• Nenhum resultado encontrado

Organograma 1 – Estrutura da Lei de Lavagem de Dinheiro

2. A CORRUPÇÃO COMO FENÔMENO MULTIDISCIPLINAR E SUAS CAUSAS E

2.3 ÁREAS CRÍTICAS EM QUE A CORRUPÇÃO TRANSITA NA REALIDADE

2.3.3 A evolução do crime organizado

As condutas corruptivas apresentam uma estreita relação com a criminalidade organizada, fenômeno este que vem ganhando maior notoriedade no cenário mundial, diante do qual o Estado se vê muitas vezes impotente em face da insuficiência do aparato disponível para combatê-lo.115

Ainda que praticado há tempo, o delito organizado moderno passou a se revestir de características que o atribuem a qualificação de atividade potencialmente perigosa sob ótica social, seja pelas técnicas empregadas, seja pelos meios de que dispõe, ou, ainda, pelos imensos danos que causa. Por se tratar de uma conduta universalmente reconhecida, estas práticas não apresentam as mesmas características das delinquências convencionais e, na maioria das vezes, acabam ficando impunes.116

Nos últimos anos, a criminalidade organizada aumentou de forma considerável nos países desenvolvidos e, ainda que pareça paradoxal, de maneira explosiva nos países do

114 KIMBERLY, Ann Elliot. A corrupção e a economia global. Trad. Marsel Nascimento Gonçalves de Souza.

Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2002, p. 59.

115

PRADO, Luis Regis. Associação criminosa – crime organizado (Lei 12.850/2013). Revista dos Tribunais. Vol. 938. Dez./2013, p. 242.

116 CERVENI, Raúl. Análise criminológica do fenômeno do delito organizado. Trad. Oswaldo Henrique Duek

Marques. In: ARAÚJO JUNIOR, João Marcello de; Associação Internacional de Direito Penal. Grupo Brasileiro. Ciência política criminal em honra de Heleno Fragoso. Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 499.

Terceiro Mundo ou em vias de desenvolvimento, especialmente nos países latino- americanos.117

Para Roberto Livianu, existem dois fatores que contribuem para o crime organizado e, via de consequência, para a perpetuação da corrupção. O primeiro diz respeito à forma estrutural empresarial, com o emprego de técnicas avançadas de atuação, eis que estas funções são distribuídas de acordo com os sistemas jurídicos de diversos países. O segundo fator determinante para atuação desses grupos é o fato de que o crime organizado tem uma atividade que dificulta a percepção da fronteira entre ilegalidade e sociedade, confundindo as vítimas e dificultando as investigações criminais. Somam-se a esses fatores os reflexos advindos da globalização, em que valores são transferidos rapidamente de um país para outro, tornando cada vez difícil a reconstrução do caminho percorrido pelos ativos financeiros ilícitos.118

Conceituar a criminalidade organizada é uma tarefa extremamente complexa, pois saber como ela é, como se desenvolve, quais são suas estruturas e suas perspectivas futuras, são elementos difíceis de precisar.

Em uma abordagem genérica, podemos afirmar que o crime organizado apresenta um potencial de ameaça e de perigo gigantesco, com consequências imprevisíveis e incontroláveis, pois não se volta para a prática de condutas isoladas, mas, sim, para uma reiteração criminosa, visando à obtenção de elevados lucros, com estruturação hierárquica bem desenvolvida, permitindo-se dizer que a criminalidade organizada tem, como principais características, a pluralidade de agentes, uma rígida hierarquia estrutural, uma visão empresarial do negócio ilegal, estabilidade, atividades bem compartimentadas e a diversificação das áreas de interesse.119

Neste sentido, Fausto Marin de Sanctis destaca que:

O desenvolvimento do crime organizado apresenta-se dissimulado ou encoberto por atividade comercial ilícita. Não se confundiria com a prática antiga do delito de quadrilha ou bando (artigo 288 do CP), no qual havia singelo concerto para prática de crimes. Em ambos há estabilidade e permanência, mas a organização criminosa é revestida de peculiaridades próprias, mesmo aquelas de índole regional (dentro das fronteiras de um país). Não se cuida, pois, de identidade de conceitos, porquanto

117 Idem. 118

LIVIANU, Roberto. Corrupção incluindo a nova Lei Anticorrupção. 2ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2014, p. 134.

