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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. PAULO CÉSAR PEREIRA DA SILVA. CEPTICISMO OU ESPERANÇA NA CORRELAÇÃO ENTRE FÉ E MUNDO. MODELO TILLICHIANO PARA RESPONDER A LIQUIDEZ DA TEMPORALIDADE EM BAUMAN. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2017.

(2) PAULO CÉSAR PEREIRA DA SILVA. CEPTICISMO OU ESPERANÇA NA CORRELAÇÃO ENTRE FÉ E MUNDO. MODELO TILLICHIANO PARA RESPONDER A LIQUIDEZ DA TEMPORALIDADE EM BAUMAN. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências da Religião da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades, da Universidade Metodista de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção de título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Helmut Renders. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2017.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA. SILVA, Paulo César P. Existencialismo e fé na pós-modernidade: cepticismo ou esperança na correlação entre fé e mundo. Modelo Tillichiano para responder a liquidez da temporalidade em Bauman /Paulo César -- São Bernardo do Campo, 2017. Pg. 137 Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Escola de Comunicação, Educação e Humidades - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, São Bernardo do Campo. Bibliografia. Orientação de: Prof. Dr. Helmut Renders.

(4) A dissertação de mestrado intitulada: “Cepticismo ou Esperança na Correlação entre Fé e Mundo: Modelo Tillichiano para Responder a Liquidez da Temporalidade em Bauman”, elaborada por Paulo César Pereira da Silva, foi apresentada e aprovado em, 07 de Abril de 2017, perante a banca examinadora composta por Prof. Dr. Helmut Renders (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Cláudio de Oliveira Ribeiro, (Titular/ UMESP) e Prof. Dr. Ricardo Bitun, (Titular/ MACKENZIE).. _____________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders Orientador e Presidente da Banca Examinadora. _______________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Linguagens da Religião Linha de Pesquisa: Teologias da Religião e Cultura.

(5) DEDICATÓRIA. Um momento, em uma manhã ensolarada, num dia calmo, envolto por uma brisa suave que traz consigo o doce sabor do novo mundo, eu, embebecido na fé transcendente, que em mim afogueia nas chamas da esperança, acesa pelo infinito que em mim habita, verei, vivos, quem sepultei. Com a ávida lembrança e com a certeza de reencontrá-los em breve, dedico essa obra aos que cedo partiram.... In memorian: Ao meu pai/amigo João Silva Obrigado por me amar Tia Ilza Silva Seu sorriso brilhará para sempre... Tio Eliezer Silva Os momentos de alegria certamente voltarão novamente Meu sobrinho João Henrique Que durante quatro anos marcou nossas vidas com suas gargalhadas Meu primo/irmão Levi Santos Nossa amizade e sua luta, estarão como cicatriz, estarão para sempre em mim Nossa separação é breve e momentânea....

(6) AGRADECIMENTOS. Ao meu amigo que mesmo sem eu merecer, escolheu me amar, Cosmo Supremo, Vida em mim, mas além de mim, sou grato ao Senhor pelo dom da vida. Amo-te mais que a mim mesmo! Algumas pessoas entram e saem de nossas vidas, outras ficam por algum tempo, mas tem aquelas que são singularmente únicas, assim mesmo únicas. Está comigo em todo momento, chora sem sentir dor só por me ver chorando, sorri com estonteante alegria só por me ver sorrir “na minha vida é pessoa amiga e companheira”. Obrigado amor “Ana Paula Gomes” por escolher compartilhar a sua vida com esse cara chato, o que tenho e o que sou devo a você, Te Amo!!! Única como só ela pode ser, ela é assim: falante, brincalhona, sempre alegre, faz festa ao me ver chegar e chora como se eu não fosse mais voltar ao me ver partir (para faculdade), essa é a Isa “Isabelly Vitoria”. Filha, eu Te Amo mais que a mim mesmo, serei sempre seu porto... Obrigado por me encantar diariamente. Te Amo! Agradeço a minha mãe Elizete Silva, que tanto suporta minhas brincadeiras, Te Amo velha! Aos meus irmãos, com suas respectivas famílias, Carlos, Elias, Joabe e Natinha (Natanael), vocês são dez... Aos amigos de longa caminhada, com suas respectivas famílias, André e Jade; Alberes e Samanta; Cristony e Adna; Ricardo e Sulik; Albert e Carlinha. Obrigado por me aturarem pelas longas horas de estudos, prometo que haverão mais horas assim. Ao professor Doutor Helmut Renders pelo apoio e perseverança em lapidar uma pedra bruta como eu (academicamente falando), depois deste trabalho sua coroa está garantida meu mestre. Obrigado! Meus agradecimentos a Regiane Vitalino, secretária da Pós-Graduação, pela paciência, carinho e dedicação para com os alunos, seu auxílio é fundamental para resolver as dúvidas e problemas ao longo dessa nossa caminhada. Valeu Re! Expresso também a minha gratidão ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq -, pelo financiamento da bolsa estudantil. Muito Obrigado!!!.

(7) O Tempo Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente.. Roberto Pompeu de Toledo.

(8) RESUMO SILVA, Paulo César Pereira. Sobre Cepticismo ou Esperança na Correlação entre Fé e Mundo: Modelo Tillichiano para Responder a Liquidez da Temporalidade em Bauman. 2017. 139p. Dissertação de Mestrado (Ciências da Religião). Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2017. Esta pesquisa tem por objetivo entender em que sentido a fé cristã pode ser articulada em tempos de transições, mais precisamente, em tempos de mudanças rápidas em meio aos processos da vida pós-moderna. Quanto a percepções de mudanças, partimos das pesquisas de Zygmunt Bauman a respeito de como se estabelece as relações dos indivíduos pós-moderno com o tempo, as quais o autor denomina como tempos líquidos, norteando-se por meio de fenômenos como incerteza, insegurança e medo, denominando assim este período como estado de interregno, que se constitui através do processo de transição entre o mundo sólido moderno e o pós-moderno como mundo liquido, onde o antigo está sendo destituídas e já não tem mais os seus valores fixados, de contra partida, as novas configurações também não se afirmaram ainda, classificando essa época como um período de transição. Como interlocutor apresentamos o teólogo Paul Tillich que fora considerado o teólogo da modernidade, articulando a esperança por meio de uma fé cristã dinâmica, visto que o mesmo redefiniu tal conceito através da filosofia existencial. Fé, para ele, é estar possuído por aquilo que nos toca incondicionalmente, ao passo que em sua perspectiva, o conceito não se estabelece tendo como entendimento uma fé travada nos dogmas, ritos e mitos religiosos, mas sim, tendo em seu caráter a fé como elemento intrínseco da vida humano e não apenas um construto da relação religiosa. Isto posto seria a fé cristã um recurso interessante em tempos de dúvidas e incerteza? Nossa hipótese é que a fé pode se a esperança para tempos incertos, que ajudará suportar as mudanças da/na globalização que por sua vez gera impacto sobre todos os sujeitos. Palavras Chave: Pós-Modernidade, Esperança, Fé, Zygmunt Bauman, Paul Tillich..

