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Organograma 1 – Estrutura da Lei de Lavagem de Dinheiro

2. A CORRUPÇÃO COMO FENÔMENO MULTIDISCIPLINAR E SUAS CAUSAS E

2.3 ÁREAS CRÍTICAS EM QUE A CORRUPÇÃO TRANSITA NA REALIDADE

2.3.1 Corrupção política

A análise do fenômeno da corrupção, em sua dimensão política, deve levar em consideração os elementos culturais, sociais e econômicos que influenciam tais práticas. E, para que um ato configure corrupção política, requer-se a existência de um sistema normativo de caráter político que lhe sirva de referência. A justificativa para isto se dá no fato de que, dependendo do sistema político vigente, um ato pode ser considerado corrupto ou não.100

Em um sentido clássico do pensamento político, a corrupção está ligada aos crimes cometidos no exercício das funções públicas, ocasião em que surgem as maiores oportunidades, por conta dos poderes e das faculdades públicas que são confiadas ao agente político. Ou seja: são crimes que caracterizam o abuso do poder político.101

Atualmente, essa concepção continua presente, embora um dos tipos de abuso de poder que predomine como referência consista no enriquecimento ilegal ou ilegítimo de políticos ou, em geral, das autoridades (corrupção pessoal) ou o ilegal e ilegítimo favorecimento às causas ou organização às quais estão integradas, mesmo que não beneficiem pessoalmente (corrupção oficial), graças aos cargos que realizam ou às suas conexões com aqueles que as possuem. Contudo, as condutas corruptivas devem ser consagradas não somente como uma ação ilícita, mas também como um importante meio de influência política através da persuasão e coerção. Esses políticos, especialmente em casos de corrupção oficial, quase nunca estão dispostos a desistir dessa forma de influência.102

A corrupção, evidentemente, despende um alto custo para sua manutenção e isso reflete não somente na sociedade, mas também na economia. Isto ocorre porque grande parte dos recursos que são desviados deveria ser destinada à melhora de áreas sensíveis que a

100 SEÑA, Jorge F. Malem. La corrupción política. p. 581. Disponível em:

<file:///D:/TJRS/GoogleChromePortable/Downloads/Corrupc%CC%A7a%CC%83oPolitica%20(5).pdf>. Acesso em 10/10/2017, às 19h00min.

101 LIVIANU, Roberto. Corrupção incluindo a nova Lei Anticorrupção. 2ª ed. São Paulo: Quartier Latin,

2014, p. 128.

102

CORRUPCIÓN política. Disponível em: <http://html.rincondelvago.com/corrupcion-politica_1.html>.

população mais necessita, como a educação e a saúde; enquanto, no desenvolvimento econômico do país, há uma real influência da desigualdade concorrencial de mercado, na medida em que a benesse decorrente destes atos influencia diretamente nas atividades comerciais e coloca os “corruptores” em posição de vantagem aos demais concorrentes.103

Igualmente, o mau funcionamento das organizações do sistema político, em decorrência da corrupção, cria um incentivo para que esse tipo de comportamento se torne comum na política. A debilidade do sistema institucional da política está associada ao fato de que as organizações do sistema são pouco adaptáveis às mudanças e sujeitas às burocracias do Estado, pouco coesas. Quando isso ocorre, a corrupção na política floresce.104

Outro terreno fértil para a atuação da corrupção política é nas campanhas eleitorais. No momento em que os partidos políticos buscam recursos para ser utilizados em suas campanhas, via de regra, existe uma contrapartida a ser estabelecida por conta deste “auxílio”.

Por certo, esta forma de corrupção viola os fundamentos de representação que estão na base do ideal democrático, pois, uma vez eleito, o parlamentar ou governante passa a utilizar o poder que lhe é conferido de modo diverso daquele pelo qual foi eleito, agindo em benefício daqueles que financiaram a sua campanha.105

Lucas Rocha Furtado destaca que:

Na busca por recursos, os partidos acabam por criar organizações paralelas cuja função consiste na arrecadação de fundos para as campanhas. Paralelamente a essas organizações, surgem intermediários e arrecadadores que, com o tempo, acabam por se profissionalizar. A arrecadação de recursos passa a se destinar não apenas aos processos eleitorais, mas à sustentação desses novos profissionais da política, os quais assumem dentro dos partidos imenso poder de mando. Ao assumir o poder político, os partidos procedem à distribuição dos cargos de direção da administração pública, inclusive aqueles lotados nas empresas estatais, e que são responsáveis pela gestão de vultosos contratos. Estes contratos passam a ser considerados pelos profissionais da arrecadação de fundos partidários importantes fontes de recursos. Assim, a origem dos recursos destinados aos partidos políticos deixa de ser exclusivamente o dinheiro de caixa dois das empresas privadas (dinheiro não contabilizado), e passa a igualmente originar-se dos contratos públicos, os quais, evidentemente, terão seus valores elevados de modo a fazer frente a esse novo custo: o pagamento de pedágios aos partidos majoritários e responsáveis pela indicação do agente público responsável pela gestão daqueles contratos.106

103 PIMENTEL, Isabella Arruda. A corrupção no Brasil e a atuação do Ministério Público. p. 51. Disponível

em: <http://www.cchla.ufpb.br/ppgdh/wp-content/uploads/2015/03/Dissertacao-ISABELLA-para-imprimir.pdf>. Acesso em 28/09/2017, às 8h00min.

104 FILGUEIRAS, Fernando. Marcos teóricos da corrupção. In: Corrupção: ensaios e críticas. AVRITZER,

Leonardo (Org.). Corrupção: ensaios e críticas. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012, p. 301.

105 FURTADO, Lucas Rocha. As raízes da corrupção: estudos de caos e lições para no futuro. p. 37. Disponível

em: <https://gredos.usal.es/jspui/bitstream/10366/121413/1/DDP_RochaFurtadoLucas_Tesis.pdf>. Acesso em 10/09/2017, às 17h00min.

Com isso, o exercício do mandato político passa a ser voltado à representação das vontades dos financiadores da campanha, ao invés de seus eleitores. Ou seja: os interesses da população são deixados de lado, o que gera o distanciamento entre o cidadão e os seus representantes, colocando em dúvida a legitimidade do processo político.

O resultado dessas circunstâncias, como pudemos acompanhar nas eleições de 2014, em que abstenção e os votos brancos e nulos atingiram a incrível marca de 29% dos eleitores aptos a votar107, é o desinteresse de boa parte da população nos processos eleitorais. Ocorre que esse desinteresse contribui diretamente para que esses políticos eleitos usufruam dos seus mandatos visam à satisfação de interesses pessoais.

Desse modo, quanto maior o desinteresse da população maior, maior será a participação dos financiadores ilegais nas campanhas políticas, mantendo-se um círculo vicioso de perpetuação.