• Nenhum resultado encontrado

O primeiro protesto contra a Copa em Belo Horizonte ocorreu no dia 12 de junho de 2014, durante a abertura do evento40. O chamado postado no facebook foi assinado pelo

COPAC, APH-BH, Tarifa Zero-BH e UFMG contra a Copa41. 7200 pessoas confirma-

ram presença no evento, entretanto, segundo dados do Jornal Folha de São Paulo, cerca de 800 pessoas compareceram ao protesto, que terminou em confronto com a polícia (Pelegrini, 2014). O embate ocorreu quando os manifestantes tentaram se aproximar do relógio promocional que marcava os dias para o início da Copa localizado na Praça da

39 Post disponível em: https://www.facebook.com/AssembleiaPopularBH/photos

/a.148049585387189.1073741831.146761338849347/244409762417837/?type=3&theater 40 L.T. 2014 [2]

41 Link do evento Copa sem povo, tô na rua de novo!!! - 12J: https://www.facebook.com/ events/276283719211230/

Liberdade. A Polícia Militar, para conter o avanço, atacou com bombas de efeito moral e balas de borracha, respondidas por alguns manifestantes com pedradas e danos a prédios e carros no entorno. Quinze pessoas foram detidas, além dos diversos relatos de ações arbitrárias e violentas da polícia42.

Outro protesto foi marcado pelo mesmo grupo no dia 14 de junho43, quando ocorria no

Mineirão a partida entre Colômbia e Grécia. Dessa vez na Praça Sete, o grupo foi sitiado por 5 horas pela polícia militar em uma tática denominada envelopamento. A mesma estratégia foi utilizada para conter os protestos do dia 17 de junho na Praça da Savassi e do dia 28 de junho na Praça Sete44. Os efeitos descontrolados da primeira manifestação

fizeram com que o policiamento e a repressão fossem reforçados. Essas ações, aliadas à capacidade de mobilização dos ativismos claramente enfraquecida, resultaram no dia 14 de junho em um desequilíbrio de seis policiais por manifestante (Carmona; Kiefer, 2014)

Era evidente que a escala de atração dos protestos de 2013 havia, a essa altura, dissol- vido-se. As articulações durante a Copa perderam em quantidade e em multiplicidade, mantendo-se restritas a um determinado grupo. Mesmo entre grupos e indivíduos de es- querda surgiram questionamentos sobre os motivos de tais manifestações e seus ganhos, contribuindo para seu esvaziamento.

Ao contrário do Ato Pelo Direito à Cidade, não parece haver nesse contexto a tentativa de construção de uma pauta comum. A Copa do Mundo é entendida como um mo- mento de visibilidade internacional a ser aproveitado para fortalecer pautas individuais dos grupos, unidos somente pela reivindicação de exercer no espaço concreto o direito de livre manifestação. É o que sinaliza um dos participantes na página do evento para construção de um dos atos:

[...] estamos sim pegando carona com a copa, não para proveito próprio, mas sim para divulgar as manifestações, e nossas causas. Cada movimento tem sua luta, e sua reivindicação própria, o objetivo das manifestações é permitir que todos os movimentos possam levar suas lutas, com a ideia de que com o dinheiro da copa, todas essas reivindicações independente de quais sejam, poderiam ser atendidas. (Vitor Past II, 2014, on-line) Ainda durante a Copa, ocorre, no dia 1 de julho de 2014, a ocupação conjunta dos pré- dios da Prefeitura, da URBEL e da Advocacia Geral do Estado (AGE) pelas ocupações

42 L.T. 2014 [2] 43 L.T. 2014 [2]

44 No período entre o dia 17 de junho e 25 de junho, os ativismos conseguiram uma liminar permitindo manifestações populares durante o período da Copa, que, entretanto, poucos dias depois foi suspensa pelo TJMG (L.T. 2014 [2]).

urbanas. Em nota intitulada Está tendo Copa, agora vai ter casa! 45 , o grupo expõe como

exigências à desocupação a suspensão dos despejos de todas as ocupações urbanas da RMBH e ainda o provimento de serviços básicos em assentamentos de baixa renda. A Copa do Mundo revelava as prioridades do poder público que, enquanto investia milhões em obras para o megaevento, mantinha grande parte da população sem acesso a serviços e infraestrutura. Porém, preocupava ainda aos grupos o aumento de efetivo policial, seu treinamento para repressão de manifestações populares e a compra de armas e equipa- mentos justificados pela Copa do Mundo Fifa de Futebol 2014 e as Olimpíadas. Findos os eventos em questão, as incorporações aos aparelhos de repressão do Estado não se extrapolariam para outras situações, como nos casos de despejos às ocupações urbanas? Em 4 de julho, os prédios foram desocupados pelos manifestantes sem que suas exigên- cias fossem cumpridas. Acordou-se uma reunião de negociação entre as ocupações urba- nas, o Governo do Estado de Minas Gerais, o Ministério das Cidades, a Secretaria Geral da Presidência da República, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Brigadas Populares, MLB e CPT, que ocorreu no dia 24 de julho de 2014 (Freitas, 2015, 75-76).

As movimentações durante o período evidenciam dois aspectos que igualmente apontam para um esgotamento dos protestos de rua. O primeiro é que o acúmulo de aprendizado do Estado na repressão aos protestos, seja fisicamente nas ruas, seja juridicamente, anula, quase que inteiramente, sua capacidade de abalar o funcionamento da cidade. No máxi- mo os protestos criam alguma hostilidade46 por parte do resto da sociedade. O segundo 45 A nota foi assinada pelo MLB, Brigadas Populares, CPT-MG, COPAC e coordenação das ocu- pações urbanas: Dandara, Eliana Silva, Rosa Leão, Esperança, Vitória, Zilah Spósito, Cafezal, Nelson Mandela, Camilo Torres, Irmã Dorothy e Jardim Getsêmani, Guarani Kaiowá e Tomás Balduíno. dis- ponível em: https://www.facebook.com/notes/brigadas-populares-minas-gerais/est%C3%A1-tendo-co- pa-agora-vai-ter-casa-ocupa%C3%A7%C3%B5es-urbanas-realizam-ocupa%C3%A7%C3%A3o-si- mult%C3%A2ne/293328840849400 (L.T. 2014 [3])

46 Em todas as reportagens vinculadas na internet pela mídia tradicional sobre os protestos durante a Copa de 2014 em Belo horizonte os comentários eram, em sua maioria esmagadora, contra as mani- festações. Há, iclusive, defesas às abordagens violentas da Polícia Militar. (Ver: Manifestantes afirmam que irão marchar no ato deste sábado, http://www.otempo.com.br/cidades/manifestantes-afirmam-que- ir%C3%A3o-marchar-no-ato-deste-s%C3%A1bado-1.873051 , TJMG suspende liminar que proibia cerco da PM a manifestantes em BH, http://www.otempo.com.br/cidades/tjmg-suspende-liminar- que-proibia-cerco-da-pm-a-manifestantes-em-bh-1.871956 , Manifestantes vão recorrer da suspensão de liminar que proíbe cerco, http://www.otempo.com.br/cidades/manifestantes-v%C3%A3o-recor- rer-da-suspens%C3%A3o-de-liminar-que-pro%C3%ADbe-cerco-1.872260 , PM prende 10 em protesto contra Copa em Belo Horizonte; ato é encerrado, http://copadomundo.uol.com.br/noticias/re- dacao/2014/06/14/policia-prende-manifestantes-contra-a-copa-em-belo-horizonte.htm , Minas Gerais proíbe máscaras em manifestações http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/06/1473048-minas-gerais -proibe-mascaras-em-manifestacoes.shtml, Polícia indicia quatro por depredações em protestos contra a Copa em BH http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/06/26/policia-indicia-quatro- por-depredacoes-em-protestos-contra-a-copa-em-bh.htm , Governo mineiro comemora ‘violência-zero’ em protestos anti-Copa, mas polícia tem de se explicar http://espn.uol.com.br/noticia/418242_gov- erno-mineiro-comemora-violencia-zero-em-protestos-anti-copa-mas-policia-tem-de-se-explicar, 11 pessoas são detidas em protestos contra a Copa em BH http://tvuol.uol.com.br/video/11-pessoas-sao- detidas-em-protestos-contra-a-copa-em-bh-04028C99366EDC815326/ )

é que as esperanças que emergiram da surpreendente potência dos protestos durante junho de 2013 foi frustrada pela gradual desmobilização das ruas, como observam Caio Martins e Leonardo Cordeiro:

Milhões saíram às ruas e, de volta à casa, ao bairro, ao local de trabalho, voltaram à rotina de sofrimentos e humilhações (talvez um pouco mais indignados)? Embora tenha produzido ecos, o momento de mobilização não conseguiu ir além de si mesmo, não encontrou continuidade em um momento de organização.(Martins e Cordeiro, 2014)

Após a Copa do Mundo, a baixa capacidade de mobilização em grandes atos continuou uma constante, obrigando os ativismos a repensarem suas táticas de ação. Somente nos protestos contra o impeachment da presidenta Dilma, eles voltariam a ter maiores propor- ções, nada, entretanto, comparado aos momentos de mobilização em 2013.