(9) ABSTRACT. This research aims to understand in what sense the Christian faith can be articulated in times of transitions, more precisely, in times of rapid changes amid the processes of postmodern life. As for perceptions of change, we start with Zygmunt Bauman's research on how the relations of postmodern individuals with time are established, which the author terms as liquid times, being guided by phenomena such as uncertainty, insecurity and This term is called the state of interregnum, which is constituted through the process of transition between the modern solid world and the postmodern world as liquid world, where the old is being deprived and no longer has its fixed values, of The new configurations have not yet been established, classifying this era as a transitional period. As an interlocutor we present the theologian Paul Tillich who had been considered the theologian of modernity, articulating hope through a dynamic Christian faith, since he redefined that concept through existential philosophy. Faith, for him, is to be possessed by what touches us unconditionally, whereas in its perspective, the concept is not established having as an understanding a faith locked in religious dogmas, rites and myths, but rather, having in its character the faith As an intrinsic element of human life and not just a construct of the religious relationship. This would be the Christian faith an interesting resource in times of doubt and uncertainty? Our hypothesis is that faith can be the hope for uncertain times, which will help to support the changes of / in the globalization that in turn generates impact on all the subjects. Keywords: Postmodernity, Hope, Faith, Zygmunt Bauman, Paul Tillich..

(10) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11 1. CAPÍTULO - O CARATER LÍQUIDO DA PÓS-MODERNIDADE EM RELAÇÃO À EXISTÊNCIA HUMANA ............................................................................................. 16 1.1 Breve Bibliografia de Zygmunt Bauman ............................................................ 16 1.2 Discursão Sobre o Conceito de Pós-Modernidade em Bauman ........................ 18 1.2.1 Percepção da Temporalidade em Zygmunt Bauman.............................. 24 1.2.2 Discursão Sobre o Conceito .................................................................... 25 1.2.3 Efeito da Pós-Modernidade Líquida no Cotidiano das Pessoas............ 26 1.3 O Mundo Contemporâneo como Modernidade Liquida – Uma Apreciação Crítica ................................................................................................................................ 33 1.3.1 Pós-Modernidade e Fé ................................................................................... 43 2. CAPÍTULO - CORRELAÇÃO, MUNDO E FÉ ......................................................... 46 2.1 Breve Biografia de Paul Tillich ........................................................................... 46 2.2 Correlação .................................................................................................... 49 2.2.1 Relação e Correlação................................................................................ 55 2.2.2 O Âmago da Correlação ........................................................................... 58 2.3 Duas Definições de Mundo................................................................................ 59 2.3.1 O Mundo de Platão e Aristóteles ............................................................. 60 2.4 Mundo, Correlação, Ser Humano e Fé .............................................................. 66 2.4.1 O Ser Humano e o Mundo ........................................................................ 69 2.4.2 Correlação e Mundo ................................................................................. 72 2.4.3 O Mundo da Fé .......................................................................................... 75 3. CAPÍTULO - CORRELAÇÃO DE FÉ E Mundo: COMO VIVER OS DESAFIOS DA PÓS-MODERNIDADE NA PERSPECTIVA DE TILLICH ............................................ 82 3.1 O que é Esperança? ......................................................................................... 82 3.1.1 A crescente da Esperança ....................................................................... 89 3.1.2 A Fé que Produz Esperança ..................................................................... 94 3.1.3 Fé como Ato da Pessoa Inteira .............................................................. 104 3.2 A Fonte da Fé ............................................................................................. 105 3.2.1 A Fé e a Dinâmica do Sagrado ............................................................... 107 3.3 Fé e Dúvida ..................................................................................................... 108 3.3.1 Fé e Razão ............................................................................................... 111 3.3.2 Fé e Coragem .......................................................................................... 115 3.3.3 Fé, Amor e Ação...................................................................................... 117 4. CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 121 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 127.

(11) 11. INTRODUÇÃO. Esse trabalho busca empreender um diálogo entre dois pensadores, Zygmunt Bauman e Paul Tillich. O primeiro sociólogo, o segundo, teólogo e filosofo existencial. Embora suas pesquisas seguissem em diferentes perspectivas, eles compartilham um interesse comum: ambos tem seus olhares voltados para a sociedade. Para ser mais especifico, eles observam de anglos distintos as relações preestabelecidas coletivamente, seus impactos, durações e consequências, a curto e médio prazo, visto que ambos não viveram para comtemplar os efeitos das mudanças ao longo de suas durabilidades. Escolhemos estes dois interlocutores das áreas da sociologia e teologia estabelecendo os seguintes diálogos: Primeiro, porque Bauman através de sua sociologia olha para a sociedade com suas crescentes crises (e por questões diversas), e começa a elaborar questionamentos por meio das demandas existenciais com o intuito de entender qual será o resultado de tudo isso. Bauman, analisa as relações sociológica entre: o indivíduo com o próprio indivíduo, o indivíduo com a sua cultura (que podemos considerar aqui uma delimitação geográfica e cultural entre cidades, estados e país), e o indivíduo com o mundo (que é a capacidade de se conectar com qualquer indivíduo ou cultura em qualquer parte do mundo), globalizado. No seu fazer sociológico, são levantado diversos problemas de ordem social já existentes que ao ser ver, causarão consecutivamente num futuro não tão distante impactos sociais ainda maiores. Questões desse tipo saltam em todas as suas obras publicadas ao longo de sua vida acadêmica com também posterior a ela, após sua aposentadoria. Já Paul Tillich olha para sociedade por outra perspectiva. Ele não levanta questões como Bauman, mas percebe-se em meio a uma realidade permeada por perguntas sem respostas, contudo busca dar resposta por meio de fatores expoentes que consequentemente não podem ser deixados ao mesmo. No seu trabalho teológico e filosófico Tillich está, em sua maior parte, dialogando diretamente com as demandas existentes na sociedade de sua.

(12) 12. época, como pode ser constato nos títulos de algumas de suas obras. Como um religioso socialista seus interesses estão intrinsicamente ligados há três vertentes: teologia, existencialismo e filosofia, isto faz com que o autor tenha grande envergadura acadêmica e um pensar além do seu tempo. Assim, mesmo que Bauman e Tillich dialogam com contextos diferentes em épocas distintas, é possível e desejável estabelecer um diálogo pois os pensamentos dos dois giram ao redor da busca do analise e do entendimento das dinâmicas da sociedade e do ser humano como agente responsável nela. Isso dá inclusive ao pensamento de Tillich uma continua relevância que apesar de ser uma pesquisa dos anos trinta até sessenta do século passado, continua sendo estudado por um grupo considerável de pesquisadores e pesquisadoras. Nessa dissertação queremos relacionar as teorias de Tillich e as análises de Bauman de uma forma específica. Mas, antes de entrar nos detalhes dessa relação, faz-se necessário compreender o posicionamento sociológico de Bauman. Em Bauman encontramos a “desconstrução da esperança”, obviamente ele não é o único autor que dispõem de um olhar pessimista diante do presente contexto social e global, mas sem dúvida, nos dias atuais é o de maior visibilidade e consequentemente seus leitores transcende os acadêmicos. Os escritos de Zygmunt Bauman estão repleto de cepticismo, o que não é nem um segredo. Entretanto, perguntamos como reverbera essas informações que o autor levanta entre seus leitores. Mas, mesmo que não sabemos disso com exatidão, nem queremos levantar essa questão nessa pesquisa, por exemplo, por uma pesquisa do campo, pretendemos trazer seu cepticismo para o diálogo e incluir Tillich nessa conversa. Com Tillich, trazemos o conceito da fé e propomos investigar em que sentido ele seja, eventualmente, capaz a corresponder às analises de Bauman e investigar em que sentido Tillich se refere a fé como forma de responder a situações desafiadoras que fogem da controle do sujeito religioso. A atitude da fé segundo Tillich e a atitude céptica de Bauman, como atitudes de responder as realidades da vida nuas e cruas, podem ser postos em uma conversa uma com a outra e até se enriquecer mutuamente?.

