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Relação e Correlação

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2. CAPÍTULO CORRELAÇÃO, MUNDO E FÉ

2.2 Correlação

2.2.1 Relação e Correlação

Quando o autor propõe o método de correlação, ele compreende que sua eficácia se dá porque só através do método pode se aprofundar na busca por respostas às “perguntas implícitas na existência humana” (p. 78), mas que essas perguntas são ou só podem ser extraídas do meio, da fonte, que é o próprio ser humano, outrossim, as respostas, segundo ele, só podem ser encontradas na mensagem cristã. Todavia, aonde encontrar essas respostas? Estas respostas, anuncia ele, “estão contidas nos eventos revelatórios sobre os quais se fundamenta o cristianismo”, e a ferramenta para tal extração – conforme ele declara – é a “teologia sistemática” (p. 78). Por conta disto, a palavra “relação” deve ser distinguida do conceito de “correlação”, porque a primeira está num âmbito superficial da relação humana, “mas relação (divino-humano) é mais profunda do que isso, porque é correlação” (p. 78).

Entretanto, a ponte dessa relação que estabelece a correlação divino- humano, são as questões existenciais imbuídas no ser humano. Essas questões surgem por meio da existência do ser enquanto ser que passa a existir como sujeito autônomo na correlação “eu e tu”10, mas que ao mesmo tempo existe

através dos questionamentos de si mesmo sobre finitude e infinitude, e o “fato de que precisa perguntar pelo infinito indica que se encontra separado dele” (p. 76) mesmo que o infinito faça parte dele por conta da totalidade de sua existência em todo o tempo, do nascer ao morrer. Assim Tillich irá dizer:

O ser humano é a pergunta que ele formula a respeito de si mesmo, antes que qualquer pergunta tenha sido formulada [...] Ser humano significa formular as perguntas acerca do próprio ser e viver sob o impacto das respostas dadas a estas perguntas. E, inversamente, ser humano significa receber respostas à pergunta do próprio ser e formular perguntas sob o impacto das respostas. (TILLICH 2005, p. 76).

Evidencia-se a complexidade e ao mesmo tempo a grandiosidade daquilo que é o ser humano em quanto ser em expansão através de todo o processo evolutivo – não no sentido da evolução das espécies – que ao longo das eras mesmo criou, produziu e desenvolveu. Entretanto, o que Tillich aponta nesse recorte acima, faz com que apareça neste texto a palavra “quase”. Muito embora haja o reconhecimento dos grandes avanços ao longo do curso da história da

raça humana (mesmo que em alguns momentos suas ações pareçam mais um retrocesso), o enigma do ser humano é o próprio ser enquanto ser, que por sua vez tem por objetivo, a busca da felicidade plena, que consequentemente se reveste na seguinte pergunta: Qual é o sentido da vida? Pode se dizer que esse é o filtro, – vontade plena – e “a vontade jamais dá um passo se não com tal objetivo”. (PASCAL, 2002, p. 136). Uma pergunta curta, mas que há milhões de anos muitos homens e mulheres, filósofos e leigos, seitas e religiões tentam dar resposta, e que de fato muitas vezes são apenas vacuidade e nada mais.

Neste quesito deve-se levar em consideração que todas as respostas, por mais que sejam plausíveis e dignas de confiança, sempre fará com que o indivíduo no final da vida faça uma escolha acerca do melhor caminho que lhe pareça viável acreditar nessa finitude para lhe garantir uma boa infinitude, que de fato é completamente desconhecido, ou quiçá “o finito se aniquila na presença do infinito e se converte em um puro nada. (PASCAL 2002, p. 139). Contudo, se este não for o resultado final, e não sendo possível saber se de fato o é até que se conclua a finitude para aquele que morre, na linha tênue entre a vida e o desconhecido, talvez a melhor aposta seja garantir minimamente (mesmo de maneira incerta) uma possível continuidade do outro lado.

No século 17, o teólogo Blaise Pascal (1623 – 1662), propôs em sua obra póstuma, intitulada PENSAMENTOS, uma aposta, ou melhor, “a aposta”. Na aposta ele apresenta argumentos que conotam alguns possíveis resultados para a aceitação de ter no Deus apresentado pelo cristianismo a mais sensata resposta para infinitude do ser. Ele apresenta o seguinte raciocínio: “Pesemos o ganho e a perda, tomando como cruz que Deus existe. Consideremos esses dois casos: se ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, não perdeis nada”. (PASCAL, 2002, p. 142)11.

11Uma escrita mais atual Acerca da “Aposta” proposta por Pascal, encontramos da seguinte

forma: [1] se você acredita em Deus e Ele existe, quando você morrer seu ganho é infinito, a saber, a vida eterna no paraíso; [2] já se você acredita em Deus e Ele não existe, quando você morrer sua perda é finita, a saber, o tempo de vida que perdeu acreditando numa quimera; [3] se você não acredita em Deus e Ele de fato não existe, quando você morrer seu ganho é finito, a saber, o tempo de vida que não perdeu acreditando numa quimera; [4] mas, se você não acredita em Deus e Ele existe, então quando você morrer sua perda é infinita, a saber, nada menos do que a danação eterna no inferno. (GUSTAVO BERNARDO). A aposta de Pascal é um bom

argumento? – postado em: 24/04/2013, ano 5, n. 14, 2012.

http://www.revista.vestibular.uerj.br/coluna/coluna.php?seq_coluna=70 Acessado em: em 05/10/2016.

É no desalento da angústia que a realidade se desenrola como o cordel da emaranhada trama e drama do ser humano diante do seu futuro incerto no mundo. Por isso, Tillich irá dizer que ao usar o método da correlação a teologia é capaz de fazer “uma análise da situação humana a partir da qual surgem as perguntas existenciais”. (TILLICH, 2005, p. 76).

Isto posto, podemos compreender que o método da correlação, não é apenas um método alheio a realidade dada ao indivíduo, mas que ele faz com que, dentro da esfera da linguagem ocorra aproximações adjacentes entre o ser e seu mundo. Visto que, “sempre que o ser humano contemplou seu mundo, ele se descobriu como parte dele. Mas, também compreendeu que é um estranho no mundo dos objetos, incapaz de penetrá-lo além de um certo nível de análise científica” (TILLICH, 2005, p. 76), ou seja, mesmo com todo esse desenvolvimento que permitiu com que a sociedade chegasse até os dias atuais, ainda há questões a serem respondidas.

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