119 TASSE, Adel el. Primeiras considerações sobre o novo tratamento jurídico ofertado à criminalidade

organizada no Brasil. Revista Síntese: Direito Penal e Processual Penal, Porto Alegre, v. 18, n. 105, ago./set. 2017, p. 26.

inconfundíveis, uma vez que o conceito de crime organizado sempre envolve estrutura complexa e, de certa forma, profissionalizada.120

Esta estrutura empresarial destinada à prática de condutas ilícitas, constituída por uma detalhada e persistente cadeia de comando, garante que as atividades criminosas se desenvolvam em um curto lapso temporal e de forma absolutamente eficiente na busca dos objetivos do grupo.

Rodolfo Tigre Maia afirma que as profundas mudanças implementadas nas técnicas de aproveitamento dos produtos dos crimes, além de tornarem possível a ampliação e perpetuação das atividades criminais, resultam na presença significativa de capitais ilícitos no sistema financeiro, trazendo ônus elevadíssimo à comunidade, culminando em sequelas deletérias tais como:

a) A erosão da legitimidade dos mecanismos tradicionais de representação democrática e da credibilidade dos representantes populares;

b) a desmoralização da administração pública, com a corrupção de seus servidores, reforçando no imaginário social a liderança dos fora-da-lei e o descrédito do aparelho de Estado;

c) a impunidade dos criminosos poderosos, desagregadora de valores e geradora de descrença no sistema judicial;

d) a sonegação fiscal, retirando vultuosos recursos tributários necessários à implementação de políticas públicas e, desta maneira, de forma indireta, contribuindo no incremento das desigualdades sociais;

e) a possibilidade de desestruturação da economia nacional, sobretudo de países do Terceiro Mundo, sequiosos por investimentos externos e destituídos de uma legislação protetiva eficiente, quando tais capitais têm sua origem desvendada; e, ainda, na sua versão neoliberal mais perversa; e

f) a crise no sistema financeiro, quando por sua volatilidade esses ativos abandonam inopinadamente o país, na busca de maiores lucros ou por receio de medidas repressivas, desestabilizando o sistema e deixando para atrás de si um rastro de quebras, desemprego e perdas de poupanças populares.121

Atualmente, no Brasil, o que se nota é que os atos corruptivos praticados contra o Estado, seja por meio de servidores públicos, seja por intermédio de agentes políticos, cada vez mais apresentam estas características estruturais empresariais, em que cada qual possui uma função específica e atua de forma especializada para atingir as finalidades da organização

120 SANCTIS, Fausto Martin de. Crime Organizado e lavagem de dinheiro: destinação de bens apreendidos,

delação premiada e responsabilidade social. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 8.

121

MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro (lavagem de ativos provenientes de crime). 1ª ed. 2ª tiragem. Malheiros Editores, 1999. p. 24-25.

criminosa. Exemplo disso são os inúmeros casos de desvios de verbas públicas realizados no âmbito da Petrobras.122

Segundo Marcelo Batlouni Mendroni, uma importante medida para combater esta espécie de crime requer ações que visem a abalar sua estrutura financeira, eis que as organizações criminosas e a lavagem de dinheiro não coexistem separadamente. Ou seja: é necessário agir contra os seus bens, o seu dinheiro e as formas de lavagem dos valores proveniente de condutas ilícitas, eis que de nada adianta a obtenção de vantagem econômica ilícita se não for possível a sua fruição.123

Por isso, a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro constituem uma maneira eficaz de ataque à criminalidade organizada, apresentando-se como uma espécie de “calcanhar de Aquiles” para estes grupos criminosos.124

Nesta conjectura, a Lei de Lavagem de Dinheiro tem papel fundamental como ferramenta de combate à corrupção, tema que passamos a abordar.

122 “A CORRUPÇÃO era um modelo de negócio para as empresas”, diz procurador da Lava Jato.

Publicado em 15/03/2015. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/a-corrupcao-era- um-modelo-de-negocio-para-as-empresas-diz-procurador-da-lava-jato/>. Acesso em 10/08/2017, às 23h00min.

123 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime de Lavagem de Dinheiro. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas S.A.,

2013, p. 25.

124

SANCTIS, Fausto Martin de. Crime Organizado e lavagem de dinheiro: destinação de bens apreendidos, delação premiada e responsabilidade social. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 7.

3. MARCOS NORMATIVOS INTERNACIONAIS E NACIONAIS DE CONTROLE À