(13) 13. Zygmunt Bauman vai olhar para os relacionamentos estabelecidos socialmente e a partir destes, resgatar a obra, O mal-estar da civilização de Sigmund Freud (1930), e ao comparar sua proposta mais de cinquenta anos depois de escrita com os dias atuais, irá perceber que as pessoas estão sendo tomadas por uma ansiedade moderna, e que a sociedade está se perdendo por um desejo acrescente de liberdade. Desejo tal que é pulsionado pela frenética aceleração tecnológica, econômica sociocultural que no século presente denomina-se de pós-modernidade. Por resultado, segue-se na contramão do esperado, pois viver no mundo globalizado requer como fator imprescindível vivencia-lo com experiências subjetivas mas ao mesmo tempo coletiva de um mundo incerto, incontrolável inseguro e assustador, em outras palavras, o mundo pós-moderno é exatamente ao contrario daquilo que outrora fora pensado por Freud, que no futuro haveria uma segurança baseada na coletividade da vida social. Portanto, Bauman preocupa-se em analisar sociologicamente a ampliação avassaladora do medo e da tentativa desenfreada de trocar a liberdade pela segurança e o quanto se perde para que isso aconteça. O resultado disto reflete na formação de um mundo profundamente problemático do ponto de vista social, na perspicácia de Bauman, até mesmo o amor ou a semântica amar que outrora tinha em seu bojo um sentido singular, hoje já não tem mais. Para ele o mundo está tomado por sinais desarranjados e mal interpretados que consequentemente estão propensos as mudanças frenéticas e imponderáveis, quer seja para aqueles que estão a nossa volta, quer seja para aquele ou aquela que escolhemos para compartilha nossa vida, quer seja até mesmo para nós mesmo. Amar ou amor é parte constituinte de uma relação que cada vez mais se torna flexível, produzindo um aspecto cada vez maior de insegurança, visto que vez após vez as pessoas em sociedades estão e são geradoras de relacionamentos através das redes sociais. Por conseguinte os relacionamentos em rede fazem com que, ou melhor, facilitam aproximações e distanciamentos a medida que o indivíduo queira com a mais simples tranquilidade. Mais que isso, ocorreu e ocorre mudanças consideráveis na estruturas sociais dos Estados-Nações moderno, onde as relações de valores dos.

(14) 14. parâmetros de identidades são diluídos com as regras mediadas por incertezas, inseguranças e medo producente da pós-modernidade líquida. O conceito de pós-modernidade líquida, segundo Bauman, altera as percepções da identidade social sobretudo nas questões sexuais, religiosas, culturais que estão em processo de mutação continuo-a produzindo angustias que são inerente aos conceitos de natureza, mundo e vida, a identidade tornou-se um conceito irrelevante e nem mesmo no quesito afetivo escapa da efemeridade. A efemeridade ou a liquidez é o suprassumo da pós-modernidade. Tudo se vai tão rápido quanto chega.. Esse tipo de transformação produz um. sentimento de incertezas, inefabilidades e fragilidade dominante das esferas sócio afetivas e nisto a amorosidade da vida vai se esvaindo continuamente, pois o resultado da existência não permite uma direção singularmente única, o que causa frustrações aparentemente naturais originaria de uma vida producente de indiferença e desapego de valores , pois a vida liquida não permite apenas uma única trilha em direção devida as frustrações naturais derivadas das incertezas producentes, visto que a efemeridade da vida traz consigo o peso do efêmero e do medo de ser retardatário. Zygmunt Bauman observa que novos paradigmas passam a surgir resultando cada vez mais em mudanças rápidas e frequentes, aquilo que era até ontem, hoje já não é mais, num mundo onde as fronteiras deixaram de existir, troca-se a liberdade por segurança, e aquilo que, até então, era sólido começa gradativamente a diluísse e, por conseguinte, inicia-se o caráter líquido da pós-modernidade que, em relação a existência humana, tal fenômeno traz consigo incerteza, insegurança e medo colocando a humanidade diante de um obscuro e desesperançoso futuro. Como o fenômeno da líquida na pós-modernidade traz instabilidade e com isso causa incerteza, insegurança e, finalmente, medo, procuramos na história formas alternativas de enfrentar situações não menos desafiadores. Nesta busca de entender as possíveis reações do sujeito angustiado por circunstancias atormentes que por um lado, não simplesmente, negam ou ignoraram os desafios e por outro lado, não correm o risco de paralisar o ser humano, propomos revistar o pensamento de Paul Tillich, especificamente, sua compreensão de correlação e da fé como um tipo dessa correlação entre.

(15) 15. o ser humano e o mundo ao seu redor, para discutir a possibilidade de respostas alternativas, menos passivas, mais ativas, em ultima consequência, respostas com intenção de transformar fatum em factum, uma visão do mundo que parece, afinal, seguir um destino cego, por uma visão da inserção do ser humano mundo na qual as incertezas, os medos e as duvidas são permitidas com parte da condição humana, mas, sem colocar o ser humano em uma atitude de passividade mais ou menos absoluta. Para descrever esta altitude alternativa propomos explorar e revistar o conceito da fé em Paul Tillich. Para seguir esse caminho propomos, então, voltar ao século passado e restabelecer um diálogo com a teologia de Paul Tillich. Ele é considerado um teólogo da modernidade que busca apresentar a mensagem cristã para a sua época. Já antecipando, Tillich não compreende a atitude da fé predominantemente como resposta específica a dogmas, ritos e mitos religiosos, mas, como uma forma de existência humano, uma forma de estar possuído por aquilo que o ser humano toca incondicionalmente, Sendo assim, a atitude da fé torna-se um elemento intrínseco da vida humano e uma possibilidade de enfrentar os desafios da vida, que vai além de um construto de uma relação meramente religiosa. O nosso objetivo será então, testar a validade da proposta de Tillich diante de novas circunstâncias e novos desafios. O mundo mudou de tal forma que respostas da fé, dentro do entendimento de Paul Tillich, sejam nele ainda cabíveis? A forma como Tillich se refere à fé, deve ser modificado para, eventualmente, corresponder melhor a estes novos desafios? Ou precisa-se concluir que as intuições de Tillich perderam sua relevância nos dias de hoje? Assim, o presente trabalho tem por objetivo, a partir do método da correlação elaborado pelo próprio Tillich, apresentar a fé como uma possível resposta de esperança aos fenômenos pessimistas do mundo líquido pós-moderno, dividindo-se entre partes e da seguinte forma, a saber. Primeiro: o surgimento do mundo líquido, seus fenômenos e consequências na perspectiva de Zygmunt Bauman. Segundo: será apresentado o método da correlação de Paul Tillich e as definições dos conceitos de mundo e fé. Terceiro: compreender o papel da esperança e, consequentemente a fé que possibilita transcender os desafios do mundo líquido pós-moderno..

