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Organograma 1 – Estrutura da Lei de Lavagem de Dinheiro

2. A CORRUPÇÃO COMO FENÔMENO MULTIDISCIPLINAR E SUAS CAUSAS E

2.3 ÁREAS CRÍTICAS EM QUE A CORRUPÇÃO TRANSITA NA REALIDADE

2.3.2 Corrupção na administração pública

A corrupção do setor público, como um sintoma de falha na governança, depende de uma multiplicidade de fatores, como a qualidade da gestão do setor público, a natureza das relações de prestação de contas entre o governo e os cidadãos, o arcabouço legal e o grau em que os processos do setor público são acompanhados de transparência e divulgação de informações. É improvável que os esforços para lidar com a corrupção que não respondam adequadamente a esses fatores subjacentes gerem resultados profundos e sustentáveis.108

No Brasil, esse tipo de corrupção se apresenta como um ponto extremamente preocupante, pois envolve, exatamente, por meio de atos concretos e executórios, uma atividade voltada aos interesses públicos. Ocorre que, em nossa realidade, os atos corruptivos cometidos no âmbito da administração pública têm assumido conotações surpreendentes e desalentadoras.109

107ABSTENÇÃO, brancos e nulos são 29% dos votos; eleitor tem descrença no candidato. Publicado em

06/10/2014. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2014-10/abstencao-brancos-nulos- sao-29-dos-votos-eleitor-tem-descrenca-no-candidato>. Acesso em 05/09/2017, às 15h35min.

108 SHAH, Anwar. Tailoring the Fitght agaist Corruption to Country Circumstances. In: Performance

Accountability and Combating Corruption. Washington, D.C.: The World Bank, 2007, p. 236.

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SARMENTO, George. Aspectos da investigação dos atos de improbidade administrativa. Revista do

Com intuito de superar as excessivas regulamentações burocráticas, que, por vezes, são constitutivas de proibições que se afastam da realidade social, cria-se uma aversão à impessoalidade por meio do já mencionado “jeitinho brasileiro”. Em razão da frequência e da naturalidade com que acontecem, estas práticas, caracterizadas como uma modalidade oblíqua de corrupção e de descumprimento da lei, encontram-se institucionalizadas em nosso país.110

Para Lucas Rocha Furtado:

Não há dúvida de que a demora no processo de tomada de decisão constitui uma das maiores causas da corrupção administrativa. A solução para esse problema não deve ser apontada no pagamento de subornos (ou de qualquer outro termo eufemístico a ser utilizado para indicar o recebimento de dinheiro ilegal pelos servidores públicos). O pagamento de engrase cria arbitrariedade por parte dos agentes públicos, importa em quebra de isonomia – na medida em que somente os que pagam conseguem ter acesso às prestações estatais que deveriam ser fornecidas de forma indistinta a toda a coletividade –, além de criar a sensação generalizada de que vale a pena praticar atos delitivos em razão da impunibilidade existente. Este cenário acaba por comprometer toda a estrutura da Administração Pública, e não apenas alguns setores.111

As facilidades encontradas pelos servidores públicos para transitar entre a licitude e ilicitude demonstram o amplo poder discricionário que possuem, na medida em que os problemas burocráticos não são impeditivos à satisfação de interesses particulares. De outro lado, pessoas físicas e empresas apresentam-se dispostas a pagar para obtenção de benefícios e evitar custos. É popularmente chamada “lei da oferta”. Enquanto houver pessoas interessadas em oferecer pagamento aos servidores públicos visando a uma vantagem, existirão servidores públicos adeptos a essas condutas, e vice-versa.

Humberto Costa Pimentel refere que as causas da corrupção administrativa são muitas, variando desde a dificuldade de se demonstrar a existência do evento, por seu caráter invariavelmente preservado, até a reduzida probabilidade de efetiva punição. E essa impunidade não se configura tão somente com arquivamentos de procedimento de investigação, por falta de provas, sentenças absolutórias ou condenações pífias. Isso porque os atos de corrupção administrativa identificados e as ações punitivas representam apenas a

110 COSTA, Humberto Pimentel da. Corrupção e improbidade administrativa. Revista do Ministério Público:

Alagoas, n. 15, jan./jul. 2005, p. 2. Disponível em:

<file:///D:/TJRS/GoogleChromePortable/Downloads/LP_Combate_a_Corrupcao_Final_LP_160109.pdf>. Acesso em 05/09/2017, às 22h30min.

