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Terceiro Momento: Planejamento e organização didática das aulas espaços

5. ORGANIZAÇÃO E MOVIMENTO DOS ENCONTROS REFLEXIVOS:

5.3 Terceiro Momento: Planejamento e organização didática das aulas espaços

Esta seção abarca três encontros (13º ao 15º) de planejamento que visaram contribuir com a organização das ações metodológicas que envolviam o trabalho dos conteúdos programados para o ano de escolarização dos alunos, com base na perspectiva da inclusão escolar.

Haja vista, a preocupação das professoras com a alfabetização dos alunos, decidimos organizar um planejamento com caráter interdisciplinar e com as múltiplas linguagens, organizado a partir do trabalho com a metodologia de projeto e a perspectiva de multiníveis.

O encontro do dia 29 de julho de 2015 teve como objetivo construir um projeto de ensino para a turma de Lírio e Violeta, considerando os alunos em suas singularidades e as especificidades e interesse de cada turma. Iniciamos com a leitura do texto “A prática pedagógica inclusiva: o ensino em multiníveis como possibilidade” (ALMEIDA, 2012) 58. As professoras compreenderam que o ensino de multiníveis é uma proposta de organização curricular comum a todos os alunos baseada em objetivos únicos com estratégias em níveis diversificados.

As docentes já tinham identificado os níveis de aprendizagem dos alunos com base na escrita, leitura e produção de texto, áreas que consideravam ser necessário

58 ALMEIDA, Mariângela Lima. A prática pedagógica inclusiva: o ensino em multiníveis como

possibilidade. IN: Diálogos sobre práticas pedagógicas inclusivas. ALMEIDA, Mariângela Lima; RAMOS, Inês de Oliveira (Org.) Curitiba. Aprris, 2012.

embasar os objetivos do projeto. O agrupamento dos alunos foi realizado tendo por norte a perspectiva de Almeida (2012) da seguinte forma,

Quadro 14 – Agrupamento de alunos pelo nível de aprendizagem quanto a escrita, leitura e produção de texto

 Grupo 1: alunos alfabetizados que leem, interpretam e produzem textos

 Grupo 2: alunos com dificuldades em leitura, interpretação e produção de texto

 Grupo 3: alunos em processo de alfabetização.

Fonte: organizadora pelas participantes da pesquisa e pesquisadora, 2015.

Com a implementação desse projeto buscávamos que todos os alunos pudessem, independente das suas especificidades, participar das propostas de atividade pedagógica planejada, visando, portanto, a aprendizagem de todos, dentro de um currículo comum.

Foi um desafio para nós planejarmos um projeto em multiníveis, haja vista, que nunca tínhamos trabalho com essa perspectiva de projeto. Na verdade, esse projeto organizado foi mais uma forma de “pensar como” realizar uma prática pedagógica com viés inclusivo.

As professoras sugeriram que no projeto investíssemos em artes, músicas, gêneros textuais para enquadrar o trabalho com a leitura e escrita. A professora Violeta enfatizou que havia trabalhado uma obra de Tarsila do Amaral “Tarsila e o papagaio Juvenal” e que os alunos tinham demonstrado interesse e participado da atividade de releitura da obra. Organizamos então um Projeto intitulado “ A arte de Tarsila do Amaral ensina”(Apêndice H). Planejamos atividades para serem realizadas durante uma semana. Ao planejar as atividades pensamos no tempo, espaço e estratégia necessária de acordo com as especificidades dos alunos. Combinamos de reavaliar no próximo encontro as questões relacionadas as referidas atividades, o envolvimento, a participação e interação dos alunos ao projeto.

A professora Violeta nos informou que para turma que lecionava esse projeto não agradava porque já tinha trabalhado com uma tela de Tarsila do Amaral, mas as crianças não tinham demonstrado interesse. Ela nos informou que estava trabalhando com o gênero quadrinhos e tinha abordado um livro de Ziraldo sobre os

direitos das crianças. Pensou, então, em desenvolver um projeto sobre este escritor. Sendo assim, foi organizado o Projeto “Aprendendo com Ziraldo” (Apêndice I). Do mesmo modo, foram organizadas as atividades para reavaliarmos no próximo encontro.

No encontro do dia 05 de agosto de 2015 avaliamos como tinham ocorrido as atividades pedagógicas planejadas. Violeta entusiasmada revelou que os alunos estavam participando e que tinha sido muito interessante a organização das atividades, considerando os níveis de aprendizagem, ritmo e os interesses dos alunos, contemplando os objetivos que desejava atingir para turma toda e pensando em cada um em particular.

