alunos ocupados, mesmo quando tinha necessidade de estar com um aluno ou com um pequeno grupo.

De acordo com Sampaio (2001) é fundamental que, no processo de ensino e aprendizagem, exista uma relação positiva entre aluno e professor tornando-se necessário o estabelecimento e a existência de comunicação entre ambos.

Uma das estratégias que fui desenvolvendo desde cedo para combater a indisciplina foi a utilização do diálogo individual. Assim, para além de tentar conhecer o aluno e criar empatia, o meu objetivo era levar o aluno a refletir sobre seu comportamento e as consequências da sua postura a nível individual e da turma. Esta estratégia surtiu efeito somente com alguns alunos da turma.

“Relativamente à parte inicial, comecei a aula por chamar à atenção do comportamento de alguns elementos da turma.”

(Aula nº 27 e 28, dia 17/11/2016, turma do 11º ano)

Para finalizar, em relação aos momentos de instrução nas modalidades coletivas, estes eram dados aos grupos/equipas e não à turma toda. Esta estratégia evitava que a turma estivesse toda junta impedindo/minimizando comportamentos fora da tarefa, nomeadamente conversas paralelas.

Ao longo do ano letivo, foram vários os dilemas vividos e desafios enfrentados. Para vivenciar esta viagem ao mundo do ensino de uma forma positiva tive de refletir, ao longo de todas as aulas, em estratégias que evitassem comportamentos de indisciplina. As estratégias que tiveram mais efeito foram as que estão diretamente ligadas com o planeamento/pensamento prévio nas aulas, pois como afirma Sampaio (2001) o professor deve antecipar as situações, através de um conjunto de técnicas pedagógicas que lhe

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permitam ocupar os alunos, pois tê-los ativos evita que desencadeiem comportamentos de indisciplina.

4.4.2 Controlo e Indisciplina no 2º Ciclo

Foi somente no 2º período que comecei a lecionar à turma do 5º ano da Escola Básica Pêro Vaz de Caminha. A experiência com a turma residente foi importante porque permitiu-me estar mais atenta às questões comportamentais dos alunos bem como para outros problemas que poderia encontrar no desenvolvimento das aulas de EF.

Desta forma, e ao contrário da postura que tive com os alunos da turma residente, optei por adotar, uma postura menos permissiva, estabelecendo e clarificando as regras e rotinas, logo na primeira aula. O não cumprimento de alguma regra tinha uma consequência, que normalmente se designa de punição. Desde sempre fui coerente com as decisões tomadas pois sempre que alguma regra, previamente estabelecida, fosse desrespeitada o aluno era punido com a execução de um exercício/tarefa.

Segundo Perron e Downey (1997) os professores que criam regras e rotinas nas primeiras aulas, no futuro terão poucos problemas a nível disciplinar. No entanto, é fundamental que estes sejam coerentes e cumpram sempre com as normas estabelecidas. Assim sendo, na terceira aula, tive de recorrer a medidas corretivas porque dois alunos não estavam a cumprir com uma das regras. Contudo, tive o cuidado de explicar a razão de estarem a ser punidos. De acordo com Siedentop (1991) grande parte dos alunos aprende as regras da aula através da punição. No entanto, esta estratégia não deve ser exageradamente utilizada.

Com o intuito de não proporcionar comportamentos inapropriados, as aulas foram previamente preparadas/planeadas de modo a que todos os alunos estivessem em atividade motora.

“No que diz respeito à organização da aula optei por criar cinco estações e dividir a turma em cinco grupos (…) No meu ponto de vista esta opção foi a ideal porque os alunos que estiveram sempre em movimento durante toda a aula.”

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No decorrer das aulas fui percebendo que a turma estava controlada e não havia problemas de indisciplina, o que originou um ambiente bastante positivo e propício à aprendizagem.

“De um modo geral a aula correu muito bem, pois saí com sentimento de dever cumprido, pois nesta avaliação sumativa notei que os alunos evoluíram muito.”

(Reflexão da aula nº 65 e 66, dia 16/03/2017, turma do 5º ano)