111 FURTADO, Lucas Rocha. As raízes da corrupção: estudos de caos e lições para no futuro. p. 45.

Disponível em: <https://gredos.usal.es/jspui/bitstream/10366/121413/1/DDP_RochaFurtadoLucas_Tesis.pdf>. Acesso em 10/09/2017, às 17h00min.

descoberta de uma parcela dos desvios efetivos que ocorrem no âmbito da administração pública, podendo-se induzir que existe uma delinquência criminal oculta.112

Os procedimentos formais empregados por estes agentes fazem com que a corrupção tenha pouca visibilidade, pois muitas vezes é transformada em interesses institucionais aparentemente legítimos. Contudo, as conveniências, na verdade, são em prol de grupos alheios ao Estado, trazendo benefícios às pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.

Para Cláudio Weber Abramo e Eduardo Ribeiro Capobianco, em um ambiente em que se possibilita o amplo arbítrio do administrador público, tal como ocorre nos certames licitatórios, em que os controles são escassos e a visibilidade pública é dificultada, sobrevêm, entre outras, as seguintes consequências:

1. O administrador estabelece a possibilidade de participação de empresas em licitações. Por meio da definição de condições especiais (financeiras e pseudotécnicas), ele exclui a maioria dos potenciais concorrentes e "fecha" a possibilidade de participação em um subconjunto das empresas. Se questionado quanto aos critérios que usa para isso, responde que são definidos em função do "interesse público".

2. A decisão sobre o vencedor é atingida por um procedimento de julgamento (isto é, exercício de arbítrio) por parte do administrador, em que se levam em conta aspectos subjetivos travestidos de considerações técnicas. Torna-se assim fácil "vender" o resultado do julgamento.

3. O exercício do arbítrio no julgamento é reforçado por uma definição deliberadamente imprecisa do objeto da licitação. Por exemplo, considerações quanto à qualidade, necessariamente subjetivas, passam a fazer parte do processo de definição do vencedor.

4. A possibilidade de pré-definir vencedores de licitações leva administradores públicos a uma espécie de "venda antecipada": especificam a destinação de investimentos públicos com base não em seu interesse social, mas, por exemplo, na existência de máquinas ociosas nas mãos de uma determinada empresa, para a qual a licitação resultante da destinação da verba orçamentária será futuramente dirigida. Para isso concorrem procedimentos orçamentários centralizados e pouco discutidos com as comunidades afetadas e com os interesses envolvidos.

5. A inexistência de regras claras quanto ao acompanhamento de contratos induz o administrador a "fechar os olhos" (por um preço) ao seu descumprimento. Quantidades são falsificadas, contas são sub ou super-faturadas, especificações são desobedecidas. Boa parte da dívida interna de alguns países decorre de contratos que jamais foram executados, nem mesmo parcialmente.

6. A ausência de normas quanto ao pagamento de contratos executados leva o administrador a “vender" o direito de recebimento.

7. A debilidade de mecanismos de controle e auditoria resulta em impunidade e consequente estímulo à perpetuação de práticas corruptas.113

112 COSTA, Humberto Pimentel da. Corrupção e improbidade administrativa. Revista do Ministério Público:

Alagoas, n. 15, jan./jul. 2005, p. 4. Disponível em:

<file:///D:/TJRS/GoogleChromePortable/Downloads/LP_Combate_a_Corrupcao_Final_LP_160109.pdf>. Acesso em 05/09/2017, às 22h30min.

113 ABRAMO/CAPOBIANCO, Cláudio Weber; Eduardo Ribeiro. Licitações e Contratos: os Negócios entre

Setor Público e Setor Privado. Disponível em:

<http://bvc.cgu.gov.br/bitstream/123456789/1750/1/LicitCapobianco-ABRAMO.pdf>. Acesso em 20/09/2017, às 07h10min.

Nestes conjuntos de distorções, o principal objetivo é corromper a competitividade do processo licitatório, por meio da organização dos mercados fornecedores. O servidor público, valendo-se dos benefícios inerentes de sua função, pode estabelecer previamente o vencedor do processo licitatório, direcionando-lhe o edital convocatório, exigindo particularidades e requisitos que apenas determinada concorrente possui. Ou, ainda, pode ser realizada a distribuição equitativa das obras ou serviços públicos entre determinadas empresas, por meio da combinação de preços, conhecida como cartel.

Como se pôde observar, inúmeras são as possibilidades para obtenção de ganhos ilícitos valendo-se dos benefícios da condição de agente público. E isso ocorrerá sempre que uma autoridade pública possuir poder discricionário sobre a distribuição de um benefício ou de um custo para o setor privado. Portanto, a corrupção depende da magnitude dos benefícios e dos custos sob o controle de autoridades públicas.114