• Nenhum resultado encontrado

O pôster como objeto de ensino: descrição e reflexão

No documento Avaliação formativa em educação online (páginas 84-86)

Pesquisar o gênero “pôster” nos levou a duas constatações. A primeira, apresentada por Turrini e Secaf (2008, p. 11-12), é que diferentes nomes são atribuídos ao gênero pôster: painel e cartaz, “quando se referem a apresentações em eventos científicos”, e banner, usado “na linguagem comercial ou da informática”. Não há, portanto, uma homogeneidade no uso desses termos, de acordo com Moraes e Dionísio (2008). Neste tópico, vamos considerar todas essas nomenclaturas existentes, desde que façam referência ao pôster acadêmico, “um gênero que faz parte do cotidiano das Universidades” (NASCIMENTO; DIONISIO, 2007, p. 1).

A segunda constatação é o número expressivo de pesquisas que existe fora dos estudos linguísticos sobre o pôster (RODRIGUEZ, 2014; TURRINI; SECAF, 2008; LORENZONI et al., 2007; CATTANI, 2005). Trata-se de textos sobre “como fazer um pôster”, mais pautados em oferecer dicas de como fazer (evitar a escolha de cores escuras, evitar muito texto escrito, usar fonte com tamanho 50) do que em ensinar as capacidades/competências linguageiras/semióticas necessárias à apropriação desse gênero. Reconhecemos a importância desses trabalhos, mas lembramos da legitimidade do pôster como um objeto de estudo linguístico.

Na área da linguagem, as poucas investigações encontradas dedicam-se mais ao gênero (ou evento, como é tratado) Apresentação de Pôster71 (DIONISIO, PENA;

PINHEIRO, 2015; ARAÚJO; PIMENTA, 2014; MORAES, DIONISIO 2009, 2008; MORAES, 2007; NASCIMENTO, DIONISIO, 2007) do que ao pôster em si (MOZZAQUATRO, 2014). A base de todas essas pesquisas encontra-se em MacIntosh- Murray (2007), alinhado à sociorretórica de gêneros de Swales, que os aborda como “classe de eventos comunicativos”.

Discutiremos aqui a ideia de que o pôster não é um gênero isolado, apoiando-nos numa investigação de Rojo e Schneuwly (2006) a respeito de dois gêneros mutuamente relacionados: a conferência acadêmica e a sua apresentação em Power Point (PwPt). Para os autores, “a forma composicional e os temas da apresentação serão retomados e constituirão a forma composicional e temas da conferência, que expande e reorganiza o texto escrito da

71 Além do gênero Apresentação de Pôsteres, Turrini; Secaf (2008, p, 53-54) informam que o pôster pode estar mutuamente relacionado com a Ilha de Pôster, “na qual ocorre uma apresentação verbal e discussão coletiva de trabalhos que apresentem afinidade temática” e Simpósios de Pôsteres, “com duração de 2 a 3 horas e envolvem um conjunto de cartazes tematicamente relacionados. Um moderador é escolhido por sua experiência no assunto para conduzir a atividade” (idem).

85

apresentação por meio do acréscimo de definições, explicações, reformulações etc.” (ROJO; SCHNEUWLY, 2006, p, 481). Acreditamos que o mesmo ocorre com o pôster e a sua apresentação, “gêneros secundários mutuamente constitutivos, um fazendo parte do outro de maneira determinante” (ROJO; SCHNEUWLY, 2006, p, 481).

Partilhamos, aliás, da mesma opinião dos autores acerca da apresentação em PwPt ser um gênero: “as ferramentas do software preveem e predizem tanto a forma composicional como alguns dos temas e estilos possíveis de textos no gênero, além de possibilitarem um conjunto amplo de animações (de som e imagem)” (ROJO; SCHNEUWLY, 2006, p, 481). Em nossa opinião, esse mesmo pensamento pode ser estendido à preparação de um pôster em PwPt e a sua apresentação, evidentemente, considerando algumas diferenças, como o número imprevisto de apresentações, o número de interrupções da audiência, a menor formalidade em relação à conferência acadêmica (ROJO; SCHNEUWLY, 2006) ou à comunicação oral (DIONISIO; PENA; PINHEIRO, 2015), dentre outras.

Dessa forma, tal como na apresentação em PwPt e na conferência acadêmica, “o pôster acadêmico [...] não pode ser entendido como um gênero isolado, [um gênero] capaz de ser estudado satisfatoriamente fora do seu contexto de uso” (MORAES, 2007, p. 8). Em relação a outros gêneros do mesmo campo, porém, uma característica do pôster acadêmico é que “tem como principal finalidade atrair a atenção para o tema de pesquisa apresentado, portanto, deve ser claro, de fácil leitura, e seguir padrões de estética simples e atrativos” (RODRIGUEZ, 2014, p. 141), pois os espectadores, durante uma sessão, “perambulam” por muitos outros pôsteres até acharem um que chame a atenção.

Dois programas podem ser utilizados para fazer um pôster: o PowerPoint e o CoreDraw. Para Cattani (2005, p. 41), o primeiro é apresenta “diversas limitações, mas tem a vantagem de ser mais popular”, enquanto o segundo, “um programa profissional, voltado para o projeto de peças gráficas variadas”, apresenta inúmeras possibilidades de mobilização de diversas linguagens e, por isso, é superior ao PowerPoint. Atualmente, há vários outros programas, no entanto, o mais utilizado é o Power Point, fator pelo qual fizemos a opção para os alunos produzirem o pôster nessa ferramenta.

No que tange à escrita do pôster, ela “é bastante próxima da escrita presente nos resumos e artigos científicos” (MORAES, 2007) e, acrescentaríamos ainda, nas monografias. Devido a essa similaridade, algumas definições de pôster tendem até a classificá-lo a partir dessa relação com esses outros gêneros da mesma esfera, como a seguir: “uma forma híbrida que representa uma versão visual e muito resumida de um artigo acadêmico” (MACINTOSH-

86

MURRAY, 2007, p. 351). Mozzaquatro (2014, p. 90), aliás, lembra a similaridade entre outros gêneros do letramento acadêmico, pois algumas partes são também presentes nos pôsteres, “como objetivos, metodologia, resultados e conclusões”. Diferencia-se desses, porém, no uso de uma linguagem extremamente sintética e visualmente atrativa, como já relatado no parágrafo anterior.

Como as esferas sociais selecionam, mais ou menos, as mídias e, estas, as semioses, o campo de atividades da academia seleciona, na produção do pôster, as mídias digitais (eletrônica) e a impressa. O aluno, além de dominar a linguagem verbal acadêmica (uso de um texto sintético, uso de verbos na voz ativa etc.) em suas diversas partes (introdução, objetivo, metodologia, análise de dados e conclusão), deve dominar as diversas semioses visuais para minimizar o uso do texto escrito (MACINTOSH-MURRAY, 2007). Depois de pronto, geralmente o pôster é impresso e preparado para a sua apresentação.

Dispor de uma descrição do gênero pôster acadêmico não era o suficiente para didatizá-lo em uma oficina. Para que se tornasse objeto de ensino e de aprendizagem, lançamos mão do Modelo Didático de Gênero, que apresentamos a seguir.

No documento Avaliação formativa em educação online (páginas 84-86)