(16) 16. 1. CAPÍTULO - O CARATER LÍQUIDO DA PÓS-MODERNIDADE EM RELAÇÃO À EXISTÊNCIA HUMANA. 1.1 Breve Bibliografia de Zygmunt Bauman. Até a presente data, ainda não há uma bibliografia especificamente sobre a vida de Zygmunt Bauman em português, pois o mesmo buscava ter uma vida pessoal reservada, David M. B. Santos (2014) ressalta que “podemos até afirmar que, de certa maneira, é proposital, já que o próprio autor não é favorável à exposição da intimidade em público” (SANTOS, 2014, p. 85), ele não escrevia sobre si e pouco se encontra de escritos a seu respeito desenvolvido por biógrafos. As poucas informações que há sobre ele é fruto de curtos comentários que ressaltam durante entrevistas ou pequenos recortes, em sua maioria as informações escritas por outrem a seu respeito gira em torno da sua vida acadêmica e de suas teorias, por conseguinte, não há uma obra biográfica minuciosa sobre sua vida, até mesmo em suas obras, a maioria das informações são superficiais e não muito rica em detalhes. Para empreender esse breve resumo sobre a vida de Bauman recorremos a um artigo publicado no Caderno Zigmunt Bauman, por David Moiseis Barreto dos Santos (2014), e introdução do livro Identidade, de Bauman (2005), escrito pelo jornalista italiano Benedetto Vecchi. Obviamente isto não impedirá de fazer uso de outros referenciais teóricos se necessário e se houver. Assim, segundo Santos (2014, p. 84), filho de judeus poloneses não praticantes, Zygmunt Bauman nasceu em 19 de novembro de 1925 na cidade de Poznan, Polônia. Nascido em uma família não abastarda e no período entre guerras, suas chances de vencer na vida ou até mesmo de sobrevivência eram limitadas. Quando criança seus pais não tinham condições de lhe proporcionar bons estudos por falta de recurso, contudo Bauman era um hábil estudante e exímio leitor. Quando ainda era um adolescente, em 1939, aos 14 anos de idade, sua família viu-se obrigada a fugir de sua cidade e de seu país para a (extinta) União Soviética (atual Rússia) por conta da invasão do exército nazista a Polônia. Quatro anos mais tarde, em 1943, junta-se ao exército polaco formado no território da União Soviética para lutar contra o nazismo e nesse período inicia seus estudos de física, mas não consegue seguir adiante por conta da guerra,.

(17) 17. em 1946, no pós – guerra Bauman retoma os seus estudos, agora no curso de sociologia na universidade de Varsóvia. ...ingressa na Faculdade de Filosofia e Ciência Sociais da Universidade de Varsóvia. Começou a estudar sociologia, mas logo passou para a filosofia por aquela disciplina ter sido cancelada, por razões ideológicas, pelo governo comunista polonês em processo de “stalinização”, mesmo que breve. Bauman então deu continuidade à sua carreira acadêmica, encerrando o mestrado em Filosofia, mas logo voltou o seu olhar novamente para a Sociologia em seu doutoramento — concluído em 1956 —, quando começou a “destalinização” do governo e o retorno de tal disciplina ao currículo bem como de seus professores. (SANTOS, 2014, p. 87).. Tendo como influência intelectual durante esse período, seus primeiros professores, Stanislaw Ossowski e Julian Hochfeld “eles lhe proporcionaram a capacidade de “olhar o mundo de frente” sem recorrer a ideologias preconcebidas” (VECCHI, 2005, p. 9), após concluir seu período de formação, em 1956 Bauman participou como apoiador dos movimentos estudantis da Polônia, “neste ínterim, Bauman conhece Janina — falecida em 2009 — na Academia de Ciências Sociais de Varsóvia, com quem se casou e teve três filhas” (p. 87); em 1968 teve seus trabalhos proibidos de ser publicados e sofreu com o antissemitismo que foi “usado para reprimir estudantes e professores universitários” que lutavam em nome da “liberdade, justiça e igualdade” (p. 10), tendo seu ápice no outubro Polonês “quando participou do influente movimento reformista que desafiou a liderança do Partido dos Trabalhadores Unidos e a subjugação de seu país às ordens de Moscou” (p. 10). Nesse mesmo ano Bauman se mudou da Polônia e foi expatriado em Israel com sua família, Janina, sua esposa e as três filhas “começa a lecionar na Universidade de Tel Aviv, mas tendo também rápidas passagens pelo Canadá e Austrália” (SANTOS, 2014, p. 89), após três anos, Bauman foi “convidado para chefiar o Departamento de Sociologia da Universidade de Leeds, onde finalmente permanece até sua aposentadoria, em 1990” (SANTOS, 2014, p. 89). Um recorte alto biográfico relatado pelo próprio Bauman acerca das suas experiências de vida: A partir de 1º de setembro de 1939, houve um emaranhado de itinerários, uma série aparentemente infindável de “desencaixes”, as.

(18) 18 caixas de moviam rápido demais para que pudesse ocorrer um “reencaixe”. A pedra só parou de rolar, ou pelo reduziu a velocidade, em 1971, quando paramos em Leeds. (...) Se tivesse em posição de escolher, eu agora estaria lhe contando uma história totalmente diferente. (BAUMAN, 2011a, p. 26). A experiência da infância de ser mantido à força distanciado do mundo a que pertencia e ter recusado o ingresso, pelo dobro do tempo, em função do exílio durante a guerra, no mundo a que tentei em vão me juntar; depois da volta ao lar, uma distância gradual, mas sempre crescente, entre minhas esperanças e expectativas e o caráter repulsivo da realidade, exacerbado pela hipocrisia dos “homens de negócio”; uma curta permanência em outro país (Israel), desta vez com uma experiência de estar “dentro”, mas não ser “do” lugar; e, enfim, a outra metade da vida passada num país tão maravilhosamente hospitaleiro em relação aos estrangeiros (Inglaterra), embora sob a condição de que não pretendam ser nativos. (BAUMAN, 2012, p. 248).. Após estabelecer residência na cidade de Leeds em 1971, e alcançar a aposentadoria em 1990, Zygmunt Bauman passou a compor inúmeras obras até sua morte em 9 de Janeiro de 2017, aos 91 anos.. 1.2 Discursão Sobre o Conceito de Pós-Modernidade em Bauman. Não diferente, o polonês Zigmunt Bauman, tem em sua experiência de vida alguns relatos que o “aproxima” de Tillich. Deste ponto de vista, a maior proximidade encontrada em sua biografia foi o período que ele passou “servindo como soldado do exército da antiga União Soviética durante a segunda guerra mundial (1939 – 1945)”. Tornou-se “militante socialista no leste europeu por dez anos até a falência do partido”, posteriormente tornou-se estudante de sociologia, que por motivos políticos em seus país o levaram à trocar o curso para filosofia, mas tendo oportunidade voltou a estudar sociologia novamente, e consequentemente tornou-se professor universitário de sociologia e difundiu no final da década de 80 o conceito de “relações líquidas” (SANTOS, 2014). Essas relações fragilizadas (líquidas) é resultado de uma sociedade (segundo ele) que está se arruinando pelo consumo do capitalismo exacerbado da pósmodernidade. O resultado disto é que o amor, por exemplo, passa a ser líquido.

(19) 19. “onde as relações amorosas deixam de ter aspecto de união e passam a ser mero acúmulo de experiências1”. Partindo do campo sociológico, pode-se compreender o resultado de três grandes transformações sociais que mudaram significativamente o curso da humanidade a partir do final do século 17. O iluminismo a partir de 1590, ganhando força entre os séculos 17 e 18, que produziu grande impacto de mudanças ideológicas. Por conseguinte, na segunda metade do século 18, em 1750, inicia-se a revolução industrial que altera a esfera econômica como efeito dominó ganhando forma em proporções globais. Ainda no mesmo século explode a revolução francesa, que por sua vez, dá mais autonomia ao povo. Assim com a nova forma ideológica de pensar, com a decadência do feudalismo e o avanço do capitalismo e o resultado das transformações políticas, o rumo da história foi ganhando novos contornos. O resultado desta tríade é reconhecido como a formação do mundo pós-moderno. Neste segundo capítulo, entenderemos quais foram as transformações que levaram o século 20 e esse início do 21 a ser classificados como pósmoderno, visto que o sociólogo Zygmunt Bauman estrutura sua teoria baseandose nas diversas mudanças que ocorrem e ocorreram nas estratificações das categorias sociais com a modernização da cultura. Para compreender a atual época, é necessário conhecer e entender minimamente os principais fatores que alteraram de maneira significativa o mundo, como constata Dreifuss: ...vivemos tempos e espaços cotidianamente marcados pela simultaneidade das irrupções cientificas e eclosões tecnológicas, concomitantes e interativas, em todos os campos do conhecimento, da atividade e da existência humana. (DREIFUSS, 1999 p. 17).. Isso, obviamente representa as constantes mudanças ocorridas nas últimas décadas. A pergunta que surge a partir de então é: Mas é possível classificar qual foi a principal mudança ocorrida nas duas últimas décadas? É sabido que não foi apenas um fator específico que fez com que as mudanças acontecessem, mas sim um conjunto de fatores. Entretanto, a década atual é reconhecida como a era digital, mas conforme afirma Dreifuss (1999, p. 24) a era digital começou a engatinhar, diga1http://colunastortas.com.br/2013/08/07/amor-líquido-zygmunt-bauman-uma-resenha/. em: 04/10/2016.. Acessado.

(20) 20. se de passagem, aproximadamente cinco décadas atrás, todavia, esse marco evidencia que as décadas e milênios que há antecederam homens e mulheres não deslumbraram deste criacionismo, por isso “quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem” (HOBSBAWM, 1995) entretanto, tomemos como divisor de águas para estabelecer uma marcação temporal, o surgimento do primeiro computador totalmente eletrônico. No ano de 1946 inaugura-se uma das maiores invenções que mudou a história da humanidade, “o primeiro computador eletrônico e digital de aplicação geral: o ENIAC”. Essa gigantesca máquina possuía em seus componentes “17.000 válvulas”, apenas isso já expressa o quanto a mesma era grande. Porém o que chama a atenção é o quanto essa máquina evoluiu em processamento de dados nos últimos cinquenta anos, ao passo que, quanto menor tornou-se o seu tamanho mais aumentou ou aumenta sua capacidade de processamento. Assim... ... somente cinquenta anos depois do nascimento do ENIAC, a capacidade total e processamento e armazenamento de informação foi multiplicada por mais de um bilhão; o tamanho foi reduzido, ocupando menos de um metro quadrado, e seu peso foi reduzido a menos de dez quilos; chegou-se, ainda, aos modelos portáteis, do tamanho de um caderno e até mesmo às miniaturas que cabem na palma da mão; enquanto os monitores passaram a “trabalhar” 16 milhões de cores. Aliás, se a tecnologia dos automóveis tivesse se movido na velocidade da indústria da computação, um Mercedes-Benz “correria” a improváveis 100.000 quilômetros por horas e não custaria mais do que 100 dólares. Acima de tudo, o computador pessoal se tornou “instrumento-gerador”, e através de sua extrema versatilidade foi deslanchando uma verdadeira revolução – nos âmbitos da produção e administração, nos procedimentos de gestão pública, nas possibilidades de atendimento e dos serviços disponíveis, na pesquisa e na recreação – mudando hábitos e quebrando rotinas. Ele levará menos de 25 anos para transformar radicalmente não só as estruturas e forças produtivas, mas fundamentalmente as bases dos sistemas societários e as condições de existência e de vivencia das pessoas na terra. (DREIFUSS, 1999, p. 24).. Parece-nos que esse texto redigido há alguns anos atrás foi um prenúncio, pois isto de fato tem acontecido. Evidentemente nos mostra que essa invenção mudou o curso da história que parecia (embora nunca foi) seguir linearmente por milhões de anos. O surgimento do computador com suas extensões proporcionou a criação de uma novo mundo. As pessoas que tem vivenciado esse turbilhão contínuo de transmutação cultural, busca ou deve buscar em todo.

(21) 21. tempo se adaptar ou até mesmo se reinventar para dar conta das inúmeras variáveis produzidas constantemente, tal criação expande o mundo por meio da interconectividade aonde todas as pessoas estão conectadas simultaneamente de maneira global. Entre outras coisas, o resultado disto é o surgimento de uma rede de dados infindável de abrangente experimentação transcultural que o indivíduo pode alcançar sem nem mesmo sair de sua própria casa, ou seja, a troca de informação entre os próprios indivíduos alimenta as redes de conexões que, por sua vez, alimenta o indivíduo de informação. Esses fatores fizeram com que as fronteiras se rompessem, ideologias caíssem, utopias se desfragmentassem, o tempo se alterasse sem que houvesse alteração dos dias, meses e anos, tudo segue em ritmo frenético fazendo com que novas configurações surgissem no cenário mundial para dar conta daquilo que está se perdendo, mas que, ao mesmo tempo cria novas demandas. Assim, “medida em meses, não mais em décadas, a aceleração tecnológica se torna fator (em aceleração) permanente (das condições, em constante metamorfose) do existir”. (DREIFUSS 1999, p. 25). Atrela-se a isso o poder de compra, a liberdade de consumo e a criação de novas mercadorias para serem consumidas. Dreifuss (1999) ainda irá dizer que em “um mundo mudado na proporção de 75% em 35 anos, dos quais 50% entre 1968 e 1993, e onde se estima que 50 % dos objetos que formarão nosso universo dentro de 10 anos ainda não foram inventados” (p. 25), isso expressa claramente em qual direção a sociedade pós-moderna está caminhando. Isto posto, surge a pergunta: para onde está caminhando há humanidade? Impressionantemente a complexidade desta informação encontra-se no fato de que o consumidor dessas novidades (produtos), por sua vez, não dá conta dessa demanda e acaba de uma forma ou de outra, sendo consumido pelos seus próprios meios de consumo, torna-se vítima (de maneira simplista: exacerbação de consumo, descontrole financeiro, negativação do nome, etc.) do que é altamente prejudicial. Mas, de qual tipo de prejuízo estamos falando? Apenas financeiro? Não! Essa resposta acreditamos ser o grande cerne da sociologia de Bauman. O autor olha para o sujeito em sua sociedade e percebe que entre ganhos e perdas, as perdas são mais prejudiciais do que aquilo que o mesmo adquire com os ganhos. E nesse viés que encontra-se seu cepticismo, visto que para ele a tecnológica.

