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Regulações das dimensões visuais: diagramação e modos figurativos marca d’água

No documento Avaliação formativa em educação online (páginas 110-116)

6.2 Segunda produção de Apolo

6.2.1 Regulações das dimensões visuais: diagramação e modos figurativos marca d’água

Basicamente, as modificações aconteceram nas dimensões “marca d’água e uso de imagens” e “diagramação no pôster”, a serem relatadas e analisadas nessa ordem. Elas ocorreram, em sua maioria, após a avaliação diagnóstica e no módulo do estudo da síntese (ver Apêndice F).

Após as primeiras análises coletivas das dimensões visuais, Apolo faz diversas regulações no âmbito dos modos e dos recursos semióticos, em sua segunda produção. Ele retira a marca d’águae insere a imagem na parte inferior e abaixo do pôster. Essas alterações, porém, deixam o pôster com pouco contraste, já que os recursos semióticos escolhidos pelo

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aluno são pouco expressivos e há uma certa repetição, por inserir uma única cor em todo o pôster.

No que diz respeito à inserção não explicitada de imagens, que Apolo avaliou negativamente em seu Diário 1, observamos uma das regulações mais interessantes que soluciona plenamente o problema apontado: ele deixa apenas uma imagem da estante virtual de leituras, mas integra imagem e texto ao inserir uma legenda abaixo da imagem (“Figura 1 – Abas de organização da estante virtual do Skoob”).

A escolha da cor azul no pano de fundo não foi aleatória. Ao analisarmos a Homepage da rede social e o símbolo que a representa (a coruja leitora), verificamos que ambos são de cor azul. Embora o aprendente não pareça se dar conta de que a escolha não tenha ficado tão boa, ele usa o modo não-representativo cor conscientemente para significar, para dar uma maior contribuição ao tema do texto.

O modo não-representativo layout sofre algumas alterações: os objetivos são destacados em uma parte do pôster em que duas colunas são mescladas, parecendo querer atribuir uma certa saliência a essa parte do texto (KRESS; VAN LEEUWEN, 2005).

Ao analisarmos as interações com os outros alunos da oficina, verificamos que as regulações da segunda produção não ocorreram sozinhas, mas foram precedidas de corregulações antes de se concretizarem em autorregulações. No caso de Apolo, o aluno recebeu apenas um comentário da colega Perséfone, na atividade realizada logo após a postagem das primeiras avaliações das produções por seus autores. Notamos que houve uma falha na atuação de Zeus que, como mediador do conhecimento, poderia ter observado o fato e regulado melhor a atividade, estimulado os demais alunos a postarem sua avaliação, bem como inserindo também suas próprias críticas. Vejamos o comentário de Perséfone, no Fórum de Avaliação Diagnóstica da Primeira Produção:

Perséfone avalia positivamente o texto de Apolo, mas aponta para os modos (tipografia, imagem) e para a escolha dos recursos semióticos (tamanho da fonte, marca d’água) que, de acordo com ela, tornaram o pôster “poluído”.

PERSÉFONE [FÓRUM 5: AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA (11/07/2016)]

O pôster “os operadores argumentativos na resenha da rede social Skoob” de Apolo traz uma boa síntese da questão que ele trabalha, a nível textual está bem construído. Porém, a mistura das figuras com a fonte utilizada e a marca d’água tornou o pôster um pouco poluído.

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Uma das críticas de Perséfone à produção de Apolo que merece ser destacada é o uso da marca d’água. Apolo utilizou essa imagem de forma sequenciada, causando um efeito estranho para o receptor.

Essa avaliação da colega, que se transformou em uma corregulação quando Apolo reagiu, no Diário 2, às observações de Perséfone, produziu um movimento de autorregulação, materializado na segunda versão do pôster.

Nessa postagem, Apolo faz referência direta à avaliação de Perséfone sobre o uso de marca d’água e de excesso de imagens, mencionando a “análise de uma colega” e lançando mão do mesmo termo “poluído”, usado por ela, para caracterizar sua primeira produção.

