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4. A ESCOLA COMO CONTEXTO ONDE CIRCULAM CONCEPÇÕES E

4.2 Experiências profissionais e prática pedagógica das professoras

4.2.4 A coordenadora Jasmim

Jasmim tem 68 anos é viúva, mãe de 3 filhos. Já aposentada como servidora do Estado, desenvolve suas atividades há 32 anos, sendo 14 como professora do município e destes, 12 na Escola Florescer. Na concepção de Huberman (2000), Jasmim encontra-se na fase de desinvestimento no qual o docente apresenta recuo nas ações e interesses profissionais. Entretanto, não identificamos essa ideia na fala ou nas ações da educadora. Em alguns momentos demonstrou cansaço físico, mas não falta de interesse nem disposição para melhorar sua prática.

Jasmim demonstrou ser uma pessoa sensível e interessada pela vida dos alunos, procurando sempre se colocar na posição que o mesmo ocupa, evidenciando capacidade de manter empatia. Tem idade para se aposentar, mas revelou que assim que acontecer irá trabalhar como voluntária nas escolas ajudando na aprendizagem dos alunos. A coordenadora afirmou que já trabalhou com crianças excluídas da sociedade por situações de pobreza, abandono da família, pais aprisionados, entre outras situações, além de crianças com dificuldade na aprendizagem, mas que nunca lecionou para crianças com deficiência. Como não teve formação para atender aos alunos da Educação Especial e, diante da necessidade de conhecimento da temática, por ocupar uma função de apoio do processo de ensino aprendizagem, sentiu a necessidade de preencher esta lacuna e passou a fazer cursos e ler sobre a inclusão das crianças com deficiência.

Jasmim é a responsável pela coordenação do trabalho pedagógico com das turmas de 1º ao 3º ano, sendo assim, nos dias de planejamento, busca discutir com

as professoras as demandas de sala de aula e orientar quanto ao saber fazer pedagógico. Sua rotina se organiza em ações de conversar com os pais sobre o comportamento, ausência e aprendizagem dos alunos; encaminhar crianças para acompanhamento de profissionais (psicólogo, Sala de Recursos Multifuncional, Conselho Tutelar), planejar com os professores as atividades didáticas; repassar e discutir com os professores questões administrativas.

Como a escola é muito dinâmica, ocorrem situações que fogem ao planejamento e que prejudicam o desenvolvimento das atividades previamente planejadas. Por várias vezes, presenciamos nos encontros, a coordenadora se ausentar para resolver problemas da escola. A coordenadora, nessas situações, resolvia a questão e retornava para sala, mas havia uma descontinuidade nas ações e ideias.

Jasmim em sua fala acentuava que muitas das situações poderiam ser resolvidas pelas professoras e que os problemas aconteciam com mais intensidade nos dias de aula dos professores especialistas, que demonstram ter menos habilidades didáticas para resolver alguns problemas de sala.

Após a indagação da pesquisadora sobre a interferência constante no planejamento para que a coordenadora resolvesse situações de sala de aula, a mesma se posicionou falando da importância da autonomia docente, o que acarretou uma pequena discussão sobre o assunto:

Jasmim: As professoras têm autonomia para resolver os problemas

de sala de aula. Não devem trazer as crianças para resolvermos problemas quanto a um lápis que sumiu e precisa saber de quem é. Eu quando estava em sala de aula resolvia as situações e só procurava a coordenação quando havia necessidade de interferência dela até porque se fomos chamadas e solicitadas em todas as ocasiões em sala, o professor perde sua autonomia. Quando os professores especialistas estão em aula sempre acontecem coisas simples que dava pra resolver em sala, mas as crianças são encaminhadas para nós como se não tivéssemos o que fazer e estivéssemos aqui ociosas. Não sei, mas observo que essas situações acontecem bem menos com o professor da sala, talvez porque eles convivam mais com os alunos e tenham mais habilidades para resolver essas pequenas situações.

Violeta: Eu acho que temos que aprender a ter autonomia para

resolver os problemas de sala de aula. Eu estou tentando resolver os da minha sala, só procuro a coordenação quando realmente preciso. Eu vejo muitas vezes o professor trazer o aluno pra ficar aqui porque não esta se comportando ou então não deixa o aluno entrar na sala. Se eu tenho um aluno na sala e não deixo ele entrar, sendo que é o direito dele... Eu acho que temos que pensar em estratégias para

resgatar esse menino. Se eu tranco minha porta e mando para coordenação não resolvo o problema e estou assinando minha sentença.

Girassol: Eu já acho que quando mandamos para coordenação é

porque precisamos, não acredito que o professor envie o aluno pra cá por situação bestas. Tem vezes que é preciso o aluno sair de sala mesmo.

Jasmim: acontece sim Girassol e muitas vezes isso realmente

atrapalha nosso trabalho porque passamos boa parte do dia resolvendo conflitos. (transcrição - 4º Encontro Reflexivo).

Essa explanação nos direciona a refletir que as situações-problema que ocorrem cotidianamente nas salas de aula em todas as escolas são um desafio aos professores exigindo deles habilidades e competências para além do seu fazer pedagógico.

Com base nessa análise do perfil pessoal e profissional das participantes da pesquisa verificamos que este grupo que foi formado com objetivo de refletir sobre a prática pedagógica como forma de contribuir com a inclusão escolar assume a educação como um compromisso e tem consciência de suas limitações, mas também, de suas possibilidades. São professoras que trabalham no Ensino Fundamental há um tempo considerado, que apesar de experiências de vida diferente comungam de ideias semelhantes quanto a necessidade de formação docente em serviço para melhoria da prática e, consequentemente, para inclusão escolar.

5. ORGANIZAÇÃO E MOVIMENTO DOS ENCONTROS REFLEXIVOS: