• Nenhum resultado encontrado

A análise das interações públicas no facebook fornece pistas tanto das redes estabelecidas no ambiente digital, como ainda daquelas que se configuram offline. Para tal, foram con- siderados dois tipos de relação mediados pelo site: as curtidas entre as fanpages dos ati- vismos e o compartilhamento de informações entre elas. Às informações extraídas foram aplicados métodos de Análise de Redes Sociais (ARS), que se baseiam nas interações entre atores e nos papéis por eles desempenhados em seus contextos (Recuerdo, Bastos e Zago, 2015). Para isso, são utilizados modelos matemáticos e computacionais que geram representações gráficas, os chamados grafos, de relações entre elementos em um determi- nado momento. Nos grafos as relações são representadas por arestas que unem os atores, representados por círculos.

Nesta pesquisa, as fanpages dos ativismos são os nós dos grafos gerados, unidos por duas categorias de relações: as curtidas e o compartilhamento de informações. Recuerdo, Bas- tos e Zago (2015, p. 55), denominam rede associativa aquelas dependentes de uma ação por parte dos atores que os conecta, como é o caso das curtidas entre as fanpages. Já o compartilhamento de informações, configura uma rede baseada nas interações cotidianas entre as fanpages, constituindo, na categorização dos mesmos autores, redes emergentes. Neste último caso, os conteúdos compartilhados também são representados por círculos, uma vez que são articuladores dos diversos agentes que compõe a rede.

significam assumir publicamente uma conexão, o reconhecimento de luta, ou ainda o interesse em acompanhar suas publicações. Utilizando o netvizz36 para extrair os da-

dos das curtidas, duas redes foram geradas. A primeira delas, denominada rede de grau 1, restringe-se às articulações pelas curtidas entre as fanpages dos ativismos urbanos de Belo Horizonte, configurando-se um universo composto por 39 delas (ver grafo 1). A segunda, denominada rede de grau 2 (ver grafo 2), amplia o universo para atores como ativismos ligados a outras temáticas, canais de mídia, grupos da academia, instituições públicas, partidos e figuras políticas.

O tamanho dos círculos e da letra correspondem ao número de curtidas à fanpage. Resiste Izidora, APH-BH e Tarifa Zeros são aquelas de maior expressividade. Configura-se uma rede em que é alto grau de articulação entre as fanpages, embora algumas mantenham- se marginais. É notória a divisão bem delimitada entre certas categorias de ativismos, aqueles de pauta predominantemente ambiental - Parque Jardim América, Fica Fícus, Rede Verde, Salve a Mata do Planalto, Comupra e Amau no limite superior do grafo -; os grupos de orientação anarquista e autonomista - Bloco de Lutas pelo Transporte, MPL-BH e, em parte, a APH-BH à esquerda -; e as ocupações urbanas que, apesar de bem inseridas na rede, encontram-se fortemente conectadas entre si e aos grupos que lhes dão apoio.

Nota-se ainda a proximidade entre os ativismos que têm o Viaduto Santa Tereza como local de encontro e que com ele desenvolveram um sentido de pertencimento: A Real da Rua37, que nasceu da necessidade de um fórum de discussão sobre o espaço do Viaduto;

A Ocupação38, evento cultural que tem como premissa a apropriação de espaços públicos

e que teve ali três de suas edições; o Viaduto Ocupado39, uma articulação em oposição

às obras do Viaduto em 2014; e o Okupa Viaduto Santa Tereza40, grupo contra práticas

higienistas do poder público no baixo centro sobretudo no Viaduto e proximidades. A representatividade de determinadas fanpages explica-se pela quantidade de postagens, entretanto, com formas de atuação distintas. No caso do Tarifa Zero, seu conteúdo é restrito à causa do transporte público e da mobilidade urbana e em raras exceções extra- polam essa temática. Quando o grupo compartilha informações de outras fanpages elas são sempre contextualizadas por meio de textos, imagens ou memes por ele produzidos. Essas informações são tratadas fazendo uso das estratégias já citadas anteriormente - pe-

36 O Netvizz é uma ferramenta de código aberto para extração de dados do facebook. Os dados são processados em programas de visualização de redes como o Gephi.

37 L.T. 2012 38 L.T. 2013[4] 39 L.T. 2013-2014 40 L.T. 2012

ças gráficas bonitas e coloridas, senso de humor etc. - o que contribui ao grande alcance da fanpage. Em contraste, por exemplo, com o MPL-BH, que recorrentemente divulga as mesmas informações, seu alcance é infinitamente maior. Esse fato reforça a observação de Kelly Prudêncio (2009), já abordada em outro momento, de que na internet os capi- tais dos atores refletem em hierarquias no alcance da mensagem proferida.

Já a popularidade das fanpages do Resiste Izidora e da APH-BH, são de natureza distinta. Ao contrário do Tarifa Zero, não há nessas páginas uma temática central. Elas funcionam como pontos de disseminação de informação nas redes em que se inserem. No contexto de sua criação, elas estiveram bastante centradas em suas pautas - a página da APH-BH, durante as jornadas de Junho e Resiste Izidora na primeira tentativa de despejo das ocu- pações na região de mesmo nome -, entretanto passados os momentos críticos - e por con- seguinte os de maior mobilização - os temas originais são abandonados até que seja nova- mente necessária uma articulação. Semelhante estratégia é utilizada por outras fanpages de ativismos com alto grau de alcance devido à quantidade de curtidas. Mesmo que os ati- vismos tenham deixado de atuar momentaneamente ou definitivamente, a fanpage conti- nua ativa replicando publicações das demais e ampliando, assim, o alcance da informação. É esse o caso de ativismos como COPAC, Okupa Viaduto Santa Tereza e Fica Fícus. A formação dos ajuntamentos descritos confirma a percepção de que as articula- ções de caráter mais duradouro geralmente são restritas aos grupos de pautas ou de posições políticas semelhantes. Por outro lado, Tarifa Zero e MPL-BH encon- tram-se desconectados no grafo, apesar da gratuidade do transporte público como pauta em comum e algumas mobilizações conjuntas em algumas ocasiões41. Tal pa-

drão, como veremos a seguir, repete-se também no compartilhamento de publicações entre suas fanpages, o que pode evidenciar certos pontos de conflito entre eles.

Finalmente, a proximidade entre grupos ligados ao Viaduto Santa Tereza traz à tona que determinados lugares podem tornar-se catalizadores de articulações, unificando grupos para os quais são referenciais de identidade e pertencimento.

Em seguida, também pelo netvizz foram colhidas informações sobre curtidas em um universo expandido de fanpages. Denominada rede de grau 2, são consideradas, além das curtidas entre os ativismos urbanos delimitados para a pesquisa, todas as fanpages que eles curtem e as interações dessas com as demais. As seguintes cores foram utilizadas na diferenciação entre os agentes que passam a compor o grafo: ativismos urbanos em senti- do forte em rosa, movimentos ligados à arte e à cultura em roxo, canais de mídia tradicio- nal e alternativa em cinza, ativismos de outros locais ou de escalas mais abrangentes em amarelo, movimentos estudantis em azul claro, grupos religiosos em marrom, instituições e órgãos públicos em laranja, ativismos atuantes em Belo Horizonte com enfoque distin-

41 L.T. 2015[2] 2015[3]. Ver: Jornada de protestos contra o aumento em 2015 e Segunda Ocupação da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

to do espaço urbano em verde, grupos de pesquisa e extensão universitária, instituições universitárias ou grupos de assessoria técnica em azul escuro, partidos políticos e figuras políticas em vermelho e sindicatos e associações profissionais em marrom claro (grafo 2).

LUTA