Em seguida, a avaliação mútua é transformada em autoavaliações do aluno (“A partir da análise de uma colega acabei percebendo que a marca d'agua e as imagens que escolhi de fato tornaram o poster poluído”). A nosso ver, um dos motivos que pode ter contribuído para que a autoavaliação do uso de imagens seja negativa é o aumento da metacognição da relação entre imagem e texto em um pôster (SANTAELLA, 2015) e, além disso, o fato de que as relações entre esses elementos, determinadas pelo gênero, talvez não estejam tão adequadas.

No diário, o aprendente faz autorreações às autoavaliações que fez, mais especificamente as inferências adaptativas a serem realizadas (“Acredito que devo mudar a marca d'agua, acrescentar figuras mais pertinentes”).

No penúltimo parágrafo, Apolo se preocupa com as condições de produção de seu trabalho e como elas podem se refletir em seu produto, relatando a indissociabilidade da produção do pôster e de sua apresentação (MOZZAQUATRO, 2014; MACINTOSH- MURRAY, 2007; MORAES, 2007) (“percebo pela análise de outros pôsteres, que devo me preocupar sempre como irei apresentar cada parte do trabalho, visando o público-alvo e como

APOLO [DIÁRIO 2: AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA (15/07/2016)]:

A partir da análise de uma colega acabei percebendo que a marca d'agua e as imagens que escolhi de fato tornaram o poster poluído, apesar de aos meus olhos parecerem bonitos. Logo, diante, inclusive da resposta para a wiki, aprendo que não posso pensar apenas na minha visão, mas pensar no outro que irá olhá-lo.

Apesar de isto ser básico, talvez não tenha ficado tão claro no momento da escolha das imagens e da forma de apresentação visual do meu pôster.

Acredito que devo mudar a marca d'agua, acrescentar figuras mais pertinentes.

Percebo pela análise de outros pôsteres que devo me preocupar sempre de como irei apresentar cada parte do trabalho, visando o público alvo e como será visto.

Durante o processo de análise dos pôsteres percebi que de fato quando você avalia você acaba por aprender muito e inclusive pensa bastante sobre sua própria prática.

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será visto”). Os outros pôsteres analisados servem como um meio de aprendizagem socialmente compartilhada e de colaboração, na medida em que Apolo os utiliza para tomar consciência do destinatário e do público-alvo de seu pôster, voltando a fazer uma análise da tarefa.

No último parágrafo de sua postagem, Apolo relata a transformação de uma regulação socialmente compartilhada em autorregulação (“Durante o processo de análise dos pôsteres percebi que de fato quando você avalia você acaba por aprender muito e inclusive pensa bastante sobre sua própria prática”), remetendo à atividade de avaliação mútua de outros pôsteres e de corregulação. Verificamos que a utilização do fórum auxiliou o aluno a se distanciar de seu próprio pôster e a fazer, ao mesmo tempo, uma análise da tarefa (“que devo me preocupar sempre de como irei apresentar cada parte do trabalho, visando o público alvo e como será visto”).

Em suma, essa mensagem do Diário 2 nos permite evidenciar quatro aspectos importantes. O primeiro deles é que, dentro da SD, as combinações entre modalidades de avaliação mútua, coavaliação, corregulação, autoavaliação e autorregulação (ver 2.4.1), associadas à produção de um objeto complexo, como o pôster, podem fazer com que o aluno tome “consciência de seu funcionamento e [aprenda] a administrar a situação com crescente intencionalidade e com uma autorregulação mais eficaz” (ALLAL, 2004, p. 92). A disposição das atividades desse modo ajudou o aprendente a enxergar melhor os problemas de sua produção, bem como a efetuar futuras regulações.