(22) 22. tem acelerado o curso da história, da cultura, do ritmo da vida e consequentemente lançado a humanidade no dissabor da pós-modernidade. Cabe aqui minimamente o esclarecimento do conceito de pós-modernidade. Nos dicionários de filosofia (LALANDE, 1999; MORA, 2001), entre outros, não é possível encontrar uma classificação para o conceito “pós-modernidade”, o mais próximo disto que se pode encontrar é a definição de “Pós-Hipnótico e Pós-predicamentos”, apenas essas duas palavras que não há utilidade para o nosso tema. Não obstante, considerando que esse conceito é a junção de duas palavras, “pós” e “modernidade”, a julgar que o segundo conceito deriva-se da palavra “moderno”, podemos compreender cada uma individualmente. Assim a palavra “pós”, de acordo com o dicionário Priberam, deriva da palavra “post”, do Latim, que significa “depois de”; na língua portuguesa é uma preposição de “após”. Já a palavra “moderno”, de acordo com o dicionário Lalande (1999, p. 693) do latim deriva-se de “modo” ou “recentemente”. “O termo frequentemente usado a partir do século 10 nas polêmicas filosóficas ou religiosas”, como também “no sentido técnico, oposto a medieval (e algumas vezes, em sentido inverso, a contemporâneo): a “história moderna” é a história dos fatos posteriores à tomada de Constantinopla”. Nesta perspectiva pode-se considerar como pósmoderno tudo aquilo que surge a partir do século vinte, nesse “tudo” inclui-se também o ser humano, ou como muitos afirmam, o homem pós-moderno. Essa interpretação se dá por meio de um conjunto de fatores que alteram diariamente, sobretudo de maneira voraz as relações da vida. Uma percepção muito interessante acerca da modernidade é apresentada por Berman, essa reflexão moderna ampliar-se-á na pós-modernidade, deste modo ele constata características da modernidade através dos seguintes aspectos:. Existe um tipo de experiência vital – experiência de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida – que é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjunto de experiências como “modernidade”. Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana..

(23) 23 Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, “tudo que é sólido desmancha o ar”. (BERMAN, 1986, p. 15).. Neste ínterim, pode-se dizer que a modernidade é dividida em dois vieses, primeiro com seus benefícios e segundo com as suas macelas. Para a Jussara Moraes (2004)2 a pós-modernidade é a desconstrução dos princípios que foram estabelecidos na modernidade ou até a modernidade, pois as bases em que fora construído, foram arrancadas e perderam-se no tempo, mas entre tantas coisas que se perderam, três foram os pilares da sociedade do mundo moderno, que hoje, na pós-modernidade aparentemente não são capazes de sustentar a si mesmo, quanto mais as novas culturas imperialistas da globalização. Para autora os supra valores que se perderam são: 1) “o Fim, representado por Deus; 2) a Unidade, simbolizada pelo conhecimento científico e 3) a Verdade, como os conceitos universais e eternos” assim, afirma ela que esses valores “entraram em decadência acelerada na Pós-Modernidade”. De certa forma o rompimento desses três pilares expressam ou podem ser fruto da tão sonhada liberdade, porém o problema que surge na ideia ou na prática da liberdade é que a mesma também implica em limites e responsabilidades. Mas, até que ponto pode chegar o limite para ser livre, quando a liberdade do indivíduo está em romper o espaço do outro? Claro que essa é uma pergunta provocativa, ela se caracteriza pelo caos social estabelecido na pós-modernidade. Ao que parece já não há solidificações, as estruturas estão sendo arrancadas, o que era já não é mais, e todas as relações aparentemente tendem a desfragmentação, ou ao fenômeno da liquidez conforme aponta Bauman. O sociólogo Zygmunt Bauman, empreende uma análise sociológica das problemáticas desse tempo vigente que, segundo o autor, tal conceito (liquidez) se. constitui. através. de. mudança. da. “fluidez”. da. existência. na. contemporaneidade da vida social por meio da atual condição que o sistema capitalista suscita no ser humano, a saber, a competitividade.. 2. Artigo publicado na Revista Veiga Mais – Edição: Otimismo - Ano 3 - Número 5 – 2004.1.

(24) 24. 1.2.1 Percepção da Temporalidade em Zygmunt Bauman. Não é surpresa para os leitores do sociólogo Zygmunt Bauman encontrar conceitos frequentemente repetidos como: modernidade, sociedade, identidade, consumismo, etc., todavia, o que chama a atenção é que o autor não apresenta uma definição específica como característica delimitadora em seu fazer sociológico daquilo que ele mesmo chama de pós-modernidade. Para ele pósmodernidade é o período que se estabelece posteriormente há modernidade, ou seja, ele não propõe uma nova definição para esse tempo presente que iniciouse no final do século 19 até o presente século. A importância de esclarecer essa definição do conceito de pós-modernidade é para deixar claro que Bauman apresenta (liquidez) como um novo fenômeno, uma nova categoria, e não uma outra definição de pós-modernidade. A princípio pode ser esclarecido de duas maneiras; primeiro pelo título de uma de suas obras, a saber: “O mal-estar da pós-modernidade” publicada no Brasil em 1998. Em segundo lugar por uma citação que ele faz dentro da mesma obra apresentando algumas definições expressas por outros autores, afirmando que esse ciclo ...é numa época que Anthony Giddens chama de “modernidade tardia”, Ulrich Beck de “modernidade reflexiva”, Georges Balandier de “super modernidade” e que eu tenho preferido (junto com muitos outros) chamar de “pós-moderna”. (BAUMAN, 1998 p. 30).. Conclui-se essa definição: “o tempo em que vivemos agora, na nossa parte do mundo (ou, antes, viver nessa época delimita o que vemos como a “nossa parte do mundo”...)”. (BAUMAN, 1998 p. 30). Cabe ressaltar que o conceito amplamente difundido por Bauman de liquidez. é. um. entre. muitos. fenômenos. da. era. pós-moderna,. este. especificamente na perspectiva do autor. Para outros autores, outros fenômenos; e não a própria pós-modernidade em si, como já ressaltamos anteriormente. Contudo, no momento que ele, por intermédio de sua análise sociológica classifica a “liquidez” como fenômeno pós-moderno, por sua vez, compete fundamentar de maneira empírica as suas descobertas, e é isso que ele faz com muita clareza em suas inúmeras obras, mas é exatamente na perspectiva de trazer luz sobre suas teorias que apresenta ações e reações que.

(25) 25. ao seu ver são negativas no rumo, ou melhor, na falta de rumo da atual conjuntura social – parafraseando o próprio Zygmunt - dos “tempos Líquidos”. Para compreender a pós-modernidade na visão de Bauman se faz necessário submergir em algumas de suas obras.. 1.2.2 Discursão Sobre o Conceito Temos uma pergunta que podemos fracioná-la em dois momentos. Primeiro, quando começou o surgimento dessa revolução que é a pósmodernidade? E em segundo lugar, em qual momento/período da história ele consideraria que a pós-modernidade encontra-se em pleno século 21? A resposta mais atual de Bauman para a primeira parte da pergunta, encontra-se em uma entrevista concedida pelo mesmo ao programa “Café Filosófico” publicada em 12 de Outubro de 2015, citando o sociólogo francês Alain Ehrenberg, que compartilha da mesma opinião: Revolução pós-moderna começa numa quarta-feira à noite, num outono da década de 1980 quando uma certa Viviane, uma mulher comum, na presença de 6 milhões de telespectadores, declarou nunca ter tido um orgasmo durante seu casamento porque seu marido, Michael, sofre de ejaculação precoce. (BAUMAN, 2015).. Bauman passa a explicar porque tal fato passa a ser o começo da revolução. Isso se dá porque “repentinamente, na “ágora” (praça principal das antigas cidades gregas, local em que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para a realização das assembleias do povo) as pessoas começaram a confessar coisas que eram a personificação da privacidade, personificação da intimidade que você só contaria, se fosse católico, ao padre no confessionário, ou aos seus amigos muito chegados, ou realmente aos muitos íntimos. Notoriamente o maior marco da revolução pós-moderna se dá quando aquilo que era privativo passa ser público, disto decorre a ideia conceitual a qual o autor usa de “ágora”, entretanto, se no mundo helênico a “ágora” era a principal praça da cidade aonde os cidadãos falavam publicamente como também expunha-se a si mesmo, a “ágora” dos nossos dias são os diversos meios de comunicação, os quais rompem com os costumes até então de uma cultura privativa, visto que hoje, na atual conjuntura “está/ficar na moda” é expor a.

