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Correlação e Mundo

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2. CAPÍTULO CORRELAÇÃO, MUNDO E FÉ

2.4 Mundo, Correlação, Ser Humano e Fé

2.4.2 Correlação e Mundo

A maneira que os pais da igreja nos primeiros séculos, no cristianismo primitivo pensavam e agiam acerca do que entendiam sobre mundo (como algo

completamente negativo) e qual deveria ser a correlação do cristão com o mundo, em muitos aspectos, Santo Agostinho apresentou novas ideias alterando aquelas já existentes, mas isso não significa que suas ideias de fato seriam aceitas de maneira absoluta pela igreja, até porque os séculos posteriores a Agostinho foram de intensas produções e por certo, algumas ideias e ensinamentos agostinianos foram postas de lado, contudo, alguns ensinos são retomados por Lutero em sua ruptura com a igreja católica romana, e isto pode ser constatado na “Confissão de Augsburgo” do dia 25 de Junho de 1530. Não é nosso intento discutir aqui os fatos históricos que levaram a redigir a Confissão de Augsburgo, apenas demonstrar o resgate histórico feito por Lutero nos pensamentos de Santo Agostinho.

Esse documento foi redigido por Philipp Melanchthon (1497 – 1560), juntamente com Martin Lutero, traz registrado consigo como a sociedade da época estava vivendo a mercê da ideia de mundo que perpassava o universo religioso cristão, e que muito anteriormente Agostinho já havia tratado acerca disto. No artigo 18 que trata sobre o livre arbítrio, Lutero sita a liberdade que o indivíduo pode ter em correlação com o mundo, e como se apropriar dele por meio das práticas diárias sem que a igreja o condene. Então na “Confissão” eles irão reafirmar, trazer à tona o que já havia sido dito por Santo Agostinho, mas que havia ficado para trás, assim eles afirmam:

E para que se possa reconhecer que nisso não se ensina novidade, eis aí as claras palavras de Agostinho a respeito do livre arbítrio, aqui citadas do livro III do Hypognosticon: “Confessamos que em todos os homens há um livre arbítrio, pois todos têm entendimento e razão naturais, inatos [...] em obras externas desta vida têm liberdade para escolher coisas boas ou más. Por obras boas entendo as de que é capaz a natureza, tais como trabalhar ou não no campo, comer, beber, visitar ou não um amigo, vestir-se ou despir-se, edificar, tomar esposa, dedicar-se a um ofício ou fazer alguma outra coisa proveitosa e boa. Tudo isso, entretanto, não é nem subsiste sem Deus; ao contrário: dele e por ele são todas as coisas. Por outro lado pode o homem também praticar por escolha própria o mal, como, por exemplo, ajoelhar-se diante de um ídolo, cometer homicídio, etc”. (LUTERO e MELANCHTHON,1993, p. 11).22

22As Confissões da Igreja Evangélica Luterana, tradução e notas de Arnaldo Schüler, 4ª Edição

Nessa citação de Agostinho apresentada por Lutero e Melanchthon na “confissão de Augsburgo,” retrata as simples atividades do dia a dia que a sociedade cristã do período da reforma, aparentemente, havia abandonado. Com o passar do tempo e a influência da igreja nos ditames sociais apoiando ou reprovando tudo aquilo que poderiam fazer ou não, perde-se a identidade do próprio sujeito, como também o mesmo perde a dimensão de mundo. Mais adiante, nos artigos 26 e 27, encontra-se outros registros daquilo que aparentemente seria uma chamada feita pelo próprio Martin Lutero para voltarem a realidade.

Abre-se o artigo 26 da “Confissão de Augsburgo” trazendo a memória erros que “em tempos anteriores ensinou-se, pregou-se e escreveu-se” sobre diversas atividades que proporcionavam a suposta aproximação ou distanciamento do cristão com seu Deus, e que, por conseguinte, dessas observâncias (conforme a ponta Lutero), “resultaram muitos erros perniciosos na igreja” (p. 20), as tradições apontavam como deveria ser vivida a vida cristã

“...observar as festas dessa maneira, rezar dessa maneira, jejuar dessa maneira, vestir-se dessa maneira. A isso é que se chamava vida espiritual, cristã. Ao mesmo passo, outras obras necessárias e boas eram consideradas coisa mundana, não-espiritual”. (LUTERO e MELANCHTHON 1993, p. 20).

Isto deixa claro que foram inúmeros erros cometidos aos longos dos séculos que antecederam há Lutero através da maneira de ver o mundo ensinado pelos pais da igreja. “As tradições, porém, tinham de ter o esplêndido nome de serem as únicas obras santas e perfeitas”. “Razão por que não havia limite nem fim quanto à feitura de tais tradições”, assim irá concluir no final do artigo 26 a desmaterialização acerca das inúmeras ordenanças e obrigatoriedades impostas para abstenção das atividades da vida, rogando por meio de uma autoridade maior que as dos pais da igreja, a saber, a dos apóstolos, afirmando assim que “não foi intenção dos apóstolos instituírem dias santos, mas ensinar fé e amor”.

No artigo 27 que trata sobre os votos monásticos, aparece com mais ênfase, o quanto ao longo dos anos essa fuga do mundo foi tão prejudicial. Mas isso demonstra também como o conceito de monastério foi se perdendo e por consequência, os monges “persuadiram as pessoas de que as ordens espirituais

inventadas são estados de perfeição cristã” o que de fato é uma falácia, outrossim, justificava-se através de escritos que muitos liam, “muitos exemplos de alguns que abandonaram mulher e filhos, também seu ofício governamental, retirando-se a mosteiros. Isto, disseram eles, é fugir do mundo e procurar vida que agrada mais a Deus do que o modo de vida dos outros” (p. 26), ou seja, essa ação nada mais é do que uma fuga do mundo real baseado nas expectativas e esperanças da ideia de um outro mundo, que para os monges estruídos pelos antigos pais da igreja, esse mundo funde-se por meio da vida monástica. Assim, “em tempos passados também Gérson censurou o erro dos monges concernente à perfeição, e indicou que em sua época era novidade isso de se dizer que a vida monástica é estado de perfeição” (p. 26).

Até aqui apresentamos a definição de correlação na perspectiva Tillichiana, e as duas distintas concepções do conceito de mundo, na filosofia, e posteriormente da religião judaica/cristã. Agora apresentaremos um terceiro conceito que acreditamos ser a base correlacionaria “desses mundos”, mas que ao mesmo tempo formará a espinha dorsal desde trabalho. A saber: fé.

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