O segundo é que essas transformações de regulações socialmente compartilhadas em autorregulação e a transformação da corregulação de Perséfone em autorregulação de Apolo e em regulações socialmente compartilhada na wiki caracterizam a perspectiva integrada de Volet, Vauruas e Salonen (2009). Esses autores, como dito em 2.3.3, arguem da necessidade da interdependência entre os mecanismos de regulações, já que muitos dos estudos em autorregulação, inclusive os que surgiram a partir da avaliação formativa alternativa francófona, tenderam a ignorar a contribuição dos processos sociais de autorregulação. A postagem de Apolo mostra que o aprendente, no ambiente online, não utilizou somente a autorregulação em seu pôster, mas mobilizou diversos meios de regulações compartilhadas e de corregulações. Como o AVA é um ambiente escrito, foi mais fácil averiguarmos todas essas mudanças e constatarmos a interdependência entre elas em prol da elaboração de um pôster visualmente melhor.

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O terceiro aspecto que nos chama atenção é que, ao mesmo tempo em que reconhece, no diário 2, que a marca d’água polui o pôster, o aprendente afirma, na wiki que criamos sobre o que seria um bom pôster (ver Apêndice F), que não é só a visão do autor que importa, mas a do receptor, do leitor do pôster, precisa ser levada em conta. A autorregulação do aprendente dá origem a uma regulação compartilhada, à medida que ele utiliza um fato pessoal para contribuir com os demais colegas em uma wiki, o que possibilitará uma regulação de si e de todos os membros do grupo em uma atividade colaborativa. Convém dizer que essa autorregulação não ocorreu sozinha, mas foi precedida da corregulação de Perséfone. Em suma, percebe-se o seguinte movimento: corregulação  autorregulação  regulação compartilhada.

O quarto aspecto é que, apesar de a autoavaliação da aprendente Perséfone não ser positiva sobre o pôster, Apolo se sente autossatisfeito, quando afirma que, a seu ver, o seu produto ficou bonito. Dessa forma, percebe-se que há um desnível entre o que é um bom pôster para o aluno (utilizar muitos recursos semióticos de modo a tornar o pôster atrativo) e o que não é para o outro (utilizar muitos recursos pode poluir o pôster).

A seguir, consta o comentário de Apolo a respeito das últimas autorregulações realizadas sobre o uso do modo figurativo imagens em sua primeira produção, no fim do módulo sobre a síntese de um pôster:

APOLO [DIÁRIO 4: SÍNTESE (27/07/2016)]

Vou aqui relatar todas as mudanças que fiz no poster que culminou na 2º versão. Imagens

Primeiramente eu retirei duas imagens que não iriam acrescentar muito na apresentação do poster e só serviam para deixá-lo visualmente poluído. Deixei apenas uma imagem que se refere a aba de organização da estante virtual do SKOOB. E acrescentei o logo do SKOOB, já que troquei a marca d'agua que trazia este mesmo logo repetido e que poluía o visual.

Nesse excerto, Apolo pontua uma autoavaliação (“duas imagens que não iriam acrescentar muito na apresentação do poster e só serviam para deixá-lo visualmente poluído”) que, possivelmente, não representaria visualmente (SANTAELLA; NÖTH, 2014) tão quanto o aprendente desejaria. Logo mais, faz autorreações e relata inferências adaptativas e autorregulações (“deixei apenas uma imagem que se refere a aba de organização da estante virtual do SKOOB”). As últimas inferências adaptativas descritas (“acrescentei o logo do SKOOB [...] troquei a marca d'agua”) tem pôr fim a autoavaliação da repetição e da poluição visual.