(26) 26. intimidade, é romper com os padrões estabelecidos ao longo dos anos, é desconstruir o sólido e surfar sobre o líquido. A resposta da segunda parte da pergunta (qual momento/período da história ele consideraria que a pós-modernidade encontra-se em pleno século 21?), também encontramos em outra entrevista concedida pelo acadêmico em sua passagem pelo Brasil em 2016, ao programa “Milênio” da rede de TV GloboNews. A maneira ou a ferramenta que dispomos para compreender ou analisar o atual século é comparando-o com o século passado, assim pode ser percebido as diferenças entre séculos. De tal modo uma característica da era passada, foi a capacidade que as sociedades ocidentais quase que de forma geral nutria-se de esperança e expectativas em relação ao futuro, e com certa frequência revisitava com confiança o esperançar-se de novas conquistas sempre com objetivo e foco, e isso é o que não há nos dias atuais, ou seja, no presente século falta esperança. É no linear desse estado social transitório que Zygmunt Bauman afirma que no presente século “estamos num estado de “Interregno”, e este estado implica exatamente na vida diária.. 1.2.3 Efeito da Pós-Modernidade Líquida no Cotidiano das Pessoas. Na transição da “modernidade sólida” para “modernidade líquida”, entramos/estamos no estado de Interregno (conceito deriva do Latim: Interregnum, que significa “entre reinados”)..

(27) 27. MODERNIDADE SÓLIDA. MODERNIDADE LÍQUIDA. Transformações clássicas geradas através do capitalismo. Transformações dos paradigmas modernos. Laços Familiares Comunidades tradicionais. Fragmentação do indivíduo. Religião. Enfraquecimento das instituições representativas. Luta Social definida pelas Classes Sociais:. Enfraquecimento das propostas utópicas de longo prazo. Burguesia X Proletariado. Desregulamentação:. Perspectivas Duradouras:. Social – Política – Econômica. Estado Sociais. Identidades Trabalho Família. Poder extraterritorial: Aceleração do tempo X Compressão do espaço. O sociólogo afirma que.... Não somos uma coisa nem outra. Neste estado as formas como aprendemos a lidar como os desafios da realidade não funciona mais. As instituições de ações coletivas, nosso sistema político, nosso sistema partidário, a forma de organizar a própria vida, as relações com as outras pessoas, todos essas formas de sobrevivência no mundo não funciona mais direito. Mas as novas formas, as que substituiriam as antigas, ainda estão engatinhando. Não temos ainda uma visão de longo prazo, e nossas ações consistem principalmente em reagir as crises mais recentes. Mas as crises também estão mudando. Elas também são líquidas vêm e vão, uma é substituída por outra, as manchetes de hoje amanhã já caducaram, as próximas manchetes apagam as antigas da memória, portanto, desordem. (BAUMAN, 2016).. Os pontos desafiadores decorrentes dessa nova estrutura podem produzir impactos profundos não apenas nas bases (que até então vinham sendo) formadoras das estruturas sociais primárias, como também na própria base subjetiva do ser humano, isto pode ter como efeito a perda parcial (a médio e longo prazo) da identidade sociocultural constituinte de povos, tribos (urbanas ou não) e nações, bem como do próprio sujeito, que de uma forma ou de outra encontra-se “numa sociedade que tornou incerta e transitórias” (como afirma Benedetto Vecchi) constituído como produto do meio em que vive..

(28) 28. Nesta configuração como um (mais um) “produto do meio”, que não é uma escolha consciente do indivíduo, mas uma circunstância imposta por meio de forças externas a ele, entre outros fatores preponderantes que, cada vez mais, vai. o. desconstituindo. como. sujeito. autônomo. de. si. mesmo,. essa. desfragmentação pode ser compreendida como um fenômeno entre outros que fazem parte do todo que está cada vez mais producente a longo prazo na desconstrução do sólido e na longa transformação da liquidez de nosso tempo, consequentemente, aumentando a ausência do coletivismo institucional e pessoal. Outrossim, o que sobre sai nesse emaranhado, são as novas propostas que não funcionam e que por sua vez, são propostas apresentadas por pessoas que formam uma pequena parcela constituída pela menor parte do elitismo representado por suas grandes corporações globais, essa menor parte é retentora da maior parte do capitalismo/riqueza do mundo. Isso também vai significar que a maior parcela da população mundial (se formos colocar hipoteticamente em porcentagens apenas para exemplificar com mais clareza, de 100% da população mundial, 97%, não tem capacidade), ou melhor, faltalhes visibilidade para olhar para o futuro, porque as regras do jogo se alteram de acordo com as vontades daqueles que retém e detém o capital. Essa realidade faz com que a maior parte da população mundial que se depara diariamente com a miséria dos seus locais de origem, que de uma forma ou de outra, não tem meios ou ferramentas dignamente consideráveis para reagir e lutar contra as crises. Similarmente, as crises nessa atual conjuntura são por si só prodecentes de contrariedade, visto que as mesmas são inconstantes, e essa inconstância se dá por meio dos excessos de informações a esmo. Notoriamente percebe-se a força compressora do resultado de um conjunto de fatores que produzem um efeito cascata a níveis globais, assim Bauman constata que: O mundo em nossa volta está repartido em fragmentos mal coordenados, enquanto as nossas existências individuais são fatiadas numa sucessão de episódios fragilmente conectados. (BAUMAN, 2005, p. 19).. Sobretudo, na perspectiva de Bauman não há um ponto negativo mais expressivo nessa nova estruturação líquida que possa ser visto apenas como.

(29) 29. um ponto especifico causador do incêndio global, muito embora ele tenha como ponto de partida o poder exacerbado que foi dado ao capitalista pelo próprio ser humano. Assim como no romance gótico de Mary Shelley (1797 – 1851), que dá vida há um monstro sem nome e que depois ganha o nome (de maneira popular e não pela autora) do seu criador (no romance) Frankenstein, composto por várias partes, pois bem, esse poder exacerbado e aparentemente indestrutível do capitalismo é formado por várias partes, ele é o Frankenstein da pósmodernidade, de tal modo que os seus pontos negativos também são diversos, são várias partes. Como resultado o autor usa em sua análise sociológica vários fatores preponderantes que dão vida ao capitalismo, entretanto, o que podemos constatar e talvez pontuar como um fator caracteristicamente limite da pósmodernidade é a perda da identidade. Obviamente, não podemos abrir o leque para discorrer de maneira ampla a formação ou a compreensão da identidade nas inúmeras vertentes do arcabouço acadêmica cientifico, tão pouco, não podemos negligenciar o fato de que por si só a palavra “identidade” contém em sua etimologia grande complexidade, contudo, seu valor atrelado há outras palavras produz uma homogeneidade e uniformidade semântica, favorecendo assim de maneira natural as sustentações conjuntivas entre conceitos extremamente polissêmicos, então na diversidade do conceito de identidade encontram-se as identidades: discursiva, cultural, social, de gênero, entre outras. Mesmo que esses conceitos que acompanham a palavra “identidade” sigam distintamente cada um sua própria vertente no academicismo, num determinado momento todos eles compartilham do mesmo receptáculo formando uma identidade maior que é a do próprio sujeito. Todavia, Bauman vai analisar e apontar uma categoria de identidade que não aparece nessas citadas anteriormente, mas que ao mesmo tempo é como um círculo que acolhe essas distintas identidades e até mesmo o sujeito, a saber: identidade nacional. E o que seria exatamente a “identidade nacional”? De tal modo, na perspectiva do sociólogo polonês, a identidade nacional surge por meio do ajuntamento de forças monopolistas da Nação-Estado, “estado e nação precisavam um do outro” (p. 27), ou seja, interdependência de forças para produzir, gerar uma força maior, absoluta e coesa. Evidentemente.