A professora Lírio relatou que o aluno “João” não foi a nenhuma aula porque estava doente e, infelizmente, não pode verificar como o mesmo teria participado das atividades planejadas. Quanto à participação do aluno com deficiência intelectual a mesma destacou que ele demonstrou mais concentração, melhorou a atenção, conseguiu interagir melhor e participar das atividades.

[...] ele estava mais calmo, participou das atividades, observou os colegas, melhorou bastante a atenção nessa semana, eu acompanhei mais de perto, precisei fazer algumas intervenções individuais e percebi que ele estava fazendo a atividade. Ele vinha me mostrar e perguntar se estava correto. Nessa forma de organizar as atividades parece que as crianças estavam mais concentradas com suas tarefas e queriam mostrar o que tinham feito umas para as outras. Que pena que “João” não veio. Acho que ele também teria gostado.

Violeta fez um registro no portfólio reflexivo quanto ao planejamento das atividades diversificadas considerando o desenvolvimento dos alunos, e compartilhou com o grupo,

Considerar o nível de aprendizagem de cada aluno numa turma com tantas questões não é uma tarefa fácil. O trabalho é intenso, de observação e mediação, mas percebi que pode ser realizado um ensino aprendizagem abordando uma temática comum a todos pensando na diversidade da turma.

Considerando a ponderação feita por Violeta, Lírio assim se posicionou:

Quando naquele encontro que estudamos o caso de Bruno e você nos apresentou uma proposta de atividade planejada para realizar

com a turma dele pensei que você traria uma amostra de atividades para fazermos em nossa turma. Quando você disse que nos que faríamos e que você nos ajudaria eu pensei que não seria nada fácil. Fazemos sempre uma atividade para turma toda. Às vezes, aquele que tem uma deficiência como João que faz uma atividade diferente, mas não com a mesma temática. Realmente não é fácil porque o processo de ensino aprendizagem é complexo, mas é possível e importante dentro de um planejamento abordar a todos [...].

A professora Lírio reconhece que tinha dificuldade em organizar as atividades pedagógicas para turmas heterogêneas partindo do mesmo objetivo e diferenciando atividades pelo nível de aprendizagem dos alunos, mas entende ser possível e viável o ensino de acordo com o desenvolvimento e interesse dos educandos.

No encontro do dia 12 de agosto demos prosseguimento ao planejamento para mais uma semana de aula. Lírio destacou que João continuava doente e que não tinha vindo à aula. Ela estava descontente porque gostaria que o aluno participasse das atividades que haviam sido planejadas:

É uma pena que João tenha adoecido. A mãe disse que está bem gripado e não pode pegar sol e chuva por isso não traz. Seria bom acompanhar ele nessas atividades. Fiquei até na dúvida se parava o projeto para quando ele retornasse poder participar, mas achei melhor continuar quando ele voltar estaremos voltado para outro assunto e tentarei fazer meus planejamentos atenta a turma, mas não esquecendo das especificidades de cada um. Acho que foi muito importante em nossos encontros reforçar isso porque sabemos, mas o dia a dia faz com que não trabalhemos assim. Gostaria de ter mais tempo para me dedicar mais, aqui mesmo na escola o tempo é muito curto e as trocas no coletivo quase não acontecem, por isso vou fazendo dentro do que posso.

A professora Lírio percebe a importância de desenvolver sua ação pedagógica de forma a atender a diversidade dos alunos possibilitando, a esses, oportunidades de participar de forma efetiva nas atividades propostas.

Organizamos mais uma semana de atividades, haja vista, que os alunos se envolveram e aderiram ao projeto. Ao pensarmos nas atividades que seriam realizadas as professoras demonstraram estarem mais desenvoltas, seguras e com mais autonomia para planejar as atividades de forma a atender a todos e, também, as especificidades individuais, sendo assim, percebemos que poderíamos finalizar nossos encontros de formação.

Finalizamos a sistemática de encontros em 09 de setembro de 2015. Nesse dia realizamos uma entrevista com o objetivo de avaliar os encontros, como forma de atender aos requisitos de uma pesquisa-ação.

Ao concluirmos os encontros reflexivos e termos acesso aos portfólios das professoras pudemos triangular nossos achados e estabelecer as categorias de análise dispostas no capítulo a seguir.

6. FORMAÇÃO NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: REFLETINDO CONCEPÇÕES E