O relato da retirada de duas imagens e, mais do que isso, a transposição do recurso semiótico/forma figurativa marca d’água do Skoob do pano de fundo para o texto do pôster só

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são possíveis dentro do paradigma pós-fotográfico da imagem. Ações como essas ilustram como o referido paradigma é o “universo do tempo puro, manipulável, reversível, reiniciável em qualquer tempo” (SANTAELLA; NÖTH, 2014, p. 180). Nesse caso, o aluno efetua essas regulações, próprias das mídias digitais manipuláveis, para tornar o seu produto bem mais atraente do ponto de vista do receptor. Ele manipula, em síntese, os modos e recursos semióticos que são permitidos, no âmbito das condições de produção do pôster, e que são suportáveis na mídia digital e impressa tendo em vista seu propósito comunicativo (ver 4.3).

As outras regulações que encontramos dizem respeito à diagramação, como vemos no excerto do Diário 3, escrito durante o módulo de estudo da síntese em um pôster. Não encontramos, porém, nenhuma referência direta a elas nas interações online, o que nos deixa pensar que foram fruto de uma autoavaliação.

APOLO [DIÁRIO 3: SÍNTESE (22/07/2016)]:

Em relação a diagramação eu optei sempre em topicalizar, acredito que isto é essencial para a apresentação.

No excerto acima, verificamos que Apolo faz autorreações, mais especificamente relata inferências adaptativas/autorregulações, sobre o seu próprio produto (“optei sempre em topicalizar) a partir de uma análise da tarefa de produção do gênero (“acredito que isto é essencial para a apresentação”). Ele parece compreender que as condições de produção de um pôster (ser apresentado em um evento acadêmico com muitos outros pôsteres, disputar vários espaços com outros textos semelhantes, em ilhas ou apresentação de pôsteres) implicam o uso de uma linguagem topicalizada.

Em outro excerto, que ocorreu quase no final do módulo sobre a síntese, encontramos, no diário 4, a seguinte mensagem sobre a diagramação:

APOLO [DIÁRIO 4: SÍNTESE (27/07/2016)]:

Vou aqui relatar todas as mudanças que fiz no poster que culminou na 2º versão. Diagramação

Eu modifiquei a diagramação para que ele ficasse mais bonito visualmente e para que as informações fossem colocadas em pequenos blocos para que facilitasse a leitura e o entendimento do leitor. Antes eram três colunas, agora há uma coluna que introduz o trabalho, apresenta o ponto principal da rede social e uma definição sobre operadores argumentativos, ou seja, a primeira coluna é a parte "teórica", digamos assim, do trabalho.

Como o poster é para apresentar o projeto a ser realizado, decidir coloca os objetivos em destaque colocando este com uma caixa de texto maior canto superior direito. E logo abaixo, em dois blocos a metodologia, as considerações finais e a bibliografia. Desta forma, acredito que o poster ficou melhor distribuído e com uma leitura mais dinâmica.

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Nessa postagem, Apolo relata as suas autorreações: inferências adaptativas/autorregulações, (“agora há uma coluna que introduz o trabalho, apresenta o ponto principal da rede social e uma definição sobre operadores argumentativos, ou seja, a primeira coluna é a parte "teórica", digamos assim, do trabalho”; “decidir coloca os objetivos em destaque colocando este com uma caixa de texto maior canto superior direito. E logo abaixo, em dois blocos a metodologia, as considerações finais e a bibliografia”). Ao dizer que fez essas escolhas, o aluno mostra que sua intenção era tornar seu pôster “melhor distribuído” e permitindo “uma leitura mais dinâmica”. Essas mudanças ocasionaram autoavaliações e autossatisfações (”modifiquei a diagramação para que ele ficasse mais bonito visualmente”).

A maioria das alterações feitas nessa segunda versão do pôster, que dizem respeito à retirada do recurso semiótico/forma figurativa marca d’água e do modo/forma figurativa imagens no pôster e à redistribuição da sintaxe visual e do modo layout do texto, permitiu que o pôster tivesse um espaço em branco maior, deixando-o “respirar” melhor, com bem menos texto. Porém, o produto ainda precisa de revisões no plano textual para se tornar bom.

No documento Avaliação formativa em educação online (páginas 110-116)