(30) 30. em cada parte havia particularmente seu distinto interesse nesse enlace. As intenções da Nação Estado era, por parte do Estado, “buscar a obediência de seus indivíduos representando-se como a concretização do futuro da Nação e a garantia de sua continuidade”, por outro lado, as intenções da Nação era se livrar dos riscos que acercavam, pois: “uma Nação sem Estado estaria destinada a ser insegura sobre o seu passado, incerta sobre o seu presente e duvidosa de seu futuro, e assim fadada a uma existência precária” (BAUMAN 2005, p. 27), portanto as duas partes buscavam se consolidar para se manter e resistir ao tempo, porém seria impossível de alcançar tal objetivo uma sem a outra. Por isso, a identidade nacional é particularmente diferente das outras, ou como diz Bauman, “nunca foi como as outras” (p. 28). À vista disso, “a identidade nacional objetiva o direito monopolista de traçar a fronteira entre “nós” e “eles” (p. 28). Nessas conjunturas, de viver sob a junção de dois poderes, da Nação e do Estado, que ao se juntar tornaram-se apenas uma, tendo como resultado a formação de uma única fase que é a identidade nacional (por exemplo: somos todos brasileiros). Entretanto, como identificar na identidade nacional um indivíduo? Porque a identidade nacional, pensando de maneira generalizada, possibilita fazer frente para o mundo tendo como intuito de delimitar o agrupamento de um povo com suas origens, ritos e costumes, e ao mesmo tempo, como também delimitar geograficamente as fronteiras divisórias, como apresentado anteriormente e permita-me repetir, o propósito é separar “nós e eles”. Isto se apresenta na concepção de macroestrutura, entretanto como pensar na identidade de cada indivíduo que se encontra do lado de dentro das fronteiras? Deste modo, começa a elaboração e execução da força do Estado-Nação. O poder público passa a criar meios de individualizar cada sujeito que compõe a identidade nacional criando macros e micros identidades, esses mesmos mecanismos individualiza, identifica e em determinados momentos também torna-se ferramenta de coerção. Fazendo um trocadilho com a obra de Michel Foucault (1926 – 1984), são ferramentas de “vigiar e punir”. Pergunta-se então: o que tem haver a formação de uma identidade nacional com a perda da identidade como um ponto limite?.

(31) 31. Segundo o autor, constitui-se como indivíduo de identidade única sub relevo na identidade nacional, só torna-se possível através dos poderes do Estado por meio de seu funcionalismo, isto significa que: Outras identidades, “menores” eram incentivadas e/ou forçadas a buscar o endosso-seguido-de-proteção dos órgãos autorizados pelo Estado, e assim confirmar indiretamente a superioridade da “Identidade nacional” com base em decretos imperiais ou republicanos, diplomas estatais e certificados endossados pelo Estado. Se você fosse ou pretendesse ser outra coisa qualquer, as “instituições adequadas” do Estado é que teriam a palavra final. Uma identidade não certificada era uma fraude. Seu portador um impostor – um vigarista. (BAUMAN, 2005, p. 28).. Isto é, na intenção de individualizar e criar sujeitos autônomos do ponto de vista social, o Estado ganhou mais robustez, ao mesmo tempo que massificou os mesmos sobre o seu domínio gerando identidades sólidas, nada muda sem consentimento breve de quem retém o poder. É importante frisar que esse período a qual descrevemos até aqui faz parte do mundo sólido. Mas com o advento da pós-modernidade, as infra-estruturas, as condições indispensáveis de uma sociedade organizada pelo Estado passam a diluir-se, novos modelos começam a se configurar e estabelecer normas e padrões, o que era ontem, hoje não é mais. O. fenômeno. da. liquidez. no. mundo. pós-moderno. começa. contraditoriamente a criar raízes que passam há largo da individualidade e do pessoal, desconstrói a ideia que perpassou por muitos anos de privacidade e reafirma a quebra das fronteiras tanto geográficas como subjetivas, mas que ao mesmo tempo individualiza o sujeito. Devemos ter como horizonte que a maior característica da pós-modernidade é a globalização. Para Bauman a “globalização significa que o Estado não tem mais o poder ou o desejo de manter uma união sólida e inabalável com a Nação”, assim subentende-se que o conceito de “Nação” torna-se novamente individualizado, agora a ideia de “Nação” passa ser o povo em si. Por isso, em sua obra “Tempos Líquidos” (2007), ele apresenta alguns pontos que a seu ver constitui ou caracteriza esse fenômeno da liquidez, ressaltando que há uma “separação e o iminente divórcio entre o poder e a política [...] que compartilhasse as fundações do Estado-Nação “até que a morte os separasse”. (BAUMAN, 2007, p. 8)..

(32) 32. Deixando evidencias que levam a entender que os mecanismos de controle afrouxaram as suas rédeas (talvez não por vontade própria, mas por falta de opção) diante da globalização, e a mesma traz consigo novas regres, que por sua vez, alterou completamente a concepção e a formação da identidade de gênero, da identidade social e cultural; observamos que: “é nisso que nós, habitantes do líquido mundo moderno, somos diferentes. Buscamos, construímos e mantemos as referências comunais de nossas identidades em movimento”. (BAUMAN, 2007, p. 32). Junto a isto, vultuosamente deve-se levar em conta as mudanças influenciadas fortemente pelos ditames da aceleração do tempo que tira o valor, o caráter de valia e a credibilidade das identidades que se formaram ao longo dos anos durante o período sólido. Com o mundo se movendo em alta velocidade e em constante aceleração, você não pode mais confiar na pretensa utilidade dessas estruturas de referência com base na sua suposta durabilidade. (BAUMAN, 2007, p. 33),. Assim sendo, nessa “noite” de um sonho de verão (que não se sabe quanto durará) que se tornou a globalização, não cabe “no admirável mundo novo das oportunidades fugazes e das seguranças frágeis, as identidades ao estilo antigo, rígidas e inegociáveis, simplesmente não funcionam”. (BAUMAN, 2005, p. 33). Qual será o resultado final? Só o tempo dirá! Em quanto isso as palavras de Foucault estão mais vivas do que quando ditas, a saber: “Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo”. Tendemos a acreditar que como indivíduos formados e (em algum momento), formadores de identidade, seja essa formação objetiva ou subjetiva, em si e no outro, somos (do verbo ser) ou pressupomos que “pertencemos-pornascimento” partes constituintes dessa identidade global generalizada e nos apossamos do mundo com a mesma violência que ele se apossa de nós. Entretanto, se o mundo líquido rompe com os paradigmas estabelecidos ao longo dos anos sobre a formação da identidade desconstruindo sua forma sólida e gerando identidade líquida que se amolda de acordo com a superfície momentânea. Se “seu Cristo é judeu. Seu carro japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu café, brasileiro. Seu feriado, turco. Seus.

Referências

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