• Nenhum resultado encontrado

2.3 As regulações na aprendizagem

2.3.2 Corregulações

Hadwin, Järvelä e Miller (2011) relatam que o termo corregulação foi usado mais frequentemente na literatura da década passada, principalmente por autores que adotam uma tendência mais social, interativa e sociocultural da aprendizagem. Para Allal (2011, p. 332), o fenômeno pode ser definido como:

a influência conjunta da autorregulação do aluno e da regulação advinda de outros meios (professores, pares, materiais curriculares, instrumentos de avaliação etc.) na aprendizagem do aluno (Allal, 2007). Pode-se também defini-la como: processos de aprendizagem e de ensino que produzem aprendizagem. Deste modo, o foco está na aprendizagem como resultado da educação e o ensino está incluído no “co” de “corregulação” (uma abordagem que não deve, é claro, satisfazer proponentes de pedagogias e didáticas interessados principalmente no ensino)26.

Nas definições de corregulação pesquisadas, encontramos, de modo geral, duas características. A primeira é a presença de outros recursos: o outro (professor e aluno) ou fatores externos (material, tempo, tipo de atividades etc.) (ALLAL, 2010). Em alguns autores, como Hadwin, Järvelä e Miller (2011, p. 68) encontramos que a “corregulação é a coordenação temporária da autorregulação entre si próprio e o outro. Tipicamente, corregulação consiste em interações emergentes que medeiam temporariamente o trabalho

25 Do original: “(a) set learning goals, (b) implement effective learning strategies (e.g., organization, rehearsal, note-taking), (c) monitor and assess their goal progress, (d) establish a productive environment for learning, and (e) maintain a sense of self-efficacy (i.e., perceived competence) for learning”.

26 Do original: “the joint influence of student self-regulation and of regulation from other sources (teachers, peers, curriculum materials, assessment instruments, etc.) on student learning (Allal 2007). One could also define it as: processes of learning and of teaching that produce learning. The focus is thus on learning as the outcome of education and teaching is subsumed within the ‘co’ of ‘co-regulation’ (an approach which may not of course satisfy proponents of pedagogy and didactics who are interested chiefly in teaching)”.

35

regulatório (estratégias, monitoramento, avaliação, fixação de objetivos e motivação)”27. Allal

(2016), de forma parecida com a concepção anterior, considera que a corregulação é um processo de transição na apropriação de estratégias de autorregulação da aprendizagem através de outro mais capacitado (como o professor, o par, etc). Nessas duas concepções, observamos que os teóricos preveem a existência de outros participantes.

A segunda característica da corregulação, relacionada com a primeira, é a exigência de interação/mediação/relação com os outros. Hadwin, Järvelä e Miller (2011, p. 69 – grifos nossos) observam que “corregulação é conjuntamente negociada, reconhecendo que a expertise regulatória surge por meio de interações nas quais cada participante traz diferentes tipos de desafios autorregulatórios e habilidades para a regulação emergente”28. Para Volet,

Vauras, Salonen (2009, p. 216), “os processos de corregulação [...] são identificados em níveis hierárquicos semelhantes ou diferentes na relação de um com o outro”29. Panadero e

Alonso-Tapia (2014, p. 460) consideram que “o foco está na interação entre dois ou mais atores (aluno, professor, etc) e com a clara intervenção de um deles que se dirige aos outros de forma estratégica para alcançar as metas”30. As corregulações, portanto, nunca acontecem

sozinhas, mas sempre estão imbricadas em interações com os participantes. Por esse motivo, observaremos todas que ocorrerem na análise de dados.

Em relação a essa segunda característica, Allal (2011, 2016) afirma, com razão, que é muito difícil os alunos aprenderem sozinhos em uma classe. Uma de suas justificativas está no fato de que, para que tenhamos uma sala, é necessário haver coexistência, interação e mediação entre os alunos. A própria autora argumenta que “a regulação da aprendizagem em ambientes educacionais pode assim ser considerada fundamentalmente uma forma de corregulação ou regulação compartilhada”31 (ALLAL, 2010, p. 349). Dessa forma, em

algum(ns) momento(s), os aprendentes, mesmos os mais tímidos, necessitarão de seus pares para regular a sua aprendizagem. Evidentemente que, em ambientes online, tal

27 Do original: “the temporary coordination of self-regulation amongst self and others. Typically, co-regulation consists of emergent interactions that temporarily mediate regulatory work (strategies, monitoring, evaluation, goal setting and motivation)”.

28 Do original: “Co-regulation is jointly negotiated, recognising that regulation experience arises throught interactions where each participant brings different kinds of self-regulatory challenges and expertise to the emergent regulation”.

29 Do original: “Coregulatory processes […] are located at similar or different hierarchical levels in relation to each other”.

30 Do original: “el foco está en la interacción entre dos o más actores (alumno, profesor, etc.) y como hay una clara intervención de uno de ellos que dirige a los otros de forma estratégica para conseguir las metas”.

31 Do original: “The regulation of learning in educational settings can thus be considered fundamentally as a process of co-regulation or of shared regulation”.

36

posicionamento tem grande relevância, já que, neles, a interação escrita é condição indispensável para que haja aprendizagem.

Convém, todavia, diferenciar os conceitos de corregulação de Hadwin, Järvelä e Miller (2011) e Allal (2011). Para os primeiros, o fenômeno é analisado apenas por meio da interação entre a regulação o outro e a minha autorregulação, sem as atividades compartilhadas. Já Allal (2011) trata apenas, em sua pesquisa, da corregulação. Para nós, essa distinção ocorre devido ao objeto dos dois autores: Allal (2011) focalizou, em toda a sua vida acadêmica, a avaliação em contextos presenciais de ensino/aprendizagem, ao passo que Hadwin, Järvelä e Miller (2011) investigam as regulações que ocorrem em ambientes online32. Nesse caso, parece-nos que o objeto determinou o ponto de vista.

Dessas duas abordagens, optamos por seguir, nesta investigação, a tradição dos estudos em educação online. Denominaremos de corregulação a regulação em que há mediação entre a minha autorregulação e a do outro e de regulação compartilhada (a ser definida em 3.5) aquela em que todos os alunos se regulam conjuntamente. Fazemos essa delimitação tendo em vista que, em ambientes online, muitas vezes, há ferramentas em que só é possível alunos se corregularem, enquanto, em outras, os alunos só podem efetuar regulações compartilhadas.

Em síntese, Hadwin, Järvelä e Miller (2011, p. 69) distinguem a corregulação através de quatro características:

(a) interações emergentes;

(b) suporte transitório e calibrado a serviço da autorregulação;

(c) propriedades ‘mediacionais’ como guiar ou influenciar as autorregulações da aprendizagem por meio de pressões ou pistas sociais; (d) promovem ou permitem a apropriação de processos e habilidades autorregulatórias. 33

Depois de definir corregulação, podemos passar para a perspectiva integrada entre a auto e a corregulação.

No documento Avaliação formativa em educação online